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A Utilização de níveis crescentes de farelo de raiz de mandioca na dieta de frangos de corte

Publicado: 18 de outubro de 2021
Por: Bianca Lima Ferreira, Daniela Aguiar Penha Brito, Geraldo Fábio Viana Bayão, Josilene Lima Serra, Elson Matos Sousa, Willas Soares dos Santos, Tiago Castro Santos, Vaneide Lima
Introdução
A avicultura industrial brasileira ocupa posição de destaque no cenário mundial, ficando na terceira posição entre os maiores produtores e primeiro em exportação(1) . Para manter esse patamar, o setor agropecuário vem adotando estratégias a fim de tornar a produção mais eficiente e com menor custo. Uma das estratégias é o emprego de muitos ingredientes na alimentação das aves a fim de melhorar o desempenho animal e reduzir custos(2) .
As fontes e o teor de energia da ração de frangos são considerados pontos de maior desafio para avicultura, visto que influenciam diretamente no sucesso econômico da produção(3). O milho, o ingrediente energético mais utilizado na formulação de rações das aves, apresenta alto custo e alta concorrência com alimentação humana, especialmente em regiões de baixa disponibilidade desse insumo(4) . Essa realidade estimula pesquisas que buscam novas alternativas alimentares para substituir a tradicional fonte energética utilizada nas formulações de dietas para aves.
A mandioca (Manihot esculenta crants) e seus produtos destacam-se como fontes viáveis para inclusão nas rações de aves no Brasil, pois se trata de uma cultura amplamente difundida e de alta produção no país, rica em amido altamente digerível e com baixo nível de lipídios(5). O uso do farelo da raiz integral da mandioca é a forma de uso mais crescente na alimentação animal no mundo(6), sendo obtida pela raiz lavada, ralada, seca e moída(7) .
Estudos sobre o uso do farelo de raiz integral de mandioca na alimentação de frangos de corte tem sido descrito nas últimas décadas(7; 8; 9; 10). Há considerável variação dos resultados (5 a 50%) quanto aos níveis de inclusão para se obter desempenho zootécnico e qualidade de carcaça compatíveis aos obtidos com dieta à base de milho.
O nível de inclusão do farelo de mandioca em ração de animais não ruminantes é limitado por vários fatores intrínsecos tais como o alto teor de fibras, teores de glicosídeos cianogênicos e presença de polissacarídeos amiláceos(11; 12). Esses fatores podem afetar a palatabilidade, o consumo alimentar, o ganho de peso, peso de carcaça e até a viabilidade(13). Outras desvantagens da mandioca são o baixo conteúdo de proteínas (0,7 a 1,3%), de carotenos e de micronutrientes como vitamina A, ferro e zinco, em relação ao milho(13;14). A secagem das raízes ao sol e a adição de fontes proteicas e de micronutrientes são apontados como métodos de processamentos eficientes que podem diminuir os efeitos dos glicosídios cianogênicos e melhorar o valor nutritivo da mandioca para as aves(15) .
A inclusão do farelo de mandioca na avicultura é descrita como promissora, especialmente em regiões com a insuficiente produção ou alta competição do uso do milho na alimentação humana e de animais(16). Diante disso, objetivou-se com este trabalho avaliar o desempenho zootécnico e o de rendimento de carcaças, cortes e vísceras de frangos de corte submetidos a dietas contendo níveis crescentes de inclusão de farelo de raiz de mandioca na ração, durante o período de 10 a 42 dias de vida.
Material e Métodos
Realizou-se a pesquisa durante o período de setembro a outubro de 2019 no setor de avicultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), campus Maracanã, no município de São Luís, Maranhão. O delineamento experimental foi inteiramente ao acaso (DIC), sendo as aves distribuídas em quatro tratamentos e quatro repetições de 16 aves cada, totalizando 16 parcelas e 256 aves. Os tratamentos foram dietas contendo: ração com farelo de raiz de mandioca nos seguintes níveis: 0% (tratamento controle); 7,5%; 15% e 22,5%.
Foram utilizados 128 frangos machos e 128 frangos fêmeas da linhagem comercial Cobb, vacinados contra Marek, Gumboro e Newcastle. As aves foram alojadas em galpão de alvenaria dividido em boxes com dimensões 1,0 x 2,0 m, com piso de cimento e cobertos com maravalha. Cada divisão foi equipada com um bebedouro automático pendular, um comedouro tubular, e as aves receberam água e ração à vontade, durante todo o período experimental. Foi adotado um programa de iluminação contínuo (natural + artificial) e realizado um monitoramento de temperatura e umidade do ambiente de criação das unidades experimentais.
