GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Recente análise da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) projeta que, nos próximos dez anos, a produção do agronegócio brasileiro precisará crescer 40% para atender a demanda mundial de alimentos. Embora a taxa média de quase 3,5% ao ano não seja elevada, seu alcance depende de que não ocorram crises mundiais que encareçam os insumos ou eventos climáticos extremos, ambos, infelizmente, cada vez mais frequentes. Além dessas variáveis incontroláveis, fica a dúvida quanto à capacidade de o Brasil levantar o volume de capital para os investimentos necessários. Em primeiro lugar, a mola mestra do crescimento agropecuário, que tem sido o investimento em ciência e tecnologia, vem sendo razoavelmente sustentada, como evidenciado pelo apoio dado à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que teve seu orçamento anual içado à casa de R$ 1,5 bilhão. No tocante ao capital físico, há dois níveis de abrangência a serem considerados. Um deles contempla a infraestrutura logística e de energia, de uso geral na economia. O governo federal, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tenta coordenar os investimentos nessas áreas. Sua eficácia tem sido debatida entre técnicos de dentro e de fora de governo. Por enquanto, configurase imenso entrave à competitividade brasileira. O outro nível envolve os investimentos no agronegócio propriamente. Para a agropecuária (segmento primário), conta-se com financiamento do BNDES e de fundos constitucionais que somam perto de 18% do PIB desse segmento. É um nível próximo da taxa média de investimento nacional. De modo geral, no crédito (custeio e investimento) para a agropecuária, apesar de decrescente, ainda éelevada a importância das fontes oficiais, que disponibilizam o equivalente a cerca de 60% do PIB desse segmento. Outras fontes de recursos têm sido estimadas informalmente como sendo metade formada por recursos próprios e o restante de outras fontes privadas. Estas, incluindo-se os novos instrumentos de crédito - como CDA, CDCA, LCA, CRA- cobram taxas 4 a 5 vezes mais altas do que as do crédito oficial e, por isso, seriam mais viáveis apenas num cenário (mercados interno e externo) bastante favorável à agricultura. Mais recentemente, observam-se investimentos externos, como os dos chineses na produção de alimentos no Brasil.
Ao associar-se ao investidor estrangeiro, o produtor nacional reduz sua alavancagem e exposição ao risco, podendo ainda, ao negociar sua produção diretamente com o cliente, escapar das elevadas margens de exportação normalmente auferidas pelos intermediários. Produtores rurais ampliam, pois, a estratégia já usada pela agroindústria, para a qual o BNDES destinou recentemente montante que equivale a quase 7% do PIB do segmento industrial do agronegócio. Para recursos adicionais, livrando-se dos juros altos do Brasil, essa indústria tem contado com investimentos estrangeiros diretos, notadamente nos setores sucroalcooleiro e papel e celulose. Em síntese, o crescimento do agronegócio esbarra na infraestrutura -que depende da eficiência administrativa do governo- e nos juros altos -no que o apoio externo pode ajudar.
GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.