INTRODUÇÃO
A importância da nutrição e do manejo na primeira semana de vida dos frangos de corte é plenamente reconhecida, uma vez que os erros ou acertos cometidos neste período refletem-se no desenvolvimento posterior do lote. Devido a diferenças no trato digestivo, que se desenvolve mais rapidamente que os outros órgãos na fase inicial, a adoção de dietas exclusivas se justifica, sendo que os animais possuem necessidades nutricionais específicas durante essa etapa (MONTEIRO et al., 2006; MAIORKA et al., 2004). A maior parte dos ingredientes utilizados nas rações à base de milho e farelo de soja não atende às exigências dietéticas de alguns minerais, havendo necessidade de inclusão de fontes adicionais nas rações. Os minerais Na+ e Cl- destacam-se pela participação no balanço ácido-básico e na integridade dos mecanismos que regulam o transporte através das membranas celulares, influenciando em respostas fisiológicas e de desempenho (ROSA et al., 2010).
As informações sobre os níveis adequados de sódio (Na) para dietas durante a primeira semana de idade são variáveis, tendo sido observado aumento no Consumo de Ração e Ganho de Peso com níveis de 0,25 até 0,36% (MAHMUD et al., 2010; RIBEIRO et al., 2004). Porém, com nível de 0,48%, considerado alto, foi observada redução no Consumo de Ração pelos animais (RIBEIRO et al., 2004). Além do desempenho, a quantidade de sódio ingerida também exerce influência direta sobre o Consumo de Água, tendo sido observado aumento linear no Consumo de Água conforme há o incremento de sódio na dieta (SILVA et al., 2006). Quando o Na é adicionado à água, pode ser utilizado de forma mais eficiente, pois o mineral é ingerido separadamente dos demais alimentos, passível de ser absorvido mais rapidamente (WATKINS et al., 2005). Desta forma, a pronta absorção do sódio poderia influenciar positivamente a absorção de monossacarídeos e aminoácidos, melhorando o desempenho dos animais. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito de três vias de fornecimento de cloreto de sódio (NaCl) – 100% na ração, 50% na ração e 50% na água, 100% na água – durante os primeiros sete dias de vida sobre o desempenho e metabolismo e composição de carcaças de frangos de corte até os 21 dias de idade.
MATERIAL E MÉTODOS
Cento e vinte pintos machos de corte, Ross 308, de um dia de idade, foram criados em gaiolas com 10 aves, mantidos até os 21 dias de idade num ambiente termicamente controlado. O programa de luz utilizado foi o de 24h de luz artificial, e a alimentação e a água foram fornecidas ad libitum. Os tratamentos consistiram de três vias de fornecimento de NaCl às aves no período de um a sete dias de idade: 100% de NaCl na ração (100% Ração), 50% de NaCl na ração e 50% na água (50% ração /50% água), 100% de NaCl na água (100% água). Para o fornecimento via água, foram adicionados 2,35 g de NaCl/L água no 50% ração/50% água e 4,7g no 100 água.
As dietas experimentais do período préinicial (um a sete dias) foram formuladas segundo as recomendações de Rostagno et al. (2005) (Tabela 1).
Foram ajustadas as quantidades de NaCl para alcançar o nível total de Na da dieta de 0,47%, mantendo as dietas isonutritivas em relação aos demais nutrientes. O balanço eletrolítico das dietas foi mantido em 160 meq/kg por meio da inclusão de NaHCO3. No período de oito a 21 dias de idade, todas as aves receberam uma única dieta basal (Tabela 1).
Foram avaliados Peso Vivo (PV), Ganho de Peso (GP), Consumo de Ração (CR) e calculado a Conversão Alimentar (CA) aos quatro, sete, 14 e 21 dias de idade. Nestes mesmos períodos, foi selecionada uma ave por repetição para avaliação do peso relativo de coração, fígado, moela e comprimento relativo do intestino. Aos sete dias de idade foi mensurado o Consumo de Água, baseado no diferencial do peso dos bebedouros no intervalo de 24 horas. Perdas evaporativas não foram consideradas.
Foi realizada a coleta total de excretas no período de quatro a sete dias, para avaliação da Metabolizabilidade da Matéria Seca (MMS), Retenção de Nitrogênio (RN) e Energia Metabolizável Aparente Corrigida para nitrogênio (EMAn).
