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Jejum pós-eclosão bronquite galinhas

Influência do jejum pós-eclosão sobre a resposta imune humoral a primo-vacinação contra a bronquite infecciosa das galinhas

Publicado: 20 de outubro de 2011
Por: Miguel Frederico Fernandez Alarcon 1*, MG Souza1, LFA Souza1, WCL Nogueira1, CS Fernandes2, HJ Montassier2, M Macari1, RL Furlan1 - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticaba, SP, Brasil, 1Departamento de Fisiologia e Morfologia Animal; 2Departamento de Microbiologia Agropecuária.
Sumário

O presente trabalho foi desenvolvido em matrizes de frangos de corte com o objetivo de avaliar o efeito do jejum hídrico-alimentar pós-eclosão (0, 12, 24, 48 ou 72 h) sobre a resposta humoral a primo-vacinação contra o vírus da bronquite infecciosa das galinhas (VBIG) nos compartimentos local (secreção lacrimal) e sistêmico (soro). Foram utilizadas 360 matrizes de corte que eclodiram em um intervalo pré-estabelecido de 8 h. As aves foram alojadas em câmaras climáticas e distribuídas em delineamento inteiramente casualizado (DIC) com cinco tratamentos (0, 12, 24, 48, ou 72 horas de jejum), com 4 repetições de 18 aves cada. As aves foram vacinadas, com 1 dia de idade, via óculo-nasal (1 gota/via), com vacina “viva” atenuada contendo a amostra H120 do VBIG. Após o término do período de jejum empregado em cada tratamento, as aves foram alimentadas ad libitum. Aos 3, 5, 7, 14 e 21 dias, foram obtidas amostras de soro e de secreção lacrimal para a mensuração de anticorpos do isotipo IgG contra o VBIG, através do método Sandwich-ELISA-Concanavalina A. Períodos de jejum hídrico-alimentares pós-eclosão de até 72 horas não interferem na maioria dos intervalos das respostas imunes humorais sistêmicas em matrizes de corte vacinadas ao nascimento contra o VBIG, havendo, entretanto, uma influência positiva dos períodos de 48 e 72 horas de jejum sobre o nível de anticorpos produzidos no compartimento das mucosas, nos intervalos de 5 e 21 dias pós-vacinação.
Palavras Chave: Matrizes de corte, Jejum pós-eclosão, Bronquite infecciosa das galinhas, Imunidade materna, Vacina.

Introdução
A bronquite infecciosa das galinhas (BIG) tem causado grandes perdas econômicas à atividade avícola nas últimas décadas. Sua principal medida profilática baseia-se na utilização de vacinas vivas atenuadas combinadas ou não com vacinas inativadas (Cavanagh & Naqi, 1997). A vacinação dos lotes contra o vírus da bronquite infecciosa das galinhas (VBIG) é mais frequentemente realizada no primeiro dia de vida das aves (Mondal & Naqi, 2001) e tem por finalidade a obtenção de estado adequado de imune-proteção, que via de regra é associado aos níveis de anticorpos sistêmicos ou locais. Entretanto, sabe-se que na avicultura atual, as aves podem ser submetidas a longos períodos de jejum pós-eclosão, o que pode interferir em sua resposta vacinal. Neste contexto, foi demonstrado que aves alimentadas com dieta deficiente apresentam um comprometimento da resposta imune humoral (Glick et al., 1981). Ademais, o jejum prolongado eleva os níveis plasmáticos de corticosterona, que por sua vez altera a contagem e atividade funcional de leucócitos, incluindo os linfócitos T e B, o que pode prejudicar as respostas imunes das aves (Kubikova et al., 2001). Em contrapartida, foi observado que períodos mais reduzidos de jejum, de até 24 horas, podem favorecer, tanto a resposta imune celular, como a humoral (Klasing, 1988). Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes períodos do jejum hídrico-alimentar pós-eclosão (0, 12, 24, 48 ou 72 h) sobre a resposta humoral a primo-vacinação contra o vírus da bronquite infecciosa das galinhas (VBIG) nos compartimentos local (secreção lacrimal) e sistêmico (soro).
