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Quantidade Qualidade Água Produção Aves

Quantidade e Qualidade da Água na Produção de Aves

Publicado: 17 de agosto de 2010
Por: Nilce Maria Soares (Unidade de Pesq. e Desenvolvimento de Bastos/Instituto Biológico)
“A água de dessedentação de boa qualidade para as aves é aquela constituída de elementos que promovem a vitalidade e sem substancias que causem morbidade e mortalidade” (CRRP, 2005)

Na produção avícola industrial, deve-se dar à água a importância semelhante a que se dá a outros fatores de produção como instalações, alimentação e manejo. As aves de produção necessitam de grande quantidade de água para seu desenvolvimento e bem-estar. A sustentabilidade econômica deste setor requer a revisão dos métodos que envolvam o uso da água, pois é grande consumidora direta de recursos hídricos. Além da água para dessedentação, também devemos considerar a água utilizada para higiene das instalações e controle térmico do ambiente. A implementação do bem-estar animal exige a observância de alguns pontos na exploração das aves de produção, em relação à água: abolição de estresse térmico, de sede e dos riscos às doenças. No ritmo de produção atual, a estrita observância destas exigências, seguramente fará com que a produção avícola imprima maior pressão sobre os recursos hídricos.

Além dos fatores relatados acima, a água é o nutriente essencial e consumido em grande quantidade, portanto é de fundamental importância o uso racional da água de boa qualidade física, química e microbiológica. Quando utilizada na dessedentação das aves, visto que todos os animais têm acesso à mesma fonte, o uso de água de qualidade duvidosa interfere no bem-estar, nos índices zootécnicos e na disseminação de enfermidades, acarretando graves prejuízos econômicos, além de carrear agentes patogênicos de doenças de interesse em saúde pública. Para o organismo das aves a água é insubstituível, em virtude das funções que ela exerce no metabolismo e a medida do consumo diário tornou-se parâmetro de saúde e bem estar. Para a dessedentação de animais, a legislação brasileira estabelece parâmetros e níveis através da RESOLUÇÃO CONAMA Nº. 396, de 03 de Abril de 2008. Entretanto, o Ministério da Agricultura e Abastecimento, através do Anexo II do Oficio Circular Conjunto DFIP – DSA nº 1 / 2008, de 16/09/ 2008, estabeleceu os parâmetros de qualidade de água a serem monitorados para as aves de produção. Porém, vários estudos indicam que a água destinada ao consumo das aves, deve ter as mesmas características da água potável consumida pelos seres humanos e que para limpeza das instalações deve-se usar água isenta de microrganismos, com baixo nível de dureza e pH na faixa de neutralidade.
A Importância da água para o organismo das aves

Para as aves de produção, a água é considerada o nutriente essencial mais importante, e ainda sua importância é subestimada pelos empresários e a maioria dos técnicos avícolas. As aves consomem pequenas quantidades de água, porém com muita freqüência, devendo ser garantido a elas um fornecimento constante (CURTIS et al., 2001). Em faixas de temoneutralidade, a relação de consumo de água e alimento nos machos é de 2:1 e nas fêmeas é de 1,7:1. Nas galinhas a quantidade de água corporal varia conforme a idade, sendo em torno de 85% do seu peso na primeira semana de vida, diminuindo com o passar da idade. Em um frango adulto a água representa cerca de 64% do peso, além de ser considerada uma das principais ferramentas termorregulatórias para manter a homeostase térmica. Para a galinha de produção de ovos, tanto reprodutora como poedeira comercial, a água representa cerca de 55 % do peso à idade adulta, além de constituir 65% do peso do ovo. A água é responsável pela maioria das funções do organismo. É o componente principal do sangue e dos fluidos extra e intracelular, é responsável pelo transporte, absorção e digestão de nutrientes, excreção de metabólitos, pelo equilíbrio da temperatura do corpo das aves (LEESON & SUMMERS, 2001). As galinhas podem sobreviver sem ração por cerca de 30 dias, suportam a perda de 98% da gordura e 50% da proteína do corpo, todavia não toleram a perda de 20% da água do corpo (VOHRA, 1980; REDDY et al., 1995).

