Campinas, 3 de Março de 2011 - Quando começaram a eclodir (na América do Norte, em abril de 2009), os primeiros casos humanos de Influenza decorrentes de infecção causada pelo vírus H1N1, temeu-se estar ali o temido "primeiro vírus pandêmico de alta patogenicidade do século XXI".
Mas seja porque o mundo estivesse relativamente bem preparado para enfrentar outro suposto agente pandêmico (o H5N1 da Influenza Aviária) ou porque o novo vírus apresentasse menos virulência que o esperado, a realidade é que o H1N1, apesar de sua disseminação mundial, passou rapidamente a segundo plano.
Mas não pode ser ignorado. Porque pesquisas recentes demonstram que ele é compatível com outro vírus da Influenza Aviária, o H9N2, - igualmente de baixa virulência, mas que já se tornou endêmico em praticamente todo o sudeste asiático.
A descoberta é de pesquisadores do campus de Pequim da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Agricultura da China. Que ao divulgarem os resultados do seu trabalho alertaram que ali pode estar a origem do próximo vírus pandêmico. Porque, juntos, H1N1 e H9N2 podem produzir híbridos de altíssima patogenicidade.
De acordo com as informações divulgadas, os pesquisadores chineses conseguiram criar 127 diferentes vírus híbridos simplesmente misturando e recombinando em laboratório genes do H1N1 e do H9N2. Quando testados em ratos, oito desses híbridos mostraram ser mais virulentos e perigosos que os vírus originais.
Para os pesquisadores, a pandemia do H1N1, ocorrida em 2009, pode ser considerada moderada perto do alto poder de patogenicidade dos vírus híbridos. "Uma das conclusões a que chegamos é que o H1N1 e o H9N2, quando combinados de formas específicas, podem originar subtipos altamente virulentos", atesta Jinhua Liu, chefe das pesquisas. Segundo ele, os oito vírus híbridos causaram pneumonia severa, edema e hemorragia nos ratos infectados. "Os vírus da gripe têm oito segmentos de genes e um desses segmentos é chamado de PA. Curiosamente, todos os oito híbridos que criamos no laboratório carregam o gene PA, pertencente ao vírus H1N1 original", revela.
Vem daí o alerta - exposto no trabalho publicado nos Anais da Academia Nacional de Ciências dos EUA (PNAS) - sobre a possibilidade do surgimento de novas cepas pandêmicas da Influenza a partir de recombinações entre os dois vírus de baixa patogenicidade.