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Sistema linfóide de frangos de corte

Efeito da janela de nascimento no incubatório sobre a presença de células cd3 positivas no sistema linfóide de frangos de corte oriundos de diferentes pesos de ovos de matrizes de mesma idade

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: RM Hayashi*, L Pickler, LN Kuritza, LB Miglino, MC Lourenço, A Dewes, E Santin Laboratório de Microbiologia e Ornitopatologia – UFPR, Curitiba – PR – Brasil
Sumário

Dentro de uma mesma incubadora ocorrem diferentes períodos de eclosões, chamado de janela de nascimento. Se muito prolongado, esse período provoca jejum e desidratação das aves, comprometendo o seu desenvolvimento. Esse trabalho teve como objetivo avaliar, por imunohistoquímica, a presença de células CD3+ no timo e baço de animais provenientes de dois pesos de ovos, com eclosão em diferentes períodos (janela de nascimento). Foram utilizados ovos de matrizes com 38 semanas de idade, distribuídos em um delineamento experimental fatorial 3 x 2 sendo 3 períodos de janela de nascimento (mais de 32, entre 32 e 16 e 16 e 0 h antes do período padrão de abertura da máquina) e 2 pesos de ovos (leves e pesados). Animais que permaneceram maiores períodos dentro do nascedouro apresentaram menor presença de células CD3+ no timo e baço, sugerindo maior transporte para outros tecidos. Entretanto, maior avaliação deve ser realizada para definir o efeito desse período de espera dentro do nascedouro sobre o desempenho ao longo da vida da ave.
Palavras Chave: Eclosão; Jejum; Sistema imunológico.

Introdução
O momento da eclosão caracteriza-se por eventos fisiológicos como a maturação do trato gastrintestinal (crescimento físico e funcional, devido ao aumento de vilosidades, polarização de enterócitos e atividade enzimática) e desenvolvimento do sistema imunológico (maturação de órgãos linfóides primários e secundários, estabelecimento da imunidade passiva) (Willemsen et al., 2010).
Práticas de manejo adotadas pela indústria avícola na fase inicial da ave podem, potencialmente, revelarem-se desafios adicionais para o desenvolvimento de frangos de corte. Fatores como a linhagem e idade das matrizes, condição nutricional, tamanho e peso do ovo e a demora no acesso a água e alimento afetam diretamente o desenvolvimento inicial, podendo ter conseqüências no desempenho final. Dentro de uma mesma incubadora, é possível haver pintainhos com diferenças de tempo de eclosão de 36 a 48 horas, formando a janela de nascimento (Vieira et al., 2005). Após a abertura padrão das máquinas, fatores operacionais do incubatório como sexagem, vacinação e o transporte até as granjas podem aumentar o tempo de jejum e determinar perdas de peso do pintainho de até 10 % (Cançado & Baião, 2002). Animais submetidos a jejum podem entrar em desidratação, cetose, provocar danos à mucosa intestinal, apoptose celular e danos na musculatura peitoral (Yamauchi et al., 1996), pior aproveitamento da gema (Maiorka et al., 2006) e retarda o desenvolvimento do sistema imunológico (Friedman et al., 2003) bem como imunossupressão por estresse (Handy et al., 1991). Apesar de a literatura ter vasta informação dos efeitos do jejum pós eclosão sobre o desenvolvimento das aves, existe pouca informação sobre o que acontece com animais eclodidos precocemente e que permanecem dentro do nascedouro.
