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Protocolo de manejo clínico e vigilância em casos de surto de streptococcus suis em leitões desmamados

Publicado: 14 de julho de 2023
Por: Talita Berlanda1, Caroline Pereira da Costa2, Fábio Arnhold Resmini3. Centro Universitário dinâmica das cataratas, UDC, PR, Brasil. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PUC/PR, Brasil.
Introdução
Atualmente, a suinocultura brasileira se expande significativamente, tendo a maior representação numérica na região sul do Brasil (De Zen et al., 2014), além de ocupar o 4° lugar nas posições de exportação mundial de proteína, tendo grande importância para o agronegócio em virtude da geração de empregos e renda (Xavier, 2022). Contudo, como consequência desta evolução, observa-se um aumento de problemas sanitários nas granjas, voltados ao aumento da quantidade de animais e também de instalações, fazendo com que as taxas de infecções sejam maiores (Walter et al., 2021).
Um dos principais fatores que impactam a economia na suinocultura são as afecções do sistema nervoso, que interferem diretamente na produção e são a principal causa de mortalidade dos animais. Frequentemente, granjas tecnificadas são acometidas por agentes bacterianos, como o Streptococcus suis (S. suis), reconhecido mundialmente por ser um dos maiores patógenos na suinocultura (Hammershmitt et al., 2021). Esse agente ocasiona elevados prejuízos econômicos, dentre os quais a alta mortalidade, perda de peso dos animais e o elevado custo nos tratamentos, sendo estimando em centenas de milhões de dólares por ano (RIVA, 2008).
O S. suis, é uma bactéria gram positiva encapsulada, hemolítica, anaeróbica facultativa, que coloniza o trato respiratório e digestivo dos suínos (Del’arco et al., 2001). Alguns estudos apontam que cerca de 35 tipos de sorotipos já foram identificados, com base nas estruturas dos antígenos diferentes do polissacarídeo capsular que está envolto da bactéria, sendo o sorotipo 1 e 9 o de maior frequência (Rocha et al., 2012). O agente também é conhecido por ter caráter zoonótico, com maior frequência nos países do sudeste asiático, acometidos pelo sorotipo 2, de forma que a contaminação se dá por carcaças contaminadas ou pela ingestão de carne contaminada (Matajira et al., 2015).
A introdução no plantel ocorre através de animais assintomáticos quando, no momento do parto, os leitões entram em contato com a bactéria que se encontra nas secreções vaginais das fêmeas, tornando-se parte da microflora normal, denominada transmissão vertical (Del’arco et al., 2001). Outro fator que pode influenciar no surto da doença nas granjas é a introdução de animais portadores das cepas patogênicas (Segura et al., 2020).
A principal fonte de transmissão é a horizontal, por via nasal ou oral, sendo a respiratória a mais comum, através da qual o S. suis atinge as tonsilas, servindo como uma porta de entrada para o agente. Logo, ocorre a migração para os linfonodos mandibulares, o que pode fazer com que os animais permaneçam saudáveis portadores ou torne-se patogênica nos animais imunodeprimidos (Birck, 2015). Em geral, a disseminação ocorre na creche, quando estes animais são desmamados, em torno de 4 a 12 semanas de vida e transmite para os demais (Del’arco et al., 2001). Determinados fatores podem fazer com que alguns animais apresentem maior predisposição, como estresse, condições de superlotação, movimentações, misturas de lotes, desmame precoce e mudanças na dieta (Magalhães et al., 2021).
A patogênese da infecção pela bactéria deve passar por etapas de desenvolvimento: deve primeiro colonizar o hospedeiro, o patógeno deve então sobreviver no hospedeiro antes da disseminação, sendo capaz de induzir uma resposta pró inflamatória, que pode desencadear um choque séptico. A bactéria pode, então, atravessar a barreira hematoencefálica e invadir o sistema nervoso central. Uma vez que o S. suis se estabelece dentro do hospedeiro, é capaz de se espalhar pela corrente sanguínea, escapando do sistema imunológico do hospedeiro, para que a infecção persista. Uma das hipóteses para que o S. suis consiga escapar do sistema imunológico do hospedeiro e se disseminar efetivamente, é a adesão nas superfícies dos monócitos através da sua capsula (Haas, 2018).
