Mais de 70% dos custos de produção de aves está relacionado à alimentação e, portanto, para obter melhor retorno do investimento (ROI) é necessário o uso de ingredientes de qualidade e alto valor nutricional, além de aditivos que promovam a estabilidade e melhor aproveitamento destes. Para obter-se um melhor ROI, diferentes fontes de óleos e gorduras são inclusas na ração, com o objetivo de fornecer ácidos graxos essenciais, reduzir o incremento calórico, aumentar a densidade energética, melhorar a palatabilidade e aspectos físicos, além de facilitar a peletização da dieta.
As fontes de gordura podem ser de origem animal, ricas em ácidos graxos saturados e com tendência a serem sólidas, dependendo da fonte, ou de origem vegetal, em geral ricas em ácidos graxos insaturados e na forma líquida. Entre as mais utilizadas na alimentação das aves estão o óleo degomado de soja e as gorduras animais (especialmente de aves e suínos). Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), em 2019 o Brasil produziu 8,6 milhões de toneladas (Mt) de óleo de soja, sendo que 7,8 Mt ficaram no mercado interno e, deste volume, 4,1 Mt (53%) foram destinadas à produção de Biodiesel. Dentre as matérias primas utilizadas na produção do biodiesel (B10) em 2018, o óleo de soja representou 70% do volume e a gordura animal, 16% (Tabela 1).
O preço do óleo de soja degomado registrou significativa alta no mercado brasileiro, chegando a R$ 3.646,97/tonelada na cidade de São Paulo em dezembro de 2019, o maior patamar nominal da série do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), iniciada em julho de 1998. Segundo pesquisadores do CEPEA, o aumento está atrelado à baixa disponibilidade do derivado nas indústrias, em um momento em que a demanda doméstica segue bastante aquecida. No geral, o movimento de alta nos valores do óleo de soja é verificado desde agosto de 2019, quando notícias começaram a indicar aumento na quantidade mínima obrigatória da mistura de biodiesel ao óleo diesel – que passou de 10% (B10) para 11% (B11) em 1º de setembro de 2019 (Resolução CNPE Nº 16 DE 29/10/2018). Desde então, a liquidez no mercado brasileiro de óleo de soja cresce significativamente. A mesma resolução prevê que os percentuais mínimos de adição obrigatória de biodiesel irão crescer gradativamente nos próximos anos, alcançando 12% em 2020 (projetado uso de 57% do óleo de soja do mercado interno para esse fim) e 15% em 2023, o que remete a uma perspectiva de aumento ainda maior nos preços e menor disponibilidade de produto de qualidade para uso na nutrição animal, a partir desse ano.
Algumas das estratégias para contornar esta conjuntura são:
- Controle e análises dos fatores que afetam a qualidade das gorduras, principalmente no que tange os processos oxidativos;
- Uso de ferramentas que controlem a perda nutricional oxidativa e os danos que o processo oxidativo promove à saúde animal;
- Alternativas que melhorem a utilização da gordura pelo animal e que ofereçam, portanto, um bom custo/benefício das dietas e uma menor dependência desta matéria prima, já que podem promover a retirada parcial de gorduras da dieta, mantendo o resultado zootécnico.
Antioxidantes são substâncias que prolongam o período de conservação de rações, premixes, óleos e gorduras, protegendo-os contra a deterioração causada pela oxidação, processo químico irreversível no qual oxigênio molecular se combina com nutrientes resultando na rancificação, redução da qualidade e valor nutricional do alimento.
O produto antioxidante ideal deve contemplar uma excelente capacidade de sequestrar radicais livres, conter quelantes metálicos, visando diminuir a capacidade pró oxidativa de alguns metais, além de surfactantes para facilitar a homogeinização, já que as moléculas antioxidantes normalmente são lipofílicas e os radicais livres hidrofílicos. Produtos que maximizem a digestão e absorção de lipídeos, como os biossurfactantes, são ferramentas importantes para obter o melhor ROI das dietas. Biossurfactantes eficientes aumentam a digestão e absorção de nutrientes, em especial da gordura. Eles maximizam os processos de hidrólise, emulsificação e absorção de gorduras, além do aproveitamento das vitaminas e pigmentantes lipossolúveis.
Um estudo foi conduzido na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para avaliar os efeitos do biossurfactante LYSOFORTE® eXtend na qualidade de pellet, performance zootécnica e deposição de gordura abdominal em frangos de corte recebendo dieta a base de milho e farelo de soja (com inclusão de óleo degomado de soja), com duas diferentes matrizes de reformulação. Neste ensaio, 1.400 frangos de corte machos Cobb x Cobb 500 de 1 dia de idade foram alojados em 56 boxes experimentais em galpão climatizado. Frangos recebendo LYSOFORTE eXtend on top apresentaram desempenho zootécnico superior (ROI 8:1 on top vs. dieta controle sem o produto), enquanto as reformulações com LYSOFORTE (com retirada de parte do óleo) apresentaram clara rentabilidade através da redução de custos de ração, manutenção da performance das aves e aumento de ROI (3:1 para reformulação de 60 Kcal/kg vs. dieta controle sem o produto). O uso de LYSOFORTE eXtend também reduziu a gordura abdominal das aves e melhorou o Índice de Durabilidade do Pellet (PDI). Estes resultados demonstraram toda a versatilidade do biossurfactante LYSOFORTE eXtend como ferramenta para nutrição animal.
*Controle Positivo – dieta padrão (CP); Controle Positivo + Lysoforte Extend (on top); Controle Negativo (CN1) (dieta padrão com redução de 60 kcal/kg); Controle Positivo reformulado com Lysoforte (matriz com redução de 60 kcal/kg); Controle Negativo (CN2) (dieta padrão com redução de 100 kcal/kg); Controle Positivo reformulado com Lysoforte (matriz com redução de 100 kcal/kg). Teste de Tukey a-b-c-d (P < 0,05).
A demanda por biocombustíveis é uma tendência mundial que deverá seguir crescendo. Neste contexto, a gestão de processos de compra e utilização de matérias primas na dieta animal é essencial para a manutenção da saúde financeira de qualquer companhia, tornando-se imprescindível o uso de ferramentas para contornar situações de aumento de custos e redução de oferta de produtos de qualidade, que são indispensáveis para a produção animal. A constante atenção e manutenção da qualidade e estabilidade dos óleos e gorduras é fundamental desde a origem até o comedouro e, para isso, as análises de rotina e o uso de soluções que mantenham esta estabilidade são de suma importância. Além disso, é necessária a constante busca por alternativas e ferramentas para melhor custo/benefício, como os biossurfactantes eficientes, mantendo-se o alto desempenho produtivo.