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Dermatite gangrenosa frango de corte

Dermatite gangrenosa em frango de corte: Fora para dentro ou dentro para fora?

Publicado: 7 de julho de 2009
Por: Joan Torrent, PhD (Oligo Basics USA LLC) e Evilásio Pontes de Melo, MSc (Gerente de Mercados - Oligo Basics)
Os casos de dermatite gangrenosa têm aumentado consideravelmente nos últimos anos. As aves com dermatite apresentam áreas escuras ou úmidas onde os músculos abaixo são expostos. Normalmente o peito, asas e abdomen estão afetados. Fluidos tingidos de sangue podem também ser achados sob a pele, esses fluidos geralmente têm consistência gelatinosa. O
fígado e baço podem estar inflamados e escuros com manchas ou pústulas.

Porém, como a enfermidade pode ser aguda, as aves são muitas vezes achadas mortas. Uma distinção que precisa ser feita é entre a dermatite produzida por clostrídeo e a produzida por Escherichia coli. A dermatite coliforme é um processo inflamatório, raramente fatal e causa mais problemas de morbilidade que de mortalidade. A lesão apresenta-se normalmente como um sólido fibrinoso ou caseoso entre o músculo e a pele, excepcionalmente afetando o músculo, com freqüência associada a arranhões ou outras lesões da pele.

Quando a dermatite é produzida por clostrídeos, as aves são normalmente afetadas após os 30 dias de idade e as perdas econômicas podem ser muito grandes. Num estudo de um grande integrador americano a dermatite gangrenosa aumentou em 0.25% a mortalidade e diminuiu 22% o rendimento de peito. Em outras empresas as mortalidades chegam a 4% ou até mais.

Durante muito tempo se pensou que a dermatite gangrenosa começava com um arranhão que se infectava com a bactéria, que
rapidamente proliferava quando as aves também estavam imunodeprimidas devido a doenças como Gumboro. O tratamento que se acreditava ser melhor era o controle de fatores imunodepressores como a doença de Gumboro, micotoxinas ou manejos adequados de luz para manter as aves calmas e evitar os arranhões. Porém o controle destes fatores não tem resolvido o
problema e diferentes experimentos têm provado que a doença pode começar não através de um arranhão na pele, mas por um "arranhão" no intestino. Tanto a injeção intravenosa de misturas de C. perfringens e C. septicum como a inoculação destas bactérias via oral reproduziram a doença no laboratório, o que confirma a hipótese de doença "dentro para fora".

Integridade intestinal
Os agentes causais de dermatite gangrenosa são normalmente bactérias gram positivas, normalmente Clostridium septicum, Clostridium perfringens, Staphylococcus aureus, ou associações entre estas bactérias.

Tanto C. perfringens como C. septicum produzem e secretam toxinas α que são essenciais para sua virulência. As condições para a produção de toxina α pelo C. perfringens incluem o rápido crescimento vegetativo na presença de peptídeos ou aminoácidos, em particular arginina e glicina e pH neutro (7.4- 7.6). O Zn livre é essencial para a estabilidade da toxina α que é secretada pelo microorganismo. O C. perfringens intestinal, especialmente quando associado à enterite, pode também causar enterite necrótica. Esta por vezes, vem associada a falhas no programa anticoccidiano. Também, como no caso de dermatite gangrenosa, a enterite necrótica está associada à toxina bacteriana e sua habilidade de hidrolisar as membranas celulares.

Portanto, os modelos de enterite necrótica podem fornecer informação que vai se aplicar à dermatite gangrenosa. O simples fato de diminuir a quantidade de C. perfringens ou C. septicum no intestino vai diminuir as chances destes microorganismos se translocarem, isto é passarem do intestino à corrente sangüínea, e causarem a doença.

Diferentes estratégias no manejo podem ser tomadas para diminuir o desafio das aves a C. perfringens e C. septicum:

1. Recolhimento das aves mortas. Aves mortas por dermatite gangrenosa são reservatórios das bactérias e contaminam outras. Devem-se realizar programas para que as aves mortas por dermatite gangrenosa sejam retiradas do aviário várias vezes durante o dia para evitar a contaminação de aves sadias.

