Introdução
A ciência moderna tem apresentado evidências que muitos animais pensam e sentem, sendo seu comportamento produto de processos inteligentes e consistentes. A etologia é uma ciência que tem ajudado a entender como os animais se comportam e, a partir deste entendimento, reconhecer de forma mais ampla a responsabilidade do homem em promover o bem estar animal. A preocupação com o bem estar dos animais de produção são inquietações de origem ética, considerando-se ainda o efeito potencial que este possa ter na produtividade e na qualidade dos alimentos (Hötzel & Machado Filho, 2004).
Na avicultura, as possibilidades comportamentais sofrem alterações conforme o sistema de produção. O comportamento animal permite avaliar o comportamento de preferência térmico das aves, sendo possível quantificar a freqüência de idas ao bebedouro, comedouros ou ainda utilizando a freqüência de determinados comportamentos como indicadores de conforto térmico (Salgado et al., 2007). Adicionalmente, existe controvérsia sobre motivação e habilidades comportamentais entre as diferentes linhagens genéticas (Stupak et al., 2008). O trabalho de pesquisa teve por objetivo estudar o comportamento de frangos caipiras, alojados em sistema de criação intensivo.
Materiais & Métodos
O estudo foi desenvolvido em um galpão experimental no Parque de Exposições de Parauapebas, no estado do Pará. Foram alojados 384 pintos de corte tipo caipira, por um período de 90 dias. As aves foram divididas, aleatoriamente, em 36 boxes contendo 16 pintos cada, criados em um sistema intensivo, com uma densidade de 6,4 aves/m2.
Os tratamentos foram definidos de acordo com a linhagem: T1 - Caipira Francês Barré (Gris Barré Cou Plume); T2 - Caipira Francês Pedrês (Gris Barré Cou Nu); T3 - Caipira Francês Exótico (Master Gris Cou Plume); T4 - Caipira Francês Vermelho (Redbro Cou Nu).
O manejo alimentar foi ad libidum e todas as aves receberam a mesma dieta alimentar. Cada box era composto por um bebedouro tipo pressão e um comedouro tubular. Foi realizada uma caracterização climática com auxilio de um termômetro de mercúrio e um termômetro de máxima e mínima. Estes foram posicionados no meio do galpão, a uma altura próxima ao centro do corpo do animal.
Para análise do comportamento as aves foram identificadas, individualmente, utilizando uma pintura no dorso com tinta atóxica. As avaliações foram realizadas por um período de 12 horas consecutivas, sendo realizadas três avaliações diferentes.
Na primeira avaliação foi observado o tempo que as aves levaram para realizar os seguintes comportamentos, conforme metodologia de Santos (2009) e Silva et al. (2006): a) Andar: movimentação da ave entre dois pontos; b) Beber: consumindo água no bebedouro; c) Comer: consumindo ou bicando alimento no comedouro; d) Deitar: ave em estado de repouso, com o peito e a cabeça apoiada sobre a cama; e) Parado: comportamento quando a ave não apresenta nenhum movimento ou não se enquadra em nenhum dos anteriores; f) Sentado: ave com peito apoiado sobre a cama, mas com a cabeça levantada em estado de alerta.
Na segunda avaliação foi registrada a freqüência com que as aves realizaram os comportamentos e posteriormente foram agrupados em: a) Comportamento Ingestivo: comer, beber; b) Comportamento de Repouso: parado, deitado, sentado; c) Comportamento exploratório: ciscar, andar, investigar penas, investigar cama; d) Comportamento de Conforto: abrir asas, arrepiar penas, espreguiçar, esticar membros, sacudir.
A terceira avaliação observou-se a presença de comportamento agonístico (agressão, combate, ameaça, submissão, fuga) entre as aves. Para a avaliação do tempo de comportamento realizou-se à análise de variância a 5% de probabilidade, utilizando-se o Programa SAEG - Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas - UFV (2007). As diferenças entre as médias das variáveis estudadas serão realizadas pelo Teste de Tukey em nível de 5%. Para as demais avaliações os dados foram tabulados em planilhas eletrônicas, posteriormente elaborados tabelas.
Resultados e Discussão
Registrou-se o maior valor de temperatura média ás 14:00 horas com 35°C, e o menor ás 8:00 horas com 22 °C. A maior amplitude térmica foi constatada ás 11:00 horas. Segundo Nääs et al. (2007), as condições de ambiência com alta temperatura e umidade relativa e baixa velocidade de vento, pode ocasionar à prostração e comportamentos agressivos de frangos de corte.
Os valores do tempo médio de expressão dos comportamentos no período da manhã e tarde estão apresentados na Tabela 1. Durante o período da manhã pode-se perceber que a linhagem T3 (Caipira Francês Exótico) apresentou maior valor significativo (P>0,05) para os comportamentos andar e beber quando comparado aos demais tratamentos. Em relação ao comportamento deitar o T3 apresentou maior valor diferindo significativamente (P>0,05) do T4 (Caipira Francês Vermelho Pescoço Pelado). Contudo para o comportamento de deitar o T1 e T4 não apresentaram diferença significativa, entretanto diferenciaram do T3.