Os sinais clínicos envolvem febre, depressão, artrite (inflamação das articulações, com dificuldade para caminhar e claudicação), incoordenação, pedalagem, tremores, opistótono (espasmo da coluna vertebral e as extremidades que se curvam para frente, resultando em posição de arco e a cabeça jogada para trás), nistagmo (movimento rítmico e involuntário do globo ocular, de um ou dos dois olhos), paralisia e morte súbita (Amador, 2018; Magalhães et al., 2021; Gonçalves, 2022).
O diagnóstico é realizado avaliando-se o histórico dos animais, sinais clínicos manifestados e os achados necroscópicos, sendo confirmado após o isolamento para identificação do agente. Para o tratamento, é indicado o uso de antimicrobianos logo no início dos sintomas para que haja um melhor efeito, sendo indicado o uso de amoxicilina, cefalosporinas e florfenicol, juntamente com anti-inflamatório (Soares, 2011).
Em decorrência da diversidade antigênica e da imunidade ser sorotipo especifico, existe uma dificuldade em desenvolver produtos de vacinação comerciais específicos para as patologias de cada granja. Dessa forma, uma das alternativas, são a formulação de vacinas autógenas, desenvolvidas e formuladas por laboratório para uso especifico na granja, produzidas por microrganismos isolados e identificados, sendo recomendadas duas aplicações nos leitões e também nas porcas. Algumas hipóteses relacionadas com a falha na vacinação estão voltadas à interferência de anticorpos maternos, baixa imunogenicidade dos antígenos bacterianos associados com a proteção, produção de anticorpos contra antígenos não associados com a doença ou erro na escolha das cepas usadas na produção da vacina (Barcelos et al., 2007).
O presente estudo tem como objetivo acompanhar o desenvolvimento de um sistema de monitoramento dos animais jovens em uma região que registra constantes surtos de S. suis, permitindo a análise detalhada da disseminação da doença, a identificação da idade com maior acometimento, bem como a taxa de mortalidade dentro do lote.
Justificativa
No dia 25 de janeiro de 2023 foi realizada a eutanásia, necropsia e coleta de material biológico de leitões com sintomatologia especifica, pela equipe técnica de um laboratório de fabricação de vacinas autógenas. As análises solicitadas foram isolamento bacteriano e soro tipificação e, posteriormente, antibiograma e histopatológico, sendo possível isolar o Streptococcus suis, sorotipo 9.
Foram coletadas amostras de 3 animais (Tabela 1), sendo essas refrigeradas para o isolamento bacteriano em placa, semeadura em meios clássicos para o isolamento de bactérias de suínos e tipificação por PCR multiplex e teste de susceptibilidade aos antimicrobianos, conforme as diretrizes do Clinical and Laboratory Standards Institute / Instituto de padrões clínicos e laboratoriais (CLSI).
Tabela 1. Amostras coletadas para análise e investigação diagnóstica.
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Abaixo, são apresentados os resultados de crescimento bacteriano em placa (Figura 1):
Figura 1. Resultados obtidos após a realização da cultura e isolamento bacteriano.
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Metodologia
O estudo foi desenvolvido em uma propriedade particular, localizada no município de Serranópolis do Iguaçu, região do Oeste do estado do Paraná, seguindo os protocolos de manejos da granja. A propriedade tem como atividade específica a Suinocultura, com o sistema de Unidade Produtora de Leitões (UPL). Atualmente, o plantel reprodutivo é composto por 1.350 matrizes ativas e o estoque médio de leitões, na fase de creche, gira em torno de 6.300 leitões.