As aves devem ter acesso à quantidade suficiente de água com qualidade e temperatura adequadas, principalmente no período de verão, pois a capacidade de perda de calor corporal tem influência direta no ganho de peso, na produção de ovos e também na taxa de sobrevivência. As aves consomem maior quantidade de água quando a temperatura ambiental aumenta, sendo que acima de 20ºC, para cada 1ºC, acarreta um aumento de 6% no consumo de água pelas aves (MANNING et al., 2007). O principal método de perda de calor nas aves constitui-se no resfriamento por evaporação de água, através do sistema respiratório durante o ofego (PIZAURO JUNIOR, 1996). O consumo de água pode dobrar ou triplicar durante os períodos de estresse calórico, pois é necessária a sua reposição, em vista da necessidade de manutenção de balanço hídrico corporal (FAIRCHILD & RITZ, 2006). Além da temperatura ambiental, a ingestão de água pelas aves é influenciada pela genética, tipo e idade da ave, composição da ração, programa de luz, densidade populacional, temperatura da água de bebida, tipo e regulagem dos bebedouros, entre outros (PENS JR, 2002; FAIRCHILD & RITZ, 2006). A sobrevivência dos frangos em casos de estresse calórico está relacionada ao consumo de água, fazendo com que a ave mantenha o consumo de ração em nível constante. Em galinhas poedeiras e reprodutoras, a quantidade de água ingerida sofre também influência de fatores como a maturidade sexual, a percentagem de produção de ovos. Na maturidade sexual e no pico da produção de ovos, as aves aumentam o consumo de água. Durante o período de produção, ao longo do dia o consumo atinge o máximo imediatamente antes da oviposição, e depois de da ovulação, durante 6 a 8 horas, enquanto ocorre o processo de formação do albume (MONGIN & SAUER, 1974; citado por MACARI, 1996).

Para as aves de exploração comercial, o consumo de água está estreitamente relacionado ao consumo de ração de tal maneira que fatores que afetam o consumo de água indiretamente influenciam no consumo de ração. Além do consumo de ração, altos níveis dos seus constituintes, tais como a proteína e o sal, provocam o aumento da ingestão de água (TABLER, 2003).

Características físicas e químicas da água

Os níveis ideais dos parâmetros para a água de dessedentação das aves de exploração comercial são definidos com base em legislação e pesquisas científicas. A água é inodora, insípida e transparente, sendo desta maneira essencial ao desenvolvimento e sobrevivência de todos os seres vivos. A alteração de qualidade da água percebida pelo ser humano através dos seus sentidos, dá-se pelas características físicas: sabor e odor, cor, turbidez, sólidos totais dissolvidos e temperatura. O sabor, odor, cor e turbidez são características não desejáveis para a água (BRASIL, 2004), isto é, não devem aparecer em água de boa qualidade, sendo suas detecções bastante difíceis, pois dependem exclusivamente da sensibilidade dos seres humanos. O sabor e odor são originados por produtos de decomposição da matéria orgânica, atividade biológica de microrganismos ou de fontes industriais de poluição. Já as alterações da cor indicam a presença de substâncias orgânicas, oriundas dos processos de decomposição e de alguns íons metálicos como ferro e manganês, plâncton e despejos industriais. A turbidez, por sua vez, diz respeito à alteração da intensidade da penetração da luz nas partículas em suspensão na água (plâncton, bactérias, argilas, material poluente fino e outros), que provocam a sua difusão e absorção (FIGUEIREDO, 1999; MACÊDO, 2007).

