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Características, transmissão e medidas de controle da clamidiose aviária

Publicado: 16 de janeiro de 2024
Por: Alessandro Domingos Araújo Filho, Alessandra Tavares Ferreira, Larissa Maia de Araújo, Renan José Leite, Caroline da Silva Penha, Renato Souto Maior Muniz de Morais, Luiz Gustavo de Lima Souza, Francisco Feliciano da Silva Júnior, Bruno Pajeú e Silva, Jéssica de Torres Bandeira. Centro Universitário UNIFAVIP | Wyden
Sumário

A clamidiose é uma doença parasitária originada pela bactéria intracelular obrigatória denominada Chlamydia psittaci. Esta enfermidade revela-se através de sintomas entéricos e respiratórios, manifestando-se apenas quando o hospedeiro apresenta uma queda na imunidade, fato que muitas vezes leva a sua negligência por parte dos cuidadores, devido à falta de percepção dos sinais clínicos. Notavelmente, a proximidade constante com aves culminou na emergência de um potencial zoonótico ao longo dos anos. O crescente contato com esses animais suscitou a necessidade de compreender e prevenir eficazmente a disseminação da doença tanto entre os animais quanto para os seres humanos que possam ser afetados pelo agente patogênico. É crucial, portanto, reconhecer a clamidiose como uma ameaça tanto para a saúde animal quanto para a saúde pública, instando à adoção de medidas preventivas e protocolos de vigilância abrangentes.

Palavras-chave: Clamidiose, Chlamydia Psittaci, Transmissão, Diagnóstico.

INTRODUÇÃO

À medida que a clamidiose aviária, originada pela bactéria Chlamydia psittaci, emerge como um tópico de crescente inquietação, torna-se evidente a importância de explorar seus potenciais impactos na saúde das aves e nas populações humanas. Embora muitas vezes negligenciada devido à falta de compreensão generalizada, essa patologia tem o poder de induzir complicações significativas no sistema respiratório e ocular das aves, além de representar uma ameaça à saúde humana por meio da transmissão direta (Zhai et al., 2023). Nesse contexto, a conscientização pública sobre a clamidiose aviária ganha destaque, uma vez que a aplicação de tratamentos adequados para as aves contaminadas se mostra fundamental não apenas para proteger os animais, mas também para minimizar os potenciais riscos de disseminação da doença entre a população, fortalecendo assim a necessidade de ações preventivas e pesquisas contínuas sobre o assunto (Vasconcelos et al., 2016; Bento, 2020)

MÉTODOS

Foram utilizados diversos recursos, incluindo artigos científicos, livros e revistas especializadas. A escolha dos artigos científicos levou em consideração a pertinência aos objetivos do estudo, avaliando títulos, resumos e palavras- -chave. Além dos artigos, informações complementares foram obtidas por meio de livros e revistas confiáveis.

DISCUSSÃO E RESULTADOS

ETIOLOGIA

A clamidiose é uma importante doença aviária de caráter zoonótico que afeta principalmente a ordem dos psitacídeos (Grespan, 2006; Vasconcelos et al., 2016). O principal agente infeccioso causador clamídia em aves é o chlamydia psittaci, sendo essa uma bactéria cocobacilar, Gram negativa intracelular obrigatória, pertencente à família chlamydieeae (Kaleta & Taday, 2003; Grespan, 2006; Vasconcelos et al., 2016). Além desta, existem outros dois gêneros de clamídia responsáveis pela infecção, o C. gallinacea detectado em aves produção e o C. avium, em animais de vida livre (Vasconcelos et al., 2016; Guo et al., 2016).

