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CNA reclama da crise e pede R$ 155 bi ao governo em 2009/10

Publicado: 18 de fevereiro de 2009
Fonte : Valor Online
A safra 2009/10, que começa oficialmente em julho, exigirá um orçamento de R$ 155 bilhões para financiar as operações de custeio, comercialização e investimento da agropecuária no país, informou ontem a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), durante audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. A demanda apresentada pela CNA significa quase o dobro dos R$ 78 bilhões em crédito reservados pelo governo aos segmentos empresarial e familiar no ciclo 2008/09.
 
No encontro, o presidente Lula e a senadora de oposição ao governo avaliaram a "fragilidade" do setor diante da crise internacional, especialmente com a queda nas cotações das commodities. "Aliada à escassez de crédito no mercado, será inevitável uma redução na renda do produtor rural e no nível de emprego do setor", afirmou Kátia Abreu. 
O inédito encontro deixou clara a preocupação dos produtores rurais com os impactos da crise no setor. Geralmente anunciada em maio, a demanda do setor por crédito foi bastante antecipada neste ano. A senadora informou que apenas a produção de grãos necessitará de R$ 78 bilhões em novos financiamentos. Segundo ela, apenas um terço da safra é financiada com recursos federais. Outros dois terços vêm de operações com recursos próprios dos produtores e de tradings que operam no setor. 
Cálculos da líder ruralista indicam que o governo já deu R$ 385 bilhões para socorrer diversos setores afetados pela crise financeira global sob a forma de incentivos e desonerações. Mas o setor rural recebeu, segundo ela, "apenas R$ 14,8 bilhões". Kátia Abreu disse que o setor, que responde por quase um terço do Produto Interno Bruto (PIB), das exportações e dos empregos no país, deveria ter um tratamento melhor do tem recebido até agora. "Políticas de abastecimento são obrigação para todos os presidentes do mundo. Temos também de oferecer garantia de renda para os produtores". 
A senadora demonstrou preocupação com o esgotamento da capacidade de endividamento dos produtores rurais. Está em estudo no governo, em conjunto com a CNA e os bancos operadores do crédito rural, um estudo para remodelar o atual modelo de política agrícola do país. Para ela, as sucessivas rolagens das dívidas rurais, que parecem uma vantagem para os produtores rurais aos olhos da sociedade, são um fator de "estrangulamento" da produção. A presidente da CNA afirmou que a cada rodada de rolagem da dívida, o passivo aumenta em 25%. Além disso, o risco de emprestar aos produtores rurais aumentou de 3% para 14,9% junto às instituições bancárias nos últimos anos. 
"Por mais que as instituições bancárias estejam dispostas a emprestar recursos para os produtores, elas se veem obrigadas a seguir as análises de risco estabelecidas pelo Banco Central", disse ela. Primeira mulher a comandar a CNA, a senadora também defendeu que a arbitragem em relação à reforma do Código Florestal, que gerou disputas e enorme mal-estar dentro do governo, seja feito pela Academia, aí incluindo a Embrapa. "Reconheço que os dois ministros [Carlos Minc, do Meio Ambiente, e Reinhold Stephanes, da Agricultura] têm boa vontade no debate, mas precisamos de agentes externos nesta discussão", afirmou. 
A audiência entre a senadora e o presidente foi acertada na semana passada, na posse do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. Logo no início da conversa, a senadora afirmou ter deixado claro que estava lá como presidente da CNA, mas que esta função não a impediria de manter seu discurso de oposição ao governo federal. Kátia Abreu foi a relatora da proposta que derrubou a cobrança da CPMF, considerada a maior derrota política do governo Lula no Congresso. 
Na avaliação da senadora, Lula entendeu a distinção entre Senado e CNA e declarou que, mesmo após um discurso contundente dela contra o governo, não fecharia as portas do Planalto à presidente da CNA. Mesmo assim, à saída do encontro, a líder ruralista criticou a "superexposição" da chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, nos eventos do governo. Na semana passada, seu partido, o DEM, entrou com uma representação no TSE alegando antecipação da propaganda eleitoral e uso da máquina pública federal para beneficiar a candidata de Lula à sucessão em 2010. (Colaborou Mauro Zanatta)
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Valor Online
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