Introdução
Em nosso país, o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) conta, há décadas, com uma estrutura de produção de aves produtoras de carne oriundas do cruzamento de diferentes raças de tipo pesado. O produto obtido denomina-se frango "Campero-INTA" e caracteriza-se por apresentar melhores índices de produção que as raças crioulas, mas mantêm a rusticidade e adaptabilidade ao meio, típica das raças mencionadas (Bonino & Canet, 1999).
As variações genéticas existentes entre linhagens pesadas produtoras de frangos para grelhados comerciais poderiam ser igualmente marcadas, no caso das linhas Campero INTA, em função dos distintos processos de seleção genética a que foram submetidas (Melnychuk et al., 2004), por este motivo sua avaliação técnico-produtiva encontra-se justificada. Na realidade, este tipo de trabalhos constitui um amplo campo de pesquisa (Finzi, 2000). No presente trabalho, avalia-se o comportamento produtivo da progênie de duas linhas genéticas de poedeiras pesadas Campero INTA, tendo como objetivo avaliar, através da evolução de sua progênie, as diferenças existentes entre as aves que lhe deram origem.
Embora na produção de frangos para carne influam diversos fatores que explicam seu rendimento produtivo (alimentação, sanidade, manejo, condições ambientais, etc.), deve-se ressaltar a participação das matrizes sobre a performance da progênie, já que distintos esquemas de seleção genética se manifestam em aspectos como o peso corporal do pinto ao nascer e a viabilidade dos mesmos (Arce Menocal et al., 2003).
Materiais & Métodos
Os ensaios experimentais foram num galpão fechado, cujo interior foi dividido em 10 boxes de 2 m2 de superfície, que alojaram 20 frangos cada um (10 aves por m2). Foi analisado o comportamento produtivo da progênie oriunda de duas linhas maternas (variável independente), denominadas E e ES, utilizando um mesmo tipo genético de macho Campero INTA. Foi aplicado um desenho completamente aleatório, destinando 5 boxes a cada grupo experimental (5 réplicas) por tratamento.
Dos nascimentos produzidos na semana 31 do ciclo de produção dos reprodutores, se levou a cabo uma comparação da evolução produtiva desde o dia 1 até o dia 42. O peso corporal (PC) foi registrado nos dias 1, 7 e 42, enquanto que o consumo de alimento (CON) e a conversão alimentar (CA), corrigidos levando em conta a mortalidade, foram registrados entre os dias 1, 7 e 42.
A ração balanceada de tipo comercial foi administrada em duas rações (iniciador e recria) ad libitum, ao longo do ciclo de produção. Foi feita uma estatística descritiva paramétrica a cada uma das variáveis dependentes, ordenadas segundo tratamentos e se aplicou uma análise da variância (ANOVA), para um desenho completamente aleatório, avaliando as diferenças entre tratamentos das variáveis dependentes, considerando como limite um nível de significância de 5% (Poole, 1974; Steel & Torrie, 1988).
Resultados & Discussão
As médias e o desvio padrão de PC, no início e no final do período de ensaio, aparecem na Tabela 1, em que se destacam as diferenças significativas (p<0,05) encontradas para esta variável, aos 42 dias, a favor dos frangos provenientes da linha T.
Tabela 1. Médias e desvio padrão de peso corporal da progênie, segundo linha e idade
Médias com uma letra comum não são significativamente diferentes (p< 0,05).
Médias com uma letra comum não são significativamente diferentes (p< 0,05). São consideradas na análise as colunas que comparam os tratamentos e não as filas que o fazem segundo idades.
Na Tabela 2, observam-se os resultados de consumo de ração segundo linhas, destacando que a progênie da linha ES apresentou diferenças significativas aos 42 dias do ciclo (p<0,05).
Tabela 2. Média e desvio padrão de consumo da progênie, segundo linha e idade.
Médias com uma letra comum não são significativamente diferentes (p< 0,05).
Finalmente, a conversão alimentar aos 42 dias não apresentou diferenças entre origem de linha genética. Estes resultados aparecem na Tabela 3.
Tabela 3. Média e desvio padrão de conversão alimentar
da progênie, segundo linha e idade.