EPIDEMIOLOGIA

É endêmica no Brasil, os casos mais comuns são com pessoas que lidam diariamente com animais como: tratadores, médicos veterinários, biólogos. Casos de surtos são comuns em locais fechados como zoológicos e ambientes que transportam animais (Cepeda et al., 2019). As taxas de mortalidade e morbidade podem variar de acordo com a espécie hospedeira e a patogenicidade, porém, detém uma alta taxa de mortalidade pela dificuldade em diagnosticar e por abrir espaço para infecções secundárias (Costa, 2013). Pessoas que testaram positivo para a bactéria eram detentores de aves, e é de se esperar que ocorra casos positivos destes, visto que o território nacional é um dos maiores possuidores de espécies de psitacídeos e que estes são os mais propensos a serem os reservatórios desta doença (Costa, 2013; Dallaporta, 2022).
No mundo, com o aumento dos métodos para diagnosticar a clamidiose, junto com o aumento em pesquisas, o número de espécies aviárias detectadas com C. psittaci tem aumentado consideravelmente. No Brasil, a ocorrencia de C. psittaci foi confirmada apenas em 1998, através de um estudo com papagaios Amazona spp., onde foi demonstrado que o microorganismo foi identificado em até 56,1% das aves. Em estudos posteriores, o DNA de C. psittaci foi encontrado em 35% de um grupo de araras azuis (Anodorhynchus hyancinthinus) e até 90,6% de um grupo de calopsitas (Nymphicus hollandicus). Além dos psittaciformes, outras espécies também tem sido pesquisadas, como os ranfastídeos e passeriformes. Apesar na grande quantidade de aves classificadas como reservatórios naturais, a transmissão é limitada pelo ambiente. No território brasileiro, a c. psittaci foi encontrada em várias espécies de aves. Como exemplo, em 45 filhotes de araras azuis no Pantanal do Mato Grosso do Sul, 37.8% estavam infectadas, mas sem sinais clínicos aparentes. Outro exemplo, foi a pesquisa feita em pombos (columbiformes) que viviam no centro de São Paulo. O Genoma foi encontrado em 27.4% do total de 51 pombos. Além disso, foram feitas pesquisas em aves aquática, na parte Litorânea do Estado de São Paulo, a enfermidade foi detectada de um total de 93 aves em cerca de 12.9%, sendo da espécie Sterna hirundinacea, além delas outras espécies também foram parte da pesquisa. No no estado de Minas Gerais, foi realizada uma avaliação sorológica, não sendo encontrado nenhuma ave infectada. Mas houveram surtos de clamidiose no Brasil em aves silvestres, como em 56 papagaios verdadeiros vindos do tráfico animal. (Cubas et al., 2014)

PATOGENICIDADE

A principal porta de entrada para esse agente é a via aerógena, por meio da inalação de excretas secas contaminadas (Vasconcelos et al., 2016). Além dessa, a infecção ocorre também pela ingestão de fezes, contato direto com secreções de outras aves doentes, ou até mesmo no momento em que os pais alimentam seus filhotes no ninho (Harkinezhad et al., 2009; Vasconcelos et al., 2016). Outra forma de transmissão menos frequente é a vertical, na qual a bactéria contamina os ovos (Harkinezhad et al., 2009; Vasconcelos et al., 2016). O período de incubação tem variação de dias ou até semanas, a depender de fatores como virulência do agente, alimentação, idade e condição imunológica da ave (Kaleta & Taday, 2003; Harkinezhad et al., 2009; Vasconcelos et al., 2016).
No organismo a chlamydia psittaci se multiplica nas células e produz corpos elementares, que são responsáveis pela propagação da bactéria para outras células, podendo causar um quadro agudo ou crônico da infecção, além desses, são produzidos os corpos reticulados, a forma não infectante da clamídia (Grespan, 2006; Harkinezhad et al., 2009; Vasconcelos et al., 2016). Os principais reservatórios da chlamydia psittaci são os psitacídeos de cativeiro, pois portadores como as calopsitas podem excretar a bactéria no ambiente por mais de um ano, por esse motivo, um dos principais fatores de risco é o contato entre aves de vida livre e domésticas (Grespan, 2006; Harkinezhad et al., 2009; Vasconcelos et al., 2016).

SINAIS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO

Geralmente as aves irão se tornar pacientes crônicos e acabarão não demonstrando sintomatologia a menos que sejam apresentados a situações imunossupressoras como nutrição inadequada, transporte prolongado e superpopulação. Diante disso, o animal poderá apresentar sinais entéricos e respiratórios, tais como: conjuntivite, descarga nasal, dificuldade respiratória, sinusite, diarréia, anorexia e perda de peso (Proença et al., 2011). Para se ter um diagnóstico ante mortem, é necessária a combinação de testes, tais como isolamento do agente, sorologia ou PCR. O tratamento é longo devido ser necessário cobrir todo o epitélio de transição, até concluir todo o processo de renovação celular. (Oliveira et al., 2008).

