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Efeito da adição de enzimas em dietas a base de milho e soja para frangos de corte

Publicado: 2 de agosto de 2013
Por: Jovanir Inês Muller Fernandes, Patrick Westphal Ferreira, Fábio Macorim e Gustavo Eugênio Triques, Laboratório de Experimentação Avícola, Universidade Federal do Paraná -UFPR-, PR, e Luciana Kazue Otutumi, Universidade Paranaense -UNIPAR-, PR.
Sumário

O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do uso de dois complexos enzimáticos comerciais, sobre o desempenho de frangos de corte, recebendo dietas a base de milho e soja. Foram utilizados 1050 pintos de corte, de um dia de idade, machos, distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado com cinco tratamentos e sete repetições de 30 aves cada, totalizando 35 unidades experimentais. Os tratamentos consistiram de: T1 - dieta controle, T2 – dieta com complexo enzimático A e redução de 45kcal/kg, T3 – dieta sem enzima e com redução de 45kcal/kg, T4 - dieta com complexo enzimático B e redução de 60kcal/kg, T5 – dieta sem enzima e redução de 60kcal/kg. No período de 1 a 21 dias os animais do T1 apresentaram maior consumo e pior conversão alimentar quando comparados com os animais do T5, não ocorrendo diferenças entre os tratamentos no período de 21 a 42 dias. Entretanto, considerando-se o período experimental total, o T5 apresentou uma melhor conversão alimentar (P<0,05) quando comparado ao tratamento controle. A avaliação econômica dos dados mostrou que as dietas sem enzima e com desvalorização do nível energético apresentaram menor custo de produção com desempenho produtivo semelhante às demais.

PALAVRAS-CHAVE: Amilase. Conversão Alimentar. Custo de produção. Energia metabolizável. Xilanase.

Introdução
O avanço do melhoramento genético, da nutrição e a introdução de modernas tecnologias ligadas à produção animal, contribuíram para a expansão da avicultura a nível mundial. Tais avanços levaram a uma redução nos custos, tendo em vista o melhor aproveitamento dos nutrientes pelos animais, consequentemente melhorando a conversão alimentar e o desempenho dos animais.
Entretanto, mesmo com esses avanços, os animais continuam apresentando limitações no aproveitamento de certos nutrientes presentes nos ingredientes de origem vegetal, como é o caso do ácido fítico e do fitato, e dos polissacarídeos não amídicos presentes nos vegetais (LECZNIESKI, 2005).
Enzimas exógenas foram inicialmente introduzidas em rações contendo ingredientes com alta quantidade de polissacarídeos não amídicos (PNA), como trigo, centeio, triticale, cevada e aveia, com o objetivo de melhorar o aproveitamento destes alimentos (STRADA et. al., 2005).
Atualmente pesquisas têm demonstrado a possibilidade de utilização de complexos enzimáticos em rações à base de cereais com baixa viscosidade (milho, sorgo e farelo de soja), objetivando aumentar a utilização do amido e da proteína pelos animais (FIALHO, 2003).
As enzimas xilanase e β-glucanase são enzimas que degradam polissacarídeos não amídicos (CHOCT et al., 2004), diminuindo os efeitos antinutricionais dos PNAs.
O milho e o farelo de soja são os ingredientes normalmente utilizados na alimentação das aves e apesar de não apresentarem níveis elevados de PNAs, a suplementação de complexos enzimáticos na alimentação das aves com atuação na degradação destes polissacarídeos e outras atividades enzimáticas têm demonstrado melhoras na performance dos animais (SOUZA et al., 2008). Atualmente, existem vários complexos enzimáticos disponíveis no mercado especificamente para atuarem em dietas a base de milho e soja.
Zanella et al. (1999) verificaram melhoria na digestibilidade dos nutrientes e no desempenho de frangos de corte com a suplementação de um complexo enzimático, composto por amilase, protease e xilanase em dietas à base de milho e farelo de soja.
Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito do uso de dois complexos enzimáticos comercias sobre o desempenho produtivo de frangos de corte recebendo dietas a base de milho e soja e o impacto no custo de produção.
 
