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Atualização de programas nutricionais para poedeiras

Publicado: 5 de maio de 2015
Por: Gabriel B.S. Pessoa1, Sandra C. Salguero2, Luiz F. T. Albino2, Eduardo T. Nogueira1 e Horacio S. Rostagno2 *1Ajinomoto do Brasil ¦Ajinomoto Animal Nutrition 2Universidade Federal de Viçosa – Viçosa, MG.
1- Introdução
A produtividade das galinhas de postura tem aumentado ano a ano. Há vinte anos um plantel produzia aproximadamente 230 ovos por ave alojada entre 20 a 60 semanas de idade (Elliot, 2012). Hoje, espera-se uma produção média aproximada de 260 ovos por ave alojada até as 60 semanas de idade (Hy-Line, 2012). Esta melhoria na produção coincidiu com uma diminuição significativa do peso corporal e da capacidade de consumo de ração, aumentando assim a importância do fornecimento de uma nutrição bem balanceada. Devido a isto, as exigências nutricionais das linhagens modernas de poedeiras têm aumentado, especialmente para os aminoácidos.
A nutrição de poedeiras também tem melhorado significativamente nos últimos anos, anteriormente as dietas eram somente formuladas para um mínimo de proteína bruta e as especificações de aminoácidos eram limitadas à metionina, metionina mais cistina e lisina, formuladas na base total (Elliot, 2012). Na atualidade os nutricionistas formulam dietas de poedeiras de alta produtividade levando em consideração a relação aminoácido: lisina de todos os aminoácidos essenciais e não essenciais (proteína ideal) na base digestível. Estas mudanças na nutrição somadas a estratégias de alimentação têm sido estimuladas, em parte, às pesquisas sobre a digestibilidade e exigências dos aminoácidos, disponibilidade de aminoácidos industriais a preços compatíveis, aumento de custo das matérias primas e á melhoria no potencial genético das aves entre outros.
O termo programa nutricional abrange varias linhas (alimentação por fases, curva de produção, requerimentos nutricionais etc.) com o mesmo objetivo final: proporcionar às aves todas as condições necessárias para ótimo crescimento e produção expressando assim seu máximo potencial genético. Neste trabalho, iremos dar atenção especial à importância e aos benefícios de alguns aminoácidos na nutrição e desempenho das poedeiras comerciais, dando maior ênfase aos aminoácidos metionina + cistina, treonina, valina e triptofano.
2- Os aminoácidos
A importância dos níeis de aminoácidos nas rações sobre o tamanho e produção de ovos no início da postura é bem estabelecida na literatura sendo, sem dúvida, um dos fatores críticos envolvidos no desempenho precoce das poedeiras. A tendência de alguns produtores em utilizar baixa densidade de aminoácidos nas rações de pré-postura e no pré-pico é um fator importante para o fracasso de muitos planteis em atingir as metas de produção na maturidade das aves, bem como na obtenção de ovos pesados precocemente e produtividade no pico de produção.
a) Metionina + Cistina
Embora ainda existam programas de nutrição para poedeiras que sugerem apenas níveis de proteína bruta, aminoácidos sulfurados totais (AAST) e lisina total, há uma tendência progressiva para a utilização de aminoácidos digestíveis e um perfil de aminoácidos balanceados (proteína ideal), tornando possível melhorar a precisão da formulação e a diminuição dos custos de produção.
Keshavarz (1995) cita o efeito positivo no peso do ovo com o aumento dos níveis dietéticos de proteína e de metionina (0,34 a 0,38% na ração). O efeito da metionina no peso dos ovos das galinhas em início de produção foi consistente ao longo de três níveis de proteína (17, 19 e 21%).
Usando poedeiras Hy-line W-36 de 21 a 37 semanas de idade, Brake e Peebles (1992) também mostraram clara melhora na produção de ovos, peso dos ovos e conversão alimentar com o aumento dos níveis de proteína e aminoácidos. Neste estudo, o nível dos aminoácidos sulfurosos foi mantido em 85% do nível de lisina em cada tratamento.
