INTRODUÇÃO
As dificuldades inerentes ao manejo dos resíduos animais têm despertado o interesse e preocupação de segmentos públicos, privados e civis. Estas dificuldades no Sul do país estão relacionadas a baixa capitalização dos produtores para investirem em sistemas de tratamento de resíduos, falta de área agrícola para utilização dos resíduos como fertilizante e ausência de assistência técnica para realização do manejo ambiental das criações.
Os resíduos têm sido aproveitados, quase que exclusivamente, como fonte de nutrientes para as culturas, o que tem causado processos de degradação dos solos e das águas superficiais e subterrâneas devido a aplicação excessiva destes resíduos como fertilizante. Esta degradação é resultado do uso dos resíduos sem a consideração do princípio do balanço de nutrientes, portanto as quantidades de nitrogênio, fósforo e outros minerais estão sendo depositadas no solo em concentrações que estão além das requeridas pelas culturas. Com isto, todas as condicionantes citadas têm contribuído para o comprometimento qualitativo dos recursos hídricos superficiais, que muitas vezes são a única fonte de água para humanos e animais.
Devido ao uso intenso das fontes de água superficiais e considerando os princípios de saúde pública e segurança dos alimentos, o objetivo deste trabalho foi monitorar a qualidade microbiológica das águas de uma microbacia localizada na Região Oeste de Santa Catarina caracterizada pelo uso de resíduos animais como fertilizante.
MATERIAL E MÉTODOS
O monitoramento ocorreu na microbacia hidrográfica do Lajeado Dente de Ouro, localizada no município de Concórdia, Oeste do Estado de Santa Catarina, Região Sul do Brasil. A microbacia foi eleita como unidade de estudo por apresentar alta concentração de criações de suínos, aves e bovinos de leite; uso dos resíduos animais como fertilizante para as culturas vegetais, principalmente a cultura do milho; carência de dados microbiológicos das águas superficiais e intenso processo de concentração das criações.
Com uma periodicidade quinzenal, oito pontos da microbacia foram monitorados durante seis meses a partir de junho de 2004. O período de coleta escolhido é justificado devido ao fato de compreender o período de preparo dos solos para semeadura do milho, principal cultura agrícola da região e maior receptora de fertilizantes na forma de dejetos de suínos e/ou camas de frango.
As coletas das amostra de água foram realizadas no período da manhã, sendo as análises conduzidas no Laboratório de Análises Físico-Químicas da Embrapa Suínos e Aves. Para a mensuração das populações de Coliformes Totais, Coliformes Fecais e Escherichia Coli foi utilizado o kit de Petrifilm, obtendo-se resultados em Unidades Formadoras de Colônias por mililitro (UFC/ml).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados referentes as populações de Coliformes Totais são apresentados na Figura 1. Analisando-se o gráfico, percebe-se que entre a sexta e oitava coletas, todos os pontos de monitoramento apresentaram altas concentrações de microrganismos, sendo que todos estes atingiram seus picos na sétima coleta, com exceção dos pontos 3 e 4, nos quais o pico foi atingido na oitava coleta. Como estes estavam a jusante do centro comunitário da microbacia e da região de maior concentração de propriedades suinícolas e avícolas, esta predominância de elevadas concentrações pode ser entendida como normal considerando a distribuição agrária da microbacia.
Esta série de elevadas unidades formadoras de colônias entre a sexta e oitava coletas, corresponde as amostragens dos meses de setembro e primeira quinzena de outubro, o que na região, compreende o período de adubação dos solos para semeadura do milho.
O Ponto 2, apresentou a menor e maior concentração de Coliformes Fecais ao longo do monitoramento, 1 UFC/ml e 300 UFC/ml, respectivamente. Os resultados referentes aos Coliformes Fecais são apresentados na Figura 2.
Tomm (2001), monitorou a qualidade da água do Rio Toledo-PR em sete pontos durante nove meses, sendo que os quatro primeiros estavam localizados em regiões de influência rural, principalmente por suinoculturas, bovinoculturas de leite e agricultura. Considerando os resultados das análises de coliformes fecais, o menor valor observado foi de 2,0 NMP/100 ml, ocorrido no primeiro ponto que correspondia a nascente, e o maior foi de 16.000 NMP/100 ml, ocorrido no ponto dois onde predominava áreas de pastagem e criações de suínos e bovinos.
A presença de organismos patogênicos em águas superficiais deve receber especial atenção quando estas águas têm como uso a dessedentação de pessoas e seus hábitos de higiene (Rump e Krist, 1992).
Fundamentando suas conclusões em uma séria histórica de dez anos de monitoramento da água na entrada das estações de tratamento da companhia de águas do estado de Santa Catarina Garcia e Beirith (1996), concluem que todos os rios do oeste e extremo oeste catarinense, enquadrados nas classes 1 e 2, apresentaram resultados que excederam as concentrações médias de coliformes preconizadas pela regulamentação estadual e federal para águas destinadas ao abastecimento público. Esta situação foi observada no rio monitorado e sendo uma microbacia caracterizada pelas atividades agropecuárias, com intenso manejo do solo, a depauperação da qualidade microbiológica da água poderia ser estancada pelo correto manejo dos programas de adubação.
Somente em uma amostragem observou-se ausência de E. coli no Ponto 4 na décima primeira coleta. A maior concentração ocorreu no Ponto 2, 160 UFC/ml, na quinta coleta. Esta concentração máxima demostra total relação com o ocorrido para as concentrações de coliformes, pois para estes também a máxima concentração foi observada na quinta coleta no Ponto 2. Os resultado de E. coli são apresentados na Figura 3.
CONCLUSÕES
Analisando-se os resultados levantados a partir do monitoramento, as características sócio-econômicas da microbacia e sua espacialização e as características de trato cultural do milho, pode-se concluir que o manejo do solos, via programas de adubação da cultura predominante, influenciou na qualidade microbiológica das águas superficiais da microbacia, correspondendo a elevadas concentrações de Coliformes Totais, Fecais e Escherichia Coli nestas.
Pesquisas que gerem outros indicadores de qualidade da água, como os físicos e químicos, devem ser incentivadas, a fim de dar maior subsídio ao plano de manejo da microbacia e as relações entre fertilização dos solos e qualidade das águas.
LITERATURA CITADA
GARCIA, T.V.; BEIRITH, B. (1996). Quantificação da contaminação dos rios pela biomassa da suinocultura em Santa Catarina (Região Oeste), estudo da comprovação da poluição dos mananciais de abastecimento público. Chapecó: UNOESC. Monografia 48p.
RUMP, H.H.; KRIST, H. (1992). Laboratory manual for examination of water, waste water, and soil. New York, VCH Publishers Inc., 190p.
TOMM, I. (2001). Avaliação da qualidade da água do Rio Toledo (Toledo-Paraná) através de macroinvertebrados bentônicos. Dissertação. (Engenharia de Produção e Sistemas) Universidade Federal de Santa Catarina. 223p.
Figura 1 - Colônias de Coliformes Totais durante o período de monitoramento.
Figura 2 - Colônias de Coliformes Fecais durante o período de monitoramento.
Figura 3 - Colônias de Escherichia coli durante o período de monitoramento.