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Aveia preta cama de frango

Características produtivas e nutricionais da aveia preta sob doses crescentes de cama de frango

Publicado: 15 de janeiro de 2013
Por: Daniela Mondardo da União do Ensino Superior de Nova Mutum - Uninova - MG, e Karoline Bandeira, Tatiane Ohland, André Zoz e Alcir João Guarianti da Universidade Estadual do Oeste do Paraná -Unioeste - PR.
Sumário

Resumo:

Avaliou-se neste estudo, o efeito de doses crescentes de cama de frango aplicados em cobertura sobre a produção de massa verde, massa seca e os teores de nitrogênio na massa seca e acumulado em aveia preta (Avena strigosa S). O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com fatorial 6 x 4 , que consiste em seis doses de cama de frango (0,0; 1500; 3000; 4500; 6000 e 7500 kg/ha), com quatro repetições. O trabalho foi conduzido á campo em Latossolo Vermelho eutroférrico de textura argilosa, onde foram aplicadas doses de cama de frango 30 dias antes da semeadura da cultura, utilizou-se plantio mecanizado com semeadora e densidade de 70 kg ha-1 de sementes, sem adubação química. As avaliações foram realizadas no estádio do pré-florescimento. Os resultados mostraram-se crescentes em relação as doses de cama de frango e a produção de massa e seca e verde das plantas, o mesmo foi observado para teor nitrogênio na massa seca e o teor acumulado.

Palavras chave: Resíduo orgânico, Avena strigosa S., nitrogênio.

1 Introdução
Na região Oeste do Paraná há predomínio de pequenas propriedades, em que a avicultura comercial possui desempenho expressivo. Essa atividade resulta na produção de grandes quantidades de resíduos orgânicos provenientes da criação intensiva de frangos.
A cama de frango é considerada uma boa fonte de nutrientes, especialmente de nitrogênio, e quando manejada adequadamente, pode suprir, parcial ou totalmente, o fertilizante químico. Além disso, seu uso adiciona matéria orgânica ao solo melhorando os atributos físicos, aumenta a capacidade de retenção de água, reduz a erosão, melhora a aeração e cria um ambiente mais adequado para o desenvolvimento da flora microbiana do solo (BLUM et al., 2003).
É uma das alternativas de maior receptividade pelos agricultores, por estar disponíveis nas propriedades a um baixo custo, podem viabilizar a adubação em culturas comerciais (COSTA et al., 2009), pois quando adequadamente manejados, aumentam o rendimento de grãos, a fertilidade do solo, diminuem o potencial poluidor, tornando-se um importante fator agregador de valor, já que é um recurso disponível nas propriedades (CHOUDHARY et al., 1996).
Oliveira et al. (2006) obtiveram através de análise química teores de N, P e K em cama de frango de 35,3; 3,07 e 30,0 g kg-1, respectivamente. A disponibilidade de N estimula o crescimento e a atividade radicular, com reflexos positivos na absorção de outros nutrientes (Yanai et al., 1996). De todos os nutrientes minerais, o N é quantitativamente o mais importante para o crescimento da planta. A forma de fertilizantes nitrogenados (NO3-, NH4+) usados na adubação pode influenciar o balanço de cátions-ânions nas plantas (Engels & Marschner, 1995).
A maioria das culturas apresentam respostas positivas, principalmente a adubação nitrogenada, especialmente gramíneas forrageiras. A adubação em pastagens, principalmente a nitrogenada, está entre os fatores mais importantes a determinar a produção por área. A resposta das gramíneas forrageiras a altas doses de nitrogênio tem sido relatada por vários pesquisadores (Vicente-Chandler, 1959; Werner et al., 1967; Corsi, 1986).
Respostas até 1.800 kg ha-1 ano-1 de N foram relatadas por Vicente-Chandler (1959), ocorrendo, de modo geral, os maiores incrementos de produção na faixa de 300 a 400 kg ha-1 ano-1 de N (Olsen, 1972; Werner et al., 1967; Gomes et al., 1987). Para aveia preta (Avena strigosa S.) o nitrogênio é o nutriente que possui maior efeito sobre o crescimento da cultura (SANTI, 2003).
As principais formas de nitrogênio disponíveis para as plantas são amônio (NH4) e nitrato (NO3), as quais representam menos de 2% do nitrogênio total do solo. Considerando-se que quase todo o nitrogênio do solo se faz presente na forma orgânica, é importante considerar também o nitrogênio que seria mineralizado durante o ciclo da cultura. As recomendações atuais para a adubação nitrogenada em cobertura são realizadas com base em curvas de resposta, histórico da área e produtividade esperada.
A aveia é cultivada principalmente com o finalidade de cobertura, onde muitas vezes não recebe adubação, sendo manejada sobre o residual de adubação da cultura anterior. Sob estas condições o desenvolvimento da forrageira pode ser limitado (SANTI, 2003).
Desta forma o presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da aplicação crescente de cama de frango nos teores de nitrogênio e no acúmulo de nitrogênio na massa seca da cultura da aveia preta.
 
