Introdução
Ainda que, para o ano de 2005, segundo estimativas da FAO, o Brasil seja o 7° produtor mundial de ovos, o seu consumo anual per capita é inferior ao de diversos países no mundo.
Figura 1 – Produção de ovos no ano de 2004 (mil toneladas).
Em 2004 o consumo per capita brasileiro de ovos ocupava, dentro de uma lista de 168 países a 68ª posição. O maior consumo per capita observado foi o da Dinamarca, que apresentava um consumo por habitante de 61,19 gramas de ovos por dia, seguido da Holanda (52,58), Japão (52,25) e China (48,29).
Este desempenho deve ser creditado, principalmente, aos tabus relacionados a problemas de saúde, a nossa baixa renda per capita, que torna diminuto o consumo de produtos de maior valor agregado que tem o ovo como ingrediente importante na sua fabricação (doces e bolos), o nosso pequeno consumo de massas de qualidade, a baixa coordenação existente neste setor e ao fato de o ovo ser um alimento visto como destinado somente às classes de consumo menos privilegiadas da nossa sociedade. Outra provável causa do nosso baixo consumo per capita é o fato de o povo brasileiro não utilizar em larga escala em sua alimentação alimentos como por exemplo os "burgers" nos EUA e em outros países do mundo, as tortilhas mexicanas ou as massas na Ásia, os quais incluem o ovo como componente.
Figura 2 – Consumo per capita diário (expresso em gramas) de ovos no ano de 2004.
Com relação ao mercado internacional de ovos, deve-se destacar que o comércio movimenta somente cerca de 3% da produção global dos países produtores. A Holanda é de longe o maior exportador mundial seguido dos Estados Unidos e da França. A participação brasileira neste mercado é extremamente pequena e este fato ainda não apresenta sinais claros de modificação. É importante enfatizar que o conceito de segurança alimentar (biosegurança) irá dominar o comercio internacional superando as antigas barreiras tarifarias, ou seja, o preço deixara de ser fator único, apesar de continuar a ter a sua importância.
O ovo é reconhecidamente um importante contribuinte para uma nutrição humana de qualidade. Na sua composição estão contidos os principais nutrientes necessários ao desenvolvimento físico humano. Em crianças com idade de até três anos o consumo diário de um ovo atende aproximadamente 50% das necessidades de proteína. Desta forma o seu consumo está diretamente relacionado a questão da segurança alimentar.
Figura 3 – Comércio líquido (exportações - importações) de ovos no ano de 2004 – (expresso em equivalente tonelada).
De acordo com Brandt (1980), além do preço do próprio produto, inúmeros outros fatores afetam o consumo dos produtos agropecuários, dentre os quais destacam-se: renda real dos consumidores, preço dos substitutos e complementares, tamanho da população e da unidade familiar, composição da população e da unidade familiar, nível de educação e idade do consumidor, estações do ano, religião, origem étnica, entre outros.
Além dos fatores listados acima, tem ganhado cada vez mais importância no consumo dos alimentos questões relacionado a disponibilidade de tempo da mulher, principalmente, na tomada de decisão sobre o consumo de alimentos. Este tema foi discutido por Schlindwein (2006).
Segundo Schlindwein (2006) 83% da população brasileira residia em 2003 no meio urbano e 54% das mulheres brasileiras, que eram chefe de família ou cônjuge, trabalhavam fora de casa. Desta forma os diversos fatores socioeconômicos e demográficos estão influenciando fortemente o comportamento no consumo de gêneros alimentícios no Brasil.
Desta forma, o presente estudo tem como objetivo determinar e quantificar os fatores determinantes do consumo de ovos pelas famílias brasileiras. Este estudo encontra-se estruturado da seguinte forma: além desta breve introdução, se apresentará, na próxima seção, a metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho; a seguir, serão apresentados os resultados e discussões; e, por fim, as considerações finais.
Metodologia
O Método de Heckman
Este modelo foi criado devido ao problema de erro de aleatoriedade da amostra. Este fato geralmente ocorre quando se tem problema de seletividade amostral. No caso específico deste estudo, onde se pretende fazer uma análise das despesas de consumo das famílias, muitos informantes declaram não ter despesa com determinado item de consumo. Entretanto, este item pode não ter sido demandado no período da pesquisa, por uma decisão da família de nunca consumir o produto ou pelo simples fato de que somente naquele momento o produto não foi consumido. Geralmente nos estudos sobre consumo utiliza-se os dados na sua forma logarítmica e, desta forma, estes dados "zeros" são eliminados da amostra. O procedimento em dois estágios de Heckman visa reduzir ou eliminar o problema de seletividade amostral.