Da mesma forma Bregendahl et al (2008) em trabalhos com galinhas poedeiras Hy-Line de ovos brancos (26 a 34 semanas de idade), concluíram que as exigências para ótima massa de ovo, de Met + Cis dig e de Met eram de 506 mg/dia (94% da lisina) e de 253 mg/dia (47% da lisina), respectivamente. As relações Met dig : lis dig e de Met + Cis dig : Lis dig, foram confirmadas em um experimento realizado posteriormente com galinhas poedeiras de 52 a 58 semanas de idade.
Outros pesquisadores também demonstraram que os níveis de proteína e aminoácidos em rações de pico de produção influenciam o tamanho dos ovos (Penz e Jensen, 1991; Leeson e Caston, 1996). Assim, o aumento dos níveis de metionina em relação à lisina em rações com adequados níveis dos outros aminoácidos essenciais é uma ferramenta viável e comumente utilizada que proporciona uma produção de ovos maiores em poedeiras comerciais no início da postura.
Vários experimentos realizados na Universidade Federal de Viçosa com o objetivo de estimar as exigências de Met + Cis dig de galinhas poedeiras leves em diversas fases de produção, recomendaram níveis dietéticos de Met + Cis que variaram entre 682 e 796 mg/dia, sendo que a relação Met + Cis dig / Lys dig variou de 100% a 107% (Brumano et al, 2010a ; Brumano et al, 2010b e Schmidt et al, 2011).
É evidente que o peso dos ovos de um plantel pode ser manipulado através da variação da ingestão de aminoácidos sulfurosos, independente da linhagem e idade das galinhas. Contudo, as pesquisas científicas atuais evidenciam que a suplementação de níveis adequados de outros aminoácidos como a treonina, o triptofano, a valina e a isoleucina podem influenciar de forma positiva o peso e produção dos ovos.
b) Treonina
A treonina (Thr) é o aminoácido em maior concentração na mucina (mucosa intestinal) e nos anticorpos, sendo que sua deficiência pode comprometer o funcionamento do sistema digestivo e imunológico e reduzir sua disponibilidade para síntese de proteína muscular. É exigida para formação da proteína e manutenção do turnover protéico corporal, além de auxiliar na formação do colágeno e elastina. Baixo conteúdo de treonina é encontrado nos grãos, portanto, dietas à base de gramíneas podem acarretar deficiência deste aminoácido, recomendando-se a suplementação com o aminoácido industrial (Sá et al., 2007).
Embora existam diferenças, tanto produtivas como de exigências nutricionais, entre as linhagens de poedeiras comerciais, ao analisar os guias de manejo das linhagens como Hy-Line W36, ISA White, Babcock White, Bovans White, Dekalb White e Hisex White, todos eles recomendam a relação Thr dig/Lis dig de 70% para a fase produtiva. Entretanto, no caso da linhagem Lohmann LSL, o guia de manejo nutricional recomenda 73% de relação para a fase de 29 a 45 semanas.
Rostagno et al. (2011), através da compilação de resultados de vários experimentos com aves de diferentes linhagens, recomendam a relação Thr dig/Lis dig de 76% para obter o melhor desempenho produtivo das poedeiras.
Figueiredo et al. (2012) avaliaram três níveis de treonina em rações de poedeiras leves Hy-Line W36 no período de 42 a 58 semanas de idade. Os autores não encontraram efeito dos níveis estudados sobre os parâmetros de produção, recomendando então o menor nível de Thr dig testado (0,542% na ração), equivalente ao consumo diário de 552 mg/ave. Este nível corresponde a uma relação Thr dig : Lis dig de 80%.
Com o objetivo de determinar a melhor relação Thr dig/Lis dig, Rocha et al. (2013a) avaliaram seis diferentes níveis de Thr dig em poedeiras Hy-Line W36, durante o período de 24 a 40 semanas de idade. Os autores observaram efeito quadrático dos níveis de Thr dig sobre os parâmetros produção de ovos (Qmáx= 0,571%), conversão alimentar por dúzia de ovos (Qmín = 0,567%) e conversão alimentar por massa de ovos (Qmín = 0,547%). Segundo Sakomura e Rostagno (2007) os modelos quadráticos mostram tendência de superestimar os valores da exigência, sugerindo aplicar o intervalo de confiança de 95% do nível máximo ou mínimo do nutriente estimado pela equação quadrática.