2 Material de métodos
O estudo foi desenvolvido em condições de campo, na fazenda experimental "Professor Antonio Carlos dos Santos Pessoa" (latitude 24º 33' 22'' S e longitude 54º 03' 24'' W, com altitude aproximada de 400 m), pertencente à Universidade Estadual do Oeste Paraná - Campus Marechal Cândido Rondon. O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen (CRITCHFIELD, 1960).
O solo da área experimental foi classificado como Latossolo Vermelho eutroférrico de textura argilosa (EMBRAPA, 2006). A área estava sob sistema de plantio convencional, obedecendo à rotação de culturas soja/milho/aveia, e por ocasião da implantação do experimento foi preparada mecanicamente com auxílio de grade pesada seguida da passagem de grade niveladora. A caracterização química foi obtida após o preparo do solo através de amostragem realizada na camada de 0-20 cm com posterior análise química em laboratório no Laboratório de Química Ambiental e Instrumental da Unioeste, Campus Marechal Cândido Rondon, PR (Tabela 01).
Tabela 01. Características químicas na camada de 0-20 cm do solo da área implantada com o experimento. Unioeste, Marechal Cândido Rondon – PR, 2011.
Características produtivas e nutricionais da aveia preta sob doses crescentes de cama de frango - Image 1
A cama de frango utilizada no experimento foi obtida em aviário comercial destinado a engorda de frangos de corte, e no momento da coleta possuía em sua composição física uma camada de 10 cm de maravalha e os resíduos da engorda de quatro lotes de frangos com período de 42 dias cada. Após amostragem e análise em laboratório (EMBRAPA, 2009) foi obtida a seguinte composição química: N: 67,38 g kg-1; P: 11,18 g kg-1; K: 25,75 g kg-1; Ca: 22,30 g kg-1; Mg: 2,70 g kg-1; Cu: 69,00 mg kg-1; Zn: 610,00 mg kg-1; Mn: 460,00 mg kg-1; Fe: 8360,00 mg kg-1.
O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados com seis tratamentos (Tabela 02) e quatro repetições totalizando 24 unidades experimentais com área total de 40 m² (5 x 8 m) e área útil de 18 m² (3 x 6 m) cada. Os tratamentos aplicados consistiram de doses crescentes de cama de frango 0,0; 1500; 3000; 4500; 6000 e 7500 kg/ha. A cama de frango foi aplicada manualmente com 30 dias de antecedência à semeadura da cultura da aveia com posterior incorporação com grade niveladora.
A cultura da aveia foi implantada em maio de 2009, de forma mecanizada com auxílio de semeadora tratorizada e densidade de 70 kg ha-1 de sementes, sem a utilização de adubação química. Não houve a necessidade de tratos culturais durante o seu desenvolvimento, pois não houve incidência de plantas daninhas ou do ataque de pragas e doenças. As avaliações foram realizadas em setembro de 2009, ao findar do ciclo vegetativo da aveia.
Para a avaliação da produção de massa seca, um quadrado metálico com área conhecida (0,25 m²) foi lançado ao acaso em cada parcela e todo material contido no seu interior foi coletado e embalado em saco plástico para determinação da massa fresca. Da amostra inicial, uma subamostra foi submetida à secagem em estufa com ventilação forçada de ar sob temperatura de 55ºC para determinação dos teores de matéria seca.
A partir da produção de massa fresca e dos teores de matéria seca foram determinadas as produtividades de massa seca por hectare. Para a determinação do teor de N após a secagem as amostras foram moídas e submetidas à digestão sulfúrica e destilação por arraste de vapores em sistema semi-microkjeldal segundo Embrapa (2009). A quantidade de N retido na massa seca foi obtida a partir da razão entre o teor de N e a produção de massa seca.
Para a determinação do teor de N após a secagem as amostras foram moídas e submetidas à digestão sulfúrica e destilação por arraste de vapores em sistema semi-microkjeldal segundo Embrapa (2009). A quantidade de N retido na massa seca foi obtida a partir da razão entre o teor de N e a produção de massa seca.
 