Médias com uma letra comum não são significativamente diferentes (p< 0,05).
Alguns autores (North, 1993; Gura, 2007) consideram que ainda existe suficiente variabilidade nas linhagens genéticas de aves para carne. Em geral, nossos resultados ratificam o que foi dito por estes autores já que foi possível observar variações significativas em peso e consumo de ração no final do ciclo relacionado com a linha materna, embora a conversão alimentar não tenha revelado diferenças significativas. Em coincidência com nossos achados, em trabalhos realizados na Universidade de Alberta foi feita uma comparação entre o ganho de peso em frangos de 4 linhagens diferentes (Cobb 500, Avian 24K, Hubbard HiY e Shaver Starbro), encontrando-se diferenças de peso corporal nas progênies das linhagens em um dia de vida e até a quarta semana; no entanto, daí até o final do ciclo (dia 42), estas diferenças não se manifestaram mais (Thorsteinson, 1999), o que implica que existem diferenças na velocidade de crescimento relacionadas com a melhora genética a que foram submetidas as distintas linhagens. Não obstante, em discrepância com nossos achados, Arce Menocal et al. (2003) destacam que as progênies de diferentes linhagens possuem taxas de crescimento próprias, atribuíveis exclusivamente ao aspecto genético. Estes autores utilizaram 2.800 pintos de um dia, com um ciclo de produção de 53 dias para um desenho aleatório, em que foram comparadas duas linhas genéticas, aplicando o mesmo programa de criação, tomando como variáveis a resposta ao peso corporal, o consumo e a conversão alimentar, sem diferenças entre as progênies, concluindo que as mesmas são pouco influenciadas pelo tipo genético, considerando a homogeneidade alcançada na melhora genética das linhagens pesadas da indústria avícola.
Apesar de que a longitude do ciclo, analisada por nós, não permitiu superar os 1.200g de PC, os resultados obtidos na conversão alimentar coincidem com os de outros autores, que afirmam que as aves de crescimento lento podem obter valores de peso corporal relativamente altos, embora quando se superam 2.500g de peso vivo, o consumo de ração adicional eleva de forma muito evidente a conversão alimentar, provocando geralmente uma baixa eficiência de conversão (Santomá, 1994). Contudo, deve-se levar em conta que existem outras variáveis que, em alguns casos, permitem justificar níveis de consumo e peso superiores, como por exemplo quando se prioriza a obtenção de um produto regional, com alto valor agregado, dadas suas características organolépticas (entre outros aspectos da qualidade da carne). Devem ser considerados como variáveis de contexto e de importância: o sistema de criação utilizado, as características da demanda do mercado consumidor e a possibilidade de trabalhar com ciclos de produção prolongados (North, 1993; García Marín, 2005). A qualidade do produto obtido (aves com menor porcentagem de água e mais magras) é associada a determinados tipos genéticos de aves (em geral, de crescimento lento), criadas em sistemas de semiliberdade (Silva & Menten, 2002; Hellmeister Filho, 2002; Castelló, 2003; Panno et al., 2004). A partir dos fundamentos expressos, alguns autores (Buxade Carbo, 1988; Almeida & Zuber, 2002) consideram que a análise da eficiência da produção física não deve estar exclusivamente sujeita a alcançar um valor determinado de conversão (muito embora, isso, a princípio, seja desejável), e sim a considerar na análise todas as variáveis que determinam finalmente a melhor relação custo/benefício.
Conclusões
Com base nos resultados obtidos, considera-se que os cruzamentos que originam o frango Campero apresentam diferenças no peso corporal, embora seu grau de eficiência em termos de conversão alimentar é semelhante. Além disso, e dado que ao produto obtido são atribuídas características que o diferenciam da carne de frango produzida na indústria avícola, existe a potencialidade de atingir adequadas relações custo/benefício, sempre que alguns aspectos, que permitam conseguir quantidade e escala suficiente para atender um mercado consumidor específico, sejam dinâmicos.
Agradecimentos
Agradecemos a Orlando Zlatanoff, Diego Franta e José Maldonado pelo apoio dado à realização do presente trabalho.
Bibliografia
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