INTRODUÇÃO.
Quando o pinto nasce, há um consenso entre os nutricionistas de que um bom desenvolvimento inicial resulta em uma ave com melhor desempenho no ciclo de produção. Isto se traduz em um lote mais uniforme e sem problemas com um produto mais comercializável ao término da criação. A alta relação entre peso corporal nos primeiros 6 dias com peso corporal no final da 6-7ª semanas é uma forte evidência sobre a importância de um bom início na criação de frangos de corte. A nutrição na fase inicial e o início da alimentação são temas importantes quando se considera o manejo inicial de criação.
O uso de uma dieta diferenciada para frangos de corte na primeira semana de vida vem sendo preconizada por vários pesquisadores e nutricionistas (Penz & Vieira, 1998). As principais razões que garantem esta prática estão sustentadas no fato de que estas aves, nesta idade, apresentam necessidades nutricionais muito limitantes pelas dificuldades que têm de digerir e absorver nutrientes, apresentam a anatomia e fisiologia do aparelho digestivo diferenciada das aves com mais idade, com necessidades nutricionais muito limitantes pela dificuldade que têm em digerir e absorver alguns nutrientes.
As alterações anatômicas do aparelho digestivo dos frangos de corte nos primeiros dias de vida são marcantes. Após a eclosão, os pesos do pró-ventrículo, da moela e do intestino delgado aumentam mais rapidamente que o peso corporal das aves e os pesos dos outros tecidos. O máximo peso relativo dos órgãos do aparelho digestivo dos frangos de corte ocorre quando eles atingem de 3 a 8 dias de idade (Dror et al., 1977). Nir et al., (1993) comentam que o pâncreas e o fígado de pintos aumentam 4 e 2 vezes de peso em relação ao peso corporal, na primeira semana de vida. Noy & Sklan (1997) mostraram que até aproximadamente 14 dias de idade o crescimento da mucosa intestinal é mais lento do que o aumento do diâmetro e do comprimento do intestino. Alguns trabalhos relatam que ao retardar o início da alimentação das aves retarda-se também a maturação de algumas partes do sistema digestivo que só começam a se desenvolver a partir da presença de nutrientes no trato gastrointestinal, principalmente no fígado e no pâncreas (Wyatt et al., 1985; Gonzáles et al., 2000). Deve-se levar em consideração também, a utilização do saco vitelino o qual é absorvido nos primeiros 3 a 5 dias de vida dos pintos, sendo mais importante nos 2 primeiros dias após a eclosão. Estes detalhes determinam as estratégias que os nutricionistas devem ter para melhor nutrir os frangos de corte na sua fase inicial de criação.
Na indústria de postura, uma das principais preocupações é a qualidade da casca do ovo, dados os prejuízos econômicos associados à incidência de má qualidade da casca. Geralmente se considera que a incidência de quebra da casca do ovo, na avicultura de postura, esteja em torno de 6 a 8% (Washburn, 1982; Gómez-Basauri, 1998). Ovos classificados como trincados, nos quais a casca está rachada mas as suas membranas permanecem intactas e o seu conteúdo permanece constante, são comumente utilizados na alimentação humana na forma líquida ou seca, em pó. O ovo em pó é uma ótima fonte protéica, com altos níveis energéticos e de aminoácidos essenciais e de grande importância na nutrição inicial de aves. Apesar disto, poucos estudos existem avaliando a utilização do ovo em pó na dieta de frangos de corte. Ovos não comercializáveis são reaproveitados na fabricação de pet foods, "in natura" ou, na forma de pó (produto seco e moído), incorporados na alimentação dos animais. A grande dificuldade da utilização de ovo em pó na dieta de poedeiras e frangos de corte é o alto custo de processamento na sua produção e a garantia de um produto sanitariamente seguro. Assim sendo, o objetivo deste experimento foi o de avaliar a incorporação de ovo em pó na alimentação de frangos de corte no período de 1 a 28 dias.
