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Ácidos orgânicos na dieta de aves como alternativa aos antimicrobianos

Publicado: 7 de fevereiro de 2019
Por: Por Andréa de Britto Molino, doutora em Zootecnia pela UNESP/Botucatu e especialista em nutrição de aves da Vaccinar
Para atender às novas exigências do mercado avícola de redução (e posterior proibição) do uso de antimicrobianos na dieta das aves, diversas medidas preventivas devem ser tomadas para garantir a sanidade e o desempenho dos lotes.

O pintinho nasce com um intestino praticamente livre de micróbios e, por isso, os primeiros colonizadores tendem a predominar. Os nutrientes não digeridos ficam disponíveis para promover o crescimento microbiano nas porções distais do intestino e no ceco e, se eles incluírem bactérias patogênicas, o pintinho estará em desvantagem.

A microbiota intestinal "normal" se desenvolve rapidamente, de modo que a carga bacteriana e as espécies presentes na bandeja de incubação, durante o nascimento e durante os primeiros dias na granja, determinarão a colonização inicial. O desenvolvimento precoce e rápido do epitélio intestinal é outro pré-requisito para a digestão normal. Vilosidades e microvilosidades intestinais crescem rapidamente nos primeiros dias e qualquer atraso nesse processo levará a uma redução na absorção de nutrientes aumentando a disponibilidade de nutrientes para patógenos anaeróbicos. Dessa forma, a seleção de ingredientes altamente digeríveis, livres de toxinas, é importante para garantir o rápido desenvolvimento intestinal.

O intestino das aves é o principal órgão no desenvolvimento da imunidade inespecífica, já que aves não possuem linfonodos. As bactérias naturalmente presentes na microbiota intestinal podem produzir e liberar compostos como peróxidos de hidrogênio e ácidos orgânicos, que tem efeito bactericida, principalmente sobre bactérias patogênicas. A população bacteriana influencia inúmeros processos imunológicos, fisiológicos, nutricionais e de proteção no trato gastrintestinal, refletindo na saúde, no desenvolvimento e no desempenho das aves.

Mas, para garantir o equilíbrio natural da microbiota, é importante que a parede intestinal se mantenha saudável. As vilosidades (ou vilos), proporcionam aumento na superfície interna do órgão e nelas se encontram os enterócitos, que são células responsáveis pela digestão final do alimento e transporte transepitelial dos nutrientes a partir do lúmen. Essas células possuem um processo de maturação que ocorre durante a migração da cripta (base) para o ápice do vilo.

Essas células estão em constante renovação (proliferação e diferenciação) a partir da cripta e ao longo dos vilos e a perda ocorre, principalmente, no ápice dos vilos. O equilíbrio entre os processos de síntese-migração-perda (turnover) mantém o tamanho dos vilos. Quando ocorre a proliferação de algum agente patogênico, por exemplo, há um desequilíbrio no turnover a favor de um desses processos. Assim, a redução na altura dos vilos ocorre devido a uma menor taxa de proliferação e/ou aumento na perda, favorecendo processos inflamatórios e facilitando a entrada de patógenos.

Sendo assim, para que haja sucesso na retirada dos antibióticos das dietas, além de ser imprescindível melhorar as condições de manejo, higiene e ambiência, deve-se promover a estabilização da microbiota intestinal normal, com redução da carga bacteriana indesejável, além de garantir melhor vitalidade de enterócitos e vilos. Para tanto, os substitutivos aos antimicrobianos devem ser produtos eficientes, de baixo custo e fácil aplicação.

