Introdução
Na União Europeia (UE) existe, desde janeiro de 2006, a total proibição do uso de antibióticos promotores de crescimento (APC) em alimentação animal. Apesar de ser um tema controvertido por existir tanto informação a favor como em contra, o Comitê Científico da Comissão Europeia propôs a proibição dos APC, baseado no "princípio de precaução". A partir de 2012 também se proibirá o uso de salinomicina e monensina, atualmente utilizados como coccidiostatos (Cepero Briz, 2005).
Outros fatores relacionados com a ração, além da proibição do uso dos APC, agiriam como agravantes. Por exemplo, no ano 2010, na UE foi proibido o uso de farinhas de carne e ossos, por isso aumentou a utilização de farinha de soja e, em consequência, o risco derivado dos fatores antinutricionais quando esta última não foi corretamente processada. A proibição também tem estimulado um maior nível de inclusão de óleos e gorduras, o que pode predispor a problemas entéricos (Cepero Briz, 2005).
Desde a proibição do uso dos APC, se observou um renascimento de certas patologias, como enterite necrótica (EN) causada por Clostridium perfringens tipos A e C. A EN é uma doença multifatorial e sua incidência e sua incidência depende da nutrição, utilização (más condições ambientais, altas densidades de cria), sanidade (vazios sanitários muito curtos), entre outros (Santomá et al., 2006).
Como consequência deste tipo de patologias, houve um incremento médio da mortalidade, menor peso, aumento do índice de conversão e menor homogeneidade de lotes. Como alternativa aos APC, surgiram diferentes produtos, como probióticos e acidificantes. Com a finalidade de avaliar este tipo de aditivos, têm sido desenvolvidas metodologias experimentais baseadas em gerar condições de desafio. (Iglesias et al., 2011).
Objetivo
Avaliar o efeito da inclusão, na dieta de frangos para grelhados, do BioPro® e do acidificante enriquecido com sódio AES® sobre o desempenho das aves desafiadas.
Materiais & Métodos
Participaram 576 frangos Cobb 500 machos, alojados em piso sobre cama de serragem. Foram avaliados 4 tratamentos (Tabela 1) com 8 repetições de 18 aves cada uma, distribuídos num desenho em blocos completamente aleatorizado, utilizando-se a prova de Duncan para a separação de médias (InfoSTAT®, 2001).
Tabela 1. Tratamentos
1Probiótico a base de uma linhagem de Enterococcus faecium; 2Acidificante enriquecido em sódio. BMD: Bacitracina Metil Disalicilato a 11%.
O plano de alimentação foi: Iniciador (1 - 7 dias), Crescimento (8 - 28 dias), Terminador (29 - 43 dias) e Última Semana (44 - 49 dias) (Tabela 2) e o alimento foi administrado em forma de farinha. As dietas foram formuladas com base nas recomendações de Cobb, utilizando o software DAPP, N-utrition® 2.0 (2003).
Tabela 2. Composição e aporte de nutrientes das dietas
Não foi utilizado o coccidiostato, dado que aos frangos foi realizado um desafio com oocistos de coccidias.
Desafio
Com a intenção de entrar numa região de maior resposta zootécnica diante de qualquer mudança na absorção de nutrientes, foi diminuído o requerimento de metionina + cistina, lisina e treonina a 80% das recomendações da cabana e, como consequência, foi reduzida a inclusão de aminoácidos de sínteses em todos os alimentos.
Ao terceiro dia de vida, os pintos foram vacinados com oocistos, utilizando 5 vezes a dose recomendada pelo fabricante. Também se utilizou cama de criações anteriores e, para elevar as contagens de bactérias, ela foi borrifada com uma solução contendo 109 UFC/ml de E. coli (20ml desta solução cada 1,8 m2levados a 50ml com solução salina 0,9%p/v). Esta operação foi realizada em três oportunidades durante a criação (dias 7, 14 e 21). A umidade da cama foi mantida borrifando 500ml de água por curral, dia e meio, enquanto estiveram acesas as campanas.
Medições
O peso corporal foi determinado semanalmente, como também o consumo de ração ajustado por mortalidade e se calculou a conversão e a relação peso/conversão.
Resultados & Discussão
Nas Tabelas 3 a 6 e no Gráfico 1 figuram os resultados zootécnicos obtidos.