Material e Métodos
O experimento foi realizado no período de 12 de maio a 23 de junho de 2007.
Foram utilizados 1050 pintos de corte, de um dia de idade, machos, da linhagem Ross com peso médio de 43 g, provenientes de matrizes de 40 semanas de idade. Os animais foram alojados em boxes 1,5 x 2,5m, em um galpão provido de ventiladores, exaustores e placas de resfriamento controlado por um sistema automatizado.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco tratamentos e sete repetições de 30 aves cada, perfazendo 35 unidades experimentais com densidade de oito aves por metro quadrado.
Os tratamentos consistiram de: T1 - dieta controle, T2 – dieta com complexo enzimático A e redução de 45kcal/kg, T3 – dieta sem enzima e com redução de 45kcal/kg, T4 - dieta com complexo enzimático B e redução de 60kcal/kg, T5 – dieta sem enzima e com redução de 60kcal/kg. (Tabelas 1, 2 e 3). Os complexos enzimáticos A e B foram incluídos na quantidade de 500ppm e compostos, respectivamente por xilanase, α- amilase e protease purificada e por α- amilase, β-glucanase e xilanase. A redução da energia das dietas em 45 e 60Kcal/kg para os tratamentos que incluíram o complexo enzimático A e B, respectivamente, foi feita segundo a recomendação dos fabricantes dos produtos.
As rações foram formuladas de acordo com as recomendações nutricionais adotadas pelas agroindústrias locais e o programa de alimentação foi composto por três fases: Inicial (1 a 21 dias), Crescimento (22 a 37 dias) e Abate (38 a 42 dias) (Tabelas 1, 2 e 3).
Tabela 1. Composição percentual e química das rações experimentais (1 a 21 dias). Palotina, Paraná, 2007.
Tabela 2. Composição percentual e química das rações experimentais (22 a 37 dias). Palotina, Paraná, 2007.
Tabela 3. Composição percentual e química das rações experimentais (38 a 42 dias). Palotina, Paraná, 2007.
Os parâmetros de desempenho (peso vivo, consumo de ração e conversão alimentar) foram registrados semanalmente. As aves mortas foram pesadas bem como a ração dos boxes correspondentes para correção do consumo de ração e conversão alimentar.
A avaliação econômica foi feita com base no custo da ração por kg de frango e por frango produzido.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey em nível de 5% de significância, utilizando o programa SAEG, desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa – UFV (UFV, 1999).
 
Resultados
Os resultados de desempenho produtivo são apresentados na Tabela 4. No período de 1 a 21 dias de idade, a adição de enzimas ou a redução do nível energético da ração em 45 ou 60Kcal não afetou (P>0,05) o ganho de peso das aves. Por outro lado, houve efeito significativo (P<0,05) sobre o consumo de ração e a conversão alimentar.
As aves tratadas com a dieta controle (T1) consumiram mais ração que as aves alimentadas com a dieta isenta de enzima e com redução de 60Kcal de EM (T5), enquanto que o consumo das demais dietas foi intermediário.
Resultados semelhantes foram obtidos para conversão alimentar, sendo que os piores índices de conversão foram obtidos pelo consumo da dieta controle (T1) e da dieta com redução de 60 kcal e acrescida do complexo enzimático B (T4), mas que não diferiu estatisticamente (P<0,05) dos tratamentos T2, T3 e T5.
Tabela 4. Efeito da adição de complexos enzimáticos comerciais (A e B) sobre o ganho de peso (GP), consumo de ração (CR) e conversão alimentar (CA) de frangos de corte. Palotina, Paraná, 2007.
Efeito da adição de enzimas em dietas a base de milho e soja para frangos de corte - Image 7
No período de 21 a 42 dias de idade não houve efeito (P>0,05) dos tratamentos sobre nenhum parâmetro produtivo. Considerando o período total (1 a 42 dias de idade), a adição de enzimas e a redução do nível energético da dieta afetaram significativamente (P<0,05) apenas a conversão alimentar. O consumo da dieta controle (T1) resultou no pior índice, mas apenas quando comparado à ingestão da dieta isenta de enzima e com redução de 60 kcal (T5).
Os menores custos de produção por kg de ração, por frango e por kg de frango foram obtidos para as dietas acrescidas ou não do complexo enzimático B e com redução de 60 kcal (Tabela 5), demonstrando que a redução do nível energético da ração diminui os custos sem afetar a produção.
Tabela 5. Custo de produção dos frangos de corte recebendo dietas suplementadas com complexos enzimáticos comerciais. Palotina, Paraná, 2007.
Efeito da adição de enzimas em dietas a base de milho e soja para frangos de corte - Image 8
 