O procedimento proposto por Heckman é composto por dois estágios. O primeiro estágio se refere a estimativa sobre a decisão de consumo ou não de determinado produto ( no caso específico deste estudo se analisará o consumo de ovos). Para esta estimativa se utilizará um modelo discreto (PROBIT).
Ci= ƒ (urbanização, região, característica do domicílio, características da mulher), i=1 ... n Onde Ci = 1 se houver dispêndio do domicílio i, com ovos, e zero caso contrário.
Algebricamente este modelo é expresso como:
O segundo estágio do procedimento de Heckman envolve a estimação de equações de dispêndio e pode ser expresso como:
A razão inversa de Mills é uma variável gerada pelo próprio modelo, com o intuito de corrigir o viés de seleção amostral (SCHLINDWEIN, 2006). Esse viés ocorre porque enquanto apenas uma parte da população, ou dos domicílios, adquiriram ovos, a população toda é potencial consumidora, ou seja, o fato de a família não ter adquirido determinado produto, no período da pesquisa, não significa que essa família não consuma esse produto.
Ainda que a segunda parte da metodologia seja estimada por mínimos quadrados ordinários, ela inclui a variável lamba, gerada no primeiro estágio, onde se utilizou o modelo Probit, desta forma, o valor dos coeficientes estimados não refletem, diretamente, o efeito das variáveis independentes sobre a variável dependente. Para tanto é necessário calcular o efeito marginal.
O efeito marginal condicional e não-condicional foi derivado por Hoffmann & Kassouf (2005). O efeito marginal condicional está relacionado com os domicílios que efetivamente efetuaram dispêndio com ovos durante a pesquisa e o não-condicional se refere a análise de todos os domicílios, os que consumiram e os que não consumiram o produto no período da pesquisa.
Efeito marginal condicional
O efeito de xki, quando este é uma variável continua, sobre Yi, dado que Yi é observado, é:
O efeito marginal condicional apresenta duas partes devido ao uso da razão inversa de mills no segundo estágio do procedimento de Heckman.
Por outro lado no caso de x ser uma variável binária temos que:
Onde ∆λ é a diferença entre a razão inversa de mills para a binária igual a 1 e para a binária igual a 0. Em todas as outras variáveis utilizada-se o seu valor médio.
Como o consumo está expresso em logaritmo (base neperiano) o efeito marginal corresponde a uma mudança relativa do consumo. Desta forma se c é o efeito condicional estimado a mudança no consumo decorrente da mudança em x é dado por [exp(c)-1]100.
Efeito marginal não condicional
Quando o objetivo é conhecer o efeito de variáveis explicativas sobre o dispêndio médio com os produtos i para todos os domicílios, incluindo aqueles com dispêndio zero para um determinado produto no período considerado pela pesquisa, analisa-se o efeito marginal não-condicional.
Onde eI é o efeito associado à aqueles que consomem o produto i e eII é o efeito associado a mudança na probabilidade de consumir.
Para variáveis binárias, o efeito não condicional é analisado na mudança de zero para um.
Tal qual o efeito condicional, o efeito marginal não condicional é dado por [exp(eI+eII)-1]100.
A revisão da metodologia foi efetuada baseando-se em Schlindwein (2006), Schlindwein & Kassouf (2006), Hoffmann & Kassouf (2005) e Greene (2003). Os leitores devem ser reportar a estes autores para um estudo mais detalhado do modelo.
As estimativas do modelo serão efetuadas utilizando-se o Software SAS.
Fonte dos dados
Os dados utilizados neste trabalho são provenientes da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A coleta dos dados foi efetuada nas áreas urbanas e rurais de todo o país no período de julho de 2002 a junho de 2003, sendo entrevistado um total de 48.470 domicílios.
