Introdução
A cama de aviário, também conhecida como cama de frangos ou esterco de aviário, é o material constituído pelos dejetos, penas, restos de rações e pelo material orgânico absorvente da umidade, que é usado sobre o piso do galpão (cepilho de madeira ou maravalha, palhas, cascas). Durante o ciclo de produção, os dejetos das aves são misturados ao material usado como substrato e no final do ciclo, tem-se a cama de aviário, que pode ser reaproveitada no lote seguinte ou se tornar um resíduo (AVILA et al., 1992).
A cama do aviário tem como objetivos impedir o contato direto dos animais com o piso, promover a absorção de água e incorporar excretas e penas. O material deve auxiliar na redução das oscilações de temperatura do aviário, contribuindo para o conforto das aves e permitir que estas tenham condições de expressar seu potencial genético e seu comportamento natural. Desta forma, o material de cama deve ser escolhido criteriosamente, já que o animal permanecerá sobre ele durante todo o período de criação (BILGILI et al., 2009).
A composição final desta cama sofre variações de acordo com o material utilizado, número de aves alojadas/m², composição da dieta oferecida, idade e linhagem da criação, período do ano e número de lotes criados em uma mesma cama, quantidade do material de cobertura do piso do galpão, ventilação do galpão, nível de reutilização da cama e características das excretas das aves.
Segundo Fiorentin (2005), o manejo correto da cama é essencial para a saúde e o desempenho das aves e, também, para a qualidade final da carcaça, influenciando os lucros dos produtores e dos integradores. Portanto, todas as ações devem ser ponderadas para que haja um equilíbrio, minimizando os efeitos negativos na busca do melhor resultado possível.
Além disso, o descarte desse resíduo no ambiente, sem que o mesmo tenha passado por algum tipo de tratamento prévio, pode levar a sérios problemas de contaminação química e microbiológica do solo e da água, colocando em risco a qualidade de vida da população ao redor das unidades produtoras.
Escolha do material para a cama
A escolha e manejo adequados da cama podem reduzir a incidência de lesões em regiões como peito, articulações e coxim plantar, bem como promover melhorias no desempenho das aves. Em caso de situação inversa, onde a falta de critério com o manejo da cama pode ser observada, os resultados obtidos com a criação de frangos de corte podem ser significativamente comprometidos (BILGILI et al., 2009).
Os estudos sobre a utilização, manejo e produção de cama têm sido realizados por diversos pesquisadores no Brasil e no mundo e tem sido observado que o tipo e a qualidade do material para a preparação de cama de frango nem sempre são satisfatórios, por exigir seu transporte de outras regiões, o que provoca a elevação dos custos de produção (FREITAS et al., 2009).
O material selecionado para ser utilizado como cama deve apresentar características específicas, tais como: ter boa capacidade higroscópica, ser rico em carbono (celulose e lignina), ter partículas de tamanho médio (material picado ou triturado), ter baixa condutividade térmica, liberar facilmente para o ar a umidade absorvida, ser tratado com método físico (calor) para não servir de veículo de patógenos, ter baixo custo de aquisição e boa disponibilidade na região (DAÍ PRÁ et al., 2009).
Dentre os materiais os mais utilizados e com melhores características físicas são as maravalhas de madeira, dentre estas se encontra a maravalha de pinus, que é formada por raspas de madeira, obtida de forma industrial ou do beneficiamento de madeira na indústria de móveis, com partículas de tamanho aproximado de 3 cm. Com a escassez de maravalhas de madeira, um dos materiais de primeira escolha e que se constitui uma matéria-prima de larga utilização de preparação de cama de frangos de corte, houve a necessidade da utilização de substratos alternativos que permitam obter a mesma eficiência técnica que a maravalha de madeira. Entre esses materiais incluem-se, atualmente, casca de arroz, fenos de diversos capins, palhadas de várias culturas, polpa de citrus, areia, bagaço de cana e outros materiais (GARCIA et al., 2010).
