No dia 10 de junho, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos liberou mais uma previsão sobre a próxima safra de milho nos Estados Unidos. Apesar das ressalvas de que estas projeções são estimativas formuladas a partir das informações sobre intenção de plantio que devem ser atualizadas no decorrer da safra e também das condições climáticas futuras, elas têm potencial de afetar o mercado na medida em que, com os baixos níveis dos estoques, qualquer notícia desfavorável tem seu efeito multiplicado.
O complicador deste ano é que, com os problemas causados pela crise econômica atual, as notícias têm que ser muito desfavoráveis para que possam afetar de modo significativo os preços. E elas não foram tão desfavoráveis assim. Os estoques mundiais de milho no ano civil de 2008/09, que está prestes a encerrar, aumentaram em relação aos do ano anterior e se mostraram relativamente estáveis em relação ao consumo mundial. Nos Estados Unidos, verificou-se uma pequena redução no estoque físico, mas no resto do mundo estes se elevaram em decorrência do aumento da produção. As projeções pessimistas iniciais não se realizaram e estes resultados indicam a capacidade dos países em responder aos estímulos de preços que se verificaram ao longo do ano de 2008. Este crescimento na produção permitiu atender ao consumo mundial de milho, que continua crescendo apesar da crise. Pouco muda, mas, em tempos de crise, como podia ser pior, então está melhor.
As previsões para o ano civil 2009/10 são um pouco mais pessimistas, mas previsões para todo um ano têm que serem vistas com muita cautela, pois, afinal, muita coisa ainda pode acontecer.
Como a área plantada ainda é baseada na intenção de plantio, a informação relevante é de que as condições de clima estão dentro da normalidade e, de certa forma, compensando parcialmente o atraso no plantio. De relevante, apenas a constatação de que a demanda de milho para produção de etanol, apesar de todos os problemas financeiros de grandes empresas produtoras de etanol nos EUA, continua crescendo, embora este crescimento se verifique a taxas decrescentes. Assinale-se que a quantidade de milho utilizada para esta finalidade nos Estados Unidos já é cerca de duas vezes a produção de milho no Brasil. Para o final do ano civil de 2009/10, mas ainda sujeito a muitos fatores, o relatório do Departamento de Agricultura indica um estoque equivalente a apenas 10%, cerca de 1 a 2 meses, do consumo, o que é realmente muito pequeno.
Como a crise econômica ainda domina o cenário e na ausência de notícias realmente ruins, os preços do milho nos EUA perderam nas últimas duas semanas tudo o que haviam ganho desde abril e estão novamente na faixa dos US$ 3,80 por bushel (de um patamar ao redor de US$ 4,30). Analistas americanos informam que, a estes preços, as margens de produção de etanol a partir do milho se recompõem e aliviam a situação das empresas produtoras de etanol, que vêm de uma série de pedidos de proteção quanto a falências, de acordo com a regulamentação econômica dos EUA.
A possível redução da área plantada nos EUA necessita ser confirmada nos próximos levantamentos, assim como o real impacto do atraso no plantio. De qualquer forma, a área plantada e o atraso no plantio são apenas alguns dos componentes da produção. O principal, que é o rendimento das lavouras, somente poderá ser verificado nos próximos meses, à medida em que as lavouras se desenvolverem.
Na Argentina, estão confirmadas as consequências de uma das piores secas que ocorreram no país vizinho. Os números finais da colheita variam entre 12,7 e 13 milhões de toneladas de milho (segundo estimativas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires e da Bolsa de Cereais de Rosário), em comparação com um total de 22,3 milhões na safra passada. Com esta retração na produção, a Argentina, que exportou nos últimos dois anos uma quantidade ao redor de 15 milhões de toneladas, apresenta uma perspectiva de exportar apenas cerca de seis milhões de toneladas. Estes números ainda podem ser afetados por uma série de desavenças entre os agricultores e o governo argentino, resultantes das intervenções deste último no mercado exportador de grãos. Para a próxima safra, já se verifica certo desinteresse pela cultura do milho no país vizinho, em decorrência da frustração desta safra e também dos bons preços que vêm sendo alcançados no mercado internacional pela soja.