As dietas experimentais foram formuladas a base de milho, farelo de soja, núcleo (aminoácidos sintéticos, vitaminas, minerais e óleo de soja), com ou sem inclusão farelo integral de raízes de mandioca. As raízes de mandioca foram adquiridas de uma plantação localizada no município de Marabá, estado do Pará. A preparação do farelo integral de mandioca (FRM) foi de acordo com método de Santos e Granjeiro(17). As raízes inteiras ou em pedaços de mandioca foram lavadas, trituradas e a massa espalhada em uma lona, sendo deixada por 24 horas a sombra para a volatilização dos compostos cianogênicos. Após esse período, o material foi exposto ao sol para a desidratação, e então novamente triturado em peneira de menor diâmetro para formação do farelo.
A formulação dos níveis recomendados para aves de corte foi planejada conforme descrito por Rostagno et al.(18). Após análises bromatológicas dos componentes da ração para proteína bruta, fibra bruta, energia bruta, extrato etéreo, matéria mineral, cálcio e fósforo, conforme Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal(19), foram formulados três programas de alimentação: 10 a 21 dias de vida (Tabela 1); 22 a 34 dias de vida (Tabela 2); 35 a 42 dias de vida (Tabela 3).
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Realizaram-se pesagens das aves ao 10°, 22º, 28º, 34º e 42º dia de vida. A pesagem das sobras de ração de cada parcela experimental foi realizada diariamente. Os registros de aves mortas foram anotados. Os parâmetros avaliados foram o ganho de peso (GP), consumo médio de ração (CMR) e conversão alimentar (CA). O ganho de peso foi determinado pela diferença de peso final e o peso inicial de cada fase de vida. O consumo médio de ração foi calculado pela diferença entre a quantidade de ração fornecida, os desperdícios e as sobras das rações experimentais.
A conversão alimentar foi calculada a partir da relação do consumo de ração e do ganho de peso para cada tratamento no período do programa de alimentação, em kg/kg. A viabilidade foi determinada individualmente por parcela por meio do número de aves alojadas no dia 10 e o número de aves vivas aos 42 dias, expresso em porcentagem, sendo a mortalidade anotada diariamente e seguindo a fórmula: VB = [1 - (MORT/AA) x 100], em que: VB = viabilidade; MORT= mortalidade ocorrida no período; AA= número de aves no alojamento. O Índice de Eficiência Produtiva (EP) foi avaliado de acordo com a fórmula: [(GP x VB)/ (dias até o final do experimento x CA)] x 100.
Aos 42 dias de vida, foram escolhidas quatro aves (dois machos e duas fêmeas) por unidade, que apresentavam peso médio do grupo, totalizando 16 aves por tratamento. Os frangos foram submetidos a jejum e dieta hídrica de 8 horas antes do abate. Então, foram apanhados manualmente, identificados com anilhas e colocados em gaiolas plásticas, com 4 aves por gaiola, e transportadas para o abatedouro de animais de pequeno porte do IFMA-Campus São Luís Maracanã. Cada ave foi pesada individualmente e abatida de acordo com os parâmetros utilizados em abates humanitários, com insensibilização, sangria, depenagem e evisceração.
As carcaças depenadas, evisceradas, sem pés, cabeça e pescoço foram pesadas e calculado o rendimento da carcaça pela relação do peso e o peso corporal do animal vivo. As carcaças foram seccionadas nos seguintes cortes: peito; asa; coxa e sobre/coxa; dorso; pés, pescoço e cabeça. Foi determinado o rendimento de cortes em relação ao peso da carcaça quente. Todos os dados de rendimentos foram expressos em percentuais e o peso em gramas(20; 21) .
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey utilizando-se programa estatístico InStat (Graphpad Instat: GraphPad Software Oberlin, San Diego-CA, USA). A análise de regressão foi realizada em função dos níveis de inclusão do farelo de raiz da mandioca utilizando o programa estatístico Past 4.07b. O trabalho foi submetido à análise da Comissão de Ética no Uso Animal em Ensino e Pesquisa (CEUA) do IFMA e aprovado sob n° 23249.038473.2018-18.
Resultados e Discussão
Os valores médios de temperatura obtidos durante o dia (no período das 8 às 16 horas) e noite foram, respectivamente, de 30,99°C e 26,77°C e a umidade relativa do ar 61,40% e 74,73%. Esses resultados revelaram que a pesquisa foi desenvolvida em ambiente de altas temperaturas, com as aves submetidas a estresse térmico segundo as recomendações do manual de frangos de corte Cobb(22) .Resultados semelhantes foram encontrados por Ferreira et al.(7) ao avaliarem o desempenho de frangas de corte alimentadas com rações contendo diferentes níveis de inclusão de raspa integral da raiz de mandioca.