As avaliações foram realizadas com 942 leitões desmamados (480 fêmeas e 462 machos), com 24 dias de idade média e peso aproximado de 5,06Kg. Os animais foram mantidos em 8 baias coletivas de 26,43m², com média de 117 animais em cada, alojados do dia do desmame até o dia da venda, contendo 4 comedouros e 4 chupetas de água. A classificação dos animais se deu pela sexagem e tamanho e, para este último, foram separados os menores (4-5kg), os médios (5-6kg) e os maiores (6-7kg).
O protocolo de vacinação foi realizado 3 dias antes do desmame, com a Vacina Autógena (laboratório San Vet, agentes: Glaesserella parasuis, Streptococcus suis, Pasteurella multocida), na dose de 1 ml e após 15 dias foi realizada a 2° dose; Hyogen (laboratório Ceva, agente: Mycoplasma hyopneumoniae), dose única de 2ml; Ingelvac “CircoFLEX®” (laboratório Boehringer Ingelheim, agente: Circovírus suíno), na dose única de 1ml. No dia do desmame, foi utilizado o antibiótico a base de tulatromicina “Treoxin®”, para doenças respiratórias, em dose única de 0,3ml.
O conforto térmico foi estabelecido através do manejo de cortinas, sendo realizado o controle da temperatura conforme a necessidade. A alimentação foi fornecida ad libitum, de forma manual da 1ª a 2ª semana de experimento e, depois, por automatização. Em cada baia, foram inseridos 4 comedouros, onde 1 deles foi utilizado para fornecimento de ração úmida do 1° ao 3° dia após o desmame, para estimulação de consumo.
A ração é feita a base de milho, farelo de soja, fármacos: clortetraciclina com sulfametazina, ácido cítrico e trimetoprim; amoxicilina; colistina e tiamulina; os núcleos (mistura de minerais e vitaminas essenciais ao desempenho produtivo e reprodutivo dos animais) e os aditivos (adsorvente de micotoxinas, lisina, metionina, treonina e triptofano) na quantidade e concentração correspondente a cada fase. Cada baia foi nomeada com a fase em que os animais se encontravam.
No dia do desmame, até os 28 dias de vida (duração de 4 dias), os animais foram mantidos em baias nomeadas por fase de pré 600, onde foi fornecido aproximadamente 1,5kg por leitão de ração, contendo o núcleo específico para esta fase, que é composta por 21,73% de proteína, 13% de lactose e 4,5% de plasma. Na fase de pré 400, dos 29-35 dias (7 dias de duração), o fornecimento é de aproximadamente 2,0kg por leitão, contendo 21,12% de proteína, 8% de lactose e 3,0% de plasma. A fase de pré 250, 36-42 dias de vida (7 dias de duração), o fornecimento é de aproximadamente 4,0kg por leitão, composta por 21,06% de proteína, 4% de lactose e 1,5% de plasma. Por fim, a fase inicial, dos 43 dias de vida até o dia do carregamento, fornecendo aproximadamente 17kg por leitão, com 19,54% de proteína e 0% de lactose e plasma.
Abaixo, são apresentados os dados de consumo de ração (Tabela 2), considerando as fases dos animais:
Tabela 2. Consumo de ração de acordo com a idade dos leitões, duração do período de oferta da ração, consumo estimado e composição da dieta.
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A água foi fornecida ad libitum, através de 4 chupetas por baia, distribuídas e penduradas na altura dos leitões, sendo ajustadas conforme o crescimento dos animais. O jejum hídrico e alimentar ocorreu somente 8 horas antes do carregamento, seguindo protocolo da empresa da integração.
Foram utilizados ainda medicamentos via água, sendo o ácido acetilsalicílico (Agespirin®), na dose de 1g para cada litro de água, durante 3 a 5 dias, além de florfenicol 10%, na dose de 4 mg por kg de peso corpóreo por dia, durante 5 a 7 dias consecutivos, conforme surgimento de sinais clínicos específicos.
O monitoramento dos animais foi realizado duas vezes ao dia, a 1° às 07:00 horas e a 2° às 17:00 horas. Os animais com início de sintomas sugestivos de infecção por bactérias do gênero S.suis foram medicados, seguindo o protocolo medicamentoso injetável, conforme orientações de médicos veterinários, indicações da literatura (Sobestiansky, 1999; Santos; Barcellos, 2012) e bula do medicamento. O sinal clínico de eleição para início do tratamento foi a artrite e/ou incoordenação motora.