Do lado da Europa, a estimativa da safra é aparentemente normal, menor do que a anterior, porém muito maior do que a do ano de 2007/08, que afetou profundamente as exportações brasileiras. Com estas expectativas, a demanda possível por exportações brasileiras para este destino perde força.
Situação Interna
A situação do mercado do milho no Brasil tem sido realmente muito difícil neste ano de 2009. O ano começou com um grande estoque de milho disponível, resultante de uma safra excepcional verificada em 2007/08 e que foi duramente afetada pelas dificuldades decorrentes da crise mundial que teve inicio no segundo semestre de 2008. A conjunção entre o resultado de uma grande safra com uma dramática redução nas exportações resultou em um estoque de passagem estimado pela Companhia Nacional de Abastecimento em cerca de 11,8 milhões de toneladas, que vem afetando o mercado e impedindo a reação dos preços
As exportações necessárias para escoar o excesso de milho estocado continuam caindo e o total exportado nos meses iniciais de 2009 somente é maior do que o exportado em igual período de 2008 devido às quantidades referentes aos meses de janeiro e fevereiro de 2009. A Conab manteve as expectativas de exportação para este ano em um total de oito milhões de toneladas (em comparação com cerca de seis milhões no ano passado).
Com as incertezas da crise econômica e o comportamento pouco favorável das exportações, as perdas na produção de milho na safra de verão e, mais recentemente, na safrinha têm afetado pouco os preços recebidos pelos agricultores, em decorrência principalmente dos estoques ainda disponíveis. Com a colheita da safrinha em curso, os preços estão em queda no Centro-Oeste e em regiões produtoras do Paraná e de São Paulo, apresentando alguns sinais de reação, ainda desencontrados, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em regiões consumidoras de São Paulo e do Paraná. Como a safrinha é muito importante para o abastecimento no segundo semestre, o efeito da época de colheita sempre deprime os preços, afetando mesmo os estados do Sul, onde se verificaram grandes perdas no verão.
Do lado da demanda por milho, no setor de produção de aves a estabilidade continua, com o alojamento de pintos de corte apresentando uma leve redução nos primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2008. Esta redução tem sido mais marcante na região Centro-Oeste e no Sudeste, sendo menor na região Sul (nesta região, a situação é de quase estabilidade). No Nordeste, o alojamento continua crescente.
A próxima definição com relação ao milho está nos resultados da safrinha. Já se mostram cada vez mais consistentes os sintomas de quebra na safrinha no Brasil. O nono levantamento da Conab aponta para uma redução de cerca de dois milhões de toneladas, superior à estimada no levantamento anterior. Caso estes resultados se confirmem, teremos uma safra total cerca de nove milhões de toneladas menor do que a de 2007/08. Em anos normais, isto poderia se constituir em um forte incentivo para crescimento dos preços. Entretanto, apesar de todos os problemas, a safra atual é a terceira maior da história do Brasil e os estoques estão altos (a se confirmarem as estimativas da Conab, o estoque previsto para o fim do ano seria de cerca de nove milhões de toneladas, o terceiro maior dos últimos oito anos).
Embora a partir das informações disponíveis atualmente o cenário não se mostre favorável para a comercialização do milho, recomenda-se que esta situação seja continuamente acompanhada para verificar possíveis sinais de recuperação, antes da tomada de decisão com relação à venda da produção. Por outro lado, o produtor pode decidir sobre a venda da produção com base em uma estratégia que envolva, por exemplo, a compra de insumos (principalmente fertilizantes) para o uso na próxima safra em condições favoráveis. Mais uma vez, o acompanhamento dos dois mercados, de insumos e de milho, é necessário para uma decisão consciente