Aos sete dias de idade, foi abatida uma ave por repetição e as carcaças não depenadas e acrescidas das vísceras, isentas de conteúdo alimentar, foram armazenadas em câmara fria para posterior análise de Matéria Seca (MS, método número 930.15), Proteína Bruta (PB, método número 976.05), e Extrato Etéreo (EE, método número 960.39). As rações e carcaças foram analisadas conforme metodologia descrita no AOAC (1996).
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, composto por três tratamentos com quatro repetições de 10 aves. Todas as variáveis foram submetidas à análise de variância e quando um valor de F menor do que 0,07 foi obtido, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05) pelo programa estístico SAS 9.2 (SAS, 2008).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com relação ao desempenho no período pré-inicial, a forma de fornecimento de NaCl afetou somente CA, onde o fornecimento de NaCl via água proporcionou a melhor CA (p<0,07) comparado ao fornecimento 50% ração/50% água (Tabela 2). Já aos 21 dias, este efeito deixou de existir. Esses resultados concordam com os obtidos por Watkins et al. (2005), que concluíram que o Na pode ser suplementado parcial ou totalmente através da água, desde que haja ajustes do mineral nas dietas. Os mesmos autores sugerem que o Na pode ser utilizado de forma mais eficiente quando adicionado à água, pois o mineral é ingerido separadamente dos demais alimentos, passível de ser absorvido mais rapidamente. Sendo o sódio o principal cátion presente nos fluidos extracelulares, e estando ligado a diversas funções fisiológicas, sua pronta absorção pode influenciar positivamente a absorção de monossacarídeos e aminoácidos.
O consumo de alimento em pintos de corte de um a sete dias de idade, demonstrado por Borges et al. (2002), foi linear quando o balanço eletrolítico foi aumentado pela suplementação de Na, indicando que esse íon estimula o consumo de alimento de aves nessa idade. Além das importantes funções fisiológicas que o Na exerce, ele é considerado como um palatabilizante barato e eficiente (RIBEIRO et al. 2004). No presente experimento, foi observado que a forma de suprimento não afetou o Consumo de Ração, esse resultado pode ser explicado pelo fato de que o nível de sódio na dieta, independentemente da via de fornecimento, foi mantido o mesmo (0,47%).
O Consumo de Água durante os primeiros sete dias de idade não foi afetado pela forma de fornecimento de sódio (Tabela 2), evidenciando que não houve um incremento na ingestão de água pela adição do ingrediente na mesma. Portanto, a influência do sódio na ingestão de água se deve pela quantidade total de Na e não em função da via de fornecimento.
Considerando-se a relação 2:1 entre Consumo de Água e Consumo de Ração (NRC, 1994) como normal, observou-se que as aves do presente experimento tomaram mais água, mantendo uma relação de 2,73; 2,50 e 2,97 para os tratamentos 100% ração, 50% ração/50% água e 100% água no período de um a sete dias de idade. O consumo excessivo de sódio é um dos fatores que aumentam a concentração osmótica do sangue e atua no controle do Consumo de Água. A relação aumentada entre consumo de água:alimento pode ser explicada considerando-se o nível de 0,47% de sódio como sendo alto.
Calculando a quantidade de sódio consumido pela ave por dia, chegou-se a valores de 0,72; 0,63 e 0,90 g/dia para 100% ração; 50% ração/50% água e 100% água, respectivamente, podendose observar que os frangos que consumiram mais sódio por dia apresentaram uma maior relação água:ração. Estes resultados concordam com os obtidos por Castro et al. (2009) que relataram que frangos de corte que receberam o maior nível de Na (0, 150, 300 e 450 ppm) no período pré-inicial, mostraram maior relação água:ração (2,41) do que as aves com o menor nível (2,18). A maior relação água:ração encontrada nos trabalhos está relacionado ao aumento do consumo de sódio, que faz com que as aves ingiram maior quantidade de água na tentativa de saciar a sensação de sede causada pelo maior consumo do mineral (BORGES, 2002).