A determinação de sólidos dissolvidos totais (SDT) na água se dá pela quantificação de todas as impurezas nela dissolvida, com exceção dos gases. O cálcio, magnésio, sódio, cloro, bicarbonato e enxofre são os minerais que mais contribuem para a determinação do nível de SDT, pelo qual se pode primariamente determinar a qualidade química da água (MACEDO, 2007). À medida que o valor de SDT aumenta a qualidade piora, o que faz diminuir o consumo de água pelas aves e causa prejuízos no desempenho zootécnico (NRC, 1974). Qualquer temperatura da água de dessedentação, inferior à temperatura corporal, logrará benefícios à performance de frangos e galinhas (HARRIS JR et al., 1975). De acordo com FAIRCHILD & RITZ (2006), vários estudos têm examinado os efeitos do resfriamento da água durante as estações quentes. A maioria deles demonstra a melhoria da performance de frangos que apresentam melhor ganho diário de peso e em poedeiras ocorre a melhoria da qualidade, da casca e interna, dos ovos (HARRIS JR. et al., 1975; DAMRON, 2002). Estes efeitos aparecem, provavelmente, em decorrência do aumento do consumo de água. Refrigerar a água artificialmente ainda não é economicamente praticável, porém alguns ajustes no manejo e disposição de equipamentos podem ser feitos, para promover a queda da temperatura, o que poderia fazer uma crítica diferença no bem estar e saúde dos lotes de aves. Os parâmetros químicos são importantes para caracterização da qualidade da água, permitindo sua classificação pelo conteúdo mineral, determinação de seu grau de contaminação e evidenciação dos picos de concentração de poluentes tóxicos (MACÊDO, 2007). O oxigênio dissolvido (OD) é um índice expressivo da qualidade da água. As águas superficiais devem apresentar-se saturadas de oxigênio, entretanto, água de captação subterrânea pode ser deficiente de oxigênio, mesmo não estando poluída, pois o oxigênio pode ter sido consumido pela oxidação de minerais dissolvidos na água. O OD é de fundamental importância para a sobrevivência dos seres aquáticos e atualmente existe especulações de que alto valor de OD na água de dessedentação favorece o melhor desempenho de frangos de corte. Segundo o CONAMA (2005), a água de dessedentação de animais deve apresentar uma concentração não inferior a 4 mg/L O2.

A dureza da água refere-se, principalmente, à concentração de íons de cálcio e magnésio em solução, formando precipitados devido aos carbonatos de cálcio e magnésio, sendo expressa como mg/L de CaCO3. Em determinados níveis a dureza causa sabor desagradável à água, incrustações nas tubulações, efeito laxativo e interferência na eficiência de alguns medicamentos e desinfetantes, como por exemplo, a amônia quaternária que tem sua efetividade diminuída (BLOCK, 1991; MOUCHREK, 2003; GAMA et al., 2004; FAIRCHILD & RITZ, 2006). A dureza da água influencia a capacidade de sabão e detergente em formar espuma, característica que também deve ser observada na água utilizada em granjas, interferindo no manejo de limpeza e desinfecção das instalações. VOHRA (1980) relata que a dureza não é prejudicial às aves, a menos que os íons estejam presentes em quantidades tóxicas, podendo ocorrer um aumento da mortalidade por doença cardiovascular (NERI et al., 1975). Para água utilizada em granjas avícolas deve-se ter como ideal o índice de dureza até 60 mg/L, tolerando-se índices até 110 mg/L de CaCO3, observando-se a partir deste índice seus efeitos deletérios (POMIANO, 2002). O pH da água representa o teor de dióxido de carbono livre, ácidos minerais e sais de ácidos fortes, os quais por dissociação resulta em íons hidrogênio em solução. De um modo geral, a acidez é classificada em carbônica, mineral e orgânica, sendo que as águas naturais normalmente apresentam reação alcalina, embora a acidez não seja necessariamente indesejável (MACÊDO,2007).

Em experimentação, as aves não diminuíram o consumo de água com pH entre 2 e 10 (VOHRA, 1980). Entretanto, o nível recomendado pela maioria dos pesquisadores está entre 6-8. O consumo de água com pH diferente de 6 a 8, pode alterar o desempenho das aves, afetando performance de frangos, a produção e qualidade dos ovos, precipitar antibióticos e interferir na eficiência da cloração da água (POMIANO, 2002). OLIVEIRA (2007), estudando vários lotes de frangos de uma integração, observou uma correlação positiva entre o elevado pH da água e ocorrência de ascite. A acidez em nível elevado pode causar corrosão nas tubulações e prejudicar a ação de desinfetantes como a clorexidina e compostos de iodo (BLOCK, 1991; FIGUEIREDO, 1999). Para o alumínio, até a presente data, não está estabelecido o nível máximo na água de dessedentação das aves. SHOREMI et al. (1998) investigaram os efeitos de diferentes concentrações de alumínio na água fornecida aos frangos e observaram que o desempenho diminuiu quando a concentração de alumínio foi aumentada na água de bebida e que fígado, moela, rim, coração e pâncreas tiveram redução significativa do peso. SHOREMI & SRIDHAR (1998) avaliando a adição de alumínio na água, nas concentrações de 10, 20 e 40 mg/L, para frangas e poedeiras adultas durante 14 semanas verificaram que não ocorreram alterações significantes quanto ao consumo de água e ração, peso corporal, produção, peso e qualidade da casca dos ovos, e eficiência alimentar. Não obstante, esses autores notaram que a ingestão de água contendo alumínio na concentração de 40 mg/L reduziu o colesterol na gema dos ovos produzidos. Como relatado anteriormente, a presença de cálcio na água está relacionada com a dureza, sendo de 600mg/L o nível máximo aceitável para água de dessedentação de aves. O cálcio raramente causa problemas de intoxicação em aves e o aumento dos seus níveis na água foi correlacionado com melhor conversão alimentar e peso corporal, porém, com queda da viabilidade do lote de frangos (ÁGUA, 1988).

