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Salpingite fêmeas frango micotoxicose

Diagnóstico de salpingite em fêmeas de frango de corte afetadas por micotoxicose

Publicado: 20 de outubro de 2011
Por: BM Santos*, Martha Isabel Realpe, CG Pereira - Universidade Federal de Viçosa. Departamento de Veterinária. Av. P.H. Rolfs, s/n CEP 36570-000, Viçosa, MG, Brasil.
Sumário

O material deste estudo consistiu em 10 carcaças de fêmeas de frango de corte com 45 dias de idade. As carcaças tinham condenação total por salpingite. Este material foi remetido à Unidade de Estudos em Sanidade Avícola, do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa para a análise microbiológica e histopatológica. Na autópsia, o oviduto apresentou paredes distendidas e finas, com massas de material amarelo e de aspecto caseoso no lúmen, na análise bacteriológica dos swabs de fígado e do oviduto, só foi isolada neste último a bactéria Escherichia coli. O fígado apresentava proliferação de células do conduto biliar, degeneração e necrose de células hepáticas. A bolsa cloacal apresentou degeneração e necrose de células foliculares e fibroplasia. A conclusão foi que as fêmeas de frango de corte, devido à imunossupressão por micotoxinas, desenvolveram colibacilose em forma de salpingite.
Palavras-chave: Colibacilose, Escherichia coli, Salpingite, Micotoxicose, Frango.