Materiais & métodos
As aves utilizadas neste estudo originaram-se de um lote comercial de avós da linhagem Cobb 500 Slow® com 37 semanas de vida. O lote em questão foi submetido a um amplo programa vacinal, destacando-se para a presente pesquisa, a imunização contra a BIG. As avós foram vacinadas com vacina viva atenuada que continha a cepa ma5 do VBIG, nos dias 1, 21, 42, 70 de vida, sendo que a primeira dose foi administrada por instilação ocular e as demais via spray. Além disso, com 20 semanas de vida, as aves foram vacinadas pela via intramuscular, com vacina inativada que continha as cepas ma5 e a variante ma 274. Finalmente, a partir da 23ª semana de vida, as aves foram vacinadas contra a BIG. Os ovos originados deste lote de avós foram incubados de acordo com os procedimentos de rotina do incubatório da empresa comercial. Ao final do processo de incubação, 360 matrizes que eclodiram em um intervalo máximo de 8 h, foram utilizadas para o experimento. As aves foram alojadas em uma câmara climática e distribuídas em DIC (delineamento inteiramente casualizado) com cinco tratamentos (0, 12, 24, 48, ou 72 horas de jejum), com 4 repetições de 18 aves cada. Após o alojamento, as aves foram vacinadas, via óculo-nasal (1 gota/via), com vacina "viva" liofilizada contendo a amostra purificada H120 do VBIG. Ao término do período de jejum empregado em cada tratamento, as aves foram alimentadas ad libitum com ração à base de milho e farelo de soja, atendendo as exigências nutricionais do NRC (1994). Aos 3, 5, 7, 14 e 21 dias foram obtidas amostras de soro e de secreção lacrimal de uma ave por unidade experimental para a mensuração de anticorpos do isotipo IgG contra o VBIG, através do método Sandwich-ELISA-Concanavalina A (Bronzoni et al., 2005).O título de anticorpos do isotipo IgG foi expresso pelo valor da relação amostra teste:amostra de referência positiva (A/P) (Bronzoni et al., 2005). Os dados foram submetidos à análise de variância através do procedimento GLM do programa SAS® (2002) e em caso de diferença significativa (P<0,05), as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados & discussão
O jejum exerceu influência (p<0,05) sobre o título médio de anticorpos aos 5 dias na secreção lacrimal, e aos 14 dias no soro, todavia, a soroconversão em resposta ao estímulo vacinal ocorreu apenas no compartimento local, aos 21 dias (Gráficos 1 e 2). No primeiro intervalo, as aves submetidas ao jejum de 72 horas apresentaram uma resposta imune humoral mais precoce e de maior magnitude do que as aves dos demais tratamentos, enquanto que aos 21 dias pós-vacinação as aves submetidas a 48 horas de jejum alcançaram maiores níveis de anticorpos do isotipo IgG na secreção lacrimal do que as alimentadas ao alojamento ou após 72 horas de jejum. Estes resultados indicam que houve um efeito imunomodulador positivo do jejum de 48 e de 72 horas sobre as respostas imunes humorais do compartimento das mucosas que compõem o trato respiratório superior e anexos, especialmente mucosa ocular, nasal e traqueal, as quais se constituem na principal porta de entrada do VBIG (Cavanagh, 2007). No tocante à ação imunomoduladora do jejum, já havia sido verificado o efeito benéfico de curtos períodos de jejum (12 e 24 horas) sobre a resposta imune celular e humoral por Klasing (1988), contudo os dados levantados por esse autor referem-se apenas às alterações induzidas pelo jejum no compartimento sistêmico e não às respostas imunes junto às mucosas, tal como foi aqui encontrado. Ademais, a divergência existente entre os trabalhos quanto ao sítio da resposta, possivelmente, relaciona-se com a presença de anticorpos maternos, visto que no atual estudo foram utilizadas matrizes de corte originárias de um plantel de avós que recebeu repetidas doses vacinais contra o VBIG, o que acarreta uma maior transferência de anticorpos maternos para a progênie. Nesse caso, deve ser considerado que os anticorpos maternos interferem na resposta imune ativa pós-vacinal. De fato, Gelb et al. (1998), ao mensurar anticorpos totais anti-VBIG, encontraram respostas vacinais mais precoces e de maior magnitude na secreção lacrimal e no soro sanguíneo de aves SPF comparativamente a aves comerciais portadoras de anticorpos maternos.
