Qualidade Ovos Comerciais Casca Marrom

Grande parte do comportamento normal da ave é impossibilitada pelo engaiolamento. O comportamento de acasalamento, incubação e cuidado com os pintinhos é impedido, preservando-se como única compulsão reprodutiva a atividade de pôr ovos (Singer, 1991).
A preocupação com o bem-estar das poedeiras, em relação ao atual sistema de criação utilizado (gaiolas) tem aumentado, sugerindo uma série de mudanças nas instalações e no manejo dos animais. Essas alterações são estimuladas pelas exigências de um novo tipo de consumidor, preocupado com o bem-estar dos animais de produção e com a qualidade dos alimentos para o consumo. Dessas mudanças surgem os sistemas alternativos de criação, como as "gaiolas enriquecidas", que poderão proporcionar às aves uma área com cama e poleiro, além de disponibilizar ninho para a postura.
O uso de gaiolas enriquecidas tem sido proposto justamente para dar às aves oportunidade para expressar comportamentos naturais sem que se tenha o inconveniente de manejá-las em ambientes abertos (Roll et al., 2007).
Desta forma, este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do local de postura (ninho ou gaiola) sobre a qualidade interna e da casca de ovos comerciais frescos da casca marrom.

O presente estudo foi conduzido no Laboratório de Tecnologia de Produtos de Origem Animal do Departamento de Tecnologia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - FCAV/UNESP, Jaboticabal, São Paulo, Brasil.
Foram utilizados 40 ovos comerciais frescos, de casca marrom, oriundos de poedeiras da linhagem Isa Brown com aproximadamente 70 semanas de idade, provenientes de dois sistemas de criação, gaiolas e cama + ninho. Os ovos foram submetidos a avaliação de resistência da casca, para a qual foi utilizado texturômetro, modelo Texture Analyser TA-TX2, que registrou a força necessária para romper as cascas em kgf. Posteriormente, foram avaliados os parâmetros relacionados com à qualidade interna dos ovos como cor da gema, pH da gema e do albúmen, Índice Gema (IG) e Unidade Haugh (UH), após a quebra de cada ovo sobre uma mesa especial de vidro, plana e lisa. A altura do albúmen e da gema foi mensurada com o uso de micrômetro e a largura da gema com paquímetro digital. A determinação da cor da gema foi realizada através de colorímetro da marca Minolta Chromer Meter CR-300, o qual utiliza o sistema CIELAB (L*, a*, b*) e, também, através do leque colorimétrico DSM (método subjetivo). Para determinação da UH foi utilizada a equação UH=100log(H+7,57-1,7W^0,37), em que H = altura do albúmen denso em milímetros e W = peso do ovo em gramas e para IG (IG=altura da gema/largura da gema). Para determinar a relação casca:ovo, gema:ovo e albúmen:ovo, pesou-se gema e albúmen, individualmente, em balança de precisão e as cascas, após serem lavadas e secas em temperatura ambiente por um período mínimo de 24 horas. A espessura de casca foi avaliada em três pontos da região equatorial do ovo, mensurada com o uso de micrômetro da marca Mitutoyo, com escala de 0,01 a 10 mm.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado (DIC) com dois tratamentos (postura em ninho e gaiola) e 20 repetições cada, utilizando-se análise de variância e comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade pelo programa SAS (1999).

Pode-se observar que não houve diferença (P>0,05) entre os ovos provenientes dos diferentes locais de postura com relação à coloração da gema. O valor de pH da gema e do albúmen para ovos de postura em ninho foram significativamente superiores aos de postura em gaiola (tabela 1).

Tabela 1. Valores obtidos para cor da gema (L*, a*, b* e leque colorimétrico DSM), pH da gema e pH do albúmen de ovos comerciais frescos da casca marrom, provenientes de diferentes locais de postura.

Sendo o pH um parâmetro de qualidade em ovos comerciais, pode-se dizer que estes resultados são semelhantes aos encontrados por Coutts & Wilson (2007), que afirmam que ovos de postura recente apresentam pH de albúmen entre 7,6 e 8,5 e pH de gema próximo a 6,0.

Tabela 2. Valores obtidos para porcentagem de gema, albúmen e casca, índice gema (IG) e unidade Haugh (UH) de ovos comerciais frescos da casca marrom, provenientes de diferentes locais de postura.

Pode-se observar que, embora não haja diferença estatística significativa entre os tratamentos para os parâmetros IG e UH, os ovos provenientes de postura em gaiola apresentaram maior relação entre altura e largura da gema e qualidade de albúmen superior, concordando com Alleoni & Antunes (2001), ao afirmar que quanto maior o valor de unidades Haugh melhor é a qualidade interna do ovo.
Coutts & Wilson (2007) afirmam que ovos frescos, ao saírem da granja têm, em média, entre 75 e 85 unidades Haugh, sendo estes valores superiores aos encontrados neste trabalho. Os resultados encontrados eram esperados, pois, ovos oriundos de galinhas mais velhas, em fase final de postura, apresentam qualidade interna inferior à de ovos de poedeiras mais jovens.
Os resultados deste estudo demonstram que o local de postura não interferiu nas porcentagens de gema e albúmen dos ovos, porém, exerceu influência sobre a porcentagem de casca. Apesar da maior relação casca:ovo para a postura em gaiola, não houve interferência dos tratamentos sobre o parâmetro espessura de casca, conforme resultados expressos na tabela 3.

Tabela 3. Valores obtidos para espessura e resistência de casca de ovos comerciais frescos da casca marrom, provenientes de diferentes locais de postura.

Embora não haja diferença (P>0,05) para as variáveis de espessura, os resultados obtidos mostram que ovos provenientes de postura em gaiola apresentam casca mais espessa e, conseqüentemente, maior resistência em relação aos ovos de postura em ninho, que apresentaram casca mais fina, o que proporciona maior ocorrência de quebra ou trincas.

O sistema de criação não tem efeito significativo sobre a qualidade interna dos ovos. Ovos provenientes de postura em ninho são mais susceptíveis à quebra, pois apresentam resistência de casca menor.

Alleoni ACC & Antunes AJ. 2001. Unidade Haugh como medida da qualidade de ovos de galinha armazenados sob refrigeração. Scientia Agrícola 58:681-685.

Coutts JA & Wilson GC. 2007. Ovos de ótima qualidade - Uma abordagem prática. Queensland, Austrália. 65p.

Roll VFB, Briz RC, Levrino GAM, Roll AP. 2007. Uso de gaiolas enriquecidas para poedeiras comerciais. Disponível em: . Acesso em: 12 fev. 2011.

SAS - Statistical Analysis Systems. 1999. User''''s Guide. North Caroline: SAS Institute Inc.

Singer P. 1991. Animal liberation. Rev. ed. New York: Harper Perennial - Avon Books, 320 p.