Resultados e Discussões
O Consumo de Ovos no Brasil e nas Grandes Regiões
De acordo com os dados da POF 2002-2003, a aquisição per capita de ovos pela população brasileira em 2003, foi de 1,697 kgs. Este valor é bastante inferior ao consumo per capita oficial divulgado pela FAO para este mesmo ano, que foi de 7,2 kgs. A diferença dos valores pode ser explicada, uma vez que existem diversas formas de consumo de ovos, e os valores que constam nos dados da POF se referem apenas ao consumo no domicílio:
- Nas aquisições per capita, não estão incluídas a ingestão de ovos na sua forma in natura fora do local de residência. Este item é muito importante, pois nos grandes centros, principalmente, os trabalhadores não retornam as suas moradias para fazer as suas refeições nos horários de expediente.
- O consumo de bolos, massas, e os burgers em geral, muitas vezes contem ovos como seu ingrediente básico e não tem valores computados para este item na POF.
- Problemas de especificação da amostra que subestima consumos com grande sazonalidade em períodos especiais de festas (festas juninas, páscoa, natal, ano novo, etc.).
- Outro problema na estimação das aquisições per capita, está relacionado aos pesos utilizados na ponderação que classifica como urbanos aglomerados populacionais que mantém os padrões de comportamento de consumo como puramente rurais. Neste caso, a população rural passa a ser subestimada, o que, dadas as características de aquisição de ovos, também subestima a sua real aquisição.
As aquisições per capita de ovos no Brasil, segundo os microdados da POF, apresentam uma grande variação em função da região e do setor (urbano ou rural) ao qual o domicilio pertence. Desta forma a maior aquisição per capita de ovos ocorreu na região Sul (5,475 kgs) e a menor na região Sudeste (0,098 kgs), como pode ser verificado na Tabela 1.
Tabela 1- Consumo per capita de ovos no Brasil, por Grandes Regiões e por situação do domicílio (expresso em gramas), em 2003
Os problemas relacionados à especificação da amostra podem ser vistos na Tabela 2. A região Sudeste é a que apresentou o menor número de entrevistados que adquiriram ovos durante o período da pesquisa. Nesta região 4,24% e 7,87% dos domicílios pertencentes, respectivamente, ao meio rural e urbano adquiriram ovos de galinha durante a execução da POF.
Nas regiões Centro Oeste, Nordeste, Norte e Sul, respectivamente, em 29,11%, 23,44%, 27,73% e 40,27% dos domicílios entrevistados, procedentes do meio rural ocorreu a aquisição de ovos. No meio urbano as proporções foram sistematicamente inferiores, porém superiores a obtida na região Sudeste. Desta forma podemos inferir que o menor consumo per capita, principalmente na região Sudeste, deveu-se ao número de domicílios amostrados que adquiriram e não pela quantidade adquirida.
Tabela 2 - Número de domicílios que adquiriram ovos de galinha no período da pesquisa, por situação do domicílio e Grandes Regiões, em 2003
Em função do exposto, os resultados da Tabela 1 devem ser vistas com cautela. Ainda assim os resultados sobre as diferenças entre o consumo urbano e rural são bastante robustos e estão de acordo com os resultados anteriormente obtidos no Estudo Nacional de Despesa Familiar – ENDEF – 1973. O menor consumo de ovos nas áreas rurais do Nordeste vis à vis as áreas urbanas pode estar relacionado a pouca produção de milho na própria propriedade que minimiza os impactos da produção para consumo próprio nesta região.
Variáveis utilizadas
As variáveis utilizadas neste estudo estão apresentadas na Tabela 3. Para cada variável foi calculado o valor médio para: o total da amostra; para os domicílios que consumiram ovos no período da pesquisa; e, para os que não consumiram. Uma análise da freqüência de ocorrência das variáveis pode ser encontrada em Schlindwein e Kassouf (2006).
Os resultados mostram que existe uma nítida diferença entre os resultados nas três categorias sinalizando para o problema de seleção amostral. A renda per capita média foi de R$ 1.032,77, R$ 880,07 e R$ 906,87 para o total da amostra, consume e não consume, respectivamente.
A composição racial declarada da mulher chefe do domicílio ou cônjuge, para o total da amostra, é composta em sua maioria pela raça brança (55%) e parda (37%). Somente 7%, 0,6% e 0,3% da amostra se declararam negra, amarela ou indígena, respectivamente.
Ainda relacionado a mulher, constatou-se que 54% das mulheres chefe ou cônjuge estão inseridas no mercado de trabalho (formal e informal) e são responsáveis por 24% dos domicílios.
