Introdução
A água é um nutriente essenciala vida, pois no organismo, desempenha diversas reações biológicas alem de serum constituinte fundamental no meio intracelular e extracelular. É a substância mais abundante nos seres vivos, e as porcentagens de água do corpo variam de acordo com a espécie, a quantidade de gordura e a idade do animal.
A quantidade de água corporal nas galinhas varia principalmente conforme a idade, correspondendo em torno de 85% do seu peso na primeira semana de vida, diminuindo a 70% duranteà quarta semana e na idade adulta chegando aproximadamente a 60%. E no ovo esse mineral responde a 65% do peso do ovo (Gama et al., 2008).
Independente da variação da temperatura ambiental as aves são capazes de manter a temperatura corporal, pois são animais homeotérmicos. Fatores que levam a aumento na temperatura corpórea acima dos limites sejam esses oriundos das condições ambientais ou fisiológicos podem ser letais à ave (Yahav et al., 2000), portanto acredita-se que a água possua uma importante função termorreguladora e conseqüentemente traz benefícios aos animais especialmente em ambientes quentes (Forbes, 2003).
A alimentação de aves apresenta a particularidade de que a água é fornecida separadamente da ração, diferente do que ocorre na criação de suínos, que em determinadas fases, a alimentação é fornecida em forma pastosa, contendo água e ração, e apresentando melhor aceitação pelos animais. Historicamente a adição de água na dieta de aves não era recomendada para uso na produção industrial, pelo fato de sua difícil administração. Entretanto recentes trabalhos têm demonstrado os benefícios de sua utilização (Forbes, 2003).
Devido ao grau de especialização no qual a avicultura se encontra, novas alternativas nutricionais devem ser propostas para desfrutarmos de todo o potencial genético das aves. Um dos grandes desafios encontrados hoje é garantir com que a ave venha a ingeris a quantidade mínima necessária de nutrientes para alcança o seu melhor desempenho (Araújo, 2003).
Para as galinhas o consumo de ração está intimamente relacionado ao consumo de água, de maneira que os problemas que venham afetar o consumo de água, conseqüentemente, influenciarão o consumo de ração(Gama et al., 2008). O fornecimento de uma dieta úmida para aves pode resultar em uma melhora do desempenho e produção.
O objetivo deste trabalho foi o de avaliar diferentes formas físicas da dieta de poedeiras comerciais, através de diferentes níveis de adição de água, sobre os seus parâmetros produtivos.
Material & Métodos
O experimento foi realizado no aviário experimental da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - USP, campus de Pirassununga - SP. Foram utilizadas 192 aves Hyline W-36 de 48 semanas, distribuídas em delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos (0, 10, 20, 30, 40 e 50% de inclusão de água na dieta) com quatro repetições de oito aves cada. A dieta basal foi formulada a base de milho e farelo de soja, atendendo aos níveis estabelecidos por Rostagno (2005) e é apresentada na Tabela 1.
Tabela 1. Composição nutricional da dieta basal
Premix Mineral - Composição por quilograma do produto : 65.000 mg de Manganês; 40.000 mg de Ferro; 10.000 mg de Cobre; 50.000 mg de Zinco; 1.000 mg de Iodo; 1.000 g de Veículo (q.s.p.). Premix Vitamínico - Composição por quilograma do produto : 1.750.000 UI de Vit. A; 500.000 UI de Vit D3; 1.000 mg de Vit E; 500 mg de Vit K3; 500 mg de Vit B1; 750 mg de Vit. B2; 2..000 mcg de Vit. B12; 1.250 mg de Pantotenato de Cálcio; 75 mg de Selênio; 125 g de Colina; 25 g de Antioxidante; 1.000g de Veículo (q.s.p.).
Como parâmetros de desempenho foram determinados o consumo de ração (g/ave/dia), conversão alimentar (g de ração/g de ovos) e produção de ovos (% ovos/ave). Nos últimos dois dias de cada período foi coletada a produção diária de ovos para determinação do peso e massa dos ovos (g), gravidade específica e espessura da casca e porcentagem de casca.
A ração foi fornecida aos animais diariamente. Foi estipulada uma quantidade de ração de 100g/ave/dia para facilitar a adição de água na proporção indicada em cada tratamento. As sobras foram pesadas na manhã do dia seguinte. O consumo de ração foi medido diariamente através da pesagem das sobras e diferença do que foi fornecido e os resultados expressos com base no consumo da matéria seca da dieta.
A medida de gravidade específica seguiu a recomendação de Moreng & Avens (1990) As cascas foram secas em temperatura ambiente durante 7 dias para serem pesadas posteriormente (para cálculo da percentagem de casca) e obter as medidas de espessura na região mediana com um micrômetro com precisão de 0,01 mm e escala de 0,01 a 10,00 mm.
