Introdução
A indústria avícola tem tentado diminuir a ocorrência de anormalidades nas pernas de frangos de corte de crescimento rápido. A alta incidência de deformidades ósseas, principalmente as anormalidades nas pernas, é o problema mais sério que afeta o bem-estar dos frangos de crescimento rápido. Além de comprometer o bem-estar das aves, estima-se que as anormalidades ósseas causem muitos prejuízos por ano para a indústria avícola (Morris, 1993). A fraqueza das pernas dos frangos de corte foi identificada por alterações na placa de crescimento, raquitismo, disconlasia e necrose da cabeça do fêmur. Dentre todas as patogenias descritas, a disconlasia e a degeneração femoral são as mais prevalentes, atingindo 50 a 80% dos problemas de pernas dos lotes industriais de frangos de corte comerciais (Murakami, 2000). A degeneração femoral é também denominada necrose da cabeça do fêmur, necrose asséptica da cabeça do fêmur ou necrose avascular da cabeça do fêmur. Para alguns autores, a doença teria três fases distintas: separação, fragmentação e necrose da cabeça do fêmur, quando então ocorreria contaminação ou não do osso por microrganismos como estafilococos e coliformes (Gonzáles & Mendoça Jr, 2006).
Materiais & Métodos
O experimento foi realizado nas instalações da FMVZ-UNESP/Botucatu, com 480 frangos de corte. O delineamento experimental adotado foi inteiramente casualizado com esquema fatorial 2x2, duas linhagens de frangos de corte de crescimento rápido e dois sexos, com 4 repetições de 30 aves, totalizando 16 parcelas experimentais sendo que as aves foram alojadas em boxes com 2,5 m2, com densidade populacional de 10 aves m2. A cama utilizada foi maravalha nova, sendo realizada a viragem da mesma semanalmente. Foi utilizado um programa de alimentação com três fases: inicial de 1 a 21 dias, crescimento de 22 a 35 dias e final de 36 a 42 dias. Os níveis nutricionais utilizaram-se os recomendados por Rostagno et al., (2005). Para o acompanhamento do desenvolvimento da lesão de degeneração femoral aos 42 dias, foram realizadas avaliações macroscópicas da cabeça do fêmur de 100 aves. As peças ósseas foram examinadas macroscopicamente no momento do abate das aves, sendo atribuídos escores variando entre 1 e 3. Sendo que o escore 1 foi equivalente a uma peça sem lesão, o escore dois foi equivalente a uma peça com lesão inicial e o escore 3 foi equivalente a uma peça com lesão grave. Para a análise estatística da freqüência de escore de lesão, foram realizadas avaliações para dados não paramétricos, desta forma as comparações dos efeitos foram realizadas mediante o teste de Kruskal-Wallis (p<0,05). Quando verificado efeito significativo as mesmas forma submetidas ao teste do Chi-quadrado (χ2). Para as avaliações de peso corporal foi aplicada analise de variância e as médias submetidas ao teste de Tukey com 95% de confiabilidade.
Resultados & Discussão
Avaliando microscopicamente a cabeça do fêmur das aves aos 42 dias, nos fêmures com escore 1, foi possível fazer um mapeamento bem distinto de todas as zonas, onde se evidenciou a cartilagem articular com função de proteção contra atrito, a zona de repouso formada por células imaturas que irão se diferenciar para propor o crescimento do osso, as células apresentavam núcleos alongados e arranjo celular em fileiras, enquanto na Zona Proliferativa onde as células se proliferam para promover o crescimento e calcificação do osso, os núcleos eram centrais e com expansões características; e por ultimo a Zona de Calcificação, na qual ocorre a degeneração gradual do condrócito e mineralização da matriz óssea (Figura 1a). As alterações mais evidentes encontradas aos 42 dias de idade, no escore 2, mostrava a cartilagem de articulação desgastada e existência de alteração nas zonas de repouso e proliferativas, com núcleos hipertrofiados, deslocados e com contornos alterados (Figura 1b) e finalmente no escore 3, não foi possível observar a presença de cartilagem articular e houve um colapso no arranjo das células ósseas, que apresentaram núcleos rompidos e hipertrofiados, localizados preferencialmente em um dos pólos da célula (Figura 1c). No escore 1 de degeneração femoral para ambas as pernas (esquerda e direita) não foram encontradas diferenças estatística. Já para o escore 2, somente da perna esquerda, houve diferença (p<0,05), sendo que a maior incidência foi encontrada nos machos da linhagem Cobb quando comparados as fêmeas de ambas as linhagens. No escore 3, da perna esquerda, a linhagem Ross (machos e fêmeas) apresentaram os maiores valores de incidência em comparação com a linhagem Cobb (machos e fêmeas). Já para a perna direita a maior incidência foi evidenciada nas fêmeas Cobb em relação às fêmeas Ross, entretanto os machos de ambas as linhagens não diferiram entre si nem das fêmeas de ambas as linhagens. (Tabela 1).
Fig 1. Fotomigrografia de lesão de Degeneração Femoral
A) Escore 1= sem lesão,B) Escore 2= lesão inicial e C) Escore 3= lesão grave. E1, sem lesão por degeneração femoral. Cartilagem articular (CA), zona de repouso (ZR), Zona proliferativa (ZP), zona de calcificação (ZC); E2, com desgaste na cartilagem articular. Zona proliferativa (ZP), zona de calcificação (ZC) e E3, com ausência de cartilagem articular. Zona proliferativa (ZP), zona de calcificação (ZC). HE, 20X.
Tabela 1. Freqüência de Escore de Degeneração Femoral em ambas as pernas.
Médias seguidas de letras diferentes, na coluna, diferem entre si pelo teste χ2 (p<0,05).
Conclusão
A freqüência de degeneração femoral para as duas linhagens e sexo foi baixa, sendo que o escore macroscópico de degeneração femoral foi compatível com o escore histológico.
Bibliografia
Murakami A. 2000. Balanço eletrolítico da dieta e sua influência sobre o desenvolvimento dos ossos de frangos. In: Conferência Apinco 2000 de Ciência e Tecnologia Avícolas, Anais... Campinas: Facta 2:33-56.
Gonzáles E & Mendoça Jr CX. 2006. Problemas locomotores em frangos de corte. pp. 79-94 In: VII Simpósio Brasil Sul de Avicultura. Chapecó, SC. Chapecó, Núcleo Oeste de Médicos Veterinários.
Morris MP. 1993. National survey of leg problems. Broiler Industry May:20-24.
Rostagno HS et al. 2005. Composição de alimentos e exigências nutricionais de aves e suínos: tabelas brasileiras. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa. p. 59.