São diversos os fatores que influenciam a qualidade das rações para aves e suínos. Por conseguinte é evidente a importância da qualidade das matérias-primas que têm maior inclusão nessas formulações.
De forma geral o milho é o principal componente das dietas para aves e suínos, participando em até 90% da composição em algumas delas.
Assim, a qualidade bromatológica, microbiológica e toxicológica desse insumo deve ser critério de seleção para as formulações.
Sabe-se que são inúmeras as variáveis que interferem nesses parâmetros, no entanto as condições de beneficiamento, segregação e armazenamento do grão e do farelo são determinantes na manutenção ou depreciação de sua qualidade.
Nesse contexto a implementação de um programa de controle de pontos críticos associado a tratamentos específicos é imprescindível para a redução da contaminação microbiológica e toxicológica, garantindo ainda a qualidade bromatológica do material armazenado.
Os cuidados com o grão devem ser iniciados no recebimento dos mesmos, dando preferência aos carregamentos com grãos úmidos (> 26%, por exemplo), pois milhos muito úmidos se deterioram rapidamente (Weber, 2005).
Antes de proceder o descarregamento, a carga deve ser analisada quanto ao teor de umidade dos grãos e também sua qualidade física (teor de impurezas, quebrados e ardidos). Para isso, os equipamentos utilizados devem ser adequados e a metodologia pré-definida para que se obtenha uma amostra significativa da carga.
Recomenda-se às empresas, quando viável, definir critérios para o recebimento baseado nos parâmetros citados acima.
Após a classificação dos grãos e o recebimento, o milho deve ser submetido a pré-limpeza, secagem, limpeza e só então armazenado nos silos.
Esses três processos estão diretamente relacionados a qualidade microbiológica do grão que será armazenado. Estudos têm demonstrado que existe umaa alta correlação entre as impurezas, grãos quebrados e ardidos e a contaminação fúngica (figuras 1 a 3).
Além disso, a umidade do grão está diretamente ligada a atividade de água e consequentemente ao crescimento microbiológico (tabela 1).
Figura 1: amostra de milho após o descarregamento
Figura 2: classificação da amostra de milho
Figura 3: Análise da contaminação fúngica nas diferentes partículas que compõem a carga de milho (autor desconhecido)
Tabela 1:. Crescimento fúngico, umidade e atividade de água do grão nos 10 primeiros dias de armazenamento, em temperatura ambiente 30oC e URA de 85%
Considerando que as cargas de milho não são padronizadas, o ideal é que a empresa que as está recebendo tenha pelo menos 2 linhas de beneficiamento, a fim de segregar os grãos segundo o nível de umidade. Nesse sentido, uma linha deve ser destinada para recebimento e beneficiamento de grãos com até 20% de umidade, com secagem contínua e outra linha para grãos com umidade superior a 20% e secagem intermitente (Weber, 2005).
Dessa forma, é importante destacar que a temperatura de secagem deve ser controlada a fim de que não ultrapasse os 80ºC no interior da massa de grãos e a atividade de água para armazenamento deve ser mantida em 0,65 (Afonso, s.a.).
Como último PCC (ponto crítico de controle) se encontram os silos. Eles devem estar devidamente preparados para a recepção dos grãos. Seus equipamentos devem estar funcionando adequadamente, as vedações reparadas e seu interior deve estar limpo e seco.
Possíveis alterações nessas condições irá favorecer ao acúmulo de umidade e consequentemente ao crescimento fúngico (figuras 4 e 5).
Figuras 4 e 5: Silos prontos para recebimento do milho. Note o excesso de umidade externa e interna.
O material que o silo foi confeccionado e a temperatura de armazenamento também favorecem a movimentação de umidade dentro do silo e ao crescimento microbiológico.
Heinrich Brunner (1989) observaram que grãos resfriados no armazenamento têm menor perda de matéria seca que grãos armazenados em temperatura média ou alta (tabela 2).
Tabela 2:. Relação entre a temperatura de armazenamento e a perda de Matéria Seca.
Silos metálicos favorecem ao aquecimento da massa de grãos provocando a evaporação da umidade durante o dia e, durante a noite promovem a condensação da mesma e gotejamento de água sobre os grãos (figuras 6 e 7).
Figura 6:. Esquema da distribuição da umidade em silos metálicos.
Figura 7:. milho brotando no topo da massa armazenada, devido a gotejamento
Com o intuito de complementar o trabalho medidas de controle de pragas (insetos e roedores) e tratamentos com antifúngicos também devem ser implementados.
As pragas devem ser controladas pois deterioram a integridade do grão, quebrando a película e expondo o gérmen. Dessa forma, há o favorecimento do crescimento fúngico e depreciação econômica do material armazenado.
A tabela 3 expõem o resultado de um trabalho comparativo entre os valores nutricionais de milho bom e milho fungado, onde fica claro a redução de aproximadamente 5% tanto na Energia Metabolizável quanto na Proteína Bruta em milhos contaminados (Selko BV, s. a).
Tabela 3: Comparação bromatológica entre milho bom e milho fungado
A depreciação nutricional do grão influencia diretamente as formulações de rações, obrigando os nutricionistas a buscarem ferramentas para compensá-la. Não obstante a isso, percebe-se que a redução de peso específico do grão contaminado também afeta diretamente a remuneração das cerealistas. Isso deixa claro que o controle antifúngico durante o armazenamento beneficia a todos.
O uso de ácidos orgânicos tamponados por amônia em milho armazenado tem se mostrado uma excelente opção de tratamento antifúngico.
Trabalho científicos e práticos têm demonstrado que além de controlar o crescimento fúngico, os produtos não são corrosivos e são biodegradáveis.
Em trabalhos realizados no laboratório da Selko BV (Holanda), foi possível observar que milhos tratados com mistura de ácidos orgânicos e seus sais de amônia (0,1%) tiveram sua qualidade preservada por 8 a 11 meses, enquanto que milhos não tratados apresentaram-se degradados e sinais de crescimento fúngico em 2 a 3 meses de armazenamento, no teste de estresse (temperatura a 37ºC e umidade relativa do ar de 95%).
Por fim e como benefício extra do controle fúngico, pode-se esperar menor contaminação toxicológica no milho armazenado.
As micotoxinas são substratos produzidos no metabolismo secundário de fungos filamentosos (Aspergillus sp.; Fusarium sp, etc).
São substâncias extremamente tóxicas, em dosagens mínimas, ao homem e aos animais e, uma vez produzidas pelos fungos elas permanecem no alimento mesmo após a eliminação destes.
A formação dessas toxinas depende de uma série de fatores como umidade, temperatura, presença de oxigênio, tempo para o crescimento fúngico, constituição de substrato, quantidade de inóculo fúngico bem como da interação/ competição entre microorganismos (Mallmann, s.a.).
Consequentemente é incontestável que o controle do crescimento fúngico no armazenamento de milho pelo tratamento com misturas de ácidos orgânicos e seus sais de amônia associado a medidas de controle de pontos críticos garantirá a qualidade bromatológica, microbiológica e toxicológica desse insumo, garantindo adequado retorno econômico à cerealista, à fábrica de ração e à produção animal.