As aves de corte que tiveram a dieta com inclusão de 7,5% de FRM apresentaram maior ganho de peso médio (GPM=652,18g), menor conversão alimentar (CA= 1,37) e melhor eficiência produtiva (EP=417,3), com diferenças significativas em relação aos tratamentos com maiores níveis de inclusão FRM (Tabela 4). A análise de regressão apresentou um comportamento linear decrescente para ganho de peso e eficiência produtiva, enquanto o consumo alimentar apresentou um efeito linear crescente até 21 dias de crescimento, conforme representado pelas equações da tabela 5. Observouse que as aves submetidas a dietas contendo FRM com níveis acima de 7,5% apresentaram menor desempenho para estas variáveis. O consumo de ração e a viabilidade não foram influenciados pela inclusão do FRM na alimentação dos frangos até 21 dias (Tabela 4).
A Utilização de níveis crescentes de farelo de raiz de mandioca na dieta de frangos de corte - Image 4
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Esses resultados estão de acordo com encontrados por Ferreira et al.(7) de 8,81% de inclusão, e Ferreira et al.(8), com níveis de até 5,1% na ração de frangos de corte na fase inicial, apresentando melhores resultados para conversão alimentar nesse período de criação.
A influência de dietas contendo mandioca sobre o ganho de peso de frangos de corte estudadas em outros trabalhos corroboram com o aumento da inclusão de mandioca na ração de frangos de corte pode haver redução no ganho de peso e piora na conversão alimentar(12). Essa assertiva pode estar relacionada com a menor eficiência de utilização do amido contido em farinhas de raízes de mandioca, pelas aves na fase inicial de vida(23). Sabe-se que os frangos de corte jovens ainda não possuem altura e tamanho das vilosidades adequados e baixa eficiência enzimática para um bom aproveitamento de alimentos com baixa digestibilidade(12; 10) .
No período de 22 a 34 dias, ocorreu um aumento do consumo médio de ração nos tratamentos com inclusão do FRM, com diferença significativas do nível de 7,5% e 15% de FRM na dieta em relação ao tratamento sem inclusão (0%). Esses resultados podem sugerir que o aumento do nível de alimentos fibrosos na ração como FRM aumentou de maneira significativa o consumo, fator que influenciou diretamente na conversão alimentar das aves (Tabela 4). De fato, a análise de regressão apresenta um comportamento linear crescente no consumo de ração e na conversão alimentar, conforme as equações da tabela 5.
Sabe-se que na fase de crescimento, a ave tem o seu maior consumo de alimento, pois é o período em que o seu sistema digestivo entra no seu período final de amadurecimento, consequentemente inferindo no crescimento e desenvolvimento final da ave(24). Assim, supõe-se que o aumento de consumo da ração nos tratamentos com FRM pode significar um efeito de adaptação a baixa digestibilidade da dieta na fase inicial dos frangos.
Os resultados do consumo de ração das aves determinaram diferenças na conversão alimentar. Esses resultados são importantes, visto que a conversão alimentar temrepresentatividade econômica, sendo considerado o parâmetro de maior importância para a criação de frangos de corte.
Observou-se que as variáveis de desempenho não foram influenciadas pelos diferentes tratamentos da dieta no período 35 a 42 dias (Tabela 4). Esses resultados mostraram que pode haver o ganho compensatório das aves aos 42 dias de vida, visto que não houve diferenças entre as médias. Resultados distintos para fase final distinguem do trabalho de Nascimento et al.(10) que observaram um efeito de decréscimo no ganho de peso à medida que se aumentou a quantidade de raspa de mandioca na fase de terminação dos frangos. Entretanto, para os autores, o pior desempenho para conversão alimentar e ganho de peso foi ao nível de 15% de raspa de mandioca em substituição ao milho, assemelhando-se ao encontrado neste trabalho (Tabela 4).
No peso vivo ao abate (PV) de machos e fêmeas e no peso da carcaça quente (PCQ) de fêmeas, houve diferenças significativas dos tratamentos com inclusão a partir de 15% (Tabela 6). Nos machos, essa redução foi em torno de 300 gramas no peso em comparação ao tratamento sem adição da FRM na dieta. Ao contrário das fêmeas, que houve ganho de peso (~162 gramas) na inclusão de 7,5% da FRM na dieta.
A Utilização de níveis crescentes de farelo de raiz de mandioca na dieta de frangos de corte - Image 6
O rendimento de carcaça, dos principais cortes e vísceras comestíveis não foram influenciados (p>0,05) pelas dietas com diferentes níveis de FRM (Tabela 6). Resultados semelhantes foram encontrados por Ferreira et al.(7), que observaram que a raspa integral de mandioca usada em frangos de corte de 1 a 42 dias de vida não afetou as características de carcaça, o peso dos principais cortes e órgãos quando a dieta é devidamente balanceada.
Conclusão
O farelo de raiz de mandioca pode ser utilizado na dieta de frangos de corte da linhagem Cobb 500, no período de 10 a 42 dias, até ao nível de 7,5%, sem comprometer o desempenho zootécnico das aves e o rendimento de carcaças, dos cortes e vísceras comestíveis.
Esse artigo foi originalmente publicado em Ciência Animal Brasileira, [S. l.], v. 22, n. 1, 2021. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/vet/article/view/6.  Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

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