Introdução
Para atender adequadamente as exigências nutricionais das aves é necessária a adequada formulação de rações, que por sua vez depende do conhecimento dos valores de energia metabolizável aparente corrigida pelo balanço de nitrogênio (EMAn). Este, por sua vez, depende da composição química dos alimentos, que pode variar em função de diversos fatores. Assim, é de se esperar uma grande variabilidade nos valores de EMAn de um mesmo ingrediente utilizado nas rações. A obtenção precisa destes valores depende de ensaios metabólicos, que são onerosos e demandam tempo. Assim, o uso de tabelas de composição química e energética de alimentos é uma prática comum, porém, apresenta uma série de limitações, uma vez que os valores são procedentes de ingredientes obtidos nas mais diversas condições, levando à elaboração de rações desbalanceadas. Para amenizar este problema, estudos têm enfatizado o uso de equações de predição com base na composição química dos alimentos (Nascimento et al., 2011). No entanto, para validar tais equações são necessários testes de aplicabilidade em diferentes situações. Assim, objetivou-se avaliar algumas equações de predição para estimar os valores de EMAn de alimentos utilizados para frangos de corte por meio de ensaios de metabolismo com rações formuladas com mais de dois ingredientes.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Departamento de Zootecnia da UFLA, em Lavras-MG, Brasil, utilizando 330 frangos Cobb 500® com oito dias de idade, alojados em gaiolas metabólicas em ambiente controlado e luz artificial por 24 horas. Foi utilizado um delineamento experimental inteiramente casualizado com 11 tratamentos e seis repetições de cinco aves, em período experimental de 14 dias. As dietas consistiram em três rações formuladas com mais de dois alimentos, uma ração referência (RR) a base de milho e farelo de soja, e outras sete rações-teste contendo milho, sorgo, gérmen de milho desengordurado, farelo de soja, farelo de glúten de milho 60, sojas integral tostada e micronizada, em substituição na RR. Para a determinação dos valores de EMAn das dietas, foram utilizadas a metodologia de coleta total de excretas. Para cada alimento testado, foram determinados os valores de matéria seca, proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra bruta (FB), fibras em detergente neutro (FDN) e ácido (FDA), matéria mineral (MM) e energia bruta. Os valores da composição centesimal dos alimentos foram aplicados em equações para predizer os valores de EMAn dos alimentos e, por intermédio destes, foram também estimados os valores energéticos das rações. A eficácia das equações foi estudada por meio do ajuste de um modelo de regressão linear simples (Y = a + bX) dos valores observados sobre os preditos, usando teste de hipótese. Toda análise estatística foi realizada utilizando-se o programa estatístico Statistical Analysis System, adotando-se α = 0,05.
Resultados e Discussão
Ao se comparar os valores energéticos dos alimentos observados no ensaio in vivo ou predito pelas equações ou tabela de composição química, verificou-se que todas as hipóteses testadas foram aceitas (P>0,05), indicando que os valores observados para EMAn dos alimentos são equivalentes aos valores preditos pelas equações (Tabela 1). Esse resultado sugere que as equações de predição confirmaram o modelo Y = X, ou seja, as mesmas estimam adequadamente os valores de EMAn dos alimentos sem viés. A equação 1 proposta por Queiroz (2010) foi a que apresentou maior coeficiente de determinação (r2). Na tentativa de se prever o valor energético das rações por meio do valor energético dos alimentos, apenas as equações apresentadas por Rodrigues et al. (2002) não atenderam as hipóteses de nulidade, indicando que apresentam algum viés. Isso se justifica em função das equações serem utilizadas somente para o milho, farelo de soja e seus subprodutos. No presente trabalho, foi utilizado também o sorgo na composição das rações. Com base nos valores de r2, observa-se que o uso das Tabelas apresentou resultados satisfatórios, seguida pela equação 1 proposta por Nascimento et al. (2009) geral para alimentos energéticos e proteicos.
Tabela 1 - Estimativas de intercepto (a) e coeficiente de inclinação (b) e seus respectivos valores de probabilidade de regressões lineares simples (Y = a + bX) determinadas entre valores EMAn observados e preditos para os alimentos testados em frangos de corte de 8 a 21 dias.
Conclusões
Todas as equações testadas foram eficazes na estimativa dos valores energéticos dos alimentos e a maioria para estimar o valor energético das rações utilizadas para frangos de corte na fase inicial. A equação EMAn = 4164,187 + 51,006EE - 197,663MM – 35,689FB – 20,593FDN é a mais indicada.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa e auxílio financeiro e ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ciência Animal (INCT-CA) pelo apoio.
Literatura citada
ALVARENGA, R.R.; et al. Energetic values of feedstuffs for broilers determined with in vivo assays and prediction equations. Animal Feed Science and Technology, v.168, n.3, p.257-266, 2011.
NASCIMENTO, G.A.J.; et al. Equações de predição para estimar os valores energéticos de alimentos concentrados de origem vegetal para aves utilizando a metanálise. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.7, p.1265-1271, 2009.
NASCIMENTO, G.A.J. et al. Equações de predição para estimar valores de energia metabolizável de alimentos concentrados energéticos para aves utilizando meta-análise. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.63, n.1, p.222-230, 2011.
QUEIROZ, F.C.M. Análises de componentes principais na meta-análise para obtenção de equações de predição de valores energéticos de alimentos para aves. 2010. 71f. Dissertação (Mestrado em Estatística e Experimentação Agropecuária) - Universidade Federal de Lavras, Lavras.
RODRIGUES, P.B. et al. Valores energéticos da soja e subprodutos da soja, determinados com frangos de corte e galos adultos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.4, p.1771-1782, 2002.
ROSTAGNO; H.S. et al. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 3.ed. Viçosa: UFV, 2011. 252p.
O trabalho traz resultados de parte do projeto de pós-doutoramento em Nutrição de Monogástricos da pesquisadora Renata Ribeiro Alvarenga.