A massa dos ovos foi obtida através da multiplicação do peso médio pela produção média de ovos. Esses valores foram calculados no final de cada período experimental e expressos em grama por ave por dia.
Semanalmente, foi monitorada a temperatura corporal das aves através de termometria infravermelha. Foram monitoradas as temperaturas de dois animais de cada repetição das regiões da crista, dorso e pernas além da temperatura retal dos mesmos. A temperatura foi aferida sempre no mesmo horário para evitar oscilações de acordo com a temperatura ambiente.
Os dados experimentais obtidos foram analisados utilizando o programa SAS (2001) e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Resultados & Discussão
Com os resultados obtidos foi possível constatar que com o aumento da inclusão de água na dieta diminuiu a conversão alimentar dos animais. Também observou que galinhas as quais receberam dietas coma adição de água (10% a 30%) apresentaram uma maior produção de ovos quando comparado aos animais do grupo controle (Tabela 1).
Tabela 2. Média de Conversão Alimentar (CA - g de ração/g de ovos) e Produção de ovos (PO - % ovos/ave), de poedeiras comerciais alimentadas com diferentes níveis de inclusão de água
Diferença significativa entre as médias (p<0,05) pelo Teste de Tukey
Não foram observadas diferenças significativas (p>0,05), para peso de ovos, espessura de casca, % casca e gravidade específica dos ovos de poedeiras. Porém os tratamentos com inclusão de água proporcionaram um efeito positivo sobre a massa de ovo (Tabela 3.
Tabela 3. Qualidade de ovos através de peso de ovos (g), Massa de ovos (g), Espessura de Casca (mm), % Casca e Gravidade Específica
Diferença significativa entre as médias (p<0,05) pelo Teste de Tukey.
A avaliação da temperatura corporal demonstrou que, nos níveis de inclusão de água estudados, não houve efeito da dieta úmida sobre a temperatura corporal das poedeiras comerciais (Tabela 4). A indústria avícola tem sofrido grandes transformações nos últimos anos. A poedeira moderna tem se tornado mais precoce e tem melhorado a sua eficiência alimentar, produzindo uma maior quantidade de ovos com uma menor quantidade de ração. Entretanto, os nutricionistas têm buscado novas alternativas nutricionais para que atender as necessidades nutricionais das aves através de um adequado manejo nutricional. O uso de dieta úmida ou líquida na alimentação de suínos vem aumentando consideravelmente nos últimos anos. Porém, o uso desta prática na alimentação de aves tem sido muito
pequena e, além disto, há pouca informação sobre o uso de dieta úmida na alimentação de poedeiras comerciais. De acordo com Yalda & Forbes (1995) e Forbes (2003), o uso da alimentação úmida para aves pode resultar em um importante papel nutritivo e na redução do custo da dieta para os animais devido ao melhor aproveitamento dos nutrientes.
Tabela 4. Temperatura corporal de Poedeiras comerciais alimentadas com dieta úmida num período de 56 dias
Diferença significativa entre as médias (p<0,05) pelo Teste de Tukey.
Conclusão
O presente trabalho demonstrou que a mudança física da dieta, ocasionada pela inclusão de diferentes níveis de água à dieta, mostrou-se uma alternativa viável para alimentação de poedeiras comerciais, pois proporcionou melhora no desempenho destes animais e consequentemente um aumento na produtividade de ovos.
Bibliografia
Araujo LF. 2003. Nutrição pós-closão: aspectos teóricos e práticos. In: Simpósio sobre Nutrição de Aves e Suínos. Anais ... Campinas.
Forbes JM. 2003. Wetfood for poultry. Avianan Poultry Biology Rewies 14(4):175-193.
Gama SNMQ, Togashi CK, Ferreira NT, Buim MR, Guastalli EL, Fiagá DAM. 2008. Conhecendo a água utilizada para aves de produção. Biológico 70:43-49.
Moreng RE & Avéns JS. 1990. Ciência e produção de aves. São Paulo, Roca. 380 p.
Rostagno HS. 2005. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Editora UFV. Viçosa, MG. 141 p.
SAS Institute Corporation. 2001 SAS User's Guide: Estatistics. 9.ed. Cary: SAS Institute.
Yahav S, Shinder D, Razpakovski V, Rusal M, Bar A. 2000. Lack of response of laying hens to relative humidity at high ambient temperature. British Poultry Science 41:660-663.
Yalda AY & Forbes JM. 1995. Food intake and growth in chickens given food in the wet form with and without access to drinking water. British Poultry Science 36:357-369.