Tabela 3 – Descrição das variáveis e suas respectivas médias
Resultados econométricos
Resultados para a equação
Probit Os resultados do efeito marginal, da equação probit, calculado para o primeiro estágio do modelo de Heckman está apresentado na Tabela 4. Das características do domicílio e dos seus moradores, as variáveis renda per capita, anos de escolaridade e as raças, da mulher chefe do domicílio ou cônjuge, parda e amarela não foram estatisticamente significativa a 10% de probabilidade. Os domicílios onde a mulher (conjugue ou chefe) trabalha apresenta uma maior probabilidade de adquirir ovos (1,67%). Por outro lado o fato do homem ser chefe da família também aumenta a probabilidade de se adquirir ovos (1,39%).
Tabela 4 - Resultados dos efeitos marginais do Modelo Probit para a probabilidade de adquisição de ovos no Brasil.
Os valores em italico e negrito foram significativos a 5% de probabilidade
Em relação à composição da família, em termos de idade, observou-se que um aumento no número de moradores em todas as estratificações de idade, acima de sete anos, eleva a probabilidade de se adquirir ovos. O que significa que quanto maior o número de pessoas na família com mais de sete anos de idade, maior a probabilidade de consumo de ovos.
Em termos regionais a propensão marginal a adquirir ovos é positiva para a maioria das regiões analisadas. Os resultados mostram que apenas os domicílios situados na região Sudeste são menos propensos ao consumo de ovos em relação à região Sul, nas regiões Norte e Nordeste a probabilidade de consumo de ovos é maior do que na região Sul.
Em relação à localização da residência (rural, urbano) os resultados mostram que a probabilidade de consumo de ovos pelas famílias que moram no meio urbano é menor quando comparadas às famílias que moram no meio rural.
A composição racial das mulheres chefes ou cônjuge também afeta a propensão marginal a adquirir ovos. Os resultados deste estudo demonstram que, os domicílios com mulheres chefe ou cônjuge, tendo se declarado ser de raça preta ou amarela apresentam uma menor probabilidade de adquirir ovos em relação às famílias onde a mulher chefe ou cônjuge é da raça branca.
Um resultado interessante, é que há uma maior na probabilidade de consumo de ovos, nos domicílios, onde a mulher chefe ou cônjuge trabalha fora de casa. Esse resultado, de certa forma, também vem de encontro ao obtido por Schlindwein (2006), uma vez que a autora concluiu que hoje há uma tendência ao consumo de alimentos mais práticos, e o ovo certamente pode ser considerado como um desses alimentos. Além disso, com o trabalho da mulher fora de casa, ela tem menos tempo para o preparo dos alimentos, o que faz com que reduza o consumo de alimentos que demandam um maior tempo de preparo. Destaque-se a qualidade nutricional do ovo que faz deste alimento uma boa opção para o caso da substituição dos alimentos "tempo-intensivos".
Equações de dispêndio familiar – efeitos marginais condicionais e não-condicionais.
De acordo com os dados da Tabela 5, verifica-se que a razão inversa de Mills foi estatisticamente significativa indicando a necessidade de correção do viés de seleção amostral. Conforme exposto por Schlindwein (2006) o seu sinal negativo indica que fatores não mensurados que elevam a probabilidade de consumo reduzem o consumo deste produto.
Tabela 5 - Coeficientes gerados no modelo de Heckman e valor do teste de Lambda
No que se refere à equação de dispêndio com ovos no Brasil, a Tabela 6 apresenta um comparativo entre os resultados para o efeito marginal condicional e o efeito marginal nãocondicional. Destaque-se que o efeito condicional mostra os impactos das variáveis explicativas sobre o consumo de ovos nas famílias que efetivamente adquiriram o produto no período da pesquisa. Já o efeito não-condicional é calculado considerando toda a população, e não somente os consumidores do produto, como é o caso do efeito condicional.
A variável renda domiciliar per capita apresentou um efeito marginal condicional e não-condicional positivo e menor que um o que caracteriza o ovo como bem normal. A renda domiciliar apresentou uma relação direta com o dispêndio com ovos. No caso do efeito condicional um aumento de 10% na renda domiciliar eleva o dispêndio com ovos em 1,9% e no caso do efeito não-condicional, o mesmo aumento na renda eleva o dispêndio em 2,2%. O efeito marginal da renda condicional e não-condicional foi inferior ao mesmo efeito renda obtido por Schlindwein & Kassouf (2006) para o consumo per capita de carne de bovinos e suínos.