MATERIAL E MÉTODOS
A realização do experimento compreendeu um período de 1 a 28 dias, o qual foi dividido em duas fases. Na primeira fase, 1 a 7 dias, foram utilizados 300 pintos de corte de um dia de idade, alojados em baterias, dividas em cinco andares cada, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com 5 tratamentos (0%, 5%, 10%, 15% e 20% de inclusão de ovo em pó) e 6 repetições de 10 aves cada. As aves foram aquecidas com lâmpadas infravermelhas e receberam água e ração à vontade. Foram avaliados dados de desempenho (consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar) no período de 1 a 4 dias, 5 a 7 dias e de 1 a 7 dias. Aos 4 dias, duas aves por repetição foram abatidas para avaliar o peso das vísceras comestíveis (fígado, coração e moela), índices morfométricos intestinais (peso e comprimento dos intestinos) e absorção do saco vitelino. Na segunda fase (8 - 28 dias) foram utilizadas as mesmas aves da fase anterior, distribuídas em um esquema fatorial 2x5 (0% e 5% de inclusão de ovo em pó x 5 níveis de inclusão da fase 1), com 3 repetições por tratamento com 8 aves cada. Como características de desempenho avaliou-se o ganho de peso, o consumo de ração e a conversão alimentar no período de 8 a 21 dias, 22 a 28 dias e 8 a 28 dias. Aos 21 dias, duas aves por repetição foram abatidas para avaliar o peso das vísceras comestíveis (fígado, coração e moela) e os índices morfométricos intestinais (peso e comprimento dos intestinos). O ovo em pó utilizado foi obtido através do processo "spray-dried" e sua composição bromatológica encontra-se na Tabela 1. Todas as dietas foram ajustadas de forma que a relação energia metabolizável e proteína fossem aproximadamente 136 na fase 1 e 148 na fase 2, sendo as dietas isoprotéicas e isocalóricas (Tabelas 2 e 3). Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%, utilizando-se o programa ESTAT (1992) desenvolvido pelo Departamento de Ciências Exatas da FCAVJ/UNESP de Jaboticabal-SP.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de desempenho do primeiro período experimental encontram-se na tabela 4. Nesta fase (1 a 7 dias), as aves do tratamento controle apresentaram melhor ganho de peso e conseqüentemente melhor conversão alimentar já que o consumo foi estatisticamente igual para todos os tratamentos, onde as aves que receberam 20% de ovo em pó na dieta apresentaram menor ganho de peso e pior conversão alimentar. Estes resultados concordam com os achados de Mast et al. (1984) que observaram redução no desempenho de frangos de corte quando forneceram dietas com 20% de ovo em pó para as aves. Segundo estes mesmos autores, a queda no desempenho das aves alimentadas com dietas com ovo em pó se deve a presença de uma glicoproteína (avidina) presente na clara do ovo, a qual é produzida no oviduto da galinha. Esta glicoproteína se liga com a biotina formando o complexo avidina-biotina, o qual não é hidrolizado por enzimas digestivas, não sendo ,portanto, absorvido. A biotina é essencial para o crescimento da ave e está envolvida em várias reações metabólicas e sua deficiência é caracterizada pela perda da habilidade em realizar as reações de carboxilação. Desta forma, o metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas são afetados resultando, dentre outros sintomas, na diminuição do apetite e diminuição do crescimento.
Na Tabela 5 são apresentados o peso das vísceras comestíveis e os índices morfométricos intestinais das aves aos 4 dias de idade. Não ocorreu diferença significativa para peso do coração entre os tratamentos avaliados. Quando se avalia o peso e o comprimento do intestino, observa-se que as aves do grupo controle apresentaram maiores valores para estas características, justificando talvez, o motivo pelo qual as aves que se alimentaram com dietas com 20% de ovo em pó apresentaram pior desempenho no período de 1 a 7 dias, apresentando menor peso e comprimento dos intestinos e menor peso do fígado. Não foi encontrada a presença do saco vitelino em nenhuma das aves avaliadas. Este achado concorda com o relato de vários autores (Nir et al., 1988; Chamblee et al., 1992; Noy & Sklan 1997) que afirmam que ocorre a absorção do saco vitelino nos primeiros 3 a 5 dias de vida dos pintos.
Não ocorreu interação entre os tratamentos avaliados na segunda fase (8 a 28 dias) com os tratamentos aplicados na primeira fase (p>0,05). Embora as aves que receberam dietas contendo 5% de inclusão de ovo em pó tenham iniciado a segunda fase com menor peso médio, observou-se uma recuperação de peso destas aves não havendo diferenças estatísticas para peso final, ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar em todo o período da segunda fase experimental (Tabela 6). Estes resultados demonstraram que os efeitos negativos da inclusão do ovo em pó na dieta pré-inicial foram anulados após sua retirada fazendo com que as aves retornassem ao seu desempenho normal. Estudos conduzidos com suínos após o desmame demonstraram que a inclusão acima de 6% de ovo em pó na dieta destes animais afeta negativamente seu desempenho, havendo recuperação dos animais após a retirada do ovo da dieta (Nessmith et al., 1995).
Estes resultados nos levam a reavaliar o conceito de utilização de uma dieta diferenciada para frangos de corte na primeira semana de vida, pois, pelo que se pode observar, os efeitos advindos da nutrição nesta etapa de desenvolvimento, sejam eles negativos ou positivos, podem ser perdidos a partir do momento em que a ave se desenvolve ao estágio adulto. Assim sendo, é muito importante analisarmos a relação custo:benefício da utilização de um ingrediente na dieta para sabermos os reais benefícios que ele pode trazer para o desenvolvimento da ave.
Aos 21 dias (Tabela 7) não foram observadas variações no peso das vísceras comestíveis e no peso e comprimento dos intestinos das aves dos tratamentos avaliados nos quais, apenas as aves que receberam ovo em pó na segunda fase apresentaram maior peso de coração (p<0,05). De acordo com Nir (1998) a seleção genética para melhorar o crescimento e outras características de desempenho resultaram em uma ave que se alimente na capacidade das vísceras, exibe alta incidência de problemas metabólicos e esqueléticos, e imunocompetência comprometida. Deste modo, o trato gastrointestinal é considerado como o fator limitante na ingestão de alimentos e no crescimento de frangos de corte. É necessário um período indeterminado de maturação antes que o tamanho relativo do intestino atinja nível que não restrinja a taxa de crescimento da ave (Lilja, 1983; Nitsan et al., 1991a, b; Sell et al., 1991).
CONCLUSÕES
De acordo com os resultados encontrados neste experimento podemos concluir que:
A utilização de uma dieta sem a inclusão de ovo em pó atende as necessidades nutricionais das aves;
No período de 1 a 7 dias, a inclusão de 20% de ovo em pó na dieta promove uma diminuição no ganho de peso da ave e piora a conversão alimentar;
É economicamente inviável a utilização de ovo em pó na dieta de frangos de corte no período de 1 a 28 dias.
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