Introdução
A tendência para a remoção de antimicrobianos das rações tem aumentado a busca por aditivos alternativos que mantenham alta produtividade dos animais sem afetar a qualidade do produto final. Entre essas alternativas podem ser destacados os probióticos, prebióticos, simbióticos, ácidos orgânicos, entre outros. Fuller (1989) define probiótico como um suplemento alimentar constituído de microrganismos vivos, que no organismo animal atuam de forma benéfica melhorando o equilíbrio da microbiota intestinal. Já os prebióticos são definidos como ingredientes nutricionais não digeríveis na porção proximal do trato gastrointestinal e que beneficiam o hospedeiro por estimular seletivamente o crescimento e/ou a atividade de um limitado grupo de bactérias no intestino (Gibson & Roberfroid, 1995), e o termo simbiótico para designar produtos que contêm probióticos e prebióticos associados.
Os prebióticos mais estudados são os oligossacarídeos, principalmente os mananoligossacarídeos (MOS). Os MOS consistem de fragmentos de parede celular de Saccharomyces cerevisae, e são capazes de ligar-se às fímbrias de bactérias patogênicas, de forma que esses patógenos passem com a digesta, sendo eliminados do trato intestinal (Spring et al., 2000). O resultado é a colonização do trato por microrganismos benéficos, que previnem o estabelecimento de Salmonella, Clostridium, E. coli, entre outros patógenos (Oyofo et al., 1989).
Os ácidos orgânicos são comumente encontrados na natureza como componentes normais de tecidos vegetais e animais. Já foi bem estabelecido que os ácidos orgânicos possuem fortes propriedades antimicrobianas. Por esse motivo, os ácidos orgânicos são amplamente utilizados na indústria de nutrição animal para controlar o crescimento de bactérias e fungos.
Esses efeitos positivos dos ácidos orgânicos podem ser explicados por diversos mecanismos, incluindo um efeito de redução do pH, propriedades bacteriostáticas e diversas propriedades metabólicas da porção aniônica dos ácidos após a dissociação (Bellaver & Scheuermann, 2004).
Estudos têm demonstrado que tais aditivos promovem a modulação benéfica da microbiota intestinal, efeito trófico da mucosa intestinal, além de efeitos imunomodulatórios. O resultado seria uma melhor digestão e absorção de nutrientes e, consequentemente, melhor desempenho animal sem causar riscos ao consumidor e sem aumentar significativamente os custos de produção (Santos et al., 2005).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de aditivos melhoradores de desempenho alternativos aos antimicrobianos (probiótico, prebiótico, simbiótico e ácidos orgânicos) sobre o desempenho de frangos de corte (ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar, viabilidade e índice de eficiência produtiva).
Material & Métodos
O experimento foi conduzido nas instalações da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP, campus de Botucatu-SP Brasil. Para isso foram alojados 1080 pintos de um dia, machos, da linhagem Cobb, com densidade populacional de 12 aves por metro quadrado. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com seis tratamentos e seis repetições de 30 aves cada. O arraçoamento foi dividido em quatro fases: 1 (1-10 dias), 2 (11-21 dias), 3 (22-35 dias) e 4 (36-42 dias). Os tratamentos foram: T1 (controle): dieta basal sem adição de antimicrobianos e aditivos; T2: dieta basal mais adição de antimicrobiano enramicina (Enradin® F80 10 ppm para fase 1 e 5 ppm para as demais fases); T3: dieta basal mais probiótico (produto comercial composto por bactérias anaeróbicas 107 UFC/g, enterobactérias fermentadoras de lactose 105 UFC/g, Enterococcus spp 106 UFC/g e Lactobacillus acidophilus 107 UFC/g na dose de 150 g/ton para fase 1 e 100 g/ton para as demais); T4: dieta basal mais prebiótico (mananoligossacarideos 1 kg/ton para fase 1 e 500 g/ton para as demais); T5: dieta basal mais simbiótico (T3 + T4); T6: dieta basal mais ácidos orgânicos (produto comercial composto pelos ácidos microencapsulados fumárico (64,1%), propionato de cálcio (10,3%), formiato de cálcio (20,5%) e sorbato de potássio (5,1%) na dose de 600 g/ton para todas as fases).
