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Torção Mesentério

Torção do Mesentério

Publicado: 1 de novembro de 2010
Por: Ricardo A. Soncini SAS (Assessoria Agropecuária Ltda.)
Linha fina A Síndrome de Morte Súbita é uma das principais causas de perdas econômicas na produção de suínos para abate
Torção do Mesentério (TM) é uma entidade patológica que acomete suínos de abate na faixa de 60 a 110 k de peso, caracterizada por morte repentina acompanhada de rápida formação de gases no tubo digestivo. Esta síndrome já é reconhecida na suinocultura como causa de perdas importantes nas fases de engorda desde vários anos (Mores N. et all. 1986) contudo parece ter aumentado consideravelmente nestes últimos tempos. Existe ainda uma controvérsia do nome da Torção do Mesentério: Síndrome de morte súbita; síndrome hemorragia intestinal SHI ou HBS (Haemorragic Bowel Syndrome em inglês). Torção do intestino; vólvulo intestinal, aparecem às vezes como sinônimo desta entidade, assim como alguns autores descrevem a TM e o SHI como entidades diferentes.(Newmann E.J et all 2009). Patologicamente, a TM é uma rotação da raiz da extremidade anterior do mesentério que irriga a porção cefálica do intestino delgado, sobre seu eixo provocando como consequência um vólvulo (torção) de uma parte do intestino delgado.
A obstrução venosa origina uma severa congestão e edema e, posteriormente, infarto da área com rompimento dos capilares por hipoxia e extravasamento de sangue no lúmen intestinal. Embora a entidade seja reconhecida por relatos e descrições da literatura ao menos desde os anos 1980 (Leman A. 1992; Straw B. 2002), é nestes últimos anos que a TM vem ocupando importantes posições entre as principais causas de mortalidade nas terminações de suínos (Sobestiansky Y. & Barcellos D. 2007). Rápido aumento do tamanho das granjas com alojamentos de milhares de suínos em baias de terminação, redução da mão de obra e horas de trabalho/dia, instalações e equipamentos que não acompanham a evolução da produção, redução do espaço por suíno alojado, práticas de arraçoamento com restrição alimentar, somadas à deficiência de espaço de comedouros nas baias para a lotação instalada são algumas das causas predisponentes da MS. Dados da integração de suínos de uma agroindústria com um abate anual de aproximadamente 1.500.000 de suínos relatou para 2009 que as perdas por Morte Súbita (MS - identificadas como MS + Torção) atingiram 25% do total das mortes, sendo superada somente pela causa de refugos eliminados (38,82% das perdas).
Se consideramos que as maiores baixas ocorrem entre 14 e 25 semanas de vida e as maiores mortes ocorrem entre os suínos mais pesados, com melhor conformação e maior valor, estas perdas representam economicamente maiores prejuízos que as causadas pelos refugos. No primeiro semestre deste ano, a situação vem-se repetindo nessa companhia, com 28,5% das mortes associadas a este problema. (Soncini 2010 dados não publicados). Dados fornecidos por outra empresa com abate anual de 170.000 terminados apresentam resultados semelhantes em relação às causas de perdas por mortalidade: em 2009, a TM (identificados como “estufados”) foi de 17 %, ocupando o 3º lugar nas causas, e de 15 % durante o primeiro semestre de 2010. (Soncini 2010, dados não publicados). Mesmo que se reconheça que o diagnostico da causa de morte, em muitos destes casos, é presuntivo e nem sempre confirmado pela necropsia ou intervenção de um profissional veterinário, a margem de erro não deve ser muito alta. A TM não é uma doença infecto-contagiosa nem tem transmissibilidade entre os suínos que compartem as mesmas baias. Pelo contrário, as mortes acontecem de forma esporádica e podem suceder intervalos de dias entre a aparição de uma e outra baixa. Vários fatores são apontados como causas favorecedoras desta síndrome como nutricionais, manejo, higiene e condições climáticas.
Torção do Mesentério - Image 1
Altas temperaturas no verão, somadas ao aumento de peso dos suínos que sucede com o avanço da idade, além da alta lotação nas baias, produzem um elemento de grande risco para a ocorrência de TM. Estes fatores associados podem provocar alterações no comportamento alimentar dos suínos: no arraçoamento à vontade, estes comem e depois bebem em um ritmo relacionado; na medida em que os animais tornam-se mais pesados, a ingestão de ração se torna mais espaçada e também aumenta o volume em cada refeição, especialmente nos suínos mais pesados (Straw 2002). Assim, a sobrecarga do aparelho digestivo, somada às altas temperaturas do ambiente e alta carga microbiana da ração, resulta em uma fermentação com grande formação de gás no intestino delgado. O mecanismo da torção pode produzir-se como consequência de um brusco movimento na avidade abdominal: o suíno gira ao redor e a porção do intestino permanece estático, provocando-se o giro de um setor do mesentério (Donald Mc Gavin & Zachary M. 2007 ). Isto se observa especialmente nas baias com lotação alta, nas brigas por espaço nos comedouros e quando os suínos realizam rápida ingestão da ração pela pressão competitiva para poder comer. Em nossa experiência, observamos maior frequência de casos em baias com alta lotação, pouca higiene e meses de calor (Soncini dados não publicados).