Assim, aplicando o fator de 95% aos resultados obtidos por Rocha et al. (2013a), chega-se aos requerimentos de 0,543% de treonina digestível para produção de ovos, 0,539% para conversão por dúzia de ovos e 0,520% para conversão por massa de ovos. Estes requerimentos correspondem às relações Thr dig/Lis dig de 74,4%, 73,8% e 71,2%, respectivamente.
Cardoso et al. (2014a) avaliaram cinco diferentes níveis de treonina digestível na ração de poderias leves (Dekalb White) durante o período de 60 a 76 semanas de idade. O nível foi lisina digestível das dietas foi mantido constante em todos os tratamentos (Lis dig = 0,759%), enquanto que a Thr dig variou de 0,523% a 0,615%, gerando as relações Thr dig/Lis dig de 69 a 81%, em incrementos de 3 pontos percentuais. Foi observada resposta quadrática aos níveis de Thr dig para os parâmetros produção de ovos (0,574%), massa de ovos (0,569%), conversão alimentar por dúzia (0,556%) e massa de ovos (0,570%). Igualmente, aplicando-se o intervalo de confiança de 95% aos níveis máximos (Qmáx*0,95) e mínimos (Qmín*0,95), chegamos às recomendações de 0,545% de Thr dig para produção de ovos, 0,541% para massa de ovos, 0,528% para a conversão alimentar por dúzia de ovos e 0,542% para conversão por massa de ovos. Estes níveis de Thr dig correspondem às relações Thr dig/Lis dig de 71,8%, 71,3%, 69,6% e 71,4%, respectivamente.
c) Valina
Em frangos de corte a valina (Val), é o quarto aminoácido limitante na maioria das rações utilizadas na América Latina, porém para poedeiras ainda existe grande discussão sobre esse tema e as pesquisas sobre exigência de valina para poedeiras ainda são escassas.
É claro que a ordem de limitância dos aminoácidos depende de vários fatores, como, por exemplo, dos ingredientes que estão sendo utilizados na ração, do parâmetro que está sendo avaliado (produção de ovos, conversão alimentar, etc) e da exigência nutricional de cada um dos aminoácidos (proteína ideal).
Na década de 1970, quando já se conhecia o conceito de proteína ideal, o National Research Council (NRC, 1971) ainda não informava a exigência diária de valina para poedeiras comerciais. Apenas no NRC (1977) a exigência de valina para poedeiras foi estimada em 550 mg/ave/dia, sendo esta aumentada para 600 mg/ave/dia na edição de 1984. Já o NRC 1994, versão mais recente desta publicação, traz a exigência diária de valina total para poedeiras leves e semipesadas de 700 mg/ave/dia, com uma relação Val/Lis total de 101%.
Rostagno et al. (2005) recomendam a 654 mg/ave/dia de valina digestível para poedeiras com peso em torno de 1,600 kg. Já para poedeiras semipesadas, é recomendado o nível de 675 mg/ave/dia de valina digestível, sendo a relação com a lisina digestível igual a 90% para ambas as categorias.
Com o objetivo de determinar a relação ideal de vários aminoácidos essenciais com a lisina, Bregendahl et al. (2008), avaliaram a resposta de poedeiras leves Hy-Line W36, de 28 a 34 semanas de idade, a diferentes níveis de inclusão de aminoácidos essenciais. Utilizando o modelo Broken line os autores recomendaram a relação Val dig/Lys dig de 93% para obter melhor desempenho em termos de massa de ovos.
Lelis et al. (2010), avaliando diferentes relações Val dig/Lis dig em dietas para poedeiras semipesadas (Dekalb Brown) no período de 25 a 37 semanas de idade, encontraram resposta linear crescente das aves para os parâmetros produção de ovos (P < 0,002) (Y = 31,445 + 62,135 Val; R2 = 0,99) e massa de ovos (P < 0,001) (Y = 12,056 + 41,562 Val, R2 = 0,93), recomendando a relação Val dig/Lis dig de 96%.
