As exportações de carne suína do Brasil começaram bem 2009, aumentando em volumes cerca de 30% em janeiro em relação a dezembro e ao mesmo mês do ano passado, o que sinaliza uma recuperação dos negócios após caírem pela metade com a crise no final de 2008, avaliou nesta quarta-feira a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
Apesar disso, exportadores ainda têm dúvidas de que essa possa ser uma tendência e esperam ganhar a partir deste ano acesso a novos mercados na Ásia para compensar uma eventual queda nas vendas para a Rússia, o principal mercado para o produto brasileiro.
Os embarques de carne suína para o exterior atingiram 33,7 mil t no mês passado, contra 25,8 mil t em dezembro e 25,3 mil t em janeiro, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), mas ainda estão abaixo das 45 mil t, em média, exportadas mensalmente em 2008.
"Os números de janeiro indicam uma retomada, mas quero ver fevereiro, março. A crise foi tão grande que não dá para prever. Em janeiro foi mais do que esperava", destacou o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto.
"Mas não dá para comemorar olhando mês a mês. Tem que olhar um período", acrescentou ele, ponderando que isso dificulta qualquer previsão para 2009. Quando questionado, diz que vai ficar estável ante 2008.
As exportações de carne suína do Brasil, o quarto exportador mundial do produto, atingiram 530 mil t no ano passado, abaixo das cerca de 606 mil t em 2007, embora tenham crescido em dólares por causa dos preços altos.
O executivo disse que ainda não tinha os dados fechados sobre as exportações brasileiras em janeiro nem os principais destinos do produto. Mas concordou que, a exemplo do que ocorreu com a carne bovina, o aumento em suínos pode ter tido influência de mais compras da Rússia, após o recuo no final do ano.
Ele explicou que possivelmente os importadores compraram mais em janeiro após utilizarem estoques. "Não se sabe se é ajuste de demanda ou apenas por causa da redução de estoques. Como a crise é recente, os números ainda estão influenciados pelos estoques", afirmou.
De qualquer forma, mesmo com uma esperada queda nos preços em dólar no mercado internacional em 2009, o setor está otimista com o efeito do câmbio nos seus negócios. "Temos que lembrar que tivemos uma maxidesvalorização. O câmbio era de R$ 1,60 no ano passado e ficou em R$ 2,20. Isso terá um efeito na economia", declarou.
Novos mercados
A Abipecs trabalha com a possibilidade de o Japão e a China continental abrirem o acesso à carne suína do Brasil em 2009, otimista após o Chile ter voltado a comprar o produto brasileiro, por meio de embarques da carne de Santa Catarina, Estado livre de aftosa sem vacinação.
Camargo Neto espera que a parte burocrática entre os governos brasileiro e chinês esteja resolvida para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua viagem à China ainda no primeiro semestre, possa anunciar junto com seu colega asiático a abertura ao produto.
A China, grande produtora de carne suína, poderia complementar suas necessidades com o produto brasileiro, já exportado em boas quantidades para Hong Kong, o segundo principal destino da carne nacional.
Mas o Japão, o maior importador mundial, seria a grande possibilidade de o Brasil ampliar suas exportações de forma expressiva. O processo para a abertura também é uma possibilidade para 2009, disse Camargo Neto.
Os novos mercados poderiam compensar uma possível queda nas vendas para a Rússia, que tem trabalhado para aumentar a produção interna e privilegiou mais os Estados Unidos no ano passado, ao conceder mais cotas de exportação e nenhuma exclusivamente para o Brasil.
"Vai depender do consumo (russo). Se for bem, eles vão ter que importar mais. Se não, deve ficar reservado para o produtor deles. Poderíamos perder 100 mil t (em vendas), mas não acredito nisso. Mesmo assim, isso aumenta a necessidade de abrirmos mercados", explicou o presidente da Abipecs.
A Rússia importou 226 mil t de carne suína do Brasil em 2008, ou quase a metade do que o Brasil exportou (530 mil t).