Os ácidos orgânicos como controladores da carga microbiana e melhoradores da morfologia do trato gastrintestinal têm se mostrado importantes ferramentas com excelentes resultados de campo. São constituintes naturais das plantas e animais e podem ser formados por meio de fermentação microbiológica no intestino ou nas rotas metabólicas intermediárias. Os ácidos associados à atividade antimicrobiana são os de cadeia curta, tanto monocarboxílicos (fórmico, acético, propiônico e butírico) como carboxílicos com grupo hidroxila, normalmente no carbono α (láctico, málico, tartárico e cítrico). Os ácidos de cadeia curta na forma não dissociada auxiliam no controle de microorganismos não desejados, estimulam a proliferação de células epiteliais e o tamanho de vilosidades, aumentando a superfície de absorção, podendo ser utilizados como aditivos melhoradores de desempenho em dietas para aves.

Após a ingestão, a atividade antimicrobiana do ácido orgânico é mais acentuada no trato gastrintestinal (TGI) superior. Porém, as bactérias possuem diferentes níveis de sensibilidade para esses ácidos e as bactérias ácido-tolerantes conseguem sobreviver. Em sua forma não dissociada, esses compostos não conseguem atravessar a parede celular bacteriana. Para garantir que a dissociação ocorra no lúmen intestinal, é necessário protegê-los no interior de uma matriz que possua a capacidade de atravessar a parte superior do TGI sem se desnaturar.

Ao chegar no intestino, a matriz é degradada por ação de enzimas hepáticas e pancreáticas, liberando o ácido orgânico ainda na forma não dissociada.

Os efeitos dos ácidos orgânicos sobre as bactérias patogênicas ainda não foram totalmente elucidados, porém, acredita-se que as formas não dissociadas do ácido difundem-se através das membranas celulares das bactérias, destruindo seu citoplasma ou inibindo seu crescimento. Além disso, a dissociação do ácido no intestino libera íons H+ que funcionam como uma barreira que impede a colonização por bactérias patogênicas. A hidrólise gástrica também libera íons H+, ativando o pepsinogênio e inibindo o crescimento bacteriano (efeito bactericida/bacteriostático). Os ácidos orgânicos também promovem fornecimento de substrato energético/modulador para o desenvolvimento da mucosa intestinal, melhorando sua capacidade de absorção.

A eficiência antimicrobiana do ácido depende da sua constante de dissociação (pKa). Quanto maior o pKa de um ácido, mais eficiente ele será como preservante. Medidas do pH dos segmentos intestinais das aves variam de 6,4 a 7,2. Desse modo, ácidos orgânicos com mais de um pKa ou misturas de ácidos orgânicos com diferentes pKa apresentam dissociação em diferentes pH e podem manter a ação antimicrobiana em maior extensão gastrointestinal. Muitos ácidos também estão disponíveis como sais de sódio, potássio ou cálcio. A vantagem dos sais em relação aos ácidos orgânicos é que geralmente possuem odor menos acentuado e apresentam-se na forma sólida, que facilita o processamento e inclusão na dieta. A desvantagem é que possuem menor influência sobre a redução do pH da dieta do que os ácidos orgânicos.

Os ácidos orgânicos (ou suas misturas) se mostram como alternativas promissoras ao uso de antimicrobianos e o emprego de ácidos livres, associados a ácidos protegidos, parece ser a forma de utilização que traz mais benefícios.
Publicado originalmente na Avicultura Industrial
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Autores:
Andréa de Britto Molino
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Juarez Donzele
Universidade Federal de Viçosa - UFV
Universidade Federal de Viçosa - UFV
8 de febrero de 2019
Assunto interessante e bem fundamentado. No entanto, algumas informações relatadas despertam curiosidade. Primeiro, qual seria essa enzima hepática que a autora fez menção. Segundo, os ácidos graxos de cadeia media também não teriam ação antimicrobiana. O pKa do acido realmente e' de fundamental importância , com a forma não dissociada e' a que define sua ação antibacteriana direta , Assim , para otimizar essa ação o pKa do acido deve estar acima do pH da região gastrointestinal onde ele se encontra. Quanto a ação direta sobre o desenvolvimento da mucosa intestinal, não seria o ac. butírico o de maior eficiência, considerando sua ação como fonte energética e na produção de GLP2.
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