A Doença de Gumboro, é, sem dúvidas, uma das mais importantes e prevalentes na avicultura brasileira, além de ser responsável por grandes prejuízos na indústria avícola mundial. E isso é tão verdade, que, mesmo após anos da sua primeira ocorrência, pesquisadores continuam investindo recursos técnicos e econômicos para sua prevenção e controle. Isso porque o vírus acomete um importante órgão linfoide primário, a Bolsa de Fabricius, e sua infecção compromete a resposta imune mediada pelos linfócitos B e produção de anticorpos.
Após infectadas, as aves tendem a desenvolver algum grau de Imunossupressão que se refere a níveis temporários ou permanentes de disfunção da resposta imune, levando ao aumento da suscetibilidade a doenças. A redução na capacidade imunológica pode ser leve, sem quaisquer problemas adjuntos de maior suscetibilidade a doenças, mas também estas aves podem responder de forma deficiente às vacinações contra outras agentes infecciosos e ficam mais susceptíveis a outras doenças, principalmente as que atingem o sistema respiratório, como Bronquite Infecciosa por exemplo. Isso se reflete nos resultados zootécnicos que resultam em perdas econômicas.
Há muitas causas para imunossupressão. As causas infecciosas e não infecciosas podem resultar no mesmo quadro clínico. Encontrar a causa real, portanto, é muito importante para a ação corretiva e/ou preventiva. O mecanismo que leva à imunossupressão acontece tanto por dano direto ao sistema imunológico, como é o caso da Doença de Gumboro, ou indiretamente pela exposição a longo prazo a estressores imunossupressores ou ambos.
Doença de Gumboro (IBD) é uma doença viral imunossupressora clássica e pode servir para ilustrar os complexos mecanismos envolvidos na doença em aves jovens. Em pintos de um dia, a Bursa de Fabricius (BF) é de grande importância como fonte de linfócitos B. Estes linfócitos são necessários para produzir imunoglobulinas IgM, IgA e IgY. Se a bursa cloacal está danificada, como acontece na IBD, linfócitos B imaturos são atacados pelo vírus, resultando em sua destruição e deixando a ave mais susceptível a patógenos virais e bacterianos. Se as células B estiverem completamente esgotadas, a ave não será capaz de gerar adequadamente uma resposta de anticorpos a um novo patógeno, incluindo cepas vacinais e, nesse caso, a situação se deteriorará para um estado semelhante à imunodeficiência.
No entanto, o IBDV não ataca células B diferenciadas e, portanto, não impede respostas imunológicas em andamento. Embora a principal afinidade do vírus da IBD seja por células B, as células T citotóxicas (CD4 + e CD8 +) aparecem na bursa cloacal após a infecção e também são atacadas. Além disso, o Timo está completamente esvaziado de células T e inicia a regeneração nas aves sobreviventes nos primeiros 7 dias após uma infecção muito virulenta do vírus da Doença de Gumboro (vvIBDV). As células T secretam várias citocinas envolvidas no mecanismo imunológico (IL1, IL6, IL8, IL18 e Cox2 pró-inflamatória). Células T e macrófagos são atacados pelo vírus da IBD e diminuem em números durante a doença.
Em dois a quatro dias após a infecção com vvIBDV, todo o sistema imune de uma ave jovem pode entrar em colapso. Nesses casos, estas podem ficar doentes devido a bactérias oportunistas e saprófitas, que normalmente são inofensivas para frangos saudáveis. Em aves sensíveis, o vvIBDV irá causar alta mortalidade direta e suprimir a capacidade da ave de desenvolver uma boa imunidade após a vacinação, tornando-os mais suscetíveis a infecções secundárias e maior mortalidade.
Para proteger contra infecções precoces, a imunidade passiva, tem um papel fundamental nos primeiros dias da ave. Esta pode interferir no desenvolvimento da imunidade ativa, já que devemos vacinar as aves jovens levando em consideração os diferentes fatores para determinar o melhor momento da aplicação. Estes fatores são: Quantidade e velocidade de queda dos níveis de anticorpos, uniformidade do lote, desafio de campo, via de administração e tipo de vacina. Este tipo de proteção é muito importante nas enfermidades de Gumboro, NewCastle, Reovirus e Anemia Infecciosa.
No combate à Doença de Gumboro, o melhor caminho é a prevenção por meio da vacinação aliado a um programa de biossegurança adequado. As empresas têm um objetivo claro de tornar os programas de vacinação cada vez mais simples, porém têm o desafio de mantê-los eficientes e seguros, mesmo quando acontecem apenas no incubatório, com uma única dose.
Quando falamos em proteção contra o IBDV, precisamos lembrar que não se tratar apenas de proteção contra a forma clínica da doença, mas também contra o quadro de imunossupressão que pode vir da forma subclínica da doença, ou mesmo de algumas cepas vacinais. A escolha da cepa adequado para cada desafio, forte o suficiente para combater as cepas muito virulentas e segura a ponto de não afetar o sistema imune da ave, é primordial para o sucesso do programa vacinal.
Nestes casos, utilizar uma vacina viva de vírus livre que se adaptada à cinética dos anticorpos maternos e que atua de maneira diferenciada em cada indivíduo, vai diminuir a janela de vulnerabilidade imunológica. Este tipo de vacina se utiliza dos anticorpos maternos para formam complexos imunes naturalmente, e com isso temos uma resposta ainda mais precoce, até 4 dias antes das vacinas de imunocomplexo. (Ashash, et al, 2019)
Este tipo de cepa, está classificada no grupo molecular 11 (G11) e possui uma alta capacidade de disseminação lateral, seu uso estratégico na granja, promove uma renovação na população viral do ambiente, ajudando a controlar o alto desafio de campo. Este mecanismo diferenciado, além da resposta sorológica precoce, também permite a chegada mais rápida do vírus vacinal à Bolsa de Fabricius.
Estudos mostram que aos 28 dias de idade, esta cepa (vírus livre) foi identificada em 100% das amostras, seguido de identificações positivas em uma porcentagem igual (100%) até 40 dias de idade. Enquanto que a cepa da vacina complexo-imune foi identificada aos 28 dias de idade em apenas 33% das amostras, e, a partir dos 32 dias em 100% delas, porém no 40º dia, este número caiu para 83,33%. (Ashash, et al; 2019)
Uma ave bem protegida tende a desenvolver seu potencial genético de forma mais eficiente, e, embora este não deve ser um argumento para a escolha do programa vacinal, os índices zootécnicos são bons parâmetros para avaliar se o programa vacinal está adequado para a realidade da sua integração. Visto que o programa vacinal deve sempre ser uma decisão estratégica, baseada nos desafios e condições epidemiológicas de cada granja. Uma vacina viva de vírus livre, adaptada a cinética dos anticorpos maternos é uma solução única, com um mecanismo de ação diferenciado, que promove uma imunidade precoce e colonização rápida da Bursa de Fabricius com a praticidade da aplicação ainda no incubatório.