A casca de arroz é o subproduto do beneficiamento do arroz em engenhos, com partículas de tamanho aproximado de 6 mm. A serragem é um subproduto do beneficiamento de madeira de reflorestamento, obtida do “fio da serra”, com partículas de tamanho aproximado de 2 mm (DAÍ PRÁ et al., 2009). Outros materiais também são usados dependendo da disponibilidade na região, como por exemplo, casca de amendoim, casca de café e palha picada de trigo, cevada e feijão, entre outros (JORGE et al., 1995).
Manejo da cama de frangos de corte
Independente do material de cama utilizado na criação, o manejo adequado é fundamental para o sucesso do lote. Práticas de manejo como a revirada da cama manualmente ou através de equipamentos próprios e a sobreposição de camadas de cama nova, podem ser empregadas na tentativa de amenizar problemas como o excesso de umidade e a compactação.
No entanto, tais práticas podem contribuir ainda mais com o estresse das aves, o que promoverá um significativo aumento na incidência de lesões e a consequente condenação de partes ou até de carcaças inteiras no frigorífico.
Além destas práticas, é importante observar e manter constante fatores como a umidade, temperatura, pH e espessura da cama.
Umidade da cama
Os níveis de umidade na cama devem situar-se entre 20 e 35%. Cama com índice de umidade abaixo de 20% resulta em aumento da concentração de poeira no interior da instalação, irritando o sistema respiratório das aves, predispondo ao surgimento de infecções. Por outro lado, o excesso de umidade da cama, ou seja, índice acima de 35% pode causar problemas de saúde e bem estar nas aves, aumento da incidência de lesões no peito, queimaduras na pele, pododermatites, condenações e perda da qualidade nas carcaças.
O tipo de substrato interfere diretamente no percentual de umidade da cama durante o ciclo de criação das aves. A absorção de água é variável, a maravalha de pinus, por exemplo, retêm 207 gramas de água para cada 100 gramas de material, enquanto que a casca de arroz somente 171 gramas (NORTH & BELL, 1990).
Temperatura da cama
A temperatura da cama é um fator determinante para o bom desempenho dos lotes, apesar de ser praticamente ignorado pelos técnicos e produtores. Em condições normais ela deve situar-se próxima da temperatura ambiente do aviário, para dar condições de bem estar animal e não interferir negativamente no desempenho das aves. A relação entre a temperatura da cama e a do ambiente da instalação são ferramentas para a tomada de ações para minimizar as perdas decorrentes de desvios de temperatura.
Em lotes com idades abaixo de 20 dias, mas principalmente na primeira semana, a preocupação deve ser quando as temperaturas das camas estão em um patamar inferior ao ambiente. Amplitudes acima de 7ºC entre a temperatura da cama e do ambiente afetam o ganho de peso das aves na primeira semana de vida.
Por outro lado, em lotes com idades superiores há 20 dias a preocupação deve ser direcionada para temperaturas de camas superiores as temperaturas dos ambientes das instalações. Por exemplo, quando a temperatura ambiente está em 27ºC e a temperatura da cama em 37ºC, ocorre um aumento de 10º C, sendo que esta amplitude poderá influenciar negativamente o desempenho das aves.
pH da cama
O pH é um indicador que pode ser manipulado pela adição de produtos na cama, tornando-a mais ácida a níveis inibitórios para a multiplicação bacteriana. O pH da cama pode variar de levemente ácido (6,0) a alcalino (9,0), condição que permite a multiplicação da maioria dos patógenos de interesse na avicultura, inclusive os zoonóticos (FIORENTIN, 2005). Os métodos de acidificação da cama parecem surtir bom efeito inibitório sobre bactérias indesejáveis. A redução do pH, além de reduzir a carga bacteriana da cama, reduz a volatilização da amônia, melhorando as condições ambientais do aviário, pois a volatilização da amônia ocorre em pH 7,0 ou superior (IVANOV, 2001).
