A importância dos testes sorológicos para um manejo Sanitário adequado na avicultura industrial é indiscutível hoje em dia para quem deseja ter o máximo de produtividade e controle da produção. Porém, embora muito utilizados, percebemos erros de interpretação destes resultados devido ao desconhecimento de alguns conceitos básicos. A proposta desta coluna de hoje é discutirmos alguns destes conceitos.
As análises para diagnóstico de doenças infecto-contagiosas podem ser caracterizadas como definitivas ou presuntivas. O teste definitivo é aquele que envolve o isolamento do agente, enquanto que o presuntivo mede a resposta do animal para a presença do agente. Os testes presuntivos são os mais utilizados pela praticidade, rapidez e custo relativamente baixo, porém devem ser interpretados com cautela pois podem levar a um diagnóstico errôneo devido a reação cruzada com outros agentes (falsos-positivos) ou por não detectarem animais recentemente infectados que ainda não soro-converteram. Portanto, todos os testes sorológicos devem ser considerados presuntivos da presença de um determinado agente infeccioso.
Valor Preditivo e Precisão: Sensibilidade e Especificidade
O título de teste sorológico é uma medida relativa da concentração de anticorpos. Na tabela 1 estão discriminados os testes sorológicos com o limiar de detecção de antígeno. Não confundir essa sensibilidade com o parâmetro da precisão do teste . O teste sorológico é baseado na capacidade do mesmo em diferenciar aves infectadas (não necessariamente doentes) de aves não infectadas.
Tabela 1 / Sensibilidade de testes imunológicos
Técnica
Capacidade de detecção de antígeno (mg/dl)
Eleroforese
5 a 10
Imunodifusão radical simples
<1 a 2
Imunodifusão dupla
<1
Eletroimunodifusão
<0,5
Fixação do complemento
0,001
Aglutinação
0,001
Elisa
<0,001
Radioimunoensaio
<10-9
Para fazer uso dos testes sorológicos de forma adequada, precisa – se conhecer os pontos fortes e fracos do mesmo. Em outras palavras precisamos conhecer a precisão do teste e o grau de confiabilidade do mesmo. A precisão é a propriedade do teste de classificar corretamente uma amostra como positiva ou negativa e é expressa em termos de sensibilidade e especificidade. A confiabilidade do teste é expressa nos valores preditivos.
A Sensibilidade de um teste é definida como a probabilidade de um teste identificar corretamente uma ave positiva e a Especificidade como a probabilidade de um teste identificar corretamente uma ave negativa. Na tabela 2 é mostrado a associação existente entre o “status” da ave em relação a doença e o resultado do teste sorológico.
Tabela 2 / Tabela de contingência para cálculo de sensibilidade e especificidade.
“status” do Teste
“status” da Doença
Present
Ausente
Positivo
+a
-b
Negativo
-c
+d
Sensibilidade (S) é definida por 100 x a/(a +c )
Especificidade (E) por 100x d/(b+ d ).
Outro conceito importante é o de Valor Preditivo, tanto positivo quanto negativo, que se refere a confiabilidade do teste. Entende-se como Valor Preditivo Positivo (VPP) a probabilidade de uma ave positiva estar realmente infectada e Valor Preditivo Negativo (VPN) como a probabilidade de uma ave negativa não estar infectada ou seja, ser mesmo negativa. De acordo com a tabela 2 o VPP seria a/(a +b) e o VPN seria d/(c+ d ).
Amostragem
Outro ponto extremamente importante num exame sorológico é a determinação da amostragem para realizar o diagnóstico do Lote. Essa amostragem é função de diversos fatores, mas basicamente depende:
• da sensibilidade, especificidade, do valor Preditivo e do teste sorológico aplicado;
• da categoria da ave envolvida, da idade das aves, do perfil sorológico, da taxa de prevalência e tamanho do Lote no momento da amostragem;
• do grau de confiança ou erro da amostragem tolerados para se estabelecer o diagnóstico através de determinado teste sorológico.
Como determinar o número de amostras a remeter ao laboratório
Para determinarmos o número de amostras levamos em consideração a característica da Doença que estamos querendo verificar, ou seja o quão contagiosa a doença se apresenta e sua velocidade de disseminação. De um modo prático recomendamos que sejam remetidas no mínimo 22 amostras para monitoria do estado pós-vacinal e no caso de pesquisa para diagnóstico de doenças seja consultado o laboratório para a melhor amostragem racional e com menor custo. Todas as amostragens utilizadas devem ser cientificamente corretas e baseadas em Bioestatística, conforme a tabela 3.
Tabela 3 / Número de amostras a testar para se ter 90% de confiabilidade que a doença será detectada se presente em/ou acima dos 5 níveis de incidência ou contaminação.
Tamanho do Lote ou População
Nível de Incidência
10%
5%
2%
1%
0,5%
20
13
18
20
20
20
50
18
30
45
50
50
100
20
36
68
90
100
200
21
40
87
136
180
300
21
42
95
160
235
400
21
42
99
174
273
500
21
43
102
184
300
600
21
43
104
190
321
700
22
43
105
195
337
900
22
44
106
199
349
1.000
22
44
108
205
368
1.400
22
44
109
211
392
1.800
22
44
110
215
405
2.000
22
44
111
216
410
3.000
22
45
112
221
426
4.000
22
45
112
223
434
5.000
22
45
113
224
439
10.000
22
45
113
227
449
100.000
22
45
114
229
458
Infinito
22
45
114
229
459
Ao interpretar um resultado de exame sorológico tenha sempre em mente todos os dados acima, avalie se a amostragem foi realmente representativa da população em estudo.