Diversos autores mostraram que o nível de sódio influencia o Consumo de Água e Consumo de Ração (MAIORKA et al., 2004; VIEITES et al., 2005; MAHMUD et al., 2010). A restrição de até 40% de água, no período pré-inicial, proporcionou decréscimo linear no Consumo de Ração e, como consequência, redução do Ganho do Peso das aves (SOARES et al., 2007). O fato de não ter havido diferenças no Consumo de Água pelas vias de fornecimento de NaCl explica porque os resultados de Consumo de Ração e Ganho de Peso foram semelhantes no período de um a 21 dias de idade.
A Tabela 3 mostra a redução numérica do peso relativo dos órgãos conforme o avanço da idade. Vê-se que o fígado e a moela são os órgãos com maior taxa de redução, em concordância com o trabalho realizado por Gracia et al. (2003). Nos dias que seguem a eclosão, o peso do pró-ventrículo, moela e intestino delgado, em relação ao Peso Vivo do animal, aumenta rapidamente. Depois deste crescimento rápido inicial, os seus tamanhos e pesos relativos diminuem com o avanço da idade (MARCATO et al., 2010). Houve diferença entre os tratamentos para peso de moela aos 21 dias, podendo ser observado que o maior peso foi encontrado quando a via de fornecimento foi 100% água. Este resultado é de difícil explicação, pois moelas mais pesadas têm relação com a granulometria da dieta (DALHKE et al., 2001) e pelo fato de não ter ocorrido a mesma diferença nas demais idades.
Em relação às repostas de metabolismo (Tabela 4), foi observado que a Metabolizabilidade da MS (MMS) e Retenção de Nitrogênio (RN) foram menores nas aves que receberam NaCl via água, em comparação aos com NaCl via ração. Este resultado pode ter explicação na maior taxa de sódio no intestino, aumentando também a concentração de água, com uma consequente diluição das enzimas digestivas no lúmen gastrointestinal. Já os resultados de EMAn da dieta e Matéria Seca das excretas (MSex) não foram afetados pela via de fornecimento de Na. Ao avaliarem níveis crescentes de Na (0,10; 0,22; 0,34 e 0,46%) na dieta, Maiorka et al. (2004) não observaram aumento de excreção de água em frangos de um a sete dias de idade. Contrariamente, Vieites et al. (2005) observaram que conforme ocorreu aumento nos níveis de NaCl na dieta, houve maior consumo de água e elevação da umidade das excretas.
A via de fornecimento de NaCl não teve influência significativa sobre o teor de proteína bruta e matéria seca da carcaça de frangos de corte. No entanto, a porcentagem de gordura foi menor no grupo que recebeu NaCl igualmente na água e na ração (p<0,03) (Tabela 4). Vieira et al. (2003) observaram que o menor nível de Na (0,12%) na dieta produziu carcaças com maior teor de MS em relação ao maior nível (0,48%). No entanto, não foi encontrada na literatura nenhuma explicação para a menor porcentagem de gordura na carcaça observada no presente ensaio. A MS na carcaça está associada ao Consumo de Água, como pode ser observado nos resultados de Vieira et al. (2003) e, ao longo do processo de crescimento das aves, há uma substituição paulatina da água pela gordura na carcaça (BUTZEN et al., 2015). No entanto, o tecido adiposo é menos hidratado quando comparado com o tecido muscular. Desta forma, torna-se difícil explicar o resultado observado nesse experimento, pois ao aumentar o Na ingerido, a expectativa é o aumento de água e não de gordura. Por outro lado, frangos de corte com 21 dias de idade ainda têm pouca gordura na carcaça (BUTZEN et al., 2015), o que pode diminuir a precisão da análise e a importância desse resultado. Novos estudos são sugeridos para confirmar esta resposta, principalmente em aves com mais idade (idade de abate). Frangos de corte podem receber NaCl via água ou ração alcançando resultados de desempenho semelhantes. No entanto, o consumo de NaCl via água de bebida proporcionou menor aproveitamento do alimento ingerido.
Esse artigo foi originalmente publicado em Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal [online]. 2015, v. 16, n. 4 [Acessado 28 Setembro 2021] , pp. 865-873. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1519-99402015000400010>. Epub Oct-Dec 2015. ISSN 1519-9940. https://doi.org/10.1590/S1519-99402015000400010. Este obra está licenciado com uma Licença
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