Desmistificar o uso de produtos oriundos da reciclagem de animais é a intenção da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA) durante o evento que acontece em maio em Florianópolis (SC).
O III Seminário Novos Horizontes para a Reciclagem Animal, que acontece na 13a. edição da AveSui, de 13 a 15 de maio, no Centrosul, em Florianópolis/SC, contará com a presença de três palestrantes estrangeiros, de diferentes continentes, que mostrarão os contrastes entre o Brasil e outros países na abordagem desse segmento – as diferenças conceituais e de percepção de mercado em relação à sustentabilidade ambiental da cadeia da carne. A iniciativa é da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA).
Para o gerente técnico da ABRA, o zootecnista Lucas Cypriano, o Brasil ainda passa por um período de desconfiança no setor, herdado da década passada, quando em 2003, tardiamente, a reciclagem de animais – bovinos, suínos e aves – passou a ser regulamentada, aumentando a qualidade da produção ao longo dos anos 2000. Esse “passado complicado”, como afirma Lucas Cypriano, mantém o nível de exigência dos consumidores muito elevado e torna o mercado brasileiro de produtos oriundos da reciclagem animal pouco competitivo.
De acordo com a World Organisation for Animal Health (OIE), a transformação das carcaças de animais mortos em produtos como sebo, farinha e óleos é a alternativa mais eficaz na criação de um ambiente de biosseguridade nas granjas e fazendas. Práticas realizadas no Brasil, como o enterro de animais mortos em campo ou nas granjas, são proibidas na Europa. Segundo Lucas Cypriano, a reciclagem animal representa uma saída ecológica, preocupada com a sustentabilidade e os impactos ambientais.
O gerente técnico da ABRA enfatiza que “a exigência do consumidor brasileiro não tem explicação científica” e acaba por inviabilizar a coleta de fontes que fariam produtos de boa qualidade. Índices de acidez, que medem a qualidade da gordura na carne, considerados bons nos Estados Unidos, por exemplo, no Brasil, são considerados inaceitáveis por lei. Dessa forma muita matéria prima é perdida, descartada no meio ambiente, quando o importante é manter a gordura e os óleos da carne inseridos na cadeia animal pelo maior tempo possível, não provocando degradação biológica.
O posicionamento da Associação Brasileira de Reciclagem Animal fica explícito no relatório Padrões Governamentais para Produtos de Origem Animal, onde consta: A ABRA entende que os consumidores devem ser livres para definir os padrões que melhor se ajustem às suas necessidades e desejos. Isso não é papel do governo. De acordo com a gestora de projetos da ABRA, Cátia Macedo, as leis regulamentadoras do setor continuam as mesmas de um ano atrás, quando a associação discutiu o tema em seu painel na AveSui 2013.
No mesmo relatório, a ABRA defende que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) se baseie em fatos comprovados cientificamente, não adotando o princípio da precaução, garantindo a saúde do consumidor sem inviabilizar o mercado.