Introdução
Os benefícios do processamento de rações são reconhecidos pela indústria avícola. A peletização é frequentemente utilizada pelas fábricas de ração em função dos benefícios sobre o manejo da alimentação e desempenho animal, além de proporcionar aumento na digestibilidade dos nutrientes devido à ação mecânica da temperatura do processo (López & Baião, 2004).
A avaliação dos aspectos físicos da ração é um parâmetro relativamente simples de ser avaliado. Desta forma, a compreensão das alterações anato-fisiológicas desencadeadas pela granulometria e forma física da ração em aves auxiliam na escolha do melhor tamanho de partícula e forma física dentro da realidade de cada empresa. A adequação da moagem de grãos é geralmente feita com baixos investimentos e a redução do gasto de energia elétrica e maior rendimento do moinho podem ser decisivos economicamente. De acordo com Amerah et al. (2007), a redução de tamanho de partículas melhora a digestão de nutrientes, aumentando a área de superfície disponível para as enzimas digestivas, porém resultados de estudos que relacionam o tamanho de partícula e a digestibilidade dos nutrientes são muitas vezes controversos.
O objetivo neste trabalho foi avaliar os efeitos da granulometria e do nível de energia em rações peletizadas, sobre a digestibilidade dos nutrientes e os valores de energia em frangos de corte na fase de crescimento.
Material & Métodos
Foram utilizados 300 frangos de corte, machos, da linhagem Ross, sendo alojados 10 aves, com peso de 1,038±0,030 Kg, em cada uma das 30 unidades experimentais, no período de 30 a 33 dias de idade. Essas aves foram criadas até os 22 dias de idade com ração única e, somente após esta idade foram distribuídas entre os tratamentos. Água e ração foram oferecidos à vontade.
Os níveis nutricionais utilizados nas rações diferiram apenas no valor energético. A composição das rações e valores nutricionais calculados encontram-se na tabela 1. Para a formulação das rações foram utilizados os valores nutricionais dos ingredientes encontrados nas tabelas brasileiras de aves e suínos (Rostagno et al., 2005). Os níveis nutricionais das rações foram estabelecidos de acordo com Lara et al. (2008). Para a diferenciação das granulometrias de moagem do milho foram utilizadas três peneiras com os seguintes diâmetros dos furos: fina menor que 1,0 mm; média 2,5 mm e grossa 6,0 mm. Os tratamentos foram definidos pela granulometria do milho (fina, média e grossa) e pelo nível de energia (3100 e 3200 Kcal/kg de EM, com inclusão de 2% e 4% de óleo, respectivamente.
Tabela 1. Valores nutricionais calculados das rações experimentais para a fase de crescimento
A digestibilidade dos nutrientes foi realizada pelo método tradicional de coleta total de excretas. As quantidades das rações oferecidas foram pesadas no início do período experimental e as sobras foram pesadas ao final do período experimental. As aves foram pesadas e homogeneizadas nos tratamentos no início do período experimental. Antes do início do período de coleta de excretas, as aves passaram por um jejum de 12 horas para o esvaziamento do trato gastrointestinal.
As excretas foram coletas duas vezes ao dia durante o período de quatro dias de coleta. O material recolhido foi colocado em sacos plásticos, pesado e armazenado em congelador, até o período final de coleta. Posteriormente foram pesadas e colocadas em estufa de ventilação forçada a 60ºC durante 72 horas para pré-secagem. Após a pré-secagem, o material foi exposto por duas horas à temperatura ambiente e, em seguida, pesado e homogeneizado para a coleta de amostra para a determinação de matéria seca, extrato etéreo e de nitrogênio. As rações experimentais, também, passaram pelas mesmas análises, conforme técnicas descritas pelo Compêndio Brasileiro de Nutrição Animal (2005). As análises foram realizadas no Laboratório de Nutrição da Escola de Veterinária da UFMG. Previamente, as amostras de excretas passaram por uma hidrólise ácida com o objetivo de disponibilizar a gordura contida nas excretas.
A partir dos resultados das análises de laboratório, bem como os dados de consumo de ração, e produção de excretas, foram calculados os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDMS), da proteína bruta (CDPB) e do extrato etéreo (CDEE).
O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso, em arranjo fatorial 3 x 2 (três granulometrias e dois níveis de energia), totalizando assim seis tratamentos, com cinco repetições de 10 aves cada. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância, e as médias comparadas pelo teste de Tukey através do programa SAEG (2007).
Resultados & Discussão
Os resultados referentes aos coeficientes de digestibilidade da matéria seca (CDMS), da proteína bruta (CDPB), do extrato etéreo (CDEE), em percentual, e os valores de energia metabolizável aparente (EMA) e aparente corrigida para o balanço de nitrogênio (EMAn), em Kcal/Kg, das rações em função da granulometria e do nível de energia para frangos de corte, no período de 30 a 33 dias de idade encontram-se nas tabelas 2, 3, 4, 5 e 6, respectivamente.