Foi demonstrado que a adição de 5% de ácido cítrico reduziu o pH a 5,0, apresentando efeito também redutor na carga bacteriana na cama (IVANOV, 2001). Pope & Cherry (2000) utilizaram bissulfato de sódio na cama e observaram grande redução de bactérias totais na primeira semana após a aplicação, enquanto a redução na concentração de Escherichia coli foi detectada até duas semanas da aplicação do produto. Com a adição de bissulfato de sódio e de sulfato de alumínio em cama de maravalha, Line & Bailey (2006) demonstraram uma sensível redução no pH nas duas primeiras semanas após a aplicação, especialmente nas aplicações de bissulfato de sódio, porém, após este período os níveis tornaram a subir, tornando-se compatíveis com as formas de vida bacteriana presentes na cama.
A acidificação da cama no período entre lotes pode ser uma alternativa para a redução da carga bacteriana das camas, visto que os efeitos deste tratamento são mais expressivos na primeira semana após a aplicação, porém, a relação entre custo e benefício deve ser considerada, pois haveria aumento da mão de obra e o custo dos produtos, onerando a produção.
Espessura da cama
Camas com espessuras maiores têm sido um artifício para diminuir a incidência de pododermatites nos frangos. A partir do momento que os pés dos frangos atingiram o “status” de produto nobre na pauta das exportações da agroindústria avícola, houve um movimento no sentido de melhorar a qualidade da cama para reduzir as perdas de pés no processo. É muito comum encontrar camas com mais de 10 cm de espessura bem manejadas, que permitem um aproveitamento máximo dos pés.
O material da cama contribui para causar o aumento da incidência de pododermatites, tanto por sua qualidade como por sua quantidade. O tamanho excessivo das partículas e o empastamento da cama são decisivos para aumentar o risco de aparecimento de inflamação de contato gerando o calo no coxim plantar (BILGILI et al., 2009).
Aspectos sanitários relacionados à utilização da cama
Pátogenos aviários podem ser encontrados na cama, incluindo agentes virais, parasitas e bactérias quando da ocorrência de doenças em um lote de frangos, nestes casos, recomenda-se a substituição total da cama após vazio sanitário e desinfecção completa das instalações para o alojamento do lote seguinte. A cama descartada também deve ser tratada, preferencialmente submetida a um processo fermentativo ou compostagem, antes de ser removida do aviário, especialmente quando o destino final for o uso como fertilizantes, evitando a disseminação de patógenos no ambiente.
Cada patógeno aviário apresenta características particulares quanto à resistência as variadas condições ambientais e a sobrevivência de cada agente infeccioso na cama depende de sua natureza, bem como das condições que a cama oferece para sua sobrevivência e manutenção das características infectantes.
A cama oferece condições ao desenvolvimento de muitas bactérias indesejáveis, como por exemplo, Salmonella spp, Campylobacter sp, Escherichia coli, Clostridium perfringens e Staphylococcus aureus, (WERLE et al., 2010). O acúmulo destes patógenos na cama gera preocupações no próprio lote e, sobretudo, para a saúde dos consumidores.
Vários fatores físicos, químicos e biológicos podem influenciar a carga bacteriana das camas, atuando simultaneamente. Os fatores biológicos representados pela grande diversidade de formas de vida presentes na cama, certamente têm seu papel na dinâmica do controle microbiológico e alguns fatores físicos e químicos despenham importante papel na inativação de patógenos, tais como pH, temperatura, concentração de amônia e atividade da água e, por esta razão, sua relação com a microbiota da cama é frequentemente investigada.
Assim, os tratamentos de cama apresentam diferentes resultados sobre cada agente infeccioso e, como não são conhecidas as condições limitantes e/ou restritivas para todos os patógenos aviários que podem permanecer na cama, em situações em que ocorrem surtos de doenças em um lote de aves, a cama não deve ser reutilizada. Entretanto, a cama de lotes de aves saudáveis poderá ser reutilizada para mais lotes de frangos, sempre que precedida por algum tratamento eficiente na inativação da carga bacteriana ou redução desses patógenos a níveis compatíveis com a produção. Deve-se ter em mente que o ambiente de produção de aves é naturalmente contaminado e que as boas práticas de produção visam redução dos riscos microbiológicos a níveis compatíveis com a produção, atuando preventivamente sobre riscos potenciais.
