INTRODUÇÃO
A produtividade dos frangos de corte (FC) industriais atingiu nos últimos 10 anos, índices altíssimos de desempenho, enquanto que as aves criadas livres ou semi-confinadas continuam com seus números muito aquém desses outros animais. Porém, para a avicultura industrial de corte produzir muito e em tempo precoce, essas aves melhoradas geneticamente são submetidas a sistema de confinamento intenso automatizado com ambiência confortável, mas com alta densidade populacional e dietas de alta densidade nutricional, alem de sistema de biosseguridade sofisticado para prevenir enfermidades.
JUSTIFICATIVA
Levantar a discussão sobre Bem Estar Animal (BEA) das aves de corte torna esse questionamento importante, pois conforme as pesquisas, é grande o investimento necessário para implementar mudanças que melhorem o BEA das aves, precisando-se levar em consideração também a relação custo-benefício.
OBJETIVO
Nesse artigo está totalmente fora de discussão, procurar diminuir os altos índices zootécnicos conquistados na produção de FC industriais em favor do BEA, mas sim, proporcionar a discussão em buscar alternativas de um BEA adequado aos FC, sem colocar em prejuízo a atual produtividade e seus possíveis avanços, adequando à avicultura industrial de corte para uma nova realidade dentro da sociedade.
MATERIAL E MÉTODOS
A alta produtividade dos FC industriais depende em grande parte ao BEA proporcionado nos aviários, contudo a World Society for the Protection of Animals (WSPA), recomenda a aplicação das cinco liberdades estabelecidas em 1992 pelo Conselho de BEA de Produção no Reino Unido, que preconiza que esses animais devem estar Livres de fome e sede, Livres de desconforto, Livres de dor, lesões e doenças, Livres para expressarem seu comportamento normal e Livres de medo e estresse.
Pesquisas demonstram que um sistema de aquecimento eficiente proporcionam aos FC, ótimas condições de BEA durante as duas primeiras semanas de vida, reduzindo estresse pelo frio e melhorando assim o desempenho zootécnico, podendo se considerar que o melhor momento do BEA do FC industrial ocorre a partir do seu alojamento diminuindo sua qualidade até o abate, como demonstra o Gráfico 1.
Ressaltando que nessa ultima etapa, ocorre o agravante do jejum mínimo de 6 horas, a coleta das aves (manual ou mecânica), a colocação das aves nas caixas, o transporte em estradas (muitas vezes não pavimentadas), a colocação das caixas na plataforma do abatedouro, a retirada das aves das caixas, o enganchamento nas nórias para conduzir a eletronarcose e finalmente chegar a sangria.
Considerando os três níveis de estresse do FC industrial desde inicialmente o incubatório comercial, com a incubação dos ovos férteis em maquinas de mais de 50.000 unidades, transferência para uma maquina de eclosão, o seu nascimento, seleção, vacinação, sexagem, acomodação em caixas de 80 pintinhos e transporte (aéreo e/ou terrestre), com o alojamento em seguida com mais uma seleção, contagem, pesagem e o primeiro contato com a água e ração de alta densidade nutricional, para então finalmente iniciar o seu percurso até o abate em 35, 42 ou mais dias nos caso das aves natalinas, conforme o objetivo desse lote no abatedouro.
Sem nenhuma contestação, as fases pré-inicial e inicial são as que ofertam um melhor BEA, já que as aves não terão um excelente peso de arranque e, portanto não serão produtivas se o conforto térmico não for adequado e ajustável proporcionalmente a sua idade e as temperaturas externa e interna do aviário, pois os pintinhos ao nascer não possuem um sistema termo regulador corpóreo desenvolvido e que só amadurecem lentamente o mesmo ao passar dos dez primeiro dias de vida principalmente (Gráfico 2). Havendo a partir de então, nas fases crescimento e final, uma aceitação e ajustamento fisiológico ao ambiente quanto a temperatura, umidade e ventilação, mas em compensação, os efeitos negativos da alta densidade populacional hoje aplicada, interferem fortemente no BEA dos FC industriais, provocando desconforto térmico com picos de respiração ofegante e acelerada nos horários mais quentes em aviários de pressão positiva.
Outros autores concluíram que aviários para FC cobertos com telhas de cerâmicas tiveram melhores condições térmicas internas que aviários cobertos com telhas de alumínio ou de amianto (essa já com seu uso proibido), favorecendo assim o BEA das aves.
No Gráfico 3, observamos que é evidente que aves livres ou semi-confinadas, consideradas artesanais ou chamadas de caipiras (mas com linhagens melhoradas geneticamente), conseguem manifesta-las mais facilmente, alcançando um melhor BEA, deixando-o quase que linear em toda sua trajetória de vida quando comparamos os tipos de criações quanto a aplicação do BEA.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Porem, fornecer proteína animal a baixo custo de qualidade acessível a todas as camadas sociais, exige volume de produção com alta produtividade e automação de equipamentos com fornecimento de ração balanceada por fase de vida e luz controlada em tempo integral, podendo também as aves serem criadas em grandes aviários informatizados de pressão negativa com exaustores, alojando mais de 30.000 aves cada, com densidade de 14 a 24 aves/m² dependendo da idade de abate, considerando a produção de carne por m² de acordo com os objetivos empresariais.
No entanto, os FC artesanais por terem acesso aos piquetes ao ar livre e luminosidade natural, com alimentação a base de hortaliças e pomares (suplementada tambem com rações balanceadas com menor densidade nutricional), podendo se exercitar, abrir asas, espojar e explorar seu ambiente com mais liberdade, estão dentro de uma realidade de BEA mais satisfatório, porém nao atingem logicamente a alta produtividade dos FC industriais, mesmo que eles fossem criados no ambiente deles ou vice e versa.
FC industriais criados em aviários escuros apresentam melhor conversão alimentar que os criados em aviários convencionais, pois com luminosidade controlada se permite que esses animais fiquem mais calmos e que se aumente a densidade de criação, melhorando assim o desempenho zootécnico das aves, fazendo-os se alimentar nos horários programados conforme o programa de luz aplicado.
Contudo, no seu local de criação, a exceção da alta densidade populacional, os FC industriais recebem ambiente confortável e nutrição balanceada ajustados as suas necessidades, além de controle de sanidade rigoroso, proporcionando uma vida tranquila nesses aviários.
CONCLUSÃO
A população mundial tem crescido de forma assustadora, crescendo também a demanda por alimentos de baixo custo, por outro lado e muito justamente, os avicultores precisam respeitar as legislações de BEA, segurança alimentar, meio ambiente, rastreabilidade, sustentabilidade e tudo o mais que a ética humana exigir.
Evidente que qualquer alteração gera custos na linha de produção, por mais simples que sejam, tornando importante que essa discussão em busca de soluções práticas e dentro da realidade da rotina da avicultura industrial de corte, envolva principalmente os profissionais responsáveis diretamente na linha de produção, para que os projetos possam ser realmente aplicados.
O grande desafio doravante será alcançar o ponto de equilíbrio entre a alta produtividade e o BEA dos FC industriais, sem que isso não afete a sustentabilidade e o sucesso desse grande agronegócio mundial e nem seja apenas uma ferramenta empresarial a mais na exploração de animais.
Esse artigo técnico foi originalmente publicado na AveSui 2013 e em Avicultura Industrial.