A dieta basal foi formulada a base de milho e farelo de soja, conforme níveis nutricionais recomendados por Rostagno et al. (2005) e fornecida à vontade durante todo o período experimental. As aves foram vacinadas contra coccidiose via água de bebida, no segundo dia de idade, visto que não receberam nenhuma droga anticoccidiana na ração durante todo o período de criação. A fim de aumentar o desafio sanitário foi utilizada cama de maravalha reutilizada. Para a avaliação dos dados de desempenho (ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar, viabilidade e índice de eficiência produtiva) foram registradas as quantidades de ração consumida e realizadas as pesagens dos animais no inicio e no final de cada fase. As mortalidades foram registradas diariamente para determinação do consumo real das aves.
O consumo de ração foi calculado pela diferença de pesos entre a quantidade fornecida e as sobras existentes no final de cada fase, dividido pelo número de aves existentes em cada tratamento. O ganho de peso foi obtido pela diferença entre a pesagem inicial e final de cada fase, dividido pelo número de aves de cada tratamento. A conversão alimentar foi calculada pela relação entre o consumo de ração das aves e seu ganho de peso em cada fase e corrigido pelo peso das aves mortas no período. A viabilidade foi obtida pela diferença entre o número de aves no inicio e no final de cada fase. O resultado é apresentado em porcentagem. O índice de eficiência produtiva (IEP) foi calculado pela fórmula: (ganho de peso diário (g) x viabilidade (%)) / (conversão alimentar x 10). Os dados foram submetidos à análise de variância pelo programa computacional SAS (Statistical Analysis System, 2004). As diferenças entre as médias foram submetidas ao teste Tukey, utilizando o procedimento GLM (General Linear Models) ao nível de significância de 5%. Para os parâmetros consumo de ração (CR) aos 21 e 35 dias de idade foi necessário aplicar o teste Duncan, pois o Tukey não mostrou a diferença entre as médias.
Resultados & Discussão
No período pré-inicial, 1 a 10 dias, e no intervalo de 1 a 21 dias de idade, o controle apresentou o pior (P<0,05) resultado para ganho de peso (GP) em relação ao antimicrobiano, e em relação ao simbiótico para o período pré-inicial, sendo que os aditivos alternativos e o antimicrobiano não diferiram entre si (Tabela 1).
Tabela 1. Ganho de peso médio (GP), consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA), viabilidade (VB) e índice de eficiência produtiva (IEP) de frangos de corte nos intervalos de criação 1-10, 1-21, 1-35 e 1-42 dias de idade sob os diferentes aditivos
Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem pelo teste de Tukey (P<0,05) exceto para * (CR aos 21 e 35 dias de idade) que diferem pelo teste de Duncan (P<0,05). 1Antimicrobiano (enramicina); 2Ácido orgânico; 3Coeficiente de variação.
Estes resultados discordam dos observados por Paz et al. (2010) que não encontraram diferença no GP de aves tratados com probiótico ou prebiótico no período de 1 a 10 dias. No intervalo de 1 a 35 e 1 a 42 dias de idade não foi possível observar influência significativa dos tratamentos no GP das aves. Santos et al. (2005) também não encontraram esta diferença no período total de criação, 1 a 42 dias de idade. Entretanto Kabir et al. (2004) observaram maior ganho de peso nas aves tratadas com probióticos em relação ao controle em todas as fases de criação que estudou (2ª, 4ª, 5ª e 6ª semana de idade).