A versão mais recente das Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos (Rostagno et al, 2011), recomenda 699 e 735 mg/ave/dia de Val dig para poedeiras leves e poedeiras semipesadas, respectivamente, sendo a relação com a lisina digestível igual a 95% para ambas as categorias.
Marques (2012), avaliando diferentes níveis de valina e isoleucina digestíveis em rações de poedeiras semipesadas (Isa Brown) no período de 40 a 56 semanas de idade, encontraram melhores resultados, baseados na qualidade dos ovos e parâmetros de desempenho, quando utilizaram a relação Val dig/Lis dig de 90%, que foi equivalente ao consumo médio diário de valina digestível de 770 mg/ave.
Já Almeida (2013), em função da escassez de trabalhos sobre exigência de valina ou relação deste com a lisina para poedeiras, objetivou estudar a relação Val dig/Lis dig em dietas para poedeiras comerciais, com o intuito de maximizar o desempenho dos animais, reduzir a poluição ambiental (emissão de nitrogênio) e os custos de produção. O autor utilizou galinhas Hy-Line W-36 durante dois períodos, o primeiro de 24 a 40 semanas de idade e o segundo de 42 a 48 semanas. No primeiro período, o autor encontrou resposta quadrática das aves para os parâmetros massa de ovos, conversão alimentar por massa de ovo, e produção de ovos. Após aplicar o intervalo de confiança de Qmáx*0,95 ou Qmín*0,95 (Sakomura e Rostagno, 2007), o autor recomendou as relações de Val dig/Lis dig de 93,2%, 92,9% e 93,1% para cada parâmetro, respectivamente.
No segundo período de avaliação, Almeida (2013) encontrou resposta quadrática das aves para os parâmetros massa de ovos e produção de ovos. Após aplicar o intervalo de segurança de (Qmáx*0,95), o autor recomendou as relações de Val dig/Lis dig de 92,0% e 92,5% para cada parâmetro, respectivamente.
Lelis et al. (2014), avaliando cinco relações de Val dig/Lis dig (84 a 100%) em dietas para poedeiras semipesadas Dekalb Brown no período de 42 a 54 semanas de idade, encontraram resposta quadrática das aves para os parâmetros produção de ovos, massa de ovos e conversão alimentar por dúzia e massa de ovos, recomendando a relação Val dig/Lis dig de 92%, correspondendo ao nível de 0,607% de Val dig na dieta e consumo médio de 567 mg/ave/dia de Val dig.
d) Triptofano
O triptofano (Trp) desempenha vários papéis no metabolismo das aves, atuando como precursor da niacina, serotonina e melatonina. Pelo fato de ser importante no sistema imune e ter nos seus metabólicos os principais produtos envolvidos na regulação do consumo e do estresse, é fundamental o estabelecimento do nível correto deste aminoácido nas rações.
As recomendações encontradas na literatura são muito diversas. O NRC (1994), o CVB (1996), Coon e Zhang (1999), Rostagno et al. (2000), Rostagno et al. (2005), Leeson e Summers (2005), Brengendahl (2008) e Rostagno et al. (2011) recomendam para aves leves ou semipesadas, uma relação triptofano digestível: lisina digestível (Trp dig/Lis dig) em 23, 19, 20, 25, 23, 21, 22 e 23%, respectivamente.
Calderano et al. (2012), avaliando diferentes relações Trp dig/Lis dig para poedeiras Hy-Line W-36 de 24 a 40 semanas de idade, observaram efeito linear crescente dos níveis de Trp sobre a produção e massa de ovos, conversão alimentar por massa de ovos e eficiência de utilização da lisina para massa de ovos. Os autores recomendaram a relação Trp dig/Lis dig de 25,2%, equivalente ao consumo de 142 mg de Trp dig/ave/dia.