Tabela 2. Coeficiente de digestibilidade da matéria seca de acordo com os tratamentos
Médias com letras distintas, maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Houve interação entre a granulometria e o nível de energia da dieta sobre o CDMS (P≤0,05). Para o nível de 3.100 Kcal de EM/Kg de ração, não foi observado efeito da granulometria sobre o CDMS. Já para o nível de 3.200 Kcal de EM/Kg de ração, a granulometria média apresentou o pior CDMS. As rações com granulometria fina e grossa apresentaram melhora no CDMS quando aumentou o nível de energia da ração de 3.100 kcal de EM para 3.200 Kcal, enquanto a granulometria média não foi afetada pelo aumento de energia.
Esta melhora pode estar relacionada ao efeito extracalórico da adição do óleo, que geralmente reflete na melhora da utilização dos nutrientes da ração e consequente melhora no desempenho.
Tabela 3. Coeficiente de digestibilidade da proteína bruta de acordo com os tratamentos
Médias com letras distintas, maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Houve interação entre a granulometria e o nível de energia da dieta sobre o CDPB (P≤0,05). Houve uma melhora do CDPB com o aumento da granulometria de fina para média e grossa no menor nível de energia e da média para a grossa no nível mais alto de energia. Quando se compara os resultados pelo nível de energia, verifica-se uma superioridade na digestibilidade da proteína bruta para a granulometria grossa no nível energético de 3.200 Kcal EM.
Tabela 4. Coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo de acordo com os tratamentos
Médias com letras distintas, maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Não houve interação significativa (P>0,05) entre a granulometria e o nível de energia sobre o CDEE. Independente da granulometria, o maior nível de energia aumentou (P≤0,05) o CDEE comparado ao menor nível energético da dieta. Este resultado pode ser explicado devido ao efeito da maior inclusão de óleo nas rações favorecendo a digestibilidade destas e consequentemente melhorando a conversão alimentar das aves, observada com o aumento do nível de energia da dieta. Independente do nível energético, as granulometrías não influenciaram (P>0,05) esta resposta.
Houve interação entre a granulometria e o nível de energia da dieta sobre EMA (P≤0,05). Em relação ao nível de energia da ração observou-se aumento na EMA com o aumento do nível energético da ração. Em relação a granulometria do milho, para o nível de 3.100 Kcal/Kg de ração, houve uma piora da EMA (P≤0,05) para as rações com granulometria grosseira.
Tabela 5. Valor de energia metabolizável (EMA) aparente de acordo com os tratamentos
Médias com letras distintas, maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Para o nível de 3.200 Kca/Kg de ração, os valores de EMA determinados nas rações são semelhantes (P>0,05) entre as granulometrias fina e média, porém para a granulometria grossa observou-se um aumento (P≤0,05) do valor de EMA. Isso se deve a menor velocidade de passagem do alimento da moela para o intestino delgado (Ravindran et al., 2006) e da quantidade de partículas de maior tamanho transitando na moela, facilitando a digestão e a ação das enzimas (Lentle, 2005).
Houve interação significativa (P≤0,05) entre a granulometria e o nível de energia sobre a EMAn. Houve melhora (P≤0,05) nos valores de EMAn com o aumento do nível de energia da ração.
Tabela 6. Valor de energia metabolizável aparente corrigida para o balanço de nitrogênio (EMAn) de acordo com os tratamentos
Médias com letras distintas, maiúsculas na coluna e minúsculas na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Para o nível de 3.100 Kcal/Kg de ração observou-se uma redução (P≤0,05) nos valores de EMAn com o aumento da granulometria. Já para o nível de 3.200 Kcal/Kg de ração, também, observou-se uma superioridade no valor de EMAn (P≤0,05) para a granulometria grossa, quando comparada a granulometria fina, apresentando a granulometria média uma igualdade estatística às granulometrias fina e grossa. Em relação aos níveis de energia das rações, assim como para a EMA, observou-se aumento na EMAn com o aumento do nível energético da ração.
Conclusões
Conclui-se que rações com 3.200 Kcal/Kg de EM e granulometria mais grosseira, favorecem a digestibilidade dos frangos de corte de 30 a 33 dias de idade.
Bibliografia
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Lara LJC, Baião NC, Rocha JSR, Lana AMQ, Cançado SV, Fontes DO, Leite RS. 2008. Influência da forma física da ração e da linhagem sobre o desempenho e rendimento de cortes de frangos de corte. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia 60(4):970-978.
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Ravindran V, Wu YB, Thomas DG, Morel PC. 2006. Influence of whole wheat feeding on the development of gastrointestinal tract and performance of broiler chickens. Australian Journal of Agricultural Research 57:21-26.
Rostagno HS, Albino LFT, Donzele JL et al. 2005. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos - composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa: UFV/Departamento de Zootecnia. 186p.
Universidade Federal De Viçosa - UFV. 2007. SAEG - Sistemas de análises estatísticas e genéticas. Versão 9.1. Viçosa/MG.