Tabela 3. Consumo (g)
Médias numa mesma coluna, com distinta letra, diferem significativamente (p≤0.10).
Tabela 4. Peso (g)
Médias numa mesma coluna, com distinta letra, diferem significativamente (minúscula p≤0.05; maiúscula p≤0.10).
Tabela 5. Conversão
Médias numa mesma coluna, com distinta letra, diferem significativamente (p≤0.10).
Tabela 6. Peso/Conversão
Médias numa mesma coluna, com distinta letra, diferem significativamente (minúscula p≤0.05; maiúscula p≤0.10).
Gráfico 1. Relação percentual dos diferentes tratamentos a respeito do Controle Positivo (100%) aos 49 dias de vida
Modelo de desafio
Não foram observadas diferenças em consumo de ração entre o Controle Positivo e o Controle Negativo. O peso vivo das aves alimentadas com as dietas correspondentes ao Controle Negativo foi menor que o das aves do grupo Controle Positivo. Estas diferenças foram significativas entre 21 e 34 dias (p<0.05).
Não foram observadas diferenças em conversão entre Controles.
A relação peso/conversão foi menor no caso do Controle Negativo, sendo as diferenças significativas a 28 e 34 dias (P<0.05) e a 49 dias (P<0.10).
Estes resultados mostram que o modelo de desafio utilizado afetou o desempenho das aves, condição necessária para poder comparar o efeito dos aditivos estudados.
BioPro®
Não foram observadas diferenças, em resposta zootécnica, entre as aves alimentadas com BioPro® e com BMD (Controle Positivo).
O consumo de ração observado com BioPro® foi maior que o correspondente ao Controle Negativo, diferenças significativas (P<0.10) a 34 e 42 dias.
O peso alcançado com BioPro® foi maior com relação ao grupo Controle Negativo, sendo as diferenças significativas (P<0.05) desde 28 dias até 42 dias. A mesma tendência (P<0,10) se observou a 49 dias.
Não foram detectadas diferenças em conversão alimentar entre BioPro® e Controle Negativo.
A resposta em termos da relação peso/conversão foi semelhante à descrita para peso.
AES®
Não foram observadas diferenças em resposta zootécnica entre as aves alimentadas com AES® e com BMD (Controle Positivo).
Não foram observadas diferenças no consumo de ração entre as aves alimentadas com AES® e aquelas do Controle Negativo.
O peso vivo alcançado com AES superou o Controle Negativo desde 21 dias até 42 dias (P<0.05).
Foi observada uma tendência (P<0.10) a melhor conversão com AES a 21 dias.
A relação peso/conversão alcançada com AES superou a do Controle Negativo, sendo as diferenças significativas (P<0.05) a 21 e 28 dias e com uma tendência (P<0.10) a 49 dias.
Conclusões
- O modelo de desafio aplicado afetou negativamente o desempenho das aves.
- Os resultados mostram que, com a inclusão de BioPro® ou de AES®, foi possível reverter esta situação, o que posiciona estes aditivos como alternativas aos antibióticos promotores de crescimento.
Bibliografia
Cepero Briz R. 2005. Retirada de los antibióticos promotores de crecimiento en la unión europea: causas y consecuencias. En XII Congreso Bienal Asociación Mexicana de Nutrición Animal (AMENA) Puerto Vallarta, Jalisco. URL:http://www.wpsa-aeca.es/aeca_imgs_docs/24_01_30_
MEXICO05-RCB.pdf. Acceso: 01/04/11.
DAPP, N-utrition. 2003. Software para formulación de raciones a mínimo costo. Versión 2.0. Colón, Entre Ríos, Argentina.
Iglesias BF, Azcona JO, Charriere MV, Lago C. 2011. Effect of BioPro on broiler chickens performance. pp 58. In: Proceeding of the International Poultry Scientific Forum, 24 y 25 de enero de 2011. Atlanta, GA, USA.
InfoSTAT. 2008. Software estadístico. Versión 2008p para Windows®. Córdoba, Argentina.
Santomá G, Pérez de Ayala P, Gutiérrez del Alamo A. 2006. Producción de broilers sin antibióticos promotores del crecimiento. Conocimientos actuales. En XLIII Simposio Científico de Avicultura, Barcelona, España. URL:http://www.wpsa-aeca.es/aeca_imgs_docs/wpsa11617
71886a.pdf. Acceso: 01/04/11.