ALTERAÇÕES ANATOMOPATOLÓGICAS

Uma enfermidade que não apresenta alterações microscópicas ou macroscópicas patognomônicas, ou seja, não possuem mudanças específicas relacionadas à clamidiose, mas é responsável por lesões diversas no organismo. Sendo, portanto, diretamente dependente do órgão afetado e da gravidade da doença. Além disso, algumas lesões podem ser facilmente encontradas como a esplenomegalia, peritonite, enterite, aerossaculite, broncopneumonia e sinusite. (Casagrande et al., 2014; Grespan, 2006; Cavalcanti, 2008).
Em casos de necropsia, um dos órgãos que sofre alteração é o baço, pois, geralmente está dilatado e frágil e com a presença de áreas esbranquiçadas com necrose ou com petéquias superficiais, e sofre hiperplasia celular e depleção linfóide. Além disso, o fígado pode apresentar cor amarelo - esverdeado, com tamanho ampliado e friável, ou seja, se fragmenta facilmente, e com pontos necróticos superficiais, onde, geralmente se tem a necrose focal na região de corte ou em sua cápsula, tendo infiltrados periportais e mononucleares. Além disso, Os pulmões apresentam-se congestionados, e os sacos aéreos ficam densos e opacos, ou tornam-se recobertos na superfície e lúmen por um exsudato fibrino supurativo. Enquanto a cavidade celomática pode conter exsudato fibrinoso. (Grespan, 2006; Costa, 2013; Cavalcanti, 2008).
Aliás, outra alteração recorrente é a membrana do pericárdio inflamada. Ademais, algo habitual, é a serosa do trato intestinal com ocorrência de hemorragia e congestão. Podendo ocorrer também, necrose pancreática, orquite e ooforite. Nesses casos, quando acontece em machos durante o período de acasalamento, torna as aves inférteis, mas é uma situação atípica. Quando a enfermidade é classificada como aguda fatal, são poucas as alterações histopatológicas, mas é comum encontrar corpúsculos de inclusão nas membranas serosas dos órgãos afetados. Outro ponto, é quando a infecção torna-se grave, pois se tem multiplicação intra sinusoidal no fígado das células de kupffer. Sendo comum em casos de esplenomegalia a presença de uma hiperplasia renal e miocardite. (Grespan, 2006; Cavalcanti, 2008).
Ademais, em órgãos com parênquima, se tem o aumento de monócitos, além da ativação do sistema retículo endotelial. Ocorre, também, hiperplasia nas células do sistema mononuclear fagocitário, depleção linfóide e plasmocitose. Geralmente, em infecções crônicas é comum casos de hiperplasia do ducto biliar com fibrose e infiltrados mononucleares. E o fígado apresenta granulomas epitelióides, enquanto nos pulmões se tem o aumento das células epiteliais e dos capilares dos sacos aéreos. Enquanto, em infecções aguda, se tem necrose coagulativa multifocal. Durante a presença de lesões no sistema nervoso central, e recorre-se a exames histopatológicos é mostrado uma meningite não purulenta que por meio infecções secundárias como fungos ou bactérias, podem acabar alterando os danos que podem ser confundidos com alterações da infecção por clamídia. Por fim, é possível observar nos exames laboratoriais uma leucocitose em alta, anemia, leucopenia ou hematócrito normal, e a aminotransferase de aspartate, creatinofosfoquinase, desidrogenase lática, proteínas totais e ácidos biliares apresentam aumentos. Enquanto, o Ácido úrico permanece normal. (Grespan, 2006).

PREVENÇÃO E CONTROLE

Por ser uma doença de difícil diagnóstico, pois existem hospedeiros que não possuem sinais clínicos aparentes e são uma forma de disseminar a doença, existe uma certa dificuldade de aplicar medidas de controle que sejam eficazes (Bento et al.,2019; Proença et al., 2011). Alguns cuidados gerais podem ser relacionados ao transporte de aves vindas de outro local, aplicar a quarentena em aves com suspeita da doença, além de manter as medidas de biossegurança, limpeza e desinfecção, isolamento e tratamento das aves infectadas, e cuidados com o manejo nutricional e sanitário, destino das carcaças (em granjas) e dos dejetos (Costa, 2019; Araújo,2013).

