Estudos de instituições nacionais como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e internacionais como FAO, Banco Mundial e OECD são unânimes em afirmar que daqui dez anos o Brasil será a maior produtor de proteína animal do mundo. Projeta-se que 30% de toda carne consumida no mundo terá o selo "Made in Brazil". Analisando o presente, percebe-se que esses estudos têm grande chance de serem confirmados devido à posição internacional que já ocupamos nas cadeias de bovinos de corte, frangos e suínos.
Internamente, a demanda também aumentará devido ao intenso processo de urbanização do país, aumento da renda, inserção cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, consumidor mais instruído, todos esses são fatores que contribuem para expansão e aumento do poder aquisitivo do mercado interno e conseqüente escolha por produtos de origem animal. Estudos divulgados recentemente concluem que nos últimos anos a Classe E brasileira apresentou níveis de crescimento maiores que os verificados na China.
Todo esse crescimento que foi e será fruto da competência do setor em produzir produtos pecuários e da competência das instituições de pesquisa em adaptar e desenvolver conhecimentos e tecnologias para a realidade brasileira teve e terá como benefícios e geração de centenas de empregos, aumento do poder aquisitivo, crescimento econômico de regiões, estados e do país.
Então a questão não é se chegaremos à próxima década como o maior produtor de proteína animal do mundo, isso parece ser lógico. Mas não há como ignorar que chegamos até aqui com alguns passivos. O principal deles é o ambiental.
Basta ler as notícias para saber que um dos maiores dilemas ambientais da atualidade é a destruição do Bioma Amazônia pela bovinocultura de corte. Ministérios, conglomerados agroindustriais, Confederações, Sindicatos, Organizações Não-Governamentais se digladiam defendendo posições, muitas vezes, movidas por interesses particulares, apesar de todos afirmarem que tem no conhecimento e no interesse nacional a única justificativa para seus discursos e ações.
Se for fato que seremos o maior produtor outra questão deve ser feita: como queremos ser o maior? Arrisco a dizer que todos teriam a mesma resposta: o maior e com sustentabilidade! Se todos concordarem com essa resposta, então algumas coisas precisa ser mudadas, decisões precisam ser tomadas e políticas precisam ser delineadas.
A primeira e principal mudança. Se quisermos sustentabilidade, queremos desenvolvimento e não crescimento. O crescimento por si só, ensina a história mundial, sempre traz passivos ambientais enormes. Vivemos um momento de crise econômica mundial, crise essa que teve como um de seus motivos a busca insana pelo crescimento sem medir as conseqüências, ou pior, medindo-as, mas acreditando que se algo desse errado a Mãe Estado, estaria lá para socorrer.
Desenvolvimento é diferente. Ele insere planejamento de médio e longo prazo; exige um mediador, pois decisões devem ser tomadas e conflitos irão ocorrer, esse mediador é o Estado, que tem a prerrogativa de prezar pelo interesse comum; necessita que os cidadãos possuam elevado grau de instrução para participar das discussões e decisões e ter consciência de seus direitos e deveres; ainda é preciso dispor de um ágil, democrático e robusto sistema de organização e tratamento de informações o que subsidiará a tomada de decisões, possibilitará o acompanhamento do desenvolvimento e a detecção das correções necessárias.
Iniciativas em prol do desenvolvimento da produção animal estão ocorrendo, sendo a mais importante delas os programas de zoneamento econômico-ecológico liderado por Ministérios e Estados. A maior parte desses programas se concentra na região Norte do país, mas é fundamental que eles também ocorram na região Centro-Sul, pois nessa encontramos as maiores densidades de unidade animal por área, bem como as maiores densidades humanas e os conflitos pelo uso dos recursos naturais são notórios, sendo a água o mais ameaçado em sua quantidade e qualidade.
Não há dúvida que a situação ambiental da produção animal brasileira melhorou na última década com a inserção de conhecimentos e tecnologias ambientais no cotidiano das produções e com a adequação, cada vez maior, as exigências da legislação ambiental. Agora que cumprimos o básico, precisamos dar maior qualidade ao que fazemos para termos excelência produtiva e ambiental. Conhecimentos, tecnologias e instrumentos existem para que essa qualidade seja atingida, cabe a nós utilizá-los para garantir a sustentabilidade dos próximos dez anos.
Estamos distantes do desenvolvimento pleno de nossas produções pecuárias e ainda mais da sustentabilidade, mas dispomos dos recursos e conhecimentos necessários, então tudo se resume a querer e esse querer deve ser de todos. Em momentos de crise, paradigmas são mudados, esse é o momento!