2. Medidas que assegurem a integridade intestinal. Para isso é essencial que o programa anticoccidiano esteja funcionando corretamente. Não deixa de ser uma indicação da relação entre coccidiose e dermatite gangrenosa, o fato da dermatite aparecer normalmente nos dias finais do ciclo de engorda, justo antes do abate. Nestes dias, a maioria das rações não contém nem melhoradores de desempenho nem produtos anticoccidiano devido à necessária retirada dos antibióticos nas rações pré abate.
Porém, podem-se tomar uma série de medidas para manter a integridade intestinal e prevenir o desenvolvimento dos clostrídeos:

a). Fornecimento do Zn em forma orgânica e diminuir ou eliminar o Zn inorgânico do premix. A presença de Zn livre pode aumentar quando suplementado sais inorgânicos de Zn. As formas de Zn quelatado são mais estáveis no ambiente intestinal e têm menos probabilidade de ionizar-se o lúmen. Quando a toxina α é secretada em um ambiente livre de Zn é degradada quase imediatamente e não produz dano no epitélio.

b). Uso de acidificantes. Os clostrídeos não se desenvolvem a pHs baixos e o uso de acidificantes tem se mostrado efetivo para diminuir as lesões provocadas pelos clostrídeos.

c). Uso de óleos funcionais. Estes podem ser definidos como aqueles óleos que apresentam atividades no organismo além
do simples fornecimento de energia. Alguns óleos funcionais têm efeito direto tanto contra a coccidiose como a clostridiose.
Testes realizados em várias universidades brasileiras têm mostrado que alguns óleos funcionais diminuíram as lesões
intestinais produzidas pela coccidiose tão eficientemente quanto os ionóforos.

Conclusão
A dermatite gangrenosa é um processo de "dentro para fora", isso significa que devemos manter a integridade intestinal para evitar a doença. O recolhimento dos animais mortos por dermatite gangrenosa, assim como o controle da coccidiose são essenciais para a redução destes problemas. O uso de Zn orgânico, acidificantes e óleos funcionais são medidas que ajudam a manter a integridade do intestino e ajudam na prevenção do aparecimento da doença.
*O trabalho foi originalmente publicado na revista AveWorld, edição Abril/Maio 2009.
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Autores:
Joan Torrent
Oligo Basics
Evilásio Pontes de Melo
Oligo Basics
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Romão Miranda Vidal
29 de septiembre de 2009

Srs.

De fato o assunto ainda requer maiores investigações, uma vez que a Dermatite Gangrenosa,  causa danos consideráveis, não só para o avicultor como um todo, mas para a indústria.
Acredito ainda que estamos muito longe de encontrarmos a solução.
Se bem que com os avanços da biotecnologia, poderemos encontrar a solução, embora cara e demorada, mas acredito que esta seria uma das vias a serem usadas.
Arrisco ainda a fazer a seguinte colocação e indagação:

- Uma vez que temos um quadro intestinal, onde o clostridium se faz presente causando as mortalidades expressas no artigo, não seria o caso de se pesquisar com mais afinco uma dieta livre de gluten?

- Acredito que a doença celíaca, poderia ser um dos elementos a serem pesquisados.

- Outro fator que chama a atenção refere-se ao bem-estar animal. O número de aves alojadas por metro quadrado, agravado pela geração estática de calor (corpo a corpo) poderia levar a um quadro de agravamento dos vetores mecânicos que causam lesões na pele. E se assim for considerado, haveria a necessidade de se buscar a quebra de um dos maiores paradigmas da aviculturua: aves / metro quadrado. Passaríamos então a considerar peso vivo em quilos / metro quadrado.
Ao invés de 13 aves por metro quadrado, com peso médio final de 2,300 gramas, poderia se estudar a possibilidade de alojar menos aves por metro quadrado e se obter um índice de conversão alimentar melhor, com menor mortalidade, inclusive por Dermatite seja ela cutânea ou intestinal.
Att.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal

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Ricardo George Torres Barros
17 de agosto de 2009

Muito interessante e esclarecedora o artigo Dermatite Gangrenosa de dentro para fora. O artigo nos mostra que cada vez mais devemos nos preocuparmos com a integridade intestinal das aves, principalmente com relação a nutrição e sua prevenção. Parabéns!

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Ascânio Fernando Drumond
Ascânio Fernando Drumond
8 de julio de 2009

Parabéns pelos comentários de prevenção da Dermatite Gangrenosa,  em enfase no uso de Zn orgânico! Gostaria de relatar que o uso de Se em forma orgânica, tambem nos ajuda na redução de dermatite inespecíficas, com aumento na integridade da pele.

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