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Reduzindo a utilização de antibióticos: qual o papel do butirato como aditivo alternativo?

Publicado: 12 de janeiro de 2021
Por: Tim Goossens, Gerente Técnico-Científico Global ‘Health by Nutrition’, Adisseo Bélgica
Organizações governamentais e produtores estão com suas atenções voltadas à redução do uso de antibióticos na produção animal, seja como terapêutico, ou promotor de crescimento (APC). Nesse contexto, atenção especial é necessária às diversas estratégias que objetivam minimizar a necessidade do uso de antibióticos nos alimentos dos animais, tais como um maior foco no acompanhamento veterinário, maiores restrições de biosseguridade, melhor gerenciamento da produção e o uso de aditivos funcionais. De fato, alguns aditivos podem ter efeitos benéficos para a saúde intestinal dos animais, e podem mitigar os danos causados por patógenos intestinais, reduzindo assim a necessidade do uso rotineiro de drogas veterinárias para combater infecções entéricas. Além disso, uma melhor saúde intestinal promoverá um melhor desempenho e uniformidade dos animais. Assim, aditivos que reforcem o trato gastrointestinal podem ser empregados como parte da estratégia para substituição de APCs.
No entanto, para avaliar corretamente o potencial de melhorias na saúde intestinal que esses aditivos alternativos aos antibióticos promovem, é necessário compreender o modo de ação destes aditivos funcionais.
Aditivos promotores de saúde intestinal como o butirato revestido de liberação precisa (BRLP) preparam o trato gastrointestinal dos animais para superar consequências negativas de determinadas enfermidades em estágios mais avançados da vida do animal.
Na Figura 1 estão listados alguns dos mecanismos de ação dos APCs e dos aditivos promotores de saúde intestinal. Esses dois grupos de moléculas são bastante diferentes, o que por consequência afeta sua forma de utilização. Pode se dizer que ambas as classes de componentes têm o mesmo objetivo: melhorar a saúde e função intestinal, e assim melhorar o desempenho animal. Os APCs por hipótese exercem essa atividade afetando diretamente a microbiota intestinal, e também por possuírem propriedades anti-inflamatórias. Por outro lado, os aditivos alternativos podem apresentar diferentes mecanismos de ação, como alguns produtos de butirato revestido, que atuam direta ou indiretamente nas espécies de microrganismos intestinais, mas geralmente sem efeito bactericida ou bacteriostático, como no caso dos antimicrobianos. O butirato também possui fortes propriedades anti-inflamatórias, além de ter o potencial de ativar diversas vias fisiológicas quando presente ao longo do trato intestinal. Para que o butirato esteja disponível como molécula no intestino é necessário que este ácido orgânico seja revestido adequadamente, e assim liberado gradativamente após sua ingestão (Adimix® Precision, um butirato revestido de liberação precisa, BRLP). O butirato liberado ao longo do intestino pode ativar vias de sinalização que não são normalmente ativadas pelos antibióticos, fortalece o revestimento epitelial do trato digestivo, aumenta a secreção de fluidos digestivos e pode ser utilizado por outros órgãos como o fígado, sendo fonte de energia e modulador de processos de detoxificação.
Em um modelo de desafio de enterite necrótica em frangos, suplementar dietas com BRLP em frangos teve efeitos limitados na contagem de Clostridium perfringens no trato intestinal. Contudo, as aves tratadas com BRLP tiveram escores de lesões necróticas reduzidos (Figura 2). Esses resultados estão de acordo com a hipótese de que o BRLP não tem um efeito bacteriostático direto contra o Clostridium, mas previne ou repara os danos intestinais, e assim limita a perda de nutrientes e a inflamação, condições restritivas que poderiam favorecer o crescimento descontrolado do Clostridium em fases posteriores da vida do animal.
De maneira similar, o BRLP pode restringir a colonização de Campylobacter e Salmonella no trato intestinal de animais de produção, mas não se recomenda empregar o BRLP apenas como um tratamento antibiótico logo antes do abate para eliminar esses patógenos zoonóticos. Isso é demonstrado em um experimento, onde 0 ou 3 kg/t de BRLP foram adicionados à diferentes tratamentos em frangos contaminados por Campylobacter jejuni na fase de crescimento (Figura 3). Quando o BRLP foi adicionado nas rações durante todas as fases de produção, ou a partir do momento em que as aves foram oralmente infectadas, as concentrações de Campylobacter cecais foram significativamente reduzidas em comparação ao tratamento controle. Contudo, a inclusão do BRLP somente na ração inicial e/ou ração de terminação foi menos impactante na contagem de Campylobacter no ceco.
Concluindo, os antibióticos, quando aplicados para uso terapêutico ou como APCs, geralmente exercem um efeito específico e direto nas bactérias entéricas. O lado negativo dessa abordagem é que as bactérias podem desenvolver resistência contra certas drogas, colocando em risco tratamentos futuros em humanos e animais com uso de antibióticos. Aditivos funcionais para rações como o BRLP, por outro lado, não curam desafios bacterianos agudos, mas preparam o trato gastrointestinal dos animais para superar as consequências negativas de certas doenças em fases subsequentes da vida produtiva. Como muitos dos efeitos de aditivos sobre as bactérias são indiretos ou modulam suas vias de virulência, ao invés de terem um efeito bacteriostático específico, as probabilidades de desenvolvimento de resistência contra esses componentes são muito menores. Assim sendo, a utilização de aditivos funcionais pode ser uma importante estratégia na redução do uso de APCs, enquanto também otimizam a integridade intestinal e modulam o microbioma, reduzindo assim a necessidade de antibióticos.
Reduzindo a utilização de antibióticos: qual o papel do butirato como aditivo alternativo? - Image 1
Figura 1: APCs e aditivos promotores de saúde intestinal possuem modelos de ação que são parcialmente similares e parcialmente diferentes
Reduzindo a utilização de antibióticos: qual o papel do butirato como aditivo alternativo? - Image 2
Figura 2: Escore de lesões em aves desafiadas com enterite necrótica

Reduzindo a utilização de antibióticos: qual o papel do butirato como aditivo alternativo? - Image 3
Figura 3: Contagens médias de Campylobacter (dia 39) o ceco de frangos infectados suplementados com 0 ou 3 kg/t de BRLP nas dietas de início-crescimento-terminação
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