Reutilização da cama
A reutilização da cama é uma necessidade para a sobrevivência da avicultura industrial, em função de dois aspectos fundamentais: o custo de produção e a sustentabilidade ambiental. Com a reutilização evita-se o custo de aquisição de material de cama necessário para cobrir entre 5 a 10 cm de altura em toda a extensão dos pisos dos aviários.
A troca de cama na saída de cada lote criaria um passivo ambiental muito elevado, quando toneladas deste material teriam como destino áreas de lavoura sem condições de degradar e absorver seus ingredientes, comprometendo o lençol freático e as águas superficiais da região. Além disso, grandes áreas de florestas precisariam ser cortadas para gerar cama nova para substituição. O custo para adquirir esta cama nova, presumivelmente, inviabilizaria a atividade que não teria condições de absorver novas despesas.
Para tanto, deve-se proceder com a retirada, lavagem e desinfecção de todos os equipamentos antes de recolocá-los no galpão, o qual já deverá estar devidamente limpo e desinfetado. Para tanto, procede-se a remoção das porções mais úmidas da cama, bem como crostas de cama e fezes que se formam durante o alojamento e ficam aderidas nas áreas próximas aos comedouros e bebedouros.
Após a retirada das crostas pode-se fazer uso de lança-chamas, inicialmente revolvendo a cama para trazer à superfície as penas, larvas e insetos que ficam em camadas mais profundas. Este procedimento é o inicio do processo de higienização da cama e é muitas vezes repetido no final do intervalo entre lotes, após o tratamento e antes do alojamento do lote seguinte. O lança-chamas é um equipamento que, ligado a um botijão de gás, funciona como um maçarico, sendo um equipamento de risco quando manejado de forma inadequada ou por operadores inexperientes. Embora seja uma prática bastante usada na avicultura, o uso de lança-chamas deve ser avaliado com cautela, não sendo recomendado quando os operadores não estiverem preparados para esta atividade.
Para a eliminação dos agentes causadores de doenças contagiosas é necessária a fermentação da cama por no mínimo 14 dias. A fermentação é um processo biológico de decomposição da matéria orgânica em ambiente anaeróbio. O aumento da temperatura e a diminuição do pH da cama, decorrentes da atividade microbiana, inviabilizam a sobrevivência dos principais microrganismos patogênicos. A presença de bactérias na cama de aviário é inerente à produção, não podendo ser evitada, mas minimizada pela adoção de métodos eficientes para este fim.
Quando se contrasta o perfil bacteriológico para enterobactérias entre camas novas e reutilizadas em vários lotes consecutivos, observa-se que a partir do terceiro lote, as camas apresentam carga bacteriana igual ou inferior às camas novas, desde que o tratamento dado ao material seja corretamente aplicado. Com isso, pode se concluir que a reutilização de cama de aviário, desde que submetida a tratamento eficiente para redução de riscos microbiológicos, é uma prática segura e recomendável.
Thaxton et al. (2003) não observaram nenhuma correlação significativa entre o número de reutilizações da cama, com o de bactérias aeróbias e anaeróbias presentes na cama (Tabela 1 e Figura 1). Segundo os autores uma vez que a população de bactérias é estabelecida, esta permanecerá relativamente constante ao longo do tempo, independente do número de aves que foram alojadas sobre ela. Portanto, Thaxton et al. (2003) concluem que a população microbiana não aumenta com o aumento de reutilizações da cama e defendem que não há razão microbiológica para a troca de cama após cada uso.
Tabela 1. Contagem média de bactérias versus número de lotes alojados sobre a cama AB
A Contagem expressa em Unidades Formadoras de Colônias por grama de amostra com erro padrão da média. B Coeficientes de correlação (r) de número de lotes para aeróbios (r = -0,1700, P<0,21), anaeróbios (r= -0,1977, P<0,14), Stafiloccocus (r=-0,0206, P< 0,88), fungos e leveduras (r=-0,1077, P<0,43) e coliformes (r=-0,1249, P<0,34) - Fonte: Adaptado de Thaxton et al. (2003).
*A, B denotam diferenças significativas (p<0,05) Adaptado de Thaxton et al. (2003). Fonte: Thaxton et al. (2003).