Lima et al. (2012) avaliou o efeito de cinco relações Trp dig/Lis dig (variando de 19 a 27%) sobre parâmetros de desempenho e histológicos de poedeiras leves com idade inicial de 29 semanas. Foi observado efeito quadrático sobre a produção de ovos (23,98%), peso dos ovos (24,07%), massa de ovos (24,11%), conversão alimentar por massa (24,58%) e conversão por dúzia de ovos (25,25%). Aplicando-se o intervalo de confiança de 95% (Sakomura e Rostagno, 2007) aos valores recomendados pelos autores, as relações passam a ser 22,78%, 22,87%, 22,90%, 23,35% e 23,99%, respectivamente.
Segundo os autores, o melhor desempenho das aves em relação ao maior nível de triptofano nas rações também pode ser explicado pelas alterações histológicas encontradas nas vilosidades intestinais das aves que receberam rações com maiores níveis de triptofano digestível. Em tais aves, as vilosidades foram maiores e mais ramificadas. Histologicamente, o aumento do nível de triptofano digestível também gerou maior produção de albúmen pelo magno, uma vez que as glândulas tubulares deste se apresentaram em estágio funcional mais ativo e com maior quantidade de albúmen, o que permite que a produção dos ovos seja feita em um período de tempo menor, melhorando assim a produção, peso, massa, conversão em massa e dúzia de ovos.
Ainda em relação ao magno, Lima et al. (2012) observaram maior produção de muco no epitélio desse órgão, sendo que tal característica possibilita maior rapidez na passagem do ovo pelo oviduto (Gomide-Júnior et al., 2004). Da mesma maneira, foi demonstrado que o aumento do nível de triptofano digestível elevou a quantidade de dobras secundárias do útero das poedeiras leves em postura e gerou uma hiperplasia do epitélio desse órgão. Tais características permitiriam a formação da casca em um menor tempo, aumentando assim, a produção de ovos, visto que o ovo em formação fica no útero por tempo variável para a deposição de carbonato de cálcio (King e McLelland, 1979), o que pode ser acelerada pelo aumento da superfície interna do órgão. Considerando a aplicação do intervalo de confiança aos resultados obtidos pelos autores, a relação Trp dig/Lis dig de 23,2% pode ser utilizada para maximizar o desempenho produtivo das aves.
Cardoso et al. (2014b), avaliando cinco relações Trp dig/Lis dig (22 a 26%) em dietas de poedeiras Dekalb White no período de 60 a 76 semanas de idade, encontraram efeito quadrático sobre os parâmetros produção de ovos (Qmáx = 25,44%), massa de ovos (Qmáx = 25,36%), conversão por dúzia de ovos (Qmín = 25,08%) e conversão por massa de ovos (Qmín = 25,07%). Aplicando o intervalo de confiança de 95% as relações Trp dig/Lis dig recomendadas de 24,17, 24,09%, 23,83% e 23,82%, respectivamente. Em geral, com os resultados deste trabalho, a relação Trp dig/Lis dig de 24% é recomendada para o melhor desempenho produtivo das aves, sendo esta equivalente ao nível de 0,182% de Trp dig na ração e consumo aproximado de 201 mg/ave/dia.
Como foi mencionada anteriormente, a exigência dos aminoácidos pode variar de acordo com o parâmetro estudado. De forma geral, e baseado nos resultados dos trabalhos anteriormente citados, a relação média Trp dig/Lis dig recomendada é de 23,7%.
e) Isoleucina
Trabalhos sobre exigência de isoleucina (Ile) para poedeiras ainda são escassos. Normalmente, os estudos realizados para avaliar a redução da proteína bruta com a suplementação de aminoácidos são feitos apenas com o uso de L-lisina, DL-metionina, L-treonina e L-triptofano. Entretanto, a progressiva redução na proteína bruta da dieta leva a que outros aminoácidos como a valina, a arginina e a isoleucina tornem-se limitantes afetando o desempenho das poedeiras (Peganova e Eder, 2002).