Esse trabalho teve como objetivo avaliar a presença de células CD3+ no tecido linfóide de animais provenientes de dois pesos de ovos, com eclosão em diferentes períodos dentro de uma mesma incubadora.
Material & Métodos
Foram incubados 1152 ovos oriundos de matrizes Cobb®, com 38 semanas de idade. Os mesmos permaneceram estocados por 2 dias em temperatura de 15˚C e 75% de umidade e foram pesados e calculados a média e o desvio padrão (65,4 ± 4,6 g), sendo posteriormente classificados em ovos leves e pesados. Após esse processo, todos foram identificados e incubados em temperatura e umidade controlada (37,8˚C e 60%, respectivamente) em incubadoras Casp CMg 125R® até o 19˚ dia. Na transferência para o nascedouro, grupos de 5 ovos leves e pesados foram intercalados aleatoriamente em compartimentos específicos nas bandejas experimentais, de modo uniforme e aleatório.
Os animais foram distribuídos a um desenho experimental fatorial 2X3, sendo 2 pesos de ovos (leves X pesados) e 3 períodos de eclosão (aqueles eclodidos antes das 472 h de incubação, entre 472 e 488 h, e entre 488 a 504 h de incubação) que foram nomeados como animais submetidos à mais de 32 h de permanência no nascedouro após eclosão (+32 h janela de nascimento - JN), entre 32 e 16 h de permanência no nascedouro após eclosão (32 h JN) e entre 16 e 0 h de permanência dentro do nascedouro após eclosão (16 h JN).ç
Em cada período de nascimento, o nascedouro foi aberto e 20 pintinhos eclodidos de cada período e de cada peso foram identificados e permaneceram dentro do nascedouro até o momento estipulado para abertura das máquinas de acordo com o procedimento padrão do incubatório.
No momento padrão de abertura das máquinas, os animais foram eutanasiados e necropsiados em seguida. Amostras de timo e baço foram coletadas e submetidas a imunohistoquímica para contagem de células CD3+. Foram analisados 20 campos em timo e baço (aumento de 100x). Os resultados foram submetidos à análise de variância e quando houve significância (P<0,05) os fatores foram desdobrados e as médias comparadas pelo Teste de Tukey ao nível de 5 % de probabilidade de erro.
Figura 1. Fotomicrografia de timo (A) e baço (B) para identificação de células CD3+ por imunohistoquímica (aumento de 40x).
Efeito da janela de nascimento no incubatório sobre a presença de células cd3 positivas no sistema linfóide de frangos de corte oriundos de diferentes pesos de ovos de matrizes de mesma idade - Image 1
Resultados & Discussão
A contagem de células CD3+ no timo teve influência no fator período de janela de nascimento (P<0,05), onde se observou que quanto maior o período de permanência no nascedouro após eclosão (+ 32 h JN), menor a contagem de células CD3+ nesses órgãos. No baço, para contagem de células CD3+, houve interação entre os dois fatores (P<0,05) (tabela 1 e 2).
 Tabela 1. Média e desvio padrão do número de células CD3+ por imunohistoquímica em timo (100x) e baço (100x) em aves submetidas a 3 períodos de janela de nascimento oriundos de 2 pesos de ovos no período padrão de abertura das máquinas.
 