Tabela 6 - Efeito Marginal condicional e não-condicional para o dispêndio com ovos no Brasil
O efeito marginal condicional e não-condicional de 0,195 e 0,214 respectivamente é também semelhante ao obtido por Marshall (1979), Vicente (1994) e Hoffmann (2000). Esses autores obtiveram elasticidade renda do dispêndio com ovos para o Brasil de, respectivamente, 0,08 e 0,096 que também são, ainda que inferiores, semelhante com os resultados obtidos neste estudo.
O valor do efeito marginal não-condicional foi superior ao do efeito marginal condicional, o que significa que quando se considera os potenciais consumidores, e não apenas as famílias que adquiriram o produto, o efeito da variável renda é ainda mais significativo sobre o dispêndio com ovos.
A Variável composição da família foi significativa a 5% de probabilidade significando que um aumento no tamanho da família reduz o dispêndio com o produto. Destaque-se que o valor do efeito não-condicional é menor se comparado ao efeito condicional indicando que quando se considera os potenciais consumidores de ovos, um aumento no tamanho da família reduz o dispêndio com o produto numa proporção menor do que quando se analisa apenas quem efetivamente consumiu o produto. Esses resultados mostram que, em termos de segurança alimentar, o consumo de ovos no Brasil é mal utilizado. O efeito marginal do número de moradores no domicílio com até seis anos foi negativa e de maior intensidade dentre todas as faixas etárias estudadas, demonstrando que a presença de crianças diminui o consumo de ovos.
Segundo Schermann & Rosa (2006) o ovo depois do leite, em termos de proteína, é o alimento mais completo para as crianças. Segundo os autores o ovo pode suprir até 100% das necessidades de proteína para as crianças com até um ano de idade e chegar até 50% das necessidades de proteína para as crianças de até 3 anos. Desta forma, devido a composição do ovo e sua alta importância para a alimentação infantil os resultados obtidos são alarmantes e medidas devem ser tomadas visando reverter esta situação.
As variáveis relacionadas ao sexo e a inserção no mercado de trabalho da mulher cônjuge ou chefe foram significativas e positivas. Este fato indica que a praticidade de uso do ovo esta sendo um dos seus fatores promotores de consumo. O grau de escolaridade da mulher, ainda que não tenha sido significativo, apresentou sinal positivo.
Diferente dos resultados obtidos em Schlindwein (2006) a urbanização não foi um fator relevante na determinação do dispêndio com ovos no Brasil.
As variáveis regionais sinalizam que o dispêndio com ovos pelos domicílios da região Sul é maior do que o realizado pelas famílias das outras regiões do país. Destaque-se que os valores dos efeitos são mais significativos para as regiões mais pobres do Brasil, como pode ser observado na Tabela 6.
Considerações finais
A decisão de se adquirir ou não ovos para consumo foi afetada pela composição da família, região e localização de domicílio e características da mulher chefe ou cônjuge do domicílio. De forma semelhante a quantidade de ovos no Brasil é influenciada pela renda per capita, composição da família, região de domicílio e características da mulher cônjuge ou chefe do domicílio.
A renda per capita dos domicílios, conforme esperado pela literatura, apresentou resultado positivo tanto sobre a probabilidade de consumo quanto sobre o dispêndio efetuado pelas famílias brasileiras com o produto. Assim, uma elevação no nível de renda eleva o consumo de ovos. Em termos regionais, constatou-se um menor dispêndio com ovos pelas famílias brasileiras que vivem nas regiões mais pobres do Brasil (Norte e Nordeste).
O fato de a mulher chefe de família ou cônjuge estar inserida no mercado de trabalho influenciou positivamente a probabilidade de aquisições de ovos. Acredita-se que o menor tempo disponível, aliado a praticidade de preparo é o responsável por este comportamento.
A composição da família, expresso em número de moradores, afetou positivamente a probabilidade de consumo e negativamente o dispêndio domiciliar com ovos no Brasil. Desta forma, quanto maior o número de moradores, independente da faixa etária, menor o dispêndio familiar com ovos.
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