O cobre quando detectado em níveis superiores a 0,6 mg/L altera o sabor e o odor da água, sendo que pequenas quantidades são consideradas higienicamente desejáveis. Na forma de sulfato o cobre tem sido utilizado no controle de algas (MACÊDO, 2007; POMIANO, 2002). No organismo animal embora não seja constituinte da hemoglobina ele está presente em certas proteínas que participam da liberação do ferro das células que vai ser utilizado na síntese da hemoglobina (LEESON & SUMMERS, 2001). Quanto ao chumbo, a presença na água valor superior a 0,02 mg/L, é tóxico para as aves e tende a ser cumulativo no organismo (MACÊDO, 2007; CURTIS et al, 2001). A administração de chumbo na água de bebida em níveis de 20 e 40 mg/kg de peso vivo de ave, afetaram a resposta humoral das aves à vacinação contra doença de New Castle (YOSSEF et al., 1995; KUNAR, et al., 1999). Ademais, KUNAR et al. (1998) relataram a supressão da imunidade mediada por células, em aves que consumiam água contendo 200 mg/L de chumbo. Os cloretos podem ser encontrados em águas naturais, mas em níveis baixos e em altas concentrações conferem sabor salgado à água, podendo significar infiltração de águas residuárias, urina de pessoas e animais (MOUCHREK, 2003). Estudos têm mostrado que o nível de 14mg/L, na água de bebida pode ser prejudicial para frangos se combinado com 50 mg/L de Na (COETZEE, 2005).

O cloro é o elemento mais utilizado para desinfecção da água destinada aos seres humanos e animais, devido ao seu poder bactericida. FURLAN et al. (1999) estudando o efeito da cloração da água de beber sobre o consumo e ganho de peso em frangos, obtiveram dados que apontaram menor consumo de água quando clorada, embora sem influenciar o ganho de peso das aves. DAMRON & FLUNKER (1993) relataram uma queda no consumo de água e na produção de ovos quando as frangas consumiram água com 40 e 60 ppm de cloro, na estação quente. Em poedeiras adultas na estação fresca, não foram afetados a produção, o peso dos ovos e o consumo de ração, quando a água de bebida continha 50 ppm de cloro, entretanto, com 100 ppm de cloro, o consumo de água foi afetado. Para água de dessedentação de aves, assim como para seres humanos, recomenda-se como nível máximo, 2 ppm de cloro dosado no ponto de consumo (BRASIL, 2004).
O ferro, na maioria das vezes está associado ao manganês conferindo à água sabor amargo adstringente, coloração amarelada e aspecto turvo quando presente em concentração superior a 0,3 mg/L (MACÊDO, 2007; CURTIS et al., 2001). Segundo VOHRA (1980), altos níveis de ferro na água utilizada para a lavagem de ovos, propicia a penetração de Pseudomonas sp através da casca, aumentando a quantidade de ovos deteriorados. Embora o ferro possa ter uma ação antianémica para as aves (KARELIN & SAMKHADZE,1991), sua presença em quantidades elevadas na água de bebida, favorece o desenvolvimento de Clostridium botulinum no intestino e subseqüente manifestação clínica de botulismo (PECELUNAS et al., 1999). O fósforo se apresenta na água de várias formas, tais como ortofosfatos, polifosfatos e fósforo orgânico, não apresentando importância sob o aspecto sanitário para a água de abastecimento público (MACÊDO, 2007). O limite máximo aceitável para água de dessedentação das aves não está estabelecido. Embora o maior papel do fósforo seja como componente ósseo, ele também é um elemento essencial de compostos orgânicos envolvidos no metabolismo das aves (LEESON & SUMMERS, 2001). O magnésio sob a forma de sulfato é conhecido como sal de Epson e quando está presente em níveis elevados na água de bebida das aves, tem efeito laxativo (CURTIS et al., 2001; MACÊDO,2007). De acordo com VOHRA, (1980), poedeiras comerciais consumiram água contendo 1000 mg/L de sulfato de magnésio ou sódio sem diminuir os índices produtivos.