Figura 1. Contagem total de bactérias da cama vs número de lotes alojados sobre a cama.
Entretanto, camas reutilizadas geralmente apresentam maior teor de amônia e pH mais elevado, devido ao maior teor de ácido úrico que é um composto tóxico eliminado junto com as excretas em forma de uma pasta esbranquiçada. Normalmente após o quarto lote criado sobre a mesma cama, pode ocorrer redução no desempenho das aves e aumento da incidência de calos nos pés, uma vez que camas reutilizadas tendem a absorver menos umidade. A maior concentração de amônia associada à maior formação de pó que ocorre em camas utilizadas em vários lotes pode comprometer seriamente a qualidade do ambiente e ser prejudicial tanto para as aves quanto para o avicultor. A umidade da cama reutilizada também deve ser levada em consideração em sua reutilização, pois camas como alta umidade dificultam a absorção dos dejetos produzidos pelas aves, podendo comprometer o desempenho e a qualidade das mesmas.
Compostagem da cama de frangos de corte
Paralelo ao constante crescimento dos índices de produtividade das atividades avícolas, esta o crescimento da geração dos resíduos produzidos pelas criações intensivas, com isso a preocupação com o destino e aproveitamento destes resíduos deve ser intensificada. Mediante ao risco ambiental apontado pelo descarte incorreto dos resíduos e a necessidade de complementação de renda no setor a compostagem se tornou uma forma barata, eficiente e simples de disposição dos resíduos, além de contribuir para uma produção sustentável, item este cada vez mais exigido pelo mercado consumidor.
A compostagem consiste em um sistema de reciclagem dos nutrientes presentes no substrato, com decomposição acelerada da matéria orgânica em comparação com o que ocorreria no meio ambiente, favorecendo a disponibilização dos nutrientes, tornando-os mais assimiláveis pelas plantas, de acordo com o fluxograma abaixo. A decomposição melhora as condições de atividade dos microrganismos com efetivo poder na destruição de patógenos.
Processo de bio-oxidação exotérmica aeróbio
Se a compostagem for feita como o recomendado pode gerar um acréscimo de renda na propriedade além de contribuir para uma criação sustentável, pois o composto orgânico formado quando aplicado ao solo de maneira correta contribui com a fertilidade do solo, as influências benéficas sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, contribuem para o crescimento e desenvolvimento das plantas.
Para os parâmetros de fertilidade de solo, os compostos promovem benefícios ao solo, favorecendo a elevação do pH, a soma de bases (SB), a capacidade de troca catiônica (T), e a saturação por bases (V%); com redução da acidez potencial (H+Al), além do fornecimento de P, K, Ca, Mg, Cu e Zn ao sistema solo-planta. Portanto, o composto orgânico formado pelo processo de compostagem quando aplicado ao solo de maneira correta contribui com a fertilidade do solo, as influências benéficas sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, contribuem para o crescimento e desenvolvimento das plantas.
Apesar da cama de frangos ser composta principalmente pelos dejetos das aves, ricos em nutrientes não absorvidos, e quanto menor for a digestibilidade da dieta pelas as aves melhor será a composição final da cama, nunca se deve esquecer que a prioridade da criação esta em converter a dieta fornecida em rendimento das aves, tornando a compostagem apenas um método secundário de aproveitamento dos nutrientes não aproveitados pelas aves.
Em estudo com diferentes tipos de substratos para cama de frangos de corte (casca de arroz, bagaço de cana-de-açúcar, maravalha, marvalha+bagaço de cana-de-açúcar, casca de arroz+bagaço de cana-de-açúcar e napier) Orrico et al. (2014) observaram que as leiras originadas a partir do napier e cana de açúcar apresentaram as maiores médias de temperatura durante o processo de compostagem e que as maiores reduções de massa de sólidos totais e sólidos voláteis foram alcançadas em leiras formadas pelo bagaço de cana-de-açúcar (médias de 68,12 e 73,07%, para sólidos totais e sólidos voláteis, respectivamente).