Torção do Mesentério - Image 2
Sendo uma doença aguda, a morte ocorre em forma repentina. Na maioria dos casos, é difícil observar sinais de doença nos suínos acometidos, que pelo geral são encontrados mortos nas baias. Nos poucos casos em que as pessoas alertadas podem observar alguma manifestação, esta consiste em apatia, afastamento do grupo, dispnéia com polipneia (pela pressão do abdome timpanizado sobre o diafragma), dor evidenciada quando estimulado a se movimentar e cianose das extremidades. Após a morte, segue uma rápida distensão abdominal com palidez do cadáver. Na abertura da cavidade abdominal, às vísceras (intestino delgado) surgem como uma massa vermelha e repleta de gás. Os vasos mesentéricos se encontram cheios de sangue escuro e pode-se perceber líquido rosado (transudato) e fios de fibrina na cavidade. A posição do intestino está geralmente mudada, denotando a torção destas vísceras. O conteúdo intestinal da região afetada é sanguinolento e a mucosa avermelhada; o resto do intestino delgado e grosso apresenta um conteúdo seco e consistente. Ao exame histológico do vólvulo observa-se congestão dos vasos das vilosidades, separação da submucosa por edema e necrose da extremidade da mucosa. As vezes, pode observar-se grande quantidade de estruturas tipo bastonete na luz.
O achado de suínos mortos sem previas manifestações de doença, com abdome inchado e muito pálido, leva a suspeitar da morte por TM, porém estas constatações não são suficientes para confirmar a suspeita. É importante, especialmente quando o problema se repete com alguma frequência, confirmar o diagnóstico pela necropsia e afastar outras possíveis causas de morte. Na abertura do cadáver, a posição normal das vísceras abdominais, o ceco aponta a caudal, e o intestino delgado fica abaixo do diafragma. Na TM, estas vísceras ficam deslocadas e segundo o grado do desvio (90º ; 180º ou 360º ) podemse encontrar em diferentes posições. Também é importante palpar a inserção do mesentério na porção ventral das vértebras onde pode-se sentir o giro desta serosa (geralmente no sentido anti-horário). O diagnóstico deve ser confirmado pelas lesões observadas na necropsia, com exposição das vísceras abdominais e constatação da torção do setor do mesentério feito pela palpação. Sempre é importante realizar o diagnóstico diferencial com patologias como ulcera gástrica, complexo de adenomatose intestinal (Ileite) e outras.
Torção do Mesentério - Image 3
Por ser uma entidade multifatorial, é muito importante identificar quais causas predisponentes estão presentes na granja ou no rebanho. Assim, pode-se intervir com medidas dirigidas a corrigir as causas:
* Melhorar a higiene da ração: reduzir a carga microbiana do alimento, aplicando descontaminantes como ácidos orgânicos, produtos com formaldeído e fornecer a ração em comedouros limpos, higienizar as baias diariamente e assegurar a qualidade microbiológica da água de bebida (Mores 2009). A ração úmida especialmente no verão deve ser renovada para evitar a fermentação.
* reduzir estresse, especialmente após os 60 quilos de peso: manter uma lotação 0,7m/suíno (excluir a área de lâmina d´água para cálculo) * No verão, controlar a temperatura nas baias com ventiladores ou chuveiros
* Higienizar as baias diariamente
* Fornecer o espaço adequado de comedouros para número de animais e tamanho
* Homogeneizar as lotações por tamanho para reduzir a competição
* Na pratica de restrição alimentar, fazer a oferta da ração de quatro a cinco vezes ao dia e assegurar que exista adequada quantidade de comedouros nas baias
* Contar com MO suficiente para atender as necessidades de manejo, higiene e alimentação da granja sem dificuldade.
Ou medidas para atuar sobre o efeito como:
* Inclusão de antibióticos na ração, especialmente para controlar a proliferação das bactérias gram positivo; Straw e colaboradores relatam bons resultados com produtos do grupo das tetraciclinas e BMD (Straw B. et all 2002). Também podem ser incorporadas lincomicina ou avilamicina com a mesma finalidade.
* Uso de produtos contendo bactérias produtoras de ácido láctico (lactobacilos), para reduzir o pH do intestino e inibir a excessiva proliferação das bactérias formadoras de gás (Couture V & Le Treu Y 2008). A TM vem sendo reconhecida como uma das principais causas de perdas econômicas na produção de suínos para abate. Por ser uma doença fortemente relacionada a fatores ambientais e de manejo nutricional, é fundamental identificar quais estão presentes nas granjas que têm perdas relacionadas com a TM. No verão, alta lotação e temperaturas elevadas favorecem o aparecimento. Na presença de mortalidade de suínos na faixa de 70- 110 k, é importante confirmar o diagnóstico por procedimentos de necropsia, para eliminar outras causas ou doenças que possam ser confundidas com a TM.
Torção do Mesentério - Image 4
Figura 1 - Torsão mesenterio e vólvulo. A torção é de 180º (observar a posição do intestino delgado) 
Torção do Mesentério - Image 5
Figura 2 - Distintas apresentações da TM. (tomado de Pierozan R. et all) UFRGS
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Autores:
Ricardo A Soncini
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Lucimara mariano
30 de julio de 2018
Ok calza a enterite e explenite.
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