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Influenza aviária paramixovírus gaivotas

Enquete virológica preliminar sobre influenza aviária e paramixovírus em gaivotas da costa de Pinamar, Argentina

Publicado: 20 de outubro de 2011
Por: Celina Buscaglia1,2 1Comisión de Investigaciones Científicas de la Provincia Buenos Aires, Argentina; 2Fundación Ecológica Pinamar, Argentina
Sumário

Foram coletadas amostras de material fecal de gaivotas (Larus dominicanus e Larus maculipennis), da costa do Distrito de Pinamar, que incluíram as localidades de Montecarlo, Pinamar, Ostende, Valeria del Mar e Cariló, na Província de Buenos Aires, durante um ano e meio, começando em outubro de 2008. Foram também coletados swabs de cloaca e traqueia a partir de aves sadias, doentes e mortas, recebidas na Fundação Ecológica Pinamar. As amostras foram agrupadas de acordo com a data, espécie e área. Grupos de amostras foram inoculadas em ovos embrionados de 9 a 11 dias. Depois de 11 dias, se analisou o líquido alantoidiano para evidenciar hemaglutinação. Nenhum dos grupos de amostras foram positivas. Não se isolaram vírus compatíveis com a Influenza Aviária e paramixovírus.
Palavras-chave: Influenza Aviária, Aves de vida livre, Doença de Newcastle, Gaivota, Enquete.