Durante o período da tarde observou-se que o T3 (Caipira Francês Exótico) apresentou maior comportamento de andar, diferindo do T4 (Caipira Francês Vermelho Pescoço Pelado), mas não diferindo dos demais tratamentos, bem como maior ingestão de água, diferindo significativamente (P>0,05) dos demais tratamentos.
O comportamento de ingestão de alimento foi maior no T2 (Caipira Francês Pedrês) diferenciando significativamente (P>0,05) do T4 (Caipira Francês Vermelho), porém não diferiu dos demais tratamentos. O T4 apresentou maior valor significativo (P>0,05) para o comportamento deitado e menor em sentado diferindo do T3 que apresentou o maior comportamento sentado, mas não diferindo significativamente do T1 (Caipira Francês Barré) e T2. Sevegnani et al. (2005) avaliando o comportamento de frango de corte da linhagem Ag Ross (21, 28, 35, 42 e 49 dias de idade) submetidos a estresse térmico, observaram que quanto maior a temperatura do ambiente e mais velha a ave, maior foi a ingestão de água e menor a ingestão de ração.
Tabela 1. Tempo médio de expressão dos comportamentos de quatro linhagens de frangos caipira, criados em sistema intensivo.
Medias seguida de diferentes letras minúsculas nas colunas, diferem significativamente pelo teste de Tukey (P>0,05).
Os resultados do tempo médio de expressão dos comportamentos das linhagens em relação aos horários do dia mostram que para os comportamentos andar, beber, deitado, parado e sentado não houve diferença significativa (P>0,05) para nenhum dos horários de observação. Porém o comportamento comer, foi maior no horário de 09:00, diferindo apenas dos horários de 14:00 e 15:00 horas que apresentaram menor consumo significativo de ração (P>0,05). Em contrapartida, Pereira (2007) avaliando diversas coberturas de galpão para frangos de corte, não observou diferença entre os horários, para o comportamento de ingestão de alimento.
Os dados de freqüência dos comportamentos observados estão apresentados na Tabela 2. A linhagem Caipira Francês Exótico (T3) apresentou maior valor de comportamento ingestivo e de repouso, enquanto a Caipira Francês Vermelho (T4) revelou maior comportamento exploratório. O maior índice de comportamento de conforto foi diagnosticado nas aves da linhagem Caipira Francês Barré (T1), seguido pela Caipira Francês Pedrês (T2). A linhagem Caipira Francês Pedrês (T2) apresentou maior índice de comportamento agonístico (58.0%).
Tabela 2. Freqüência de expressão dos comportamentos observados de quatro linhagens de frangos caipiras, criados em sistema intensivo.
Nazareno (2008) trabalhando com dois sistemas de criação, confinado e semi-confinado, utilizando aves da linhagem Cobb 508 (1 á 42 dias de idade), contatou que as aves submetidas ao sistema de criação semi-confinado com 3 m2/ave de área de piquete foram as que tiveram melhor oportunidade de expressar seus comportamentos naturais e de explorar o ambiente externo ao módulo de produção, potencializando o bem-estar animal.
Conclusões
A linhagem Caipira Francês Exótico apresentou maior valor de comportamento ingestivo e de repouso, enquanto a Caipira Francês Vermelho revelou maior comportamento exploratório.
As aves de pescoço pelado expressaram maiores índices de comportamento agonístico.
Bibliografia
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Nazareno AC. 2008. Influência de diferentes sistemas de criação na produção de frangos de corte industrial com ênfase no bem-estar animal. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Universidade Federal Rural de Pernambuco. Departamento de Tecnologia Rural.
Pereira CL. 2007. Avaliação do conforto térmico e do desempenho de frangos confinados em galpões avícolas com diferentes tipos de cobertura. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de alimentos, USP- Pirassununga.
SAEG - Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas. 2007. Versão 9.1: Fundação Arthur Bernardes-UFV- Viçosa.
Salgado D, Nääs IA, Ferreira DF, Moura DJ. 2007. Modelos estatísticos indicadores de comportamentos associados a bem-estar térmico para matrizes pesadas. Eng. Agríc. 27(3):619-629.
Santos MJB. 2009. Sistemas de produção de frango de corte caipira com piquetes enriquecidos e sua influencia no bem estar animal e no desempenho zootécnico. Dissertação de mestrado do Programa de pós-graduação em engenharia agrícola da UFRP.
Sevegnani KB, Caro IW, Pandorfi H, Oliveira IJ, Moura DJ. 2005. Zootecnia de precisão: análise de imagens no estudo do comportamento de frangos de corte em estresse térmico. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental 9(1):115-119.
Silva IJO, Barbosa Filho JAD, Silva MAN, Piedade SMS. 2006. Influência do sistema de criação nos parâmetros comportamentais de duas linhagens de poedeiras submetidas a duas condições ambientais. Rev. Bras. Zootec. 35(4):1439-1446.
Stupak EC, Molento CFN, Lecheta MP. Outubro/2008. Motivação em frangos de corte de alta taxa de crescimento. Livro de Resumos do 16º Evento de Iniciação Científica da UFPR.