Discussão
A utilização de complexos enzimáticos em dietas a base de milho e soja que atendem plenamente o requerimento dos animais não traz resultados em termos de maximização do desempenho nem de redução do custo de produção. A ausência de efeito do uso de complexos enzimáticos comerciais neste experimento pode ser justificada segundo Bedford (2002), pelo fato de que o nível energético da ração comercial utilizada foi muito elevado, não abrindo oportunidade para que as enzimas demonstrem seu valor.
Outro fator relevante que merece ser abordado é a falta de desafio sanitário em condições igualitárias ao observado em criações comerciais. As instalações destinadas à pesquisa, além de abrigarem um número muito reduzido de aves, oferece condições ambientais adequadas, cama nova para cada lote e maior intervalo de alojamento, sendo assim, os nutrientes não são desviados para o fortalecimento da resposta imune.
Neste sentido, os resultados obtidos em pesquisas são bastante controversos. Brito et al. (2006) avaliaram o desempenho de frangos de corte de 1 a 21 dias de idade alimentados com rações contendo soja extrusada suplementadas com um complexo enzimático contendo celulase, amilase e protease e verificaram efeito significativo (P<0,05) sobre o ganho de peso e conversão alimentar com melhoras respectivamente de 3,8% e 4,4%.
Em trabalho mais recente, Toledo et al. (2007), trabalharam com dois níveis de energia metabolizável nas rações de frangos de corte no período de 1 a 20 dias (2935 e 3000 Kcal) com e sem adição de complexo enzimático (xilanase, β glucanase, celulase, pectinase e protease) e não verificaram diferenças entre os tratamentos sobre os parâmetros consumo de ração, peso corporal e conversão alimentar, demonstrando que é possível reduzir os níveis de energia sem que isso afete o desempenho, corroborando com os resultados encontrados nesta pesquisa.
Sorbara et al. (2008) verificaram que a adição de complexo enzimático contendo α- amilase e β- glucanase na dieta crescimento (21 a 42 dias) com 3050kcal/kg permitiu a redução de até 100kcal/kg de dieta sem prejudicar o desempenho produtivo dos frangos de corte. Por outro lado, estes mesmos autores não encontraram efeito do produto na fase inicial.
Toledo et al. (2007) não verificaram diferenças significativas na conversão alimentar de frangos de corte no período de 1 a 42 dias alimentados com dieta sem enzima (3000, 3100 e 3200 kcal, respectivamente fases inicial, crescimento e final) e com dieta de baixa densidade com enzima (2935, 3035, 3135 kcal), demonstrando que a suplementação de enzimas exógenas a base de xilanase, β glucanase, celulase, pectinase e protease foram efetivas em dietas de baixa densidade.
Fischer et al. (2002) avaliaram o desempenho de frangos de corte Ross, de 1 a 35 dias, utilizando um complexo enzimático a base de protease, amilase e celulase em dietas contendo milho e farelo de soja. Verificaram não haver efeito do complexo enzimático sobre os parâmetros consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar em nenhuma das fases avaliadas.
Segundo Zanella et al. (1999), a inclusão de enzimas exógenas reduz a produção endógena de amilase em 23,4% e a de tripsina pancreática em 35,8%, o que poderia favorecer a síntese proteica no tecido muscular, pela maior disponibilização dos aminoácidos.
De acordo com Bedford (1996), as aves são capazes de produzir certas enzimas digestivas, como a amilase para digerir o amido e as proteases para digerir as proteínas, porém, não produzem as enzimas necessárias para degradar a fibra, presente na maioria dos alimentos. A fibra dificulta a digestão, impedindo que as enzimas endógenas atinjam o substrato alvo dos alimentos.
A utilização de enzimas exógenas pode melhorar a digestibilidade dos nutrientes das dietas. Rodrigues et al. (2003) observaram melhora na digestibilidade ileal da proteína bruta, do amido e da energia digestível ileal de rações a base de milho e soja contendo complexo enzimático, apesar de não detectarem diferenças sobre os parâmetros de desempenho dos frangos de corte dos 14 aos 28 dias de idade.
Ao conduzirem um experimento com frangos de corte alimentados com dietas contendo níveis crescentes de farelo de arroz integral, suplementadas ou não com um complexo enzimático composto pelas enzimas protease, pentosanase e fitase, Bonato et al. (2004) concluíram que o uso de enzimas não apresentou melhora significativa nos parâmetros analisados, entretanto, rações suplementadas promoveram um índice bioeconômico (IBE) 1,4% superior em relação às dietas não suplementadas.
Os resultados deste trabalho evidenciaram que a redução de até 60 kcal/kg não afetou negativamente o desempenho das aves. Com esses resultados, demonstra-se a possibilidade de formular rações constituídas de níveis mais baixos de nutrientes com adição de enzimas; entretanto, a sua execução depende da análise custo/benefício.
 