Introdução
As duas doenças das aves que causam mais temor são as produzidas por dois agentes hemaglutinantes, ou seja: os vírus da doença de Newcastle (EN). A Influenza Aviária (IA) é causante de uma das maiores preocupações no âmbito da saúde pública, surgida de animais em anos recentes. A IAAP, produzida principalmente pelo vírus do subtipo H5N1, representa um dos principais problemas de saúde pública em todo o mundo. Contudo, a linhagem asiática do vírus H5N1 da IAAP não foi detectada no continente americano. A influenza aviária de notificação obrigatória (IAN) tem gerado problemas significativos de saúde pública, incluindo o risco de produzir uma pandemia. A vigilância é uma atividade essencial para o controle da doença e sua detecção precoce permitirá a implementação de medidas de maneira oportuna (Buscaglia, 2008).
Até agora, o vírus da IA (VIA) nunca foi isolado a partir de aves de curral na Argentina, nem foram detectados anticorpos específicos contra ele (Buscaglia et al., 2007). Mesmo quando existem referências que indicam que o IAAP afetou frangos no princípio do século XX, no Brasil e na Argentina (Mohler, 1926; Pereda et al., 2008), é difícil atribuir esses casos à IAAP, uma vez que - possivelmente - a EN ou algum outro problema patológico semelhante teriam sido a causa (Buscaglia et al., 2007; Swayne, 2008). De modo algum, se pode concluir que tenha sido IAAP. As pesquisas realizadas nos últimos 55 anos jamais detectaram a IA no país. Está sendo realizado um programa de vigilância epidemiológica encaminhado a supervisionar e registrar ("monitorar") a presença ou ausência de VIA ou de anticorpos contra ele em toda a avicultura comercial e não comercial.  Espinoza et al. (2007) publicaram os resultados da vigilância da IA correspondente ao período 1998-2006, enquanto que Buscaglia et al. (2007) publicaram os resultados do programa de vigilância sobre esta doença em aves de quintal de 1998 a 2005. Este último autor e seus colaboradores (2008) publicaram também os resultados do programa de vigilância de EN de 1998 a 2007.
Com a finalidade de determinar se existem vírus hemaglutinantes circulando em aves aquáticas silvestres na costa de Montecarlo, Pinamar, Ostende, Valeria del Mar e Cariló, lugares pertencentes ao distrito de Pinamar, província de Buenos Aires, Argentina, foram coletadas amostras ambientais de fezes frescas deste tipo de aves de vida livre e foram examinadas durante um ano, a partir de outubro de 2008. Como consequência de ter sido coletado somente um isolamento do VIA, de uma gaivota cozinheira (ou gaivota dominicana) na costa da província de Buenos Aires, depois de uma extensa vigilância em 2.995 aves aquáticas e costeiras (Pereda et al., 2008), deu-se início ao estudo de amostras fecais deste tipo de aves e de outras gaivotas pequenas conhecidas como cahuil ou gaivotas capucha marrom, que são comuns nesta área e que frequentemente são vistas juntas. Este é um relatório preliminar sobre os vírus hemaglutinantes encontrados nestes dois tipos de gaivotas.
Material e Métodos
Foram observadas e identificadas as gaivotas cozinheiras (Figura 1a) e gaivotas capucha marrom (Figura 1b) e foram coletadas 967 amostras de fezes frescas destes animais durante um ano e meio, incluindo aproximadamente 20 espécimes cada 15 dias, na costa do Distrito de Pinamar. Também foram coletadas amostras através de swabs cloacais e traqueais de aves sadias, doentes ou mortas, que chegaram à Fundação Ecológica Pinamar. As amostras foram transportadas, em solução salina fosfatada amortecidas (PBS), pH 7.0-7.4 com antibióticos, a 4ºC, ao laboratório em geleiras portáteis e foram mantidas em refrigeração até o momento de processá-las, dentro de 4 dias. Cada conjunto ("pool") de amostras consistiu em 8 a 12 espécimes, integrando-as de acordo com a data, a espécie e a área e a área de origem.  Foram inoculados embriões de frango livres de patogênicos específicos (SPF) de 9 a 11 dias de incubação com as amostras conjuntas, segundo a técnica descrita por Swayne et al. (2008). El líquido alantoidiano dos embriões vivos e mortos foi submetido à prova de atividade de hemaglutinação, depois de 5 dias de incubação. Os conjuntos de amostras que resultaram negativos na primeira passagem, foram submetidos a uma segunda passagem cega para confirmar a ausência de agentes hemaglutinantes.
Resultados e Discussão
Todas as tentativas de isolamento viral resultaram negativas. Nenhum dos conjuntos de amostras provados mostrou atividade hemaglutinante. Não foram isolados nem VIA nem paramixovírus das amostras obtidas de 780 gaivotas capucha marrom (Larus maculipennis) e 187 gaivotas cozinheiras (Larus dominicanus).
Embora a IA seja uma doença que afeta principalmente aves, tem potencial zoonótico. A prevenção da infecção e a erradicação dos surtos em aves de curral são as principais maneiras de prevenir a infecção e a erradicação dos surtos em aves de curral são as principais maneiras de prevenir a infecção em humas e, portanto, reduzir seu potencial; contudo, as aves aquáticas migratórias estão implicadas na transmissão desta doença às aves domésticas (Fouchier et al., 2004).
O presente estudo surgiu depois do primeiro isolamento de um VIA procedente de uma gaivota de vida livre (Pereda et al., 2008) e se baseia no programa de prevenção da IA, que também inclui a realização de provas para detectar o vírus da EN (Buscaglia et al., 2007; 2008; Espinoza et al., 2007). Este programa seguiu as normas, lineamentos e recomendações com fundamento científico emitidas pelo Escritório Internacional de Epizootias (OIE, 2010).
Muitos países relataram programas de vigilância (Bokma et al., 2006; Baumer et al., 2010; Goujgoulova y Oreshkova, 2007; Pant e Selleck, 2007), mas o primeiro relatório procedente da América Latina foi apresentado por Buscaglia em Beijing, China, en 2007 (Espinoza et al., 2007). A inclusão de amostras de animais livres, especialmente migratórios e o aperfeiçoamento das análises com o uso das técnicas de reação em cadeia com polimerase e transcriptase inversa (RT PCR) começaram em 2005/2006 (D'Amico et al., 2007; Pereda et al., 2008).
O papel da vida silvestre e, em particular, das aves migratórias na transmissão do VIA ainda exige um esclarecimento mais profundo (Guberti y Newman, 2007). As aves aquáticas migratórias foram implicadas na transmissão da linhagem H5N1 da Ásia à Europa (Keawcharoen et al., 2008). Até agora se sabe muito pouco sobre as espécies que são capazes de transmitir o VIA e sua capacidade de permanecer infectadas e disseminar a infecção com o passar do tempo. O fato de que o VIA foi isolado de aves silvestres (Pereda et al., 2008) indica que existe a possibilidade de transmissão e sublinha a importância dos programas de vigilância. Esta é uma enquete virológica preliminar, portanto deverão ser analisadas mais amostras; no entanto, está claro que a incidência do VIA em gaivotas é mais baixa na América do Sul do que na América do Norte (Pearce et al., 2010, Pedersen et al., 2010, Pereda et al., 2008). A possibilidade de agregar a prova quantitativa de RTq-PCR para detectar o ARN específico do VIA, como foi feito em outros países (Baumer et al., 2010), devera ser levada em consideração, mesmo quando o isolamento continua sendo a melhor ferramenta para demonstrar a presença de qualquer vírus, como aconteceu no Peru (Ghersi et al., 2009). Sabe-se pouco sobre os hábitos migratórios ou residentes dos dois tipos de gaivotas citados aqui. As gaivotas capucha marrom não só são encontradas na costa, como também no interior.  
Figura 1. a) Gaivota cozinheira ou dominicana (Larus dominicanus, em inglês Kelp gull) na costa de Montecarlo, Distrito de Pinamar; b) Gaivota capucha marrom ou cahuil (Larus maculipennis, em inglês Brown-hooded gull) na costa de Cariló, Distrito de Pinamar
Enquete virológica preliminar sobre influenza aviária e paramixovírus em gaivotas da costa de Pinamar, Argentina - Image 1     
Conclusões
É preciso realizar mais estudos para determinar o papel destas gaivotas na epidemiologia dos vírus hemaglutinantes, pois somente foi obtido um isolamento até hoje desta espécie (Pereda et al., 2008). Por esta razão, deveria ser revisada a evidência de um só vínculo filogenético, potencialmente único, na América do Sul. Será necessário analisar mais amostras, procedentes também de outras espécies. São necessárias verbas para continuar o programa de vigilância, com o objetivo de conservar a avicultura livre do VIA na Argentina.
Agradecimento
Meu muito obrigado a Fabian Rabufetti, Coordenador de Aves Marinas, Aves Argentinas.
Bibliografia
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