A avaliação ocorreu de maneira individual em cada baia, sendo observados os animais com início de sinais clínicos e, posteriormente, realizada a medicação. Os animais que apresentaram sintomatologia de decúbito e pedalagem foram separados dos demais e levados para a baia de enfermaria, permanecendo até a recuperação e/ou morte.
O medicamento de eleição para os animais com início de sinais clínicos foi a cefalosporina – grupo de antibióticos beta-lactâmicos – (Soares, 2011), ativa contra bactérias gram-positivas, inibindo a síntese da parede bacteriana, sua fórmula é a base de ceftiofur 50mg/ml, tendo como nome comercial “Eficur®”. A dosagem recomendada é de 3 mg/kg de peso vivo, a cada 24 horas (SID), no período de 3 dias, pela via intramuscular, devendo ser administrado, preferencialmente, na região do pescoço.
Para a hipertermia, foi utilizado um anti-inflamatório não esteroidal, com princípio ativo de Meloxicam (1,0g) e Dipirona (50,0g), com atividade analgésica e antitérmica. Administrado por via intramuscular, 1 ml/25Kg, a cada 24 horas (SID), durante 3 dias, tendo como nome comercial “Prador®”.
Sempre, ao final de cada acompanhamento, foram anotados no formulário experimental os dados relacionados a quantidade de mortes, descrevendo-se a causa. Os animais que evoluíram para óbito foram retirados das baias e descartados corretamente.
Resultados
O experimento foi realizado com 942 leitões, com média de 24 dias de vida. Com aproximadamente 5 dias de pós desmame, iniciou-se os primeiros sinais clínicos sugestivos de infecção por S. suis, principalmente animais com início de artrite e dificuldade locomotora. Os sinais clínicos foram observados de forma aguda onde, em poucas horas, evoluíam para incoordenação motora, opistótono, pedalagem, nistagmo e, logo em seguida, ao óbito.
Figura 2. Opistótono
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Legenda: leitão apresentando o sinal clinico de opistótono, que pode ser evidenciado quando ocorre espasmo da coluna vertebral e as extremidades que se curvam para frente, resultando em posição de arco.
Figura 3. Nistagmo (A, B)
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Legenda: ambos leitões apresentando o sinal clinico de nistagmo, movimento rítmico e involuntário do globo ocular, de um ou dos dois olhos.
Figura 4. Artrite (A, B, C, D)
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Legenda: ambos leitões apresentando sinais clínicos de artrite, inflamação das articulações, com dificuldade para caminhar e claudicação.
Na 1a semana de pós desmame, verificou-se um total de 9 mortes, sendo 5 sugestivas de infecção por S. suis; na 2a semana, totalizaram 19 mortes, com 18 sugestivas de infecção por S.suis; na 3a semana houve um aumento considerável na mortalidade, totalizando 48 mortes, todas sugestivas de infecção por S.suis; na 4a semana, progressivamente, identificou-se o maior pico de mortalidade, totalizando 70 mortes, sendo 68 sugestivas de infecção por S.suis; na 5a semana observou-se uma diminuição na mortalidade, totalizando 33 mortes, das quais 28 sugestivas de infecção por S.suis; por fim, na 6a semana, totalizando 25 mortes, com 19 sugestivas de infecção por S.suis.
Ao término do experimento, a mortalidade total foi de 204 leitões, correspondendo a 21,65% do lote. A maior taxa de mortalidade ocorreu na 4a semana pós desmame, na qual os animais se encontravam na 7a semana de vida (45-51 dias aproximadamente), sendo no 26° dia após o desmame a maior incidência de mortalidade, conforme demonstrado nos Gráficos 1 e 2.
Gráfico 1. Evolução semanal da mortalidade.
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Abaixo, é mostrado o gráfico contendo as causas da mortalidade:
Gráfico 2. Causas da mortalidade.