Com o objetivo de determinar a relação ideal de vários aminoácidos essenciais com a lisina, Bregendahl et al. (2008), avaliaram a resposta de poedeiras leves Hy-Line W36, com 28 a 34 semanas de idade, a diferentes níveis de inclusão de aminoácidos essenciais. Para a isoleucina, os autores utilizaram o modelo Broken line e recomendaram a relação Ile dig/Lis dig de 79% para obter melhor desempenho considerando a de massa de ovos produzida.
Lelis et al. (2010), avaliando diferentes relações Ile dig/Lis dig em dietas para poedeiras semipesadas (Dekalb Brown) no período de 25 a 37 semanas de idade, observaram resposta quadrática (P<0,05) das aves para os parâmetros produção e massa de ovos (Y = 31,445 + 62,135 Val; R2 = 0,99) e massa de ovos (P < 0,001) (Y = 12,056 + 41,562 Val, R2 = 0,93), recomendando a relação Ile dig/Lis dig de 79%.
A versão mais recente das Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos (Rostagno et al, 2011), traz a recomendação média de 559 mg/ave/dia para poedeiras leves e 588 mg/ave/dia para poedeiras semipesadas, sendo a relação com a lisina digestível igual a 76% para ambas as categorias.
Mello et al. (2012) estudaram os efeitos de seis diferentes relações de Ile dig/Lis dig na dieta sobre o desempenho produtivo de poedeiras Hy-Line W36, durante o período de 42 a 58 semanas de idade. As rações dos tratamentos continham 0,788% de lisina digestível. Os autores observaram que não houve efeito significativo (P>0,05) das relações estudadas nesse trabalho sobre os parâmetros de produção e qualidade dos ovos. Assim, recomendaram a menor relação avaliada de 73% Ile dig/Lis dig, correspondendo ao consumo médio de 534 mg/ave/dia de Ile dig.
Rocha et al. (2013b), avaliaram seis diferentes níveis de Ile dig na ração de galinhas poedeiras leves Hy-Line W36 durante o período de 24 a 40 semanas de idade. As rações dos tratamentos continham 0,811% de lisina digestível. Os autores observaram resposta quadrática das galinhas aos níveis de Ile dig sobre os parâmetros: consumo de ração (Qmín = 0,696%), produção de ovos (Qmáx = 0,680%), massa de ovos (Qmáx = 0,681%), conversão alimentar por dúzia de ovos ( Qmín = 0,673%) e conversão alimentar por massa de ovos (Qmín = 0,668%). Assim, aplicando o intervalo de confiança de 95% aos resultados obtidos neste trabalho e calculando a relação Ile dig/Lis dig foram estimados os valores de 81,5%, 79,6%, 79,8%, 78,8% e 78,3%, respectivamente.
3- Formulando Dietas Usando a Proteína Ideal
A formulação adequada de dietas usando a proteína ideal deve ser feita utilizando valores de aminoácidos (AAs) digestíveis, objetivando atender as exigências de lisina e de um perfil de proteína ideal adequado para cada fase de criação e objetivo de produção.
No conceito da proteína ideal, a formulação será ajustada para atender os níveis mínimos exigidos para cada um dos AAs essenciais: metionina + cistina, treonina, valina, isoleucina, triptofano, arginina, histidina, leucina e fenilalanina + tirosina, reduzindo-se os excessos de AAs essenciais e não essenciais a partir da redução da proteína bruta (PB).
O teor de PB determinado pelo programa de formulação de ração é aquele necessário para prover a exigência do próximo aminoácido limitante, cuja suplementação não é possível de ser controlada pela adição de fontes de AAs industriais (ainda indisponíveis no mercado da nutrição animal). Assim, o nível de PB deve ser uma consequência da melhor combinação de nutrientes e não um passo inicial do cálculo de ração.
À medida que mais AAs industriais se tornem disponíveis, mais fácil e exato será o estabelecimento e a formulação de rações fundamentadas no conceito do perfil da proteína ideal. Atualmente, a suplementação de L-Lisina, L-Treonina e DL-Metionina é uma prática incorporada na rotina das fábricas de rações para aves. Em breve, espera-se que outros aminoácidos, como a L-Valina e o L-Triptofano, também estejam na rotina das fábricas de rações para poedeiras, já que estes AAs estão disponíveis no mercado e atualmente já são utilizados nas rações de suínos e frangos de corte.