Conclusão
A suplementação das dietas para frangos de corte com complexos enzimáticos comerciais produziu resultados de desempenho semelhantes à dieta controle, isenta de enzima, entretanto, com menores custos de produção.
 
Referências
BEDFORD, M. R. Efecto del uso de enzimas digestivas en la alimentación de aves. Avicultura Profesional, Georgia, v. 14, n. 4, p. 24-29, 1996.
BEDFORD, M. R. The Foundation of Conducting Feed Enzyme Research and the Challenge of Explaining the Results. Journal of Applied Poultry Research, Savoy, v. 11, n. 3, p. 464-470, 2002.
BONATO, E. L. et al. Uso de enzimas em dietas contendo níveis crescentes de farelo de arroz integral para frangos de corte. Ciência Rural, Santa Maria, v. 34, n. 2, p. 511-516, 2004.
BRITO, C. O. et al. Adição de complexo multienzimático em dietas à base de soja extrusada e desempenho de pintos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 35, n. 2, p. 457-461, 2006.
CHOCT, M. A. et al. A comparison of three xylanases on the nutritive value of two wheats for broiler chickens. British Journal of Nutrition, United Kingdom, v. 92, p. 53-61, 2004.
FIALHO, E. T. Alimentos alternativos para suínos. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE NUTRIÇÃO ANIMAL, 2003, Itapetinga. Anais... Itapetinga: Editora Gráfica Universitária, 2003. p. 35-98.
FISCHER, G. et al. Desempenho de frangos de corte alimentados com dietas à base de milho e farelo de soja, com ou sem adição de enzimas. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 31, n. 1, p. 402-410, 2002.
LECZNIESKI, J. L. Considerações práticas do uso de enzimas. In: SEMINARIO INTERNACIONAL DE AVES E SUINOS, 5., 2006, Florianópolis. Anais...Florianópolis: Embrapa. Disponível em: <http://www.cnpsa.embrapa.br/sgc/sgc_publicacoes/publicacao_l3h29p3m.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2008.
RODRIGUES, P. B. et al. Desempenho de frangos de corte, digestibilidade de nutrientes e valores energéticos de rações formuladas com vários milhos, suplementadas com enzimas. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 32, n. 1, p. 171-182, 2003.
SORBARA, J. O. B. et al. Programas enzimáticos para frangos de corte. Revista Brasileira de Ciência Avícola, Campinas, s. 10, p. 121, 2008.
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TOLEDO, G. S. P. et al. Frangos de corte alimentados com dietas de diferentes densidades nutricionais suplementadas ou não com enzimas. Ciência Rural, Santa Maria, v. 37, n. 2, p. 518-523, 2007.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA. Manual de utilização do programa SAEG - Sistema para Análise Estatísticas e Genéticas. Viçosa: UFV, 1999. 59 p.
ZANELLA, I. et al. Effect of enzyme suplementation of broiler diets based on corn and soybeans. Poultry Science, Savoy, v. 78, n.4, p. 561-568, 1999.
 
***O Trabalho foi Originalmente Publicado pela Arq. Ciênc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v.13, n.1, p. 25-31, jan./jun. 2010
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Jovanir Inês Müller Fernandes
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