Introdução
As raças de aves assimiladas (Rhode Island, Plymouth Rock, New Hampshire, etc.) são utilizadas em programas de melhoramento genético para a produção de linhagens adaptadas às condições técno-produtivas e culturais das zonas rurais em distintos países (Bonino & Canet, 1999). Elas possuem melhores índices de produção do que as crioulas, mas ostentam a rusticidade e adaptabilidade ao meio das anteriores (Finzi, 2000).
O ciclo de produção neste âmbito avícola divide-se convencionalmente em fases de cria, recria, pré-reprodução e reprodução (Bonino & Canet, 1999). As duas primeiras marcam o futuro dos reprodutores já que delas depende o alcance do número máximo de pintos por galinha alojada. Durante o pico de postura, o padrão reprodutivo já foi moldado e é pouco o que se pode fazer daqui em frente para influenciar no rendimento do lote (Robinson & Renema, 2003). Embora, em geral, os processos fisiológicos envolvidos na função reprodutiva sejam os mesmos, existem variações relacionadas com a raça ou linhagem genética considerada motivo pelo qual, no presente trabalho, são avaliadas as fases de crescimento de duas linhas maternas de aves destinadas à produção do frango Campero INTA.
Materiais & Métodos
O estudo se levou a cabo no Centro de Multiplicación de Aves de la Estación Experimental Agropecuaria del INTA Corrientes, localizado na Ruta Nacional Nº 12, km 1008, El Sombrero - Corrientes, Argentina. Foi analisado o comportamento de duas linhas genéticas (E e T) de fêmeas destinadas à produção de frangos Campero-INTA, num desenho experimental completamente aleatório.
A cria (0 a 6 semanas) se realizou num galpão fechado com janelas e piso de cimento liso, no qual foram construídas divisões para alojar as aves do ensaio (boxes de 4 m de fundo x 3m de largura. No final da sexta semana, as frangas foram transladadas a um galpão de recria de tipo semi-aberto, dividido em 6 currais (3 por cada linha genética). Nas primeiras quatro semanas de vida, a alimentação foi controlada com quantidades estabelecidas de acordo com um protocolo elaborado sobre a base de trabalhos prévios (Terraes et al., 2010), com um sistema de distribuição diária de ração. Entre 5 e 19 semanas, o programa de alimentação para ambas as linhas genéticas foi baseado na atribuição de nutrientes com base numa curva de provisão de ração, que estipula quantidades diárias de administração por semana, obtida de estudos prévios realizados com matrizes Campero-INTA (Terraes et al., 2010). Logo após, foi implementado um programa de alimentação em dias alternados (5/2).
A 21 semanas, foi determinado o peso corporal, uniformidade e longitude do tarso-metatarso, sobre uma amostra representativa de frangas, apresentando os resultados como média e desvio padrão, e levando a cabo ANOVA para detectar diferenças estatísticas significativas entre as variáveis respostas.
Resultados & Discussão
As médias de peso no final da recria (21 semanas) aparecem na Tabela 1, na qual se observam diferenças significativas a favor da linha T (p<0,05)
Tabela 1. Média de peso corporal e desvio padrão das frangas no final da recria
Letras distintas indicam diferenças estatísticas significativas (p<0,05).
Assim como sugerem Bruggeman et al. (2005), este resultado poderia ser atribuído a um crescimento compensatório que acontece em aves submetidas a fortes restrições alimentares entre as 7 e 15 semanas e que, em nosso ensaio se revelará de maneira diferente com relação à linha genética. Este achado na linha T é ressaltado aqui porque constitui uma evidência com valor de predição quanto ao rendimento reprodutivo futuro da linha, pelo menos no marco das condições em que foi conduzido o presente trabalho, levando em conta que o peso corporal correlaciona de maneira negativa com o rendimento produtivo, fato que foi relatado por outros autores (Leeson & Summers, 2000; Kerr et al., 2001).
Na tabela 2 aparecem as porcentagens de uniformidade das frangas, segundo linha genética na idade de 20 semanas. Estas diferenças não foram significativas estatisticamente (p>0,05).
Tabela 2. Porcentagem de uniformidade média em 20 semanas
Letras distintas indicam diferenças estatísticas significativas (p<0,05).
A menor tendência à uniformidade das linhas mais pesadas, observada em nosso ensaio, coincidem com o que foi relatado por Hudson et al. (2001), que detectaram que, em reprodutores F1 de linhas produtoras de frangos para grelhados, a 21 semanas as aves mais pesadas foram significativamente menos uniformes (p<0,05) que as mais leves, com médias de 90% e 77%, respectivamente.
As porcentagens de uniformidade encontradas no presente ensaio, estão somente um pouco abaixo dos considerados ótimo por Hudson et al., (2001), apesar de que ambas as linhas receberam, em relação a seu peso, atribuições diferentes de ração, a partir das 20 semanas, expressas como porcentagem de PC, já que a quantidade oferecida de ração, nesta etapa do ciclo, manteve-se constante para ambas as linhagens. Assim, e em coincidência com o que foi mencionado por Leeson & Summers (2000), é provável que a porcentagem de uniformidade significativamente maior, observada nas aves da linha E, em 20 semanas, possa ter sido porque elas receberam uma maior proporção de ração, a respeito de seu peso corporal, em relação à T (5,30 e 5,00%, respectivamente).
O comprimento do tarso-metatarso a 20 semanas, segundo a linha genética, aparece na tabela 3, em que se pode observar que, embora as diferenças favoreceram as frangas mais leves (linha E), os valores não chegaram a ser significativos.
Tabela 3. Comprimento do tarso-metatarso (mm), segundo linha genética em 20 semanas
Letras distintas indicam diferenças estatísticas significativas (p<0,05).
Considera-se que os diferentes programas de melhora genética em aves produtoras de carne têm modificado o desenvolvimento de vários tecidos corporais, entre eles o esquelético. Assim, aves mais pesadas, e com maior taxa de crescimento, em geral manifestam uma maior longitude do tarso, o que indica um maior peso de seu estrutura esquelética (Moreki, 2005). Em geral, se reconhece uma relação positiva entre tamanho do tarso e esqueleto e, inclusive, alguns autores o fazem entre esqueleto e PC (Almeida Paz et al., 2006). No entanto, aceita-se também que a melhora genética em matrizes pesadas, com base na deposição de músculos e no maior crescimento corporal, resultou num desequilíbrio entre o desenvolvimento de vários sistemas, incluindo a estrutura esquelética (Williams et al., 2000). Wilson et al. (1995), consideram que a longitude do tarso é um indicador do desenvolvimento esquelético. Estes autores (em coincidência com o que foi registrado em nosso ensaio) não acharam diferenças significativas entre os distintos programas de alimentação, o peso corporal e sua resposta em longitude de tarso.
Conclusões
A partir dos resultados parciais obtidos aqui, pode-se concluir que - apesar de no ensaio terem sido fixadas condições similares para ambas as linhas durante a etapa de crescimento, as aves expressaram diferenças em algumas das variáveis analisadas, particularmente no que se refere ao peso corporal no final da fase de recria e no início da fotoestimulação. Devido a potência das inferências alcançadas no presente ensaio, não deveríamos descartar, para este tipo de material genético, a consistência na relação entre o menor peso corporal das aves e a maior uniformidade que se constata em outras linhas de aves de tipo pesadas. De maneira semelhante, e de constatar-se, em futuros estudos morfométricos, uma maior longitude do tarso-metatarso nas aves mais leves, isto poderia constituir evidências fenotípicas provenientes das raças que participaram da formação deste tipo de aves.
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