Por muitos anos, a produção do etanol ocorreu no Brasil utilizando, quase que exclusivamente, a cana de açúcar como matéria-prima. Porém, nos últimos cinco anos, pudemos observar uma expansão da produção de combustíveis utilizando outras fontes, com destaque para a produção do etanol de milho.
Essa expansão tem sido impulsionada pela possibilidade de aquisição da matéria-prima a preços competitivos em regiões com excedente de produção, ao uso da infraestrutura das usinas em período de entressafra de cana e a acordos internacionais e estímulos governamentais para o aumento na produção de biocombustíveis.
Com o crescimento da produção de etanol de milho, é esperado também o aumento da oferta do DDG (grãos secos de destilaria) ou de DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis). Os estados que se destacam na produção de etanol de milho e, consequentemente, na produção de DDG são o Mato Grosso, Goiás e Paraná, havendo 11 usinas em operação e outras 10 unidade previstas para os próximos anos, fazendo com que em 2028 haja uma projeção de que 19% do total produzido de etanol no Brasil seja obtido a partir do milho, frente aos 4% atuais (projeção UNEM – União Nacional do Etanol de Milho).
Estima-se que, para cada tonelada de milho utilizada para a produção de etanol, 323 kg de DDGS serão produzidos. Este coproduto, apesar de rico em nutrientes, apresenta variações na sua composição nutricional que podem dificultar o uso nas rações de monogástricos. A qualidade das matérias-primas utilizadas, as técnicas industriais, a eficiência de conversão do amido, a proporção de solúveis adicionados, a temperatura e a duração da secagem, são fatores que influenciam diretamente na qualidade nutricional deste coproduto.
A temperatura atingida durante o processo de produção do etanol é um ponto de atenção em relação à qualidade do DDG/DDGS, devido ao impacto negativo sob a digestibilidade dos nutrientes. Quando expostos a altas temperaturas, os aminoácidos têm a sua digestibilidade reduzida, prejudicando o aproveitamento pelas aves.
Em relação aos teores de proteína bruta, verificamos que há disponível -comercialmente – DDG/DDGS que podem variar de 28 a 40% de PB (proteína bruta), estes ainda possuem diferenças significativas em teores de fibra, sendo a maior fração destas o tipo insolúvel. Segundo Lumpkins et al. (2004), o DDGS é uma considerável fonte de proteína, aminoácidos, energia, fósforo e outros nutrientes, entretanto, o principal problema de seu uso é a grande variabilidade na composição nutricional e na qualidade deste ingrediente.
Quando a composição do DDGS atinge proporções acima de 39% de proteína bruta, é considerada como de “alta proteína” (DDGS high protein); quando são encontrados teores abaixo de 38%, tem-se o DDGS de “baixa gordura” (DDGS low-fat) (Santos et al., 2019).
A utilização de DDGS ou DDG do tipo high protein possui potencial de substituição às fontes proteicas das rações de aves, podendo refletir em reduções consideráveis no custo de formulação. Segundo Penz Junior e Gianfelice (2008), esse resíduo apresenta um valor médio de energia e proteína bruta similar ao do farelo de soja, tendo como limitantes os aminoácidos triptofano, arginina e lisina.
Em relação aos aminoácidos, alguns trabalhos relatam existir relação entre a intensidade de cor do DDGS e a composição de aminoácidos, na qual as amostras mais claras apresentam maior conteúdo de aminoácidos que as amostras mais escuras (Silva et al., 2016) (Figura 1). Isso porque os DDGS, durante o processo de secagem, podem passar por aquecimento excessivo levando a perdas do conteúdo de aminoácidos (degradação de proteínas) (Urriola et al., 2009). Segundo Parsons et al. (2006) a baixa digestibilidade de aminoácidos do DDGS pode também ser resultado de uma maior concentração de fibras, quando comparado ao milho, visto que a fibra dietética reduz a digestibilidade dos aminoácidos, o que torna parte dos carboidratos e das proteínas indisponíveis para o animal.
Figura 1. Grãos secos de destilaria com solúveis: (A) característica do produto; (B) variação de cor entre amostras (Silva et al., 2016).
A variação na qualidade e na composição desse ingrediente reflete também nas oscilações das respostas obtidas em pesquisas e no referencial técnico disponível, o que dificulta a adoção de níveis seguros de inclusão deste ingrediente nas rações. O desafio na utilização do DDG em rações de aves está no conhecimento da real composição nutricional da matéria-prima a ser utilizada, assim como na valorização correta dos níveis nutricionais, o que pode refletir na adoção de inclusões conservadoras deste coproduto nas formulações, com o objetivo de não limitar nutricionalmente o desenvolvimento dos animais.
O DDG é um ingrediente interessante na nutrição de aves, principalmente em regiões de maior oferta, como aquelas de maior proximidade às usinas. Sendo assim, conhecer a matéria-prima é fundamental para a análise de viabilidade de uso, considerando fatores, como: custo, a fase de criação, valorização nutricional e as inclusões que deverão ser utilizadas nas rações.