Gráfico 1. Cinética da resposta imune humoral contra a BIG, no soro de matrizes de corte vacinadas e submetidas a diferentes períodos de jejum pós-eclosão.
Influência do jejum pós-eclosão sobre a resposta imune humoral a primo-vacinação contra a bronquite infecciosa das galinhas - Image 1
 a, b Letras diferentes, dentro de cada idade, revelam diferença estatística pelo Teste de Tukey (5%).
Gráfico 2. Cinética da resposta imune humoral contra a BIG, na secreção lacrimal de matrizes de corte vacinadas e submetidas a diferentes períodos de jejum pós-eclosão.
Influência do jejum pós-eclosão sobre a resposta imune humoral a primo-vacinação contra a bronquite infecciosa das galinhas - Image 2
a, b Letras diferentes, dentro de cada idade, revelam diferença estatística pelo Teste de Tukey (5%).
Por outro lado, ao final do experimento, a resposta imune vacinal no compartimento local das aves mantidas em jejum por 72 horas não diferiu das alimentadas ao alojamento, mostrando que este período de jejum não foi suficiente para comprometer a resposta imune das aves. Estes achados diferem de Holt (1992), os quais verificaram que após 5 dias de jejum houve queda dos títulos de anticorpos contra a Brucella abortus em aves de postura previamente imunizadas com esse antígeno. Essa diferença pode ser atribuída à maior severidade do jejum que foi adotada naquele estudo. Assim, a interface jejum pós-eclosão e resposta imune contra o VBIG deve ser mais investigada, a fim de que sejam adotadas medidas mais efetivas para otimizar os resultados dos esquemas imunoprofiláticos usados contra a BIG.
Conclusões
Períodos de até 72 horas pós-eclosão não interferem na maioria dos intervalos das respostas imunes humorais sistêmicas em aves de corte comerciais vacinadas ao nascimento contra o VBIG, havendo, entretanto, uma influência positiva dos períodos de 48 e 72 horas de jejum sobre o nível de anticorpos produzidos no compartimento das mucosas, nos intervalos de 5 e 21 dias pós-vacinação.
Bibliografia
Bronzoni RVM, Montassier FMS, Pereira GT, Gama NMSQ, Sakai V, Montassier HJ. 2005. Detection of Infectius Bronchitis Virus and Specific Anti-Viral Antibodies using a concanavalin A-Sandwich-ELISA. Viral Immunol. 18:569-578.
Cavanagh D. 2007. Coronavirus avian infectious bronchitis vírus. Vet. Res. 38:281-297.
Cavanagh D & Naqi S. 1997. Infectious bronchitis. pp. 511-526. In: Diseases of poultry. Calnek BW, Barnes HJ, Beard CW, Ames: Iowa State University Press.
Gelb JJr, Nix WA, Gellman SD. 1998. Infectious bronchitis virus antibodies in tears and their relationship to immunity. Avian Dis. 42:364-374.
Glick B, Day EJ, Thompson D. 1981. Calorie-deficiences and the immune response of the chicken. I. Humoral immunity. Poult. Sci. 60:2494-2500.
Holt OS. 1992. Effects of induced molting on immune responses of hens. Brit. Poult. Sci. 33:165-175.
Klasing KC. 1988. Influence of acute feed deprivation or excess feed intake on immunocompetence of broiler chicks. Poult. Sci. 67:626-634.
Kubikova L, Vyboh P, Koxtal L. 2001. Behavioural, endocrine and metabolic effects of food restriction in broiler breeder hens. Acta Vet. Brun. 70:247-257.
Mondal SP & Naqi SA. 2001. Maternal antibody to infectious bronchitis virus: its role in protection against infection and development of active immunity to vaccine. Vet. Immunol. immunopathol. 79:31-40.
National Research Council. 1994. Nutrient requirement of poultry. 9.ed. Washington: University press.
SAS Institute. 2002. SAS® user´s guide: statistics. Cary: SAS Institute INC., Cary.
Autores:
Miguel Frederico Fernandez Alarcon
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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