Introdução
A criação de frango caipira foi responsável em 2006 pela produção de 40% das aves e ovos produzidos no Brasil (Coelho et al., 2008). Porém, apesar da importância desse sistema e da obrigatoriedade em oferecer o acesso a um pasto, os dados de plantas forrageiras para esses sistemas são escassos. Silva & Nakano (1998) citam os capins-quicuio, tifton e coastcross como opções de gramíneas para criação alternativa de frangos, enquanto o Estilosantes é uma leguminosa que também pode reunir características importantes para esse sistema, como bom valor nutritivo das folhas e perenidade. Com o objetivo de avaliar os efeitos do pastejo de frangos sobre a altura do dossel, massa e componentes morfológicos de capim-coastcross, capim-quicuio e Estilosantes o presente experimento foi realizado.
Material e Métodos
O experimento foi realizado nas instalações experimentais do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" USP. Utilizaram-se piquetes formados com três espécies forrageiras: capim-coastcross (Cynodon spp.), capim-quicuio (Pennisetum clandestinum) e Estilosantes (Stylosanthes macrocephala + Stylosanthes capitata) submetidos à lotação contínua por frangos, com duas densidades (m2/ave): D1 (3m2/ave) e D2 (1m2/ave). Estes tratamentos serão descritos como C1 e C2, E1 e E2, Q1 e Q2 (respectivamente, capim-coastcross nas densidades 1 e 2, Estilosantes nas D1 e D2, capim-quicuio nas D1 e D2). O delineamento experimental foi em blocos completos casualizados com três repetições, sendo que os tratamentos corresponderam às três forrageiras e às duas densidades em esquema fatorial (3x2). Foram utilizados animais com 25 dias, linhagem "Carijó Pesado" com aptidão para corte, os quais receberam concentrado e água ad libidum durante todo período experimental. As avaliações ocorreram a cada 14 dias a partir do acesso das aves aos piquetes (22/04/2010) e transcorreram até o final do experimento totalizando cinco períodos: aos 12, 26, 40, 54 e 68 dias de permanência das aves nos piquetes, referidas como períodos 1, 2, 3, 4 e 5, respectivamente.
A determinação da forragem foi realizada por corte (tesoura de poda), no nível do solo, em quadrados de 0,30m x 0,30m colocados em três pontos no piquete. O material coletado foi sub- amostrado, separado nos componentes morfológicos folha (lâminas foliares), colmo (bainha foliar + colmo) e material morto e seco em estufa de circulação forçada a 60°C até peso constante. A altura do dossel foi determinada por meio de medições (15 pontos por piquete) utilizando-se uma haste graduada em centímetros, tendo uma transparência presa ao centro de onde era anotada a superfície do dossel forrageiro em cada ponto.
A análise de variância dos dados foi realizada utilizando-se o PROC MIXED do pacote estatístico SAS® (Statistical Analysis System), versão 8.2 para Windows®. As médias dos tratamentos foram estimadas utilizando-se o "LSMEANS" e a comparação entre elas realizada por meio da probabilidade da diferença ("PDIFF"), usando o teste Tukey e um nível de significância de 5%.
Resultados e Discussão
A altura do dossel forrageiro variou conforme a interação forrageira x densidade x período (P=0,0426). O Estilosantes manteve-se com as maiores alturas de dossel (Figura 1) indicando que as densidades de aves não foram grandes o suficiente para rebaixar a leguminosa. Por sua vez, o capim- coastcross sofreu redução em altura, porém situando-se acima da altura mínima para essa espécie sob lotação contínua descrita por Carnevalli et al. (2001). Para esses autores, a faixa de utilização do referido cultivar deve estar entre 10 e 20 cm de altura do dossel forrageiro, quando apresentou renovação de perfilhos suficiente para manutenção e perenidade (Sbrissia et al., 2003). O capim-quicuio sofreu redução em altura do dossel ao longo do período experimental, chegando ao período cinco com valores muito baixos nas duas densidades (Figura 1) em relação aos 20 cm recomendados como meta para lotação contínua desta gramínea por Carvalho et al. (2010), evidenciando risco de degradação da pastagem e limitação para entrada de um novo lote de aves em sequência.
A massa de forragem variou em função das interações forrageira x densidade (P=0,0409) e densidade x período (P=0,0076). Nas densidades 1 e 2 respectivamente, os maiores valores de massa de forragem ocorreram para o Estilosantes (0,39 e 0,28 kg/m2 ± 0,01e.p.m.), seguido do capim-coastcross (0,16 e 0,17 kg/m2 ± 0,01 e.p.m) e capim-quicuio (0,13 e 0,11 kg/m2 ± 0,01e.p.m.), sendo que todos diferiram entre si. Dentro das plantas forrageiras apenas para o Estilosantes houve diferença significativa entre as densidades, sendo a D1 superior à D2. De forma geral, houve redução da massa total de forragem, de folhas e de colmos ao longo do período experimental, enquanto a massa de material morto aumentou. Esse comportamento provavelmente ocorreu pelo menor crescimento das plantas no período de outono (fatores de crescimento reduzidos) aliado ao consumo e injurias causadas pelas aves.
A massa de folhas foi influenciada pela interação forrageira x densidade x período (P=0,0127), onde a D2 foi mais comprometida para todas as forrageiras, pois no período 5 até mesmo o Estilosantes teve a massa de folhas muito baixa na maior densidade em relação à menor (0,03 vs 0,16 kg/m2 ± 0,02 e.p.m.), indicando que para esta leguminosa a densidade de aves teve forte influência na massa foliar necessitando o uso cauteloso na densidade de 1m2/ave (D2) para o Estilosantes, principalmente como limitação para rebrotação com entrada de um novo lote de aves.
Figura 1 – Altura do dossel de plantas forrageiras submetidas à lotação contínua por aves em pastejo.
Letras minúsculas comparam médias de tratamentos dentro dos períodos e letras maiúsculas comparam médias de períodos
* Análise realizada em dados transformados SQRT(x)
Conclusões
As plantas forrageiras capim-coastcross, capim-quicuio e Estilosantes são adequadas para pastejo de frangos nas densidades de 3 e 1 m2/ave, porém o Estilosantes na D2 (1 m2/ave) e o capim-quicuio em ambas as densidades devem ser utilizados com cautela devido às limitações para entrada de um novo lote de aves.
Literatura citada
CARNEVALLI, R.A. et al. Desempenho de ovinos e respostas de pastagem de Coastcross submetidas a regime de desfolha sob lotação contínua. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.36, n.6, p.919-927, 2001.
CARVALHO, P.F.C. et al. Potencial do capim-quicuio em manter a produção e a qualidade do leite de vacas recebendo níveis decrescentes de suplementação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, n.9, p.1866-1874, 2010.
COELHO, A.A.D.; SAVINO, V.J.M.; ROSARIO, M.F. "Frango Feliz" caminhos para avicultura alternativa. FEALQ, Piracicaba, 2008, 88p.
SBRISSIA, A.F. et al. Tiller Size/Population density compensation in grazed coastcross bermudagrass swards. Scientia Agricola, Piracicaba, v.58, n.4, p.655-665, 2001.
SILVA, R.D.M.; NAKANO, M. Sistema caipira de criação de galinhas. FEALQ, Piracicaba, 1998, 110p.