3 Resultados e discussão
Houve efeito significativo das doses de cama de frango sobre as produção de massa verde, que se elevou linearmente em resposta ao aumento das doses de cama de frango aplicadas (Figura 1).
Esse resultado está relacionado com a quantidade de nutrientes adicionados ao solo, principalmente N, P, e K presentes na cama de frango (67,38; 11,18 e 25,75 g kg-1, respectivamente). A mineralização desses nutrientes os torna disponíveis no solo, e ao serem absorvidos contribuem para o aumento no desenvolvimento das plantas com conseqüente maior produção de massa seca.
Figura 1. Produção de massa verde pela aveia preta sob doses crescentes de cama de frango. (*,** Significativo a 5 e 1% de probabilidade pelo teste t).
Características produtivas e nutricionais da aveia preta sob doses crescentes de cama de frango - Image 2
A massa seca também foi influenciada pelas doses de cama de frango. Houve incremento linear da massa seca com o aumento das doses de cama de frango aplicadas (Figura 2).
Figura 2. Produção de massa seca pela aveia preta sob doses crescentes de cama de frango. (*,** Significativo a 5 e 1% de probabilidade pelo teste t).
Características produtivas e nutricionais da aveia preta sob doses crescentes de cama de frango - Image 3
Segundo Calegari (2006) a aveia preta apresenta resposta positiva principalmente à adubação com N e P, com capacidade de produção de 2 a 11 t/ha de massa seca. Mello e Vitti (2002) relataram que a baixa relação C/N da cama de frango favorece a rápida mineralização do N e sua disponibilização às plantas.
Menezes et al. (2003) reforçam que resíduos orgânicos, como a cama de frango, são considerados insumos de baixo custo e de alto retorno econômico para a agropecuária, além do retorno direto da atividade.
Vieira et al. (1998) citam que o uso de resíduos orgânicos estimula especialmente no início do ciclo da cultura, o desenvolvimento adequado da parte aérea, em termos de altura e área foliar. Vale ressaltar que além do benefício do aumento de produção da matéria seca da aveia, a disponibilidade de nitrogênio com o uso de cama aviária é de 50 % no primeiro ano, restando ainda 20% para o segundo ano e 30% para os anos seguintes, segundo Ribeiro et al. (1999).
Figura 3. Teor de nitrogênio na massa seca da aveia preta sob doses crescentes de cama de frango. (*,** Significativo a 5 e 1% de probabilidade pelo teste t).
Características produtivas e nutricionais da aveia preta sob doses crescentes de cama de frango - Image 4
Ceretta et al. (2005); Aita et al. (2006) e Mondardo et al. (2011) também obtiveram aumento nos teores de N na massa seca da aveia preta fertilizada com doses crescentes de dejeto líquido suíno, enquanto Mai et al. (2003) estudando a adubação nitrogenada mineral na cultura da aveia também observaram aumento no acúmulo de N em resposta às doses aplicadas. Steiner et al. (2009), avaliando o acúmulo de massa seca e N pela aveia (IAPAR 61) em função da adubação orgânica e mineral concluíram que as quantidades de fertilizantes orgânicos e mineral influenciam positivamente o acúmulo de N na parte aérea da cultura.
Figura 4. Nitrogênio acumulado pela aveia preta sob doses crescentes de cama de frango. (*,** Significativo a 5 e 1% de probabilidade pelo teste t).
Características produtivas e nutricionais da aveia preta sob doses crescentes de cama de frango - Image 5
Aveia preta, apesar de acumular menos N que as leguminosas, segundo Borket et al. (2003), também pode reciclar quantidade razoável de N devido à quantidade de N total contida na biomassa.
Para a aveia, Torres et al. (2008) verificou acúmulo de 29 kg/ha de N no primeiro ano e 42 kg/ha no segundo ano. As diferenças nos acúmulos de N observados no presente em relação aos observados por outros autores (Barradas et al., 2001) podem estar relacionadas com a quantidade de massa seca produzida pelas plantas.
 
5 Conclusão
Os tratamentos com cama de aviário se apresentaram eficientes em relação ao fornecimento de nutrientes para as plantas. Observou-se que a produção de matéria seca e material verde das plantas foi crescente em relação às doses aplicadas. Os teores de nitrogênio na massa seca, e acúmulo de nitrogênio demostraram também efeito linear à adubação com cama de frango.
 
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