A perda de sensibilidade aos medicamentos veterinários é um problema que cresce à medida em que usamos os antimicrobianos, fungicidas, inseticidas, antihelmínticos e anticoccidianos. Esse processo nada mais é do que a manifestação da lei da seleção natural aplicada aos microrganismos. Dessa forma, a perda de sensibilidade frente aos medicamentos veterinários deve ser continuamente monitorada. Isto permitirá que o produtor tome as melhores decisões em relação ao uso dos programas de fármacos. Como o número de ferramentas/produtos é limitado, os programas de controle por meio dos medicamentos devem ser desenhados para aproveitar ao máximo o que temos disponível.
Este conceito também se aplica integralmente ao controle da coccidiose. A medição da perda da sensibilidade, ao longo do tempo, depende de monitoramento e de testes laboratoriais específicos. Os resultados devem ser utilizados para obter informações sobre o comportamento geral do desenvolvimento de resistência em uma área geográfica. O uso das provas de sensibilidade oferece bases mais racionais para a escolha dos anticoccidianos específicos e representa um grande apoio para a indústria avícola.
Os testes de sensibilidade ajudam enormemente e nos ensinam a utilizar os anticoccidianos mais estrategicamente, de maneira racional e prudente. A resistência pode se desenvolver em poucas semanas com alguns fármacos e levar anos para se manifestar com outros. De uma maneira geral, podemos dizer que o desenvolvimento de resistência aos anticoccidianos sintéticos (antigamente chamados de químicos) ocorre rapidamente. Por outro lado, com os ionóforos este processo é mais lento. A ocorrência de coccidiose no campo pode ser decorrente da perda de sensibilidade ao anticoccidiano que está sendo usado, mas também pode ser resultado de outro problema, como por exemplo, falha de processo na fábrica de ração (baixa inclusão do medicamento, erros de mistura etc).
A única forma de determinar qual é a droga mais efetiva no controle de uma coccídia presente em determinado lugar é fazer o isolamento das coccídias presentes na região e desenvolver provas de sensibilidade frente a vários anticoccidianos.
Logo, o teste de sensibilidade a anticoccidianos também conhecido como anticoccidial sensitivity test (AST) fornece dados para ajudar a elaborar e a aperfeiçoar programas de anticoccidianos utilizados em frangos de corte. A eficácia dos diversos anticoccidianos é avaliada por meio de análises de ganho de peso, conversão alimentar (CA) e mortalidade, bem como dos escores de lesão pelo método de Johnson & Reid, 1970, para cada Eimeria alvo. O AST vem sendo pouquíssimo utilizado no Brasil, mas nos EUA e na Europa, em função de uma maior disponibilidade de recursos e da proximidade entre a indústria farmacêutica e as universidades, ele é realizado com maior frequência para nortear a escolha do anticoccidiano a ser administrado e representa a forma mais viável de avaliar a eficácia de um fármaco anticoccidiano em provas exigidas pelas autoridades regulatórias para registro ou extensão de bula.
Evidências práticas e trabalhos científicos demonstram que o uso contínuo e arbitrário dos anticoccidianos pode levar à seleção de Eimerias menos sensíveis no campo. Isso acaba por prejudicar o resultado zootécnico das indústrias avícolas. A resistência frente às diferentes drogas anticoccidianas vem aumentando ao longo do tempo.
Quais são os benefícios práticos das provas de sensibilidade aos anticoccidianos?
As provas de sensibilidade têm enorme valor na estratégia de controle da coccidiose, pois determinam qual é a droga mais efetiva para o desafio de campo local. A troca arbitrária dos programas de anticoccidianos não garante a eficácia, pois o anticoccidiano escolhido pode não ser mais efetivo do que o produto utilizado anteriormente. Os padrões de resistência aos anticoccidianos foram estudados ao longo do tempo por ampla pesquisa científica e foi demonstrado que a resistência a drogas foi aumentando. Estes estudos demonstraram que o padrão de resistência às drogas depende da exposição e do tempo com que as granjas foram previamente tratadas. O uso contínuo de determinadas drogas leva ao aparecimento de coccídias resistentes ou, melhor dizendo, seleciona coccídias menos sensíveis ao anticoccidiano utilizado. Dessa maneira, o perfil de sensibilidade a uma determinada droga normalmente está associado à empresa e à região que foi submetida aos programas de anticoccidianos, sendo que o resultado do teste de sensibilidade de uma empresa ou região não necessariamente serve para outro local.
Não é prático, nem tampouco necessário, determinar o comportamento de resistência em todas as granjas de uma integração de frangos de corte, e o custo deste procedimento seria proibitivo. De maneira geral, o padrão de sensibilidade é similar dentro de uma região, já que o mesmo programa de anticoccidianos é utilizado em todas as granjas. As provas de sensibilidade podem ser planejadas com intervalos de 6 meses sendo que o grande benefício será determinar como está o controle das coccídias frente aos anticoccidianos e diagnosticar a resistência antes que se torne um problema maior. Com este resultado em mãos, é possível escolher alternativas de drogas mais efetivas para os próximos programas.
Esperar o aparecimento de surtos de coccidiose para só então realizar o teste de sensibilidade se mostra equivocado. O propósito do AST é justamente identificar o problema antes que alcance uma proporção crítica. Desta forma, o teste de sensibilidade se apresenta como o alicerce de um controle estratégico da coccidiose. Os resultados deste monitoramento permitem que o produtor foque em boas práticas e realize a rotação dos anticoccidianos de forma segura e planejada, visando assim, solução a longo prazo.
*é médico-veterinário e gerente técnico da Unidade de Aves da Zoetis.
**é médico-veterinário e diretor técnico do CAPEV – Centro de Amparo e Pesquisa Veterinária.
Parabéns Eduardo e Igor. Muito claro e sintético.
Trabalhei muito tempo com Provas de Sensibilidade há muitos anos (Cyanamid) e, inclusive, foi publicado na época um trabalho de Larry McDougald e o falecido Prof. Lamas, com uma análise das cepas brasileiras e argentinas resistentes aos ionóforos. Caiu em desuso na época, porque na prática não refletia o que se observava no campo. Exemplo: tinha um cliente com uma cepa "quente"de E. acervulina identificada em uma granja sentinela, entretanto, o problema não se refletia nos resultados zootécnicos, talvez porque a competição no galpão por outras espécies inviabilizava a predominancia daquela cepa (?).
Os americanos tem usado bastante esta prática no momento, em função da necessidade de escolha dos anticoccidianos sintéticos que estão utilizando nos programas associados às vacinas de coccidiose. Concordo que é mais uma ferramenta que auxilia na tomada de decisão quando bem interpretada, como vocês comentam.
A sua empresa está disponibilizando esta prova para os clientes?
Grande abraço e grato pelo material.
Boa tarde, desculpe pela minha ignorância eu não conhecia este termo, para mim era químico. Se for ver pela logica, toda substancia sintetizada tem que ser sintética.Gostei muito dos comentários e troca de experiencias .É mais uma ferramenta para melhorar as escolha dos anticoccidianos. No que diz respeito ao uso de simbióticos, que com certeza é um excelente produto , ele pode corrigir a falha e não resolver. Acredito que devemos resolver os erros e não usar aditivos como muleta.