SAÚDE PÚBLICA

As espécies não convencionais, como as aves silvestres, estão sendo cada vez mais requisitadas para convívio domiciliar, mas de certa maneira, torna a população humana cada vez mais expostas a doenças, sendo a clamidiose um exemplo é classificada como uma zoonose, que envolve principalmente aves. Portanto, o gênero Chlamydia é um dos responsáveis por grandes problemas na população humana, como infecções oculares, infecções genitais, cardiorrespiratórias e pneumonias, podendo levar até a encefalites. Geralmente, em humanos, o período de incubação é entre 5 a 15 dias, mas pode variar. Possuindo sintomas iniciais são calafrios, mialgia, mal-estar, arrepios, febre e cefaléia. (Bento, 2020; Piccoli, 2020).
A clamidiose ser confundida com outras enfermidades. Desta forma, torna-se difícil especificar o impacto causado pela infecção na saúde pública. Mas, em média 85% dos relatos da doença em humanos são ocasionados por contato direto com aves contaminadas. Contudo, a deficiência para a definição de um diagnóstico e na comunicação entre os órgãos responsáveis por estipular os casos da clamidiose, não se tem dados oficiais de relatos no mundo. Portanto, pode estar sendo facilmente confundida com outras enfermidades, pois possuem sintomas parecidos. Inclusive, o diagnóstico incorreto pode resultar em um tratamento ineficiente que pode levar ao óbito. Os relatos confirmados possuem 1% de mortalidade, mesmo recebendo um tratamento adequado. Enquanto 87% dos confirmados precisam ser hospitalizados. (Bento, 2020; Piccoli, 2020; Cavalcanti, 2008).

CONCLUSÃO

Em conclusão, a clamidiose aviária emerge como uma preocupação devido aos seus potenciais impactos na saúde animal e humana, ainda relativamente desconhecidos pela população em geral. A doença, causada pela bactéria Chlamydia psittaci, pode ser transmitida através do contato direto com aves infectadas, levando a problemas respiratórios e oculares em aves, e manifestando sintomas semelhantes à gripe em humanos. A falta de conscientização sobre essa enfermidade ressalta a importância da divulgação de informações educativas para mitigar riscos à saúde pública, enfatizando medidas de prevenção, higiene e cuidados veterinários adequados para garantir a saúde de aves e humanos, bem como a pesquisa contínua para aprofundar nossa compreensão dos aspectos epidemiológicos e clínicos da clamidiose aviária.
Adicionalmente, agravando esse cenário está a facilidade de adquirir aves sem procedência, muitas vezes compradas em casas de ração ou lojas de animais. A prática de expor gaiolas de aves em áreas externas, como ruas e espaços públicos, pode inadvertidamente contribuir para a disseminação da doença. Essas aves, frequentemente adquiridas sem histórico de saúde claro, podem já estar portando infecções que podem ser transmitidas para outras espécies aviárias e até mesmo para seres humanos. Essas práticas não apenas agravam a prevalência da doença, mas também destacam a necessidade de regulamentações mais rigorosas na venda e manejo de aves. Garantir a posse responsável, tomar decisões informadas e aderir a protocolos de higiene recomendados torna-se crucial para conter a transmissão e a prevalência da clamidiose aviária.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NA REVISTA EDITORA CIENTÍFICA. ISBN 978-65-5360-479-7 - Vol. 3 - Ano 2023 - ACESSO DISPONÍVEL EM: www.editoracientifica.com.br. 

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O principal agente infeccioso causador clamídia em aves é o chlamydia psittaci, sendo essa uma bactéria cocobacilar, Gram negativa intracelular obrigatória, pertencente à família chlamydieeae.

A principal porta de entrada para esse agente é a via aerógena, por meio da inalação de excretas secas contaminadas (Vasconcelos et al., 2016). Além dessa, a infecção ocorre também pela ingestão de fezes, contato direto com secreções de outras aves doentes, ou até mesmo no momento em que os pais alimentam seus filhotes no ninho (Harkinezhad et al., 2009; Vasconcelos et al., 2016). Outra forma de transmissão menos frequente é a vertical, na qual a bactéria contamina os ovos (Harkinezhad et al., 2009; Vasconcelos et al., 2016).

Geralmente as aves irão se tornar pacientes crônicos e acabarão não demonstrando sintomatologia a menos que sejam apresentados a situações imunossupressoras como nutrição inadequada, transporte prolongado e superpopulação. Diante disso, o animal poderá apresentar sinais entéricos e respiratórios, tais como: conjuntivite, descarga nasal, dificuldade respiratória, sinusite, diarreia, anorexia e perda de peso (Proença et al., 2011).

A divulgação de informações educativas enfatiza medidas de prevenção, higiene e cuidados veterinários adequados para garantir a saúde de aves e humanos.
Autores:
Jéssica Bandeira
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