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A causa de mortalidade com maior frequência se deu por sugestivo de infecção por S.suis, sendo possível observar outras causas, dentre as quais Doença de Glasser, morte súbita, desclassificado e prolapso retal. A mortalidade na granja sugestiva de infecção por S.suis teve início no dia 21 de outubro de 2022, onde, desde então, vem ocorrendo altas taxas de porcentagens, em comparação com períodos anteriores (Gráfico 3).
Gráfico 3. Mortalidade observada em meses anteriores. Comparativo da mortalidade, em relação a meta da granja.
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Os animais foram vendidos com 2 semanas de intervalo, conforme desempenho zootécnico. No 1° carregamento, os animais estavam com 37 dias de alojamento na creche, totalizando 61 dias de vida. No 2° carregamento, estavam com 44 dias de alojamento na creche, totalizando 68 dias de vida. O peso de venda desses animais manteve-se na média de 21,98kg, inferior à meta estabelecida inicialmente, que era de 23kg.
Discussão
O agente etiológico S. suis afeta principalmente leitões entre o desmame e o abate, sendo uma doença caracterizada principalmente pelo surgimento de sinais nervosos, febre e também morte súbita do animal. As granjas que estão acometidas com essa doença, onde os suínos infectados podem não apresentar sinais clínicos, mas a bactéria se faz presente nas tonsilas ou no aparelho respiratório dos animais infectados, faz com que as maiores taxas de mortalidade sejam verificadas na fase da creche e recria (Santos; Barcellos, 2012).
Os sinais clínicos mais comuns observados nessa pesquisa foram: artrite, incoordenação e pedalagem, visto que esses animais passavam a maior parte do tempo sem se locomover, em decúbito lateral, sem ingestão de água e alimento, podendo levar a morte a partir de 4 horas, contando do início da apresentação dos sinais clínicos.
Segundo Higgins et al. (1990), os animais com artrite geralmente apresentam dor à palpação, claudicação e aumento de volume na articulação afetada, o que vem de encontro com os achados dessa pesquisa, na qual os animais acometidos pela artrite apresentaram os mesmos sintomas.
Sobestiansky et al. (1999) explicam que, no caso de leitões desmamados, posteriormente aos períodos de incubação, os sinais clínicos comuns envolvem anorexia, apatia, febre, tremores musculares, incoordenação, perda do equilíbrio, decúbito lateral, movimentos de pedalagem, opistótono e convulsões. Ainda, são sinais possíveis artrites, claudicações, ataxia e paralisia. O óbito desses animais pode ocorrer a partir de 4 horas após o início dos sinais clínicos nervosos, corroborando com os dados apresentados no presente experimento.
Nesse estudo, o medicamento de eleição para os animais com início de sinais clínicos foi a cefalosporina ativa contra bactérias gram-positivas, “Eficur®”, com dosagem de 3 mg/kg de peso vivo, a cada 24 horas (SID), no período de 3 dias, pela via intramuscular. Na pesquisa de Coldebella, Konradt e Kummer (2023), é recomendado para o tratamento logo após surgirem os sinais clínicos os fármacos considerados mais eficazes: amplicilina, amocixilina, cefalosporinas, florfenicol, quinolonas e as combinações de sulfatrimetoprima.
Crivellaro (2018) informa que, em determinados casos, pode ocorrer uma alta resistência da cepa isolada de S. suis a antibióticos de eleição para Gram+, como a amoxicilina e a cefalexina, o que pode ser bastante preocupante, já que a amoxicilina é extremante utilizada nas granjas, em especial na prevenção das encefalites.
Santos e Alessi (2023) mencionam que a infecção estreptocócica suína decorrente da infecção por Streptococcus suis costuma causar quadros de meningite, artrite e bacteriemia em suínos neonatos, sendo fonte de infecção, na maioria das vezes, o meio ambiente. No caso de animais com menos de 1 semana de idade, é comum ocorrer septicemia fatal, enquanto nos mais velhos, lesões supurativas em órgãos podem ser observadas.