O consumo de ração, no intervalo de 1 a 21 e 1 a 35 dias de idade, foi afetado (P<0,05) pelos tratamentos. No período de 1 a 21 dias os aditivos alternativos mostraram consumo de ração similar ao antimicrobiano, porém não diferiram do controle com exceção do aditivo prebiótico que mostrou consumo de ração maior que o controle. Iji et al. (2001) observaram que o uso de oligossacarídeos pode proporcionar aumento no consumo de ração. Já no intervalo de 1 a 35 dias os maiores consumos de ração foram observados no tratamento com antimicrobiano e prebiótico em relação ao aditivo simbiótico, porém nenhum dos tratamentos diferiu do controle.
Em relação à conversão alimentar (CA) na fase pré-inicial, 1 a 10 dias, os aditivos alternativos não só mostraram CA similar ao antimicrobiano como se observa o melhor resultado (P<0,05) em relação ao controle, exceto para o aditivo prebiótico. Resultados semelhantes foram encontrados por Paz et al. (2010). Os tratamentos não modificaram significativamente a CA no intervalo de 1 a 21 dias de idade. No período de 1 a 35 dias de idade os tratamentos com antimicrobiano, probiótico, prebiótico e simbiótico apresentaram CA similar, porém não diferiram do controle sendo que o aditivo ácido orgânico apresentou pior (P<0,05) CA que o controle. Para o período total de criação, 1 a 42 dias, foi possível observar que os aditivos alternativos obtiveram CA similar ao antimicrobiano, com exceção do ácido orgânico, porém nenhum dos tratamentos diferiu do controle. Maiorka et al. (2001) discorda destes resultados ao relatar melhor conversão alimentar do prebiótico, probiótico e simbiótico comparados ao controle no período de 1 a 45 dias de idade.
Os índices zootécnicos, viabilidade e eficiência produtiva, não foram alterados (P>0,05) pelos tratamentos.
Conclusões
Os aditivos melhoradores de desempenho estudados podem ser utilizados na alimentação de frangos de corte, em substituição ao antimicrobiano, sem comprometer o desempenho.
Bibliografia
Bellaver C & Scheuermann G. 2004. Aplicações dos ácidos orgânicos na produção de aves de corte. In: Conferência AVESUI 2004. Florianópolis SC. 1-16.
Fuller R. 1989. Probiotics in man and animals. A review. J. Appl. Bacteriol., 66:365-378.
Gibson GR & Roberfroid MB. 1995. Dietary modulation of the human colonic microbiota: introducing the concept of prebiotics. Journal of Nutrition 125:1401-1412.
Iji PA et al. 2001. Intestinal structure and function of broiler chickens on diets supplemented with a mannan oligosaccharide. Animal Feed Science and Technology 81:1186-1192.
Kabir SML et al. 2004. The dynamics of probiotics on growth performance and immune response in broilers. International Journal of Poultry Science 3(5):361-364.
Maiorka A et al. 2001. Utilization of Prebiotics, Probiotics or Symbiotics in broilers chicken diets. Revista Brasileira de Ciência Avícola 3(1):75-82.
Oyofo BA et al. 1989. Prevention of Salmonella thyfimurium colonization of broilers with D-mannose. Poultry Science 68:1357-1989.
Paz AS et al. 2010. Aditivos promotores de crescimento na alimentação de frangos de corte. Rev. Bras. Saúde Prod. An. 11(2):395-402.
Rostagno HS et al. 2005. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 2 ed. Viçosa: UFV, Departamento de Zootecnia 186 p.
Santos EC et al. 2005. Uso de aditivos promotores de crescimento sobre o desempenho e características de carcaça e bactérias totais do intestino de frangos de corte. Ciência Agrotécnica 29:223-231.
Statistical Analysis System. 2004. SAS user's guide: Statistic. SAS Institute Inc., Cary, NC.
Spring P et al. 2000. The effects of dietary mannanoligosaccharides on cecal parameters and the concentrations of enteric bacteria in ceca of salmonella-challenged broiler chicks. Poultry Science 79:205-211.