Porém, quando a concentração foi de 4000 mg/L, o sulfato de magnésio afetou a produção de ovos e o consumo de água. Entretanto, COETZEE (2005), relata que o nível aceitável para água de qualidade é 14 mg/L. O Mg pode interagir com sulfato e estudos indicam que o Mg sozinho a 68 mg/L não afeta adversamente o desempenho de frangos, mas ao nível de 50 mg/L pode ser prejudicial se o nível de sulfato for também 50 mg/L ou mais. O nitrogênio em recursos hídricos pode se apresentar nas formas de nitrato, nitrito, amônia, nitrogênio molecular e nitrogênio orgânico, sendo que os níveis elevados de nitratos indicam poluição que pode estar ocorrendo há algum tempo, porque estes são os produtos finais da oxidação do nitrogênio (MACÊDO, 2007). A toxicidade aguda, está associada à redução de nitrato a nitrito, que por sua vez oxida o ferro da hemoglobina transformando-o em Fe+++, formando a metahemoglobina, que é incapaz de transportar oxigênio às células ( POMIANO, 2002). Até a década de 80, a concentração de 300mg/L de nitrato na água de dessedentação de galinhas era considerada aceitável (VOHRA, 1980). Atualmente o nível máximo permitido é de 10 mg/L. Água com alta concentração de sulfatos possui odor fétido, palatabilidade ruim e ação laxativa conferida pelos sulfatos de Mg e Na. Os sulfatos têm 250 mg/L como concentração máxima descrita para a água de bebida das aves. Podem interferir na absorção intestinal de minerais como o cobre e níveis abaixo de 50 mg/L podem exercer um efeito negativo na performance se tanto o nível de Na ou Mg for 50 mg/L ou mais (COETZEE, 2005). Recentes estudos foram conduzidos e revelaram que individualmente altos níveis de Fé, Mn e NO3 não afetaram a saúde e a performance de frangos. Entretanto quando combinados e em valores elevados, vários compostos químicos podem causar impactos na performance das aves (FAIRCHILD & RITZ, 2006).

Características bacteriológicas

A importância da qualidade microbiológica da água a ser fornecida às galinhas se deve principalmente ao fato de que estas a ingerem duas a três vezes mais água que ração, fato este de grande importância e que costuma ser subestimado pelos produtores e técnicos (GAMA et al., 2004). Apesar de não fornecer as condições ideais para a multiplicação de microrganismos, a água é uma excelente via de transmissão de agentes patogênicos para seres humanos e animais, principalmente aqueles que fazem a rota fecal-oral, uma vez que as atividades urbanas e rurais têm contaminado os lençóis de água utilizados em nosso meio (AMARAL, 1996). A água é um importante veículo na transmissão de doenças infectocontagiosas, intoxicações por diversos elementos ou mantenedora da condição ideal para que determinados patógenos fiquem propícios a infectar as aves (OLIVEIRA, 1994). Todos os agentes de doenças infecto-contagiosas que não dependem de contato direto para sua disseminação, podem ser veiculados pela água, principalmente nos atuais modelos de exploração avícola onde a aglomeração de indivíduos favorece a disseminação de doenças (OLIVEIRA, 1994).

