As formulações comerciais de aves são desenhadas com o objetivo de atender as necessidades nutricionais previamente estabelecidas, de acordo com as matrizes nutricionais das matérias-primas utilizadas, buscando o menor custo possível. Quando o assunto é custo de formulação, um dos grandes impactos se deve às suplementações, referentes aos aminoácidos e aos níveis mínimos de proteína bruta. Dessa forma, muito se discute sobre a possibilidade de redução de proteína nas rações e a suplementação de aminoácidos industriais para maximização de desempenho e redução dos custos.
A utilização do conceito de proteína bruta nas formulações tem sido substituída pelo conceito de proteína ideal, ambos com o objetivo de suprir os aminoácidos essenciais na dieta; e do nitrogênio (N) para a síntese dos aminoácidos não essenciais. Porém, a utilização do conceito de proteína bruta demanda formulações com margens de segurança que podem refletir em frequentes excessos. Além disso, esses excessos poderiam resultar em maior gasto metabólico para a excreção de N pelos rins, assim como o elevado custo alimentar e o aumento de excreção de nitrogênio no ambiente.
O conceito de proteína ideal foi primeiro definido por Mitchell (1964), como sendo uma mistura de aminoácidos ou proteína cuja composição atende às exigências dos animais para os processos de mantença e crescimento. A exigência dos aminoácidos pelas aves segue a “Lei dos Mínimos”, exemplificada pela Teoria do Barril de Liebig (Figura 1), que demonstra que a produtividade é limitada pelo nutriente em menor quantidade na ração.
Figura 1. Representação esquemática da Lei do Mínimo (Liebig)
Formular, tendo como referência o conceito de proteína ideal, significa utilizar aminoácidos sintéticos e reduzir a proteína bruta da ração, levando em consideração a ordem de limitação dos aminoácidos e as exigências nutricionais de cada um deles. Para isso, utiliza-se a lisina como aminoácido-referência (valor 100%) e uma relação de exigência entre os outros aminoácidos e a lisina.
O sucesso de uso da proteína ideal está diretamente relacionado com o uso de níveis atualizados e confiáveis de exigência de lisina e da relação deste com todos os outros aminoácidos nutricionalmente essenciais, devendo sempre levar em consideração o avanço genético das linhagens e as condições a campo. O uso deste conceito se traduz em uma relação ideal entre os aminoácidos, favorecendo a absorção e a digestibilidade de cada um deles.
Para formular com o perfil de proteína ideal é imprescindível a inclusão de aminoácidos industriais e, à medida que esses aminoácidos se tornarem disponíveis e a um custo competitivo, maior será a possibilidade de redução da proteína bruta e redução dos custos de fórmula.
A possibilidade de redução dos níveis mínimos de proteína bruta tem como benefício o menor gasto metabólico para o processo de digestão e a menor excreção de nitrogênio, oferecendo condições ambientais mais favoráveis, através da redução na produção de amônia, o que significa melhores condições de trabalho para o homem e melhor condição de saúde para os animais. Estima-se que a redução de 1% na proteína bruta dietética, com a suplementação de aminoácidos, pode diminuir em até 12% do nitrogênio excretado no ambiente.
Diversos fatores afetam a exigência proteica, como: a idade, sexo e linhagem, sendo que aves mais jovens possuem uma necessidade dietética maior de aminoácidos e os machos, um requerimento superior de nutrientes, devido ao peso corporal elevado e ao metabolismo mais acelerado. As linhagens modernas foram selecionadas para que tenham um ganho de peso acelerado, o que se traduz em maior demanda por nutrientes e dietas com uma quantidade maior de aminoácidos, a fim de que possam expressar todo o seu potencial genético.
O estado sanitário do animal também afeta a exigência nutricional, havendo maior demanda proteica em situações de desafio, devido a ativação do sistema imune (produção de anticorpos) e a menor absorção de nutrientes. Outra condição que influencia a nutrição proteica é a temperatura ambiente. A criação das aves em situações de desafio térmico é uma realidade em muitas granjas, sendo esse um fator prejudicial à conversão alimentar. Quando estressadas termicamente, as aves reduzem o consumo de ração, comprometendo o desempenho e sendo necessário adensar os níveis nutricionais, inclusive aminoácidos, para minimizar os efeitos dessa queda de consumo.
Outro ponto que fortalece as discussões sobre a redução de proteína nas rações está relacionado com a qualidade das fontes proteicas utilizadas. Em uma ração de frango de corte na fase de crescimento, por exemplo, cerca de 40% da proteína total é suprida pela inclusão do farelo de soja, tornando muito grande a responsabilidade desse ingrediente como fonte segura de aminoácidos.
Por ser um ingrediente de alta inclusão, a soja, seja oferecida como farelo ou na forma integral, deve passar por um processamento térmico adequado para que ocorra inativação de fatores antinutricionais ou parte deles. Porém, o processamento térmico, quando em excesso, pode prejudicar a qualidade da proteína dessa fonte, reduzindo a digestibilidade dos aminoácidos através da exposição ao calor. Para monitorar o processamento da soja, análises como urease e a solubilidade proteica são frequentemente utilizadas. Dessa forma, quanto maior o nível de proteína na ração, maior poderá ser a inclusão de soja nas formulações de aves, o que aumenta também a preocupação sobre a qualidade da fonte utilizada.
Além disso, formulações com excesso de proteína estão sendo relacionadas com o aumento do crescimento microbiano no intestino, o que levaria a uma disbiose local, prejudicando o desempenho das aves.
Algumas enzimas denominadas proteases têm sido utilizadas com a finalidade de melhorar a digestibilidade de aminoácidos e reduzir os efeitos de fatores antinutricionais da soja, o que possibilita menor inclusão dessa matéria-prima através da utilização de uma matriz nutricional vinculada à enzima, assim como o abrandamento dos efeitos prejudiciais de fatores como antitripsinas.
Levando-se em consideração esses aspectos, a viabilidade da redução proteica é dependente da disponibilidade dos aminoácidos industriais, devendo ser respeitada a relação ideal de aminoácidos e as condições de campo. O que observamos, na prática, é uma otimização dos níveis nutricionais nas formulações de aves, com o objetivo principal de redução de custo e aumento de competitividade, assim como uma discussão cada vez mais forte e um olhar mais atento sobre a nutrição direcionada também à saúde intestinal e à minimização dos efeitos prejudiciais ao meio ambiente.
Publicado originalmente no Blog da Agroceres Multimix