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Crise: Governo encara com temor saúde de frigoríficos

Publicado: 17 de março de 2009
Fonte : Valor Online
Alertado pelas próprias indústrias, o governo sabe das dificuldades financeiras de curto prazo dos frigoríficos de carnes. Algumas propostas têm sido avaliadas, e o presidente Lula recomendou pessoalmente, em recente reunião no Palácio do Planalto, que o governo ajudasse o setor.
Segundo apurou o Valor, a prioridade do governo neste momento é garantir capital de giro para evitar novos pedidos de recuperação judicial e até falências. Existe uma clara preocupação em "manter de pé" essas empresas para evitar um "efeito cascata" nos negócios de pequenos criadores de bovinos, suínos e frangos. Pelo menos 18 frigoríficos estariam em situação mais delicada, segundo fontes que participaram da reunião.

As conversas sobre eventuais estímulos a fusões ou aquisições não estão descartadas, mas não seriam o foco principal neste momento. Na reunião de Lula com ministros e dirigentes de bancos públicos, o BNDES ficou de avaliar o desenho da ajuda que será prestada ao setor. O banco informa não ter recebido nenhum pedido oficial, mas fontes do governo afirmam que o BNDES avalia soluções que poderiam incluir fusões ou empréstimo para a aquisição de concorrentes.

Ao contrário da indústria sucroalcooleira, onde teme-se uma desnacionalização, o governo vê como normais eventuais transações entre empresas brasileiras e estrangeiras que já atuam no país. Seria até uma "saída natural", avaliam fontes do governo.
As discussões no governo têm avançado para além do tamanho da ajuda que será oferecida aos frigoríficos, estimada em R$ 1,2 bilhão. Na reunião de Lula com seus ministros, os bancos informaram haver dificuldades em renovar empréstimos e abrir linhas de crédito. Na linha de frente do socorro, o BNDES teria reclamado a Lula sobre a demora do Tesouro em publicar portarias para autorizar a "equalização" dos juros em operações oficiais. Em resposta, o Ministério da Fazenda apontou a lentidão nos desembolsos do BNDES. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, também teria reclamado da demora. Diante do impasse, Lula exigiu de ambos um relatório mensal de prestação de contas.

Ainda que apoiar uma fusão não seja o foco do governo agora, rumores de que Sadia e Perdigão estariam negociando uma união patrocinada pelo BNDES voltaram a circular e fizeram as ações das duas subir ontem na Bovespa. Os papéis ON da Sadia subiram 8,24% no dia e as ações da Perdigão, 2,34%. Procurada, a Perdigão informou que não comenta especulações de mercado. A Sadia não se pronunciou até o fechamento desta edição.
O Valor apurou que conversas entre Sadia e Perdigão ocorreram há cerca de dois meses, mas não houve acordo. Agora, não há nada mesa. Mas a Perdigão continua alerta, com os advogados atentos ao tema. A avaliação é que o tempo corre contra a Sadia e a favor de potenciais compradores. Qualquer acordo entre as companhias, contudo, não deve ser costurado do dia para noite. Na Sadia, é preciso costurar interesses díspares dos cerca de 70 signatários do acordo de acionistas. Na Perdigão, uma compra mediante troca de ações - hipótese mais provável - precisa acomodar o interesse dos fundos de pensão, que controlam a empresa com menos de 50% do capital e seriam diluídos.

Um fonte que acompanha o setor de perto acredita que uma eventual fusão seria aprovada pelo Cade já que o mercado de frango no país é bastante pulverizado. Mas em alguns segmentos, como o de peru, as duas teriam quase 100% do mercado. A união das duas não geraria sobreposições significativas, acredita a fonte, para quem ocorreriam ajustes, com fechamento de fábricas, só no Rio Grande do Sul. "Existe mercado para as duas", afirma. Tanto Sadia quanto Perdigão têm unidades no Paraná e em Santa Catarina. O maior complexo agroindustrial da Perdigão está em Rio Verde (GO) e a Sadia está implantando o seu maior complexo em Lucas do Rio Verde (MT).
Apesar de não haver muita sobreposição na logística de produção, uma união das empresas geraria cortes. A Perdigão tem quase 59 mil funcionários no país e a Sadia, 60 mil. (Colaboraram Alda do Amaral Rocha e Graziella Valenti, de São Paulo).
Fonte
Valor Online
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