GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Domar os mercados de commodities. É o que pretende Nicolas Sarkozy, presidente francês -notório pelo apoio a vultosos subsídios a seus agricultores e a barreiras ao comércio- e novo presidente do G8 e do G20. Nessa condição, empunha a bandeira do combate aos especuladores internacionais que estariam colocando em risco a segurança alimentar e o controle da inflação em escala mundial. Como vem sendo feito com o setor financeiro, o mercado de commodities, especialmente o segmento de derivativos, deveria também ser submetido a regulação, trazendo transparência e evitando as explosões de preços como a que se observa atualmente. Se implementada, quais as chances de obter sucesso nessa empreitada? Um diagnóstico técnico da situação indica que há fundamentos suficientes para a instabilidade e a alta dos preços.
A demanda está em forte expansão devido ao crescimento da renda mundial. A oferta tem seu crescimento limitado pela evolução mais lenta da produtividade, pela falta de investimentos em infraestrutura e pelos elevados custos associados ao uso de recursos naturais. As mudanças climáticas, por seu turno, vêm aumentando concretamente a volatilidade da produção. Nesse contexto, os operadores dos mercados de derivativos encontram razões objetivas para apostar em vigorosa alta de preços. É claro que o aumento abusivo de liquidez catalisa essas operações ao reduzir o custo de oportunidade dos recursos financeiros. A única forma eficiente de estabilizar preços agropecuários é, e sempre foi, por meio de estoques reguladores, os quais têm obrigatoriamente de ser formados em épocas de abundância, quando seria tolerada a consequente recuperação de preços. Não tem cabimento formar estoques em períodos de escassez e preços altíssimos, como agora. O efeito seria agravar ainda mais a carestia e a inflação. Cabe, assim, perguntar: por que os procedimentos para estabilidade de preços não foram adotados antes, em época mais oportuna? No final dos anos 1990, os estoques mundiais de cereais, por exemplo, estavam acima de 600 milhões de toneladas (2 a 3 vezes os níveis de décadas anteriores). Os preços, então nos níveis mais baixos dos últimos 30 anos, estimulavam o consumo e, em 2003, os estoques haviam caído para 420 milhões de toneladas. O crescimento mundial que se seguiu aumentou ainda mais o consumo, com consequente explosão de preços a despeito de a produção ter crescido 20%. Os estoques atuais, na casa dos 500 milhões de toneladas, correspondem a menos de 25% da utilização anual, cifra que no início da década era de 32%. A preocupação com a estabilidade dos mercados chega, portanto, tardiamente e em momento inoportuno.
Os preços muito altos de agora são consequência da despreocupação com os preços muito baixos -e as dificuldades dos produtores- do passado. Para evitar que sigam em alta, seria necessário conter a demanda dos países emergentes e a liquidez ditada pelos países desenvolvidos. Urge também focar no aumento da produtividade, em especial nos países mais pobres, além, é claro, de colocar um fim no protecionismo que tanto desestimula a produção.
GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP