Está na hora de entrarmos em uma nova fase no controle da doença de Gumboro?
Publicado:25 de setembro de 2018
Por:Alberto Inoue
Estudos apontam que efeitos imunossupressores do vírus de Gumboro, sejam eles de campo ou vacinais, podem comprometer a proteção contra outras enfermidades, como salmonelose e bronquite aviária.
A doença de Gumboro já foi um dos principais vilões da avicultura brasileira, com direito a eventos exclusivos com palestrantes renomados para discussão da sua patogenia e controle. Atualmente, mais de 20 anos após os primeiros casos da forma clínica causada pelos vírus muito virulentos de Gumboro (vvIBDV), a situação é bem mais tranquila e levanta-se a possibilidade de uma nova fase no controle da enfermidade, a proteção ligada ao bem-estar animal.
Em 1997, quando a forma virulenta da doença de Gumboro surgiu no Brasil, só eram disponíveis vacinas intermediárias contra o agente. Mesmo com ações de biosseguridade e programas de vacinação intensos, as cepas disponíveis não eram capazes de controlar de forma eficiente o vvIBDV. Surgiram, então, as vacinas intermediárias plus e, posteriormente, as cepas vacinais fortes de Gumboro, entre 1999 e 2001. A partir daí, a enfermidade foi gradativamente sendo controlada e esses vírus vacinais mais virulentos passaram a predominar no campo.
Depois de alguns anos, em 2006, o controle da doença de Gumboro passou por um novo momento. A forma clínica começou a ser muito menos frequente, e o mercado migrou para opções que levassem conveniência por meio da vacinação em dose única, ainda no incubatório. Duas tecnologias passaram a dominar esse novo momento: vacinas vetorizadas, em que o gene que expressa a proteína viral (VP2) do vírus de Gumboro é inserido no vírus de Marek HVT, e vacinas imunocomplexos, em que um vírus vivo com cepa intermediária plus de Gumboro apresenta-se na forma de complexo ligado a anticorpos. Atualmente, mais de 90% das aves no Brasil são imunizadas com vacinas levando essas tecnologias.
Várias publicações já demonstravam que vírus vacinais mais virulentos de Gumboro, como intermediário plus, afetam a resposta humoral a outras vacinas como bronquite, Newcastle e EDS, e isto está relacionado à destruição de linfócitos B presentes na bolsa de Fabrícius. Contudo, novos estudos* apontam que, da mesma forma que ocorre com vírus de campo, os vírus vacinais do tipo intermediário plus comprometem também a resposta celular e aumentam a ocorrência de outras enfermidades. Uma dessas avaliações mostra que aves vacinadas com vacinas intermediárias plus de Gumboro apresentaram quase três vezes mais isolamentos de salmonela em fígado, 21 dias após a vacinação. O vírus de Gumboro causa uma imunossupressão direta pela necrose e apoptose de linfócitos B e, posteriormente, uma imunossupressão indireta pela inibição da mitogênese de células T, além de macrófagos, que são importantes para proteção contra agentes como a salmonela.
Diante das novas informações, levanta-se a reflexão sobre o uso inteligente das vacinas disponíveis no mercado. Situações como o uso do primeiro ciclo de criação em uma cama nova de frangos ou desafios muito agressivos, podem requerer o uso de vacinas vivas, contudo, na maioria das situações, vacinas vetorizadas apresentam excelente proteção, sem qualquer injúria ao sistema imune. A eficácia das vacinas vivas, sejam convencionais ou imunocomplexos, no controle da doença de Gumboro é inquestionável, contudo, chegamos a um momento de avaliar se o desafio de campo requer o uso de cepas virulentas como rotina.
Diante da disponibilidade de diferentes tecnologias no mercado, ressalta-se a importância do médico-veterinário em conhecer a situação epidemiológica da doença de Gumboro de cada região. A atual reflexão não é mais qual a melhor vacina contra a doença, e sim, qual o melhor programa integrado, visando não somente à proteção contra uma enfermidade, mas à preservação do sistema imune das aves para a expressão máxima do seu potencial genético.
Alberto Inoueé médico-veterinário, MSc, gerente de Marketing e Serviços da BI Fast – unidade de negócios de aves e suínos da Boehringer Ingelheim
Referências
*Rautenschlein S, Lemiere S, Pradini, F. Evaluation of effects of an HVT-IBD Vector Vaccine on the immune system of layer pullets in comparison with two commercial Live IBD vaccines. XVII VPA Congress Nantes, France, 2013. Rautenschein, S.; Simon, B; Jung, A; Poppel, M; Pradini, F; Lemiere, S. Protective efficacy of Vaxxitek HVT IBD in commercial layers and broilers against challenge with very virulent infectious bursal disease virus. 16th WVPAC Marrakesh, November 8th-12th, 2009. Mazariegos LA, Lukert, PD. 1990. Pathogenicity and Immunosuppressive propertieis of infectious bursal disease “intermediate” strains. Avian Diseases, 34 (1), p. 203-208
Boa tarde dr.Luiz,
Na realidade, o mecanismo de proteção com vacinas vetorizadas é diferente, obtendo-se proteção de 95% a 100% contra cepas clássicas e variantes de Gumboro. Atualmente, muitas empresas utilizam o programa com vacina vetorizada de Gumboro, há mais de 10 anos, sem problemas.
De qualquer maneira, o técnico deve avaliar a situação de desafio, as condições gerais de vacinação e demais desafios sanitários, para determinar o melhor programa. Ambos programas são efetivos, as vacinas vivas destroem linfócitos B durante a colonização, causando danos variáveis ao sistema imune e aumentando a sensibilidade à outras enfermidades como Bronquite e Salmonela. O texto não questiona a eficácia de vacinas, mas traz realmente uma reflexão sobre a necessidade ou não de agressões que possam comprometer o desempenho. Atualmente, a busca por bem estar e maximização de performance fez da vacina vetorizada Vaxxitek, ser a mais vendida entre todas as vacinas aviárias há mais de 6 anos em todo o mundo.
O fato de não colonizarmos a Bolsa no caso de uso de vacinas vetorizadas, não nos deixa vulneráveis, caso exista vírus de campo circulando no ambiente de criação?
Tendo em vista, que dispomos de outras tecnologias, que além de atuarem dobre Salmonelas, como por exemplo o GlucanMos, também agem estimulando o sistema imunológico. Nao seria mais seguro usar uma vacina que efetivamente pudesse colonizar a Bolsa?
Pois além deste benefício, o GlucanMos, também agem sobre Escherichia Coli. Além de melhorar qualidade de mucosa, estimulando também um maior crescimento de Lactobacillus e Bifidobacterium.
Em condições normais, já teríamos benefícios com a adição de Mós à dieta. Independente do programa vacinal que seja utilizado.