Os principais objetivos da inclusão dos aminoácidos industriais na formulação são:
  • Possibilitar a redução e adequação da PB das rações sem prejuízos no desempenho animal;
  • Atender as exigências dos AAs mais próximas da proteína ideal;
  • Melhorar a eficiência de utilização da proteína, uma vez que as deficiências ou excessos de AAs são minimizados;
  • Reduzir os custos de produção;
  • Reduzir a excreção de nitrogênio para o ambiente.
Para que a proteína ideal seja utilizada com sucesso, as exigências dos AAs e suas relações com a lisina digestível devem ser atualizadas constantemente em função dos avanços produtivos das linhagens modernas. Esforços contínuos são realizados por parte de universidades, instituições de pesquisa e da indústria, no sentido de atualizar as exigências de AAs para poedeiras e suas relações com a lisina digestível. Na Tabela 1 estão apresentados diferentes perfis da proteína ideal para poedeiras de acordo com as recomendações de Bregendahl et al. (2008), de Rostagno et al. (2011) e da análise das pesquisas mais recentes citadas nesse trabalho.
Tabela 1. Recomendações do Perfil da Proteína Ideal para poedeiras em produção.
Atualização de programas nutricionais para poedeiras - Image 1
Na Tabela 2 encontram-se exemplos de formulações com base no conceito da proteína ideal, mostrando o efeito da inclusão crescente de AAs industriais sobre a composição de ingredientes e nutrientes da formulação de poedeiras em produção (considerando 1,500 kg peso vivo, consumo de ração de 100g/ave/dia e massa de ovos = 55g). É possível observar que:
  • A inclusão dos AAs iniciou-se com a DL-Metionina, seguido pela L-Treonina, L-Valina, L-Lisina, L-Triptofano e finalmente L-Isoleucina, representando a ordem de AAs limitantes (do 1º ao 6º AA limitante);
  • Quanto à composição dos ingredientes, nota-se que à medida que se aumenta a inclusão de AAs, ocorre aumento na quantidade do milho e diminuição nas quantidades de farelo de soja e óleo de soja, sem alteração do nível de energia metabolizável;
  • Em relação aos nutrientes da ração, observa-se que o teor de PB diminui à medida que se disponibilizam os AAs industriais (passando de 17,80 a 14,26%).
Tabela 2. Rações para poedeiras formuladas com o conceito de proteína ideal e o perfil de aminoácidos recomendado por Rostagno et al (2011).
Atualização de programas nutricionais para poedeiras - Image 2
4- Considerações Finais
  • A atualização periódica da Proteína Ideal é necessária para acompanhar as mudanças do desempenho, do mercado e o desafio sanitário das aves.
  • Os AAs limitantes nas dietas a base de milho e de farelo de soja, para galinhas poedeiras são 1. Met, 2. Thr, 3. Val, 4. Lis 5. Trp e 6. Ile.
  • A ordem dos AAs pode variar de acordo com o desempenho e o tipo de dieta.
  • Nas dietas de galinhas poedeiras as relações AAs dig/Lis dig (%) recomendadas são: Met, 49; Met + Cis, 97, Thr, 73; Val, 93; Ile, 77; e Trp, 24.
  • A formulação de rações com base no conceito de proteína ideal otimiza a eficiência de utilização dos aminoácidos (proteína) e diminui a excreção de nitrogênio.
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Autores:
Prof. Horacio Santiago Rostagno
Universidade Federal de Viçosa - UFV
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Jose Orlando Gontijo Tavares
1 de junio de 2015
Gostaria de lembrar que as linhagens de poedeira entre 1980 e 1990 já preconizavam uma produção superior a 230 ovos nas 40 semanas entre 22 e 62 semanasde vida. Nas linhagens pesadas já esperávamos uma produção nunca inferior a 145 pintinhos viáveis neste período por matriz alojada. (Dados da granja Alterosa e granja Rezende)
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