Timo
Baço
 
Fatores principais
Leves
202,35±18,6
13,31±4,10
Pesados
201,28±19,1
10,91±10,9
+ 32 h
195,15±11,5 b
7,55±2,20
32 h
204,2±19,8 ab
15,02±3,30
16 h
206,1±22,0 a
13,77±3,50
 
Probabilidades
Peso (P1)
0,751
<0,001
Período (P2)
0,021
<0,001
Interação (P1*P2)
0,602
<0,001
a-b: Comparações de médias (colunas) seguidas de letras diferentes diferem significativamente (P<0,05).
Tabela 2. Interação entre os períodos de janela de nascimento (+ 32, 32 e 16 h JN) e pesos de ovos (leves e pesados) sobre a contagem de células CD3+ no baço, em período padrão de abertura das máquinas.
Peso
Período de JN
16 h
32 h
+ 32 h
Leves
16,0 Aa
14,85 Aa
9,1 Ab
Pesados
11,55 Ba
15,20 Ab
6,0 Bc
A-B: comparação entre os mesmos períodos de janela de nascimento. a-b: comparação dentro de cada peso. Médias seguidas de letras diferentes diferem significativamente (p<0,05) para os fatores período e peso de ovos.
Órgãos linfóides primários como o timo e bolsa cloacal começam a se desenvolver na fase embrionária. O timo, local de desenvolvimento e amadurecimento de células T, tem suas primeiras células com marcadores CD3, CD4 e CD8 durante a fase embrionária (Mast & Goddeeris, 1999). Após a eclosão, ondas de migração dessas células ocorrem para órgãos linfóides secundários, como o baço, que se encontra imaturo na eclosão. Esse transporte a partir do timo para outros órgãos pode justificar os achados deste estudo onde se observa redução na presença de células CD3+ no timo de aves com maior tempo de permanência no nascedouro após a eclosão.
Seguindo essa linha de povoamento de células CD3+ no organismo, Mast & Goddeeris (1999) explicam ainda que o baço fornece um microambiente de interação entre células linfóides e não linfóides, e é responsável principalmente por armazenar e transportar linfócitos para circulação e tecidos. No presente trabalho, observa-se que houve interação entre peso de ovos e período de permanência dentro do nascedouro após a eclosão sobre a população de células CD3+ no baço. Animais oriundos de ovos leves que permaneceram mais de 32 h dentro do nascedouro após a eclosão, apresentaram maior proporção de células CD3+ no baço quando comparado aos animais oriundos de ovos pesados que permaneceram eclodidos no nascedouro pelo mesmo período. Pode-se sugerir que os animais oriundos de ovos pesados nascidos precocemente transportaram mais células CD3+ do baço para outros tecidos que os leves. Animais que nasceram no período de 32 a 16 h antes do tempo padrão de abertura das maquinas (32 h JN) não apresentaram diferença na quantidade de células CD3+ no baço com relação ao peso dos ovos, demonstrando que talvez neste período não haja diferença no transporte destas células para outros tecidos entre pintos oriundos de ovos leves ou pesados. Naqueles animais que nasceram próximo ao período padrão de abertura das máquinas (16 h JN) observa-se que pintos oriundos de ovos leves possuem maior quantidade de células CD3+ que pintos oriundos de ovos pesados, sugerindo aqui, mais uma vez maior eficiência de transporte destas células do baço para outros tecidos.
Segundo Handy et al. (1991), aves que permanecem por um tempo superior a 12 horas dentro do nascedouro após a eclosão, já estão sujeitas a processos estressores, devido a maior produção de calor corporal e temperatura excessiva da incubadora, respondendo com uma maior liberação fisiológica do hormônio corticosterona. A permanência elevada desse hormônio pode levar a atrofia do tecido linfóide no timo, bolsa cloacal, baço por apoptose, bem como supressão de resposta humoral e celular (Rogausch et al., 1999). Entretanto avaliando os tecidos do timo e baço microscopicamente das aves neste experimento, não se evidencia apoptose, o que não impede que isso possa ser observado em períodos superiores aos aqui estudados.
Conclusões
Aves eclodidas precocemente e que permanecem mais tempo dentro do nascedouro, apresentaram menor presença de células CD3+ no timo e baço.
O jejum dentro do nascedouro parece não afetar negativamente o desenvolvimento dos órgãos avaliados. Porém, é necessário continuar avaliando o desenvolvimento tecidual nos animais nascidos em diferentes períodos quando esses são submetidos a diferentes condições antes e após o nascedouro, como situações de estresse, temperaturas inadequadas, jejum e desafios a campo.
Bibliografia
Cançado SV & Baião NC. 2002. Effects of fasting period between hatching and housing andaddition of oil to the feed on performance of broiler chicks and digestibility of the ration.Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia 54:630-635.
Friedman A, Bar-Shira E, Sklan D. 2003. Ontogeny of gut associated immune competence in the chick. World's Poultry Science Journal 59:209-219.
Handy AMM, Henken AM, Vander Hel W. 1991. Effects of incubation humidity and hatching time on heat tolerance of neonatal chicks. Growth performance after heat exposure. Poultry Science 70:1507-1515.
Maiorka A, Dahlke F, Morgulis MSFA. 2006. Adaptações pós-eclosão em frangos. Ciência Rural 36:701-708.
Mast J & Goddeeris BM. 1999. Development of immunocompetence of broiler chickens. Veterinary Immunology and Immunopathology 70:245-256.
Rogausch H, del Rey A, Oertel J, Besedovsky HO. 1999. Norepinephrine stimulates lymphoid cell mobilization from the perfused rat spleen via-b-adrenergic receptors. American Journal of Physiology 276:R724-R730.
Vieira SL, Almeida JG, Lima AR, Conde ORA, Olmos AR. 2005. Hatching distribution of eggs varying in weight and breeder age. Brazilian Journal of Poultry Science 7:73-78
Willemsen H, Debonne M, Swennen N, Everaert N, Careghi C, Han H, Bruggeman V, Tona K, Decuypere E. 2010. Delay in feed access and spread of hatch: importance of early nutrition. World's Poultry Science Journal 66:177-188.
Yamauchi K, Kamisoyama H, Isshiki Y. 1996. Effects of fasting and refeeding on structures of the intestinal villi and epithelial cells in White Leghorn hens. British Poultry Science 37:909-921.
 
Conteúdo do evento:
Autores:
RM Hayashi
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