Além disso, os autores encontraram que asmaiores reduções devolume ocorreram em leiras formadas com bagaço de cana-de-açúcar (52,08%), seguidas pelas constituídas de napier (50,56%). As camas de frango produzidas com casca de arroz e maravalha apresentaram 13,21 e 10,23 % de lignina respectivamente, o que contribuiu para menor degradação da fração fibrosa e de sua degradabilidade. Os substratos com os menores teores de lignina foram os que tiveram as maiores taxas de degradação das frações da matéria orgânica, além de terem sido os que mais conservaram os teores de N durante o processo. O desempenho da compostagem foi afetado pelo substrato inicial que originou a cama de frango.
Biodigestão da cama de frangos de corte
A cama de aviário está sendo produzida em grande quantidade, devido ao crescente aumento da avicultura de corte nos últimos anos. Este crescimento da produção tem como uma de suas bases a alta tecnificação dos galpões, o que significa maior dependência energética e econômica destes sistemas. A biodigestão, ou digestão anaeróbia, se mostra como uma boa alternativa, por apresentar melhores resultados com os resíduos.
As camas de frangos podem ser utilizadas para produção de biogás (LUCAS; SANTOS, 2000). O biogás é constituído por 60% CH4, 38% CO2 e 2% da mistura entre vapor de água, NH3 e H2S, sendo que estes dados podem variar dependendo do substrato utilizado na biodigestão.
Conforme relata Coldebella (2006), a utilização do biogás como insumo energético, deve-se principalmente ao gás metano (CH4), estando este último, puro e em condições normais de pressão e de temperatura, pode obter um poder calorífico de aproximadamente 9,9kWh/m³, ainda o biogás, como produto final, com um teor de metano entre 50 e 80%, terá um poder calorífico entre 4,95 e 7,92 kWh/m³.
O biogás pode ser utilizado como fonte de energia na granja para queimar em aquecedores ou combustível de motores de combustão interna para geração de energia elétrica. Os efluentes da fermentação anaeróbia e os resíduos sólidos deste processo podem ser utilizados como fertilizantes.
Existem diversos modelos de biodigestores e condições de operação (LUCAS; SANTOS, 2000). No entanto, poucos produtores utilizam digestão anaeróbia como método de tratamento de resíduos avícolas devido aos custos de instalação, dificuldades no pré-tratamento e na operação dos fermentadores (TURNELL et al., 2007). Porém, com os altos custos do gás propano e a necessidade de encontrar alternativas de energia renovável, existe interesse em retomar esta tecnologia na granja.
Os aditivos podem melhorar o aproveitamento dos alimentos e reduzir a excreção de nutrientes. Praes (2013) ao avaliar aditivos (Bacillus subtilis, Bacillus licheniformis, fitase, protease e xilanase) em dietas de frangos de corte, sobre a biodigestão anaeróbia, das camas de aviário observou que os biodigestores com o tratamento com protease, fitase, xilanase e probiótico tiveram maior produção de biogás e metano, e aumentou os potenciais de produção para sólidos totais e voláteis adicionados e reduzidos e que, a adição das enzimas testadas na dieta de frangos de corte influencia a cama, e, consequentemente, aumenta a produção de biogás.
Considerações finais
Os avicultores e as empresas integradoras devem estar sempre atentos ao mercado consumidor, adequando sua produção às exigências e adaptando-se aos métodos de controle nacionais e internacionais. As condições de sanidade e bem estar animal devem ser priorizadas, para que se tenha um produto de excelente qualidade. Dessa forma, qualquer investimento realizado para manter a qualidade ambiental gera ao produtor bons resultados.
Nesse contexto, a cama de frango exerce papel de destaque, pois está diretamente relacionada às condições de conforto e bem estar das aves e consequentemente ao desempenho e qualidade da carcaça. Para que a utilização e reutilização da cama ocorram de maneira eficaz é necessário que sejam levados em consideração, uma série de fatores, com destaque ao correto manejo.
A reutilização de cama de aviário é uma prática viável, segura e recomendável desde que seja aplicado um método eficiente para a redução de patógenos e deve ser avaliada sob o ponto de vista da sustentabilidade da produção, considerando-se os aspectos sanitários, econômicos e ambientais pertinentes a esta prática.
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