Introdução
A indústria avícola é, talvez, a mais sensível das atividades em torno à produção animal. O alto grau de desenvolvimento genético, procurando uma maior produtividade, pode ter sido o responsável pelo desenvolvimento de animais mais suscetíveis a doenças. Portanto, como resultado dos constantes desafios experimentados por estas aves, seu sistema imunológico deve estar em perfeito funcionamento para que possa responder aos diferentes estímulos (Santos et al., 2009b).
O sistema imune tem um papel fundamental na defesa das aves contra agentes patogênicos. Da mesma forma que nos mamíferos, o sistema imune das aves é complexo e compreende uma série de células e fatores solúveis que devem trabalhar juntos para produzir uma resposta imune protetora (Santos et al., 2009b). Vários patogênicos imunossupressores surgem frequentemente nas zonas endêmicas de produção avícola e a exposição a estes agentes patogênicos podem afetar as funções do sistema imunológico. Os lotes com imunossupressão sofrem uma maior incidência de infecções secundárias tendo um menor rendimento, sendo as micotoxinas um dos principais agentes imunossupressores (Santos et al., 2009b).
As micotoxinas afetam o sistema imunológico mediante a interação com o DNA celular, afetando a síntese protéica e inibindo principalmente linfócitos, plasmócitos e macrófagos (Corrier, 1991). Os primeiros estudos científicos sobre a ação imunossupressora de micotoxinas são, na maioria das vezes, relacionados com a intoxicação por aflatoxinas (Leeson et al., 1995). Mas, apesar de que centenas de micotoxinas são conhecidas, os estudos relacionados com o tema da imunossupressão se concentram em não mais de dez. No entanto, de maneira geral, acredita-se que todas as micotoxinas podem diminuir ou suprimir a resistência contra doenças infecciosas (Freire, 1995). Portanto, as micotoxinas podem tornar as aves mais suscetíveis ao desenvolvimento de diferentes patologias, como é o caso da salpingite.
A Salpingite é um processo inflamatório do oviduto e é causada principalmente pela bactéria Escherichia coli. O processo geralmente é crônico e encontrado em aves produtoras de ovos. Estas quando são afetadas, podem apresentar perda de peso e, frequentemente, chegar à morte, sem nenhum sinal clínico. O aspecto macroscópico da salpingite é caracterizado por uma massa de um material de aspecto caseoso e desidratado no interior do oviduto, notando-se também as paredes deste órgão extremadamente finas (Santos et al., 2009a).
Materiais & Métodos
O material de estudo foi obtido de uma planta de benefício-frigorífico com Inspeção Federal do Estado de Minas Gerais. Consistiu em 10 carcaças de fêmeas de frangos de corte de 45 (5 carcaças, lote A) e 47 dias de idade (5 carcaças, lote B). As carcaças tinham condenação total por salpingite e foram enviadas à Unidade de Estudos de Sanidade Avícola, do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa, para a análise microbiológica (fígado e oviduto) e histopatológico (fígado e bolsa cloacal)
Para a análise microbiológica foram realizados swabs do fígado e do conteúdo do oviduto. Os swabs foram colocados em caldo BHI e foram deixados a uma temperatura de 37°C por 24 horas. Depois, com uma alça bacteriológica, o material foi colocado em caixas Petri com ágar eosina azul de metileno foram mantidos em incubação a 37°C por 24 horas.
Os materiais destinados a histopatologia foram fixados em formol em solução salina a 10% e conservados por 24 horas. Depois da fixação, as amostras foram desidratadas, clarificadas, seguindo as técnicas histológicas. Os cortes histológicos, depois de serem tingidos com hematoxilina e eosina (Prophet et al., 1992), foram examinados por microscopia óptica.
Resultados & Discussão
Todas as 10 carcaças mostraram o oviduto com paredes distendidas e finas, com uma massa de material amarelo e de aspecto caseoso no lúmen (Figura 1). Na análise bacteriológica dos swabs de fígado e do conteúdo do oviduto, só foi isolada neste último a bactéria Escherichia coli.
No exame histológico, o fígado apresentou proliferação de células dos condutos biliares, degeneração e necrose de células hepáticas (Figura 2), agregados heterófilos e maior evidência de tecido conjuntivo fibroso. A bolsa cloacal mostrava presença de degeneração, necrose de células foliculares e fibroplasia (Figura 3).
Muneer et al. (1988) opinam que o efeito imunossupressor das micotoxinas se deve ao fato da redução da mobilidade e da atividade fagocítica dos monócitos sanguíneos. As micotoxinas, principalmente as aflatoxinas, aumentam a suscetibilidade às doenças bacterianas, principalmente salmonelose (Tizard, 1998) e colibacilose (Santos et al., 2009a). Além disso, as micotoxinas reduzem a produção de imunoglobulinas pelos órgãos linfoides, e reduzem o tamanho da bolsa  cloacal, baço e timo (Hoerr et al., 2008).
Figura 1. Oviduto de uma fêmea de frango de corte com paredes distendidas e presença de uma massa de material de cor amarela.
Diagnóstico de salpingite em fêmeas de frango de corte afetadas por micotoxicose - Image 1
Figura 2. Microfotografia de corte histológico de fígado, com proliferação das células dos condutos biliares.
Diagnóstico de salpingite em fêmeas de frango de corte afetadas por micotoxicose - Image 2
Figura 3. Microfotografia do corte histológico da bolsa cloacal, com folículos linfoides reduzidos de tamanho, degeneração e necrose de células foliculares e fibroplasia.
Diagnóstico de salpingite em fêmeas de frango de corte afetadas por micotoxicose - Image 3
Conclusão
Neste estudo, as fêmeas de frangos de corte desenvolveram colibacilose em forma de salpingite, devido à provável imunossupressão provocada pelas micotoxinas.
Bibliografia
Corrier DE. 1991. Mycotoxicosis: mechanisms of immunosupression. Vet. Immunopathol. 30:73-87.
Freire RB.1995. Micotoxinas e imunossupressão em aves. pp. 115-126. In: Simpósio Internacional sobre micotoxinas e micotoxicoses em aves. Anais, Curitiba.
Hoerr FJ. 2008. Mycotoxicoses. p.1197-1229. In: Diseases of poultry. Saif YM, Fadly AM, Glisson JR, McDougald LR, Nolan LK, Swayne DE. (eds.) Ames: Blackwell publishing. Iowa USA.
Leeson S, Diaz G, Summers JD. 1995. Poultry metabolic disorders and mycotoxins. Guelph, Canada: University Books.
Muneer MA, Farah IO, Newman JA, Goyal SM. 1988. Immunosuppession in animals. Rev. Br. Vet. J. 144:288-301.
Prophet EB, Mills B, Arrington JB 1992. Laboratory methods in histotechnology. Washington, EUA:: American Registry of Pathology.
Santos BM, Moreira MA, Dias CCA. 2009a. Manual de doenças avícolas. Editora UFV. Viçosa, Brasil.
Santos BM, Pereira CG, Marin SM, Morato TG. 2009b. Prevenção e controle de doenças infecciosas nas aves de produção. Editora UFV. Viçosa, Brasil.
Tizard IR.1998. Imunologia veterinária. 5 ed. São Paulo: Roca. Brasil.
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Katia da Silva Frederico
14 de agosto de 2022
Quero saber sobre a doença aerosaculite , septicemia e a síndrome ascitica
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