Também conhecida como gripe aviária, o vírus influenza tipo A (doença infecto-contagiosa das aves) afeta muitas espécies de aves domésticas, silvestres e, eventualmente, mamíferos. Em aves domésticas, as infecções pelo vírus da influenza aviária são classificadas, como: de baixa patogenicidade; que causam poucos ou nenhum sinal clínico e; de alta patogenicidade, que pode causar graves sinais clínicos e altas taxas de mortalidade.
Trata-se de uma doença sistêmica relacionada, basicamente, ao trato respiratório. O vírus apresenta RNA (ácido ribonucleico) envelopado e possui duas glicoproteínas: as hemaglutininas (HA) e as neuraminidase (N). Os vírus de influenza possuem duas grandes classes de antígenos: os internos e os superficiais. Os antígenos internos são, sobretudo: a nucleoproteína e a proteína M1, constituindo os antígenos solúveis, e são específicos de cada tipo de influenza (A ou B). Os antígenos superficiais são as já mencionadas: hemaglutinina e a neuraminidase. A hemaglutinina é uma proteína trimérica e, de acordo com estudos de imunodifusão, reconhece-se atualmente a existência de 16 subtipos, os quais diferem entre si na constituição aminoacídica, que se denominam de H1 a H16. O outro antígeno superficial, a neurominidase, contém, do mesmo modo, subtipos dessa proteína. Nesse caso, só se identificaram nove, os quais se denominam de N1 a N9. Apesar do vírus possuir vários subtipos, somente os subtipos H5 e H7 é que podem se tornar patogênicos, ou seja, estes vírus são introduzidos nos bandos de aves de criatórios em sua forma pouco patogênica. Quando é permitido que circulem nas populações de aves de criatórios, os vírus podem sofrer mutações, geralmente dentro de poucos meses, para a sua forma altamente patogênica.
Espécies de aves selvagens, principalmente aquáticas, como patos e marrecos, podem albergar cepas de vírus, tanto de alta como de baixa patogenicidade, sem apresentação obrigatória dos sinais clínicos. O contato entre aves domésticas e migratórias tem sido a origem de muitos surtos epidêmicos. Outras formas de introdução e disseminação devem ser consideradas, como: movimentação internacional de aves de produção e de companhia, criações consorciadas de muitas espécies em um mesmo estabelecimento e o comércio de materiais genéticos, produtos e subprodutos avícolas. Pessoas provenientes de áreas infectadas pelo vírus, por seus calçados e vestimentas, podem funcionar como vetores mecânicos.
Na avicultura industrial o vírus influenza tem causado consideráveis perdas econômicas. O Brasil é o único país dentre os maiores produtores do mundo que nunca registrou influenza aviária em seu território, mas, para isso, a biosseguridade não pode ser esquecida:
Controle de acesso: Deve-se adotar um controle rigoroso de fluxo de pessoas, veículos, e material. Na portaria deve haver um livro de registro de entrada de pessoas e veículos, no qual consta as informações sobre quem entrou na granja, o motivo da visita, de onde veio e o tempo do último contato com outro sistema produtivo ou outras aves. Na porta de acesso ao aviário devem ser colocados mecanismos que permitam a desinfecção dos calçados. Este pode ser um pedilúvio (recipiente contendo desinfetante) ou outro mecanismo que permita a desinfecção. Se necessário, poderá ser realizado troca de calçados ou colocação de propé. Todo veículo que precisar adentrar no sistema produtivo deve passar pelo sistema de desinfecção, seja arco de desinfecção, bomba de aspersão motorizada ou outro método capaz de permitir a higienização e desinfecção.
Isolamento: Os arredores do aviário deverão ser delimitados por cerca de isolamento, evitando nessa área a circulação desnecessária e não autorizada de veículos, equipamentos e pessoas. O telamento do aviário é obrigatório e consiste na colocação de telas nas portas e nas laterais do galpão; como principal objetivo: coibir o ingresso de pássaros no interior do galpão.
Manutenção, limpeza e desinfecção das instalações e equipamento: A manutenção de um ambiente limpo e organizado, dentro e fora do aviário, propicia melhores condições à saúde das aves. A limpeza de comedouros e bebedouros deve ser realizada diariamente, assim como as aves mortas, que devem ser retiradas e destinadas a algum tipo de tratamento de resíduos, como compostagem e incineração, por exemplo. Ao redor dos galpões a grama deve ser aparada, entulhos devem ser retirados e é necessário realizar um controle de pragas e insetos. O acesso de outros animais, como cachorros e gatos, deve ser restringido, pois também podem ser vetores de agentes infecciosos. Ao final de cada ciclo de produção, após a retirada dos animais, é necessário realizar todos os procedimentos de limpeza completa e higienização do aviário, equipamentos, caixa d’água e tubulações. Lembrando que a limpeza para retirada de toda a matéria orgânica do aviário deve ser muito bem feita para que a desinfecção funcione. Após a limpeza e desinfecção, o aviário deve permanecer fechado, em vazio sanitário, por pelo menos 15 dias.
Ração e água: A água destinada ao consumo das aves deve ser clorada, obtendo uma concentração residual mínima de 3 ppm. A caixa d´água deve ser limpa a cada intervalo de lote (limpar quinzenalmente os filtros do sistema). Fornecer água fresca para as aves, mantendo os reservatórios em local protegido do calor e realizar flushing da linha. Para a manutenção da qualidade nutricional e microbiológica da ração, é indispensável o armazenamento em silos próprios, fechados e protegidos da umidade e calor excessivos. Recomenda-se instalar o silo em local próximo à cerca de isolamento do núcleo, no lado interno, que permita abastecimento de ração com o caminhão do lado externo da cerca. É fundamental que o silo e todo o sistema de distribuição de ração limitem ao máximo o contato com moscas, roedores ou outras pragas, para evitar contaminações.
Controle de pragas: Controlar cascudinhos, a cada vazio sanitário, e utilizar os produtos na dosagem recomendada. Verificar e controlar moscas, principalmente na composteira. Inspecionar e registrar as informações, revisar periodicamente e manter porta-iscas limpos e abastecidos. Manter pátios e proximidades livres de materiais e objetos que possam servir de abrigo a roedores.
A influenza aviária continua preocupando empresários, autoridades de saúde, governos e a população. O esforço de todos é importante para manter o país livre da doença. A entrada do vírus no Brasil seria um desastre para a nossa avicultura, que demoraria anos para erradicar a enfermidade e voltar a ser um player importante no cenário internacional.
Faça sua parte! Reforce a biosseguridade da sua granja.
*Publicado originalmente pelo Blog Agroceres