Sobre o diagnóstico diferencial das infecções por S. suis em suínos, recomenda-se a realização para Doença de Teschem-Talfan (Paresia Enzoótica Benigna); Doença de Aujeszky; Doença do Edema; infecções por Haemophilus parasuis; infecções por Erysipelothrix rhusiophatiae; infecções por Actinobacillus suis; intoxicação por cloreto de sódio; infecções por Mycoplasma hyosynoviae e Mycoplasma hyorhinis (Sobestiansky et al. 2001; Soares, 2014;).
Uma grande cooperativa do oeste do Paraná, enfatiza a importância da vacinação, que reflete em resultados para toda a cadeia de produção de suínos, sendo as seguintes vacinas utilizadas para os leitões: Circovírus, Mycoplasma hyopneumoniae, Streptococcus suis e Haemophilus parasuis. Para que seja eficaz, é preciso respeitar o intervalo entre doses das vacinas realizadas nos leitões, sendo que o protocolo vacinal dos leitões da Copagril ocorre em duas fases, sendo a primeira delas nas Unidades Produtoras de Leitões (UPDs) aos 21 dias de vida e a segunda dose nas Creches aos 42 dias de vida.
No estudo realizado por Coldebella, Konradt e Kummer (2023) em uma unidade de creche com capacidade de alojamento de cerca de 4733 leitões, um total de 1942 animais de 45 a 55 dias de idade apresentaram algum tipo de sinal clínico de S. suis. Ao total, 125 leitões deste lote apresentaram o quadro clínico, resultando em uma morbidade de 6,32% e 2,8% de mortalidade do lote. Os autores afirmam que todos os cuidados tomados na granja não foram suficientes, concluindo que é preciso que o produtor redobre sua atenção a aspectos de biosseguridade, de forma a não comprometer a sustentabilidade da granja.
No presente experimento, são mostrados dados de meses anteriores na granja, sendo possível observar que a mortalidade seguia uma certa linearidade – de julho de 2022 até o mês de setembro do mesmo ano, com um discreto aumento, sendo que a meta para todo o período era de 3,5. Em outubro de 2022, a mortalidade chegou a 21,38 e, no mês seguinte, apresentou uma queda, chegando a 18,53, mas o mês de dezembro do mesmo ano foi o período de maior mortalidade, com 38,52.
Segundo Kist et al. (2020), as taxas de mortalidade ideais esperadas para unidades de creche são de 0,5 a 2,5%, onde os índices superiores a 4% são considerados insatisfatórios, por conta de reduzir a eficiência produtiva das granjas.
No presente experimento, realizado com 942 leitões em fase de creche, o resultado obtido foi de 21,65% de taxa de mortalidade, representando uma taxa extremamente acima do que seria o esperado para se obter bons resultados.
Conclusão
Nos últimos anos, o S. suis tem evoluído significativamente como um patógeno importante na suinocultura mundial. O agente apresenta alta disseminação, tornando difícil o controle e prevenção, sendo de alta importância a realização adequada do controle sanitário, tornando necessário o monitoramento de amostras virulentas do S. suis.
O presente estudo possibilitou o desenvolvimento de um sistema de monitoramento dos animais jovens em uma região que registra constantes surtos de S. suis. Através de uma análise detalhada da disseminação da doença, verificou-se que a idade com maior acometimento foi a 7a semana de vida e a taxa de mortalidade dentro do lote foi de 21,65%. Foi possível confirmar a alta taxa de mortalidade dos animais mesmo com o uso da vacinação e com a instituição do tratamento recomendado na literatura, o que sugere que novos e maiores investigações sejam necessárias para que se possa chegar a protocolos de maior eficiência para o controle, prevenção e tratamento contra o S. suis.
Publicado originalmente na revista Revista JRG de Estudos Acadêmicos, Ano 6, Vol. VI, n.13, jul.-dez., 2023. Acesso disponível em: https://revistajrg.com/index.php/jrg/article/view/601

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Autores:
Fábio Arnhold Resmini
Caroline Pereira da Costa
Talita Berlanda
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