Entre os agentes, os vírus, as bactérias e os protozoários, os fungos, causadores de enfermidades em aves, além de outros contaminantes como toxinas, podem ser veiculados e chegam à água de várias maneiras. As bactérias contaminam a água principalmente pelas fezes, material de expectoração e muco de animais domésticos e silvestres. Segundo AMARAL (2000) para o conhecimento da qualidade microbiológica da água, coliformes é facilmente detectado por técnicas laboratoriais simples e está presente em pequena quantidade na água no seu estado natural. Eles não estão presentes nas fezes dos peixes, entretanto nas fezes dos animais homeotermos e dos seres humanos os coliformes são encontrados em grande número. O decréscimo do número dessas bactérias na água é relacionado ao decréscimo das bactérias patogênicas intestinais. Entre os indicadores destacam-se os coliformes totais, coliformes fecais e Escherichia coli. A E. coli representa 95% das bactérias que compõem o grupo dos coliformes fecais, sendo a mais conhecida e a mais facilmente diferenciada dos membros não fecais. Sua presença é o melhor indicador de contaminação fecal conhecido até o momento e, geralmente, não se multiplica e nem se mantêm viável muito tempo na água, em razão da baixa concentração de nutrientes e temperaturas adversas (SILVA et al., 2000; BARROS et al.,2001).
Monitoria da qualidade da água

Para análise, as amostras de água ser colhidas em pelo menos três pontos: local de captação, reservatório principal e galpões. As análises devem atender ao disposto No artigo 21 da IN 56 e as análises a serem realizadas, segundo o Oficio Circular Conjunto DFIP–DAS nº1/2008, de 16/09/2008. Os frascos para as colheitas deveram ser esterilizados, com capacidade de até 1000 mL, contendo 1,25 mL de tiossulfato de sódio a 15% e preenchido em 2/3 de seu volume, sendo devidamente identificado. Colher a amostra, toma-se todos os cuidados para que ela se realize de maneira asséptica. Deve-se fazer a assepsia das mãos, do bico do frasco tampado e do local de colheita (torneiras, nipples, etc.). Deve-se deixar a água escoar por 3-5 minutos antes da colheita. As amostras devem ser transportadas sob refrigeração para o laboratório onde serão realizadas as análises bacteriológicas, em 24 horas se for tratadas e 12 horas para água não tratada. Para análise bacteriana poderão ser realizadas a determinação de coliformes totais, fecais e E. coli. Poderá ser realizada a pesquisa de outras bactérias, a depender da necessidade e do critério do Médico Veterinário responsável técnico. Para análise química da amostra, deve-se contactar o técnico do laboratório que serão enviadas as amostras, para que a colheita seja feita devidamente correta e nos frascos contendo os conservantes adequados para a análise requerida.

Limpeza da linha d’água

Para manutenção da qualidade da água, sugere-se que os proprietários avícolas implantem nas unidades de produção um programa regular de limpeza e sanitização das linhas de água, impedindo a formação de biofilme e providenciando a proteção das aves contra a contaminação química e infecção bacteriana através da água de bebida. Tal programa deverá contemplar a proteção dos pontos de captação de água, com ações que evitem a contaminação das reservas subterrâneas e superficiais e a promoção e a manutenção da qualidade da água utilizada para as várias finalidades na granja.
Literatura consultada

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Nilce Maria Soares
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Marcos Manzoli Caldeira
25 de enero de 2019
Muito rico seu artigo sobre Água aplicada no criatorio de Aves Sra. Nilce, Parabéns... extremamente detalhado, mas na minha humilde opinião, um artigo tão rico poderia conter TAMBÉM, de maneira SIMPLES, a quantidade média de consumo de água/dia de um frango e galinha. Será possível um dos doutores no assunto, me informar ? Informando a temperatura do local da coleta de dados já ajuda a dedução para demais localidades. Obrigado.
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Jose Patricio Guiz
15 de septiembre de 2012

compañeros de los granjas avicolas ,el agua debe estar con un ph normal que puede ser de 3.5 , que eso no les va afectar, y tambien que los bebederos esten bien limpios para evitar los contagios de varias enfermedades bacterianas y virosa.

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Tradução/Traduccion Engormix.

Companheiros das granjas avícolas, a agua deve estar com um ph normal que pode ser de 3.5, que isso nao os vai afetar e também que os bebedouros estejam bem limpos para evitar os contagios de varias enfermidades bacterianas y virulenta.

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Adelino Damazio Oliveira
Daumax
23 de agosto de 2010
Parabéns Nilce Um artigo muito rico em informações técnicas e científica, que auxilia aos empresários e profissional, a tomar cuidados fundamentais para um bom crescimento e ganhos na avicultura. Adelino Damazio de